derrocada do castelo da Feira

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DERROCADA NO CASTELO DA FEIRA
Na passada noite de Sábado para Domingo (28-29 de Outubro), uma porção da muralha sudoeste do Castelo de Santa Maria da Feira, neste momento em obras de consolidação estrutural, ruiu. Ao contrário de muitos outros casos similares, desta feita não se pode acusar o Município de Santa Maria da Feira de negligência, mas isso não significa que não se possam levantar sobre ele algumas questões, algumas delas generalizáveis a todo o território português.
O Presidente da Câmara, Emídio Sousa, alega que o muro terá caído devido à tempestade que então atingiu severamente a região Norte. É possível que assim seja, mas não deixamos de anotar como parte da razão para as obras era precisamente o facto de este segmento ser um dos mais afectados pelas infiltrações de águas, sem um bom sistema de escoamento. Para citar informações oficiais:
“De modo geral, as anomalias mais comuns identificadas são consequência da ação da água, nomeadamente proliferação de vegetação de pequena e média dimensão, presença de organismos microscópicos (bactérias, líquenes e fungos), degradação das argamassas e lavagem das juntas. Outras consequências mais graves decorrentes também da ação da água são os movimentos da muralha para fora do plano, notórios na muralha voltada a sudoeste e também num troço voltado a noroeste. A inexistência de um sistema efetivo de drenagem das águas pluviais implica que essa água se infiltre, acumule e provoque impulsos horizontais significativos sobre o pano da muralha. Neste troço de muralha voltada a sudoeste os movimentos para fora do plano são evidentes e as medições efetuadas no local evidenciam deslocamentos muito importantes que comprometem já a estabilidade destes panos. Para além da presença de água é muito relevante a fundação dos panos de muralha, uma vez que é diferenciada ao longo do seu comprimento, podendo no seu notar-se zonas onde a muralha apoia em xisto compacto, outras em xisto alterado e ainda outras em parede de pedra miúda que remata a transição entre a fundação de xisto.”
(Fonte: https://www. portal municipal. gov. pt/ pt/fundos-europeus/pt2020/beneficiarios-projetos/projeto/NORTE-04-2114-FEDER-000652/)
Portanto, talvez o mais surpreendente não seja a queda em si, mas sim o facto de ter ocorrido dois dias antes da data prevista da conclusão dos trabalhos – conforme delimitado na última versão do contrato publicado na BASE, com base em informação técnica a que infelizmente não pudemos ter acesso –, pelo que podemos partir do pressuposto uma obra quase completa ou mesmo praticamente terminada. Mesmo que possamos eventualmente admitir que a causa para a derrocada tenha sido devida à precipitação excessiva, não deixa de causar perplexidade que o projecto não pareça prever – com base em informações públicas – eventos extremos, especialmente tendo em conta a adaptação necessária do nosso património face às alterações climáticas que tendem a agravar e a fazer as tempestades mais frequentes no Outono/Inverno.
Por isso, é importante fazer-se uma avaliação rigorosa do ocorrido e tirar as devidas ilações. Aguardamos a divulgação pública dos resultados e que o muro seja reconstruído dentro do prazo de um ano fornecido por Emídio Sousa, mas tão ou mais importante é aprender com a experiência desagradável para que os monumentos portugueses tenham intervenções atempadas, que prevejam estados de tempo extremos.
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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