Não era um lar. Era um depósito de esquecidos.
O meu nome é Manuel. Tenho 81 anos.
Depois que a minha esposa morreu, a solidão foi ficando cada vez mais pesada.
Meus filhos diziam que eu não devia viver sozinho.
Um dia, trouxeram-me para um lar.
Disseram que era para o meu bem.
Eu calei. Eles foram embora.
Fiquei à espera de visitas.
Uma semana. Um mês. Dois.
Lá dentro, conheci outros como eu:
ex-professores, ex-enfermeiros, ex-pais, ex-mães.
Gente com nome — mas sem ninguém a dizer esse nome.
Um senhor chamado Álvaro dizia todos os dias:
— “A minha filha vem no domingo.”
Mas os domingos passavam. E ela nunca veio.
Percebi então que aquele lugar não era um lar.
Era um depósito silencioso de gente que deu tudo.
E agora… apenas espera.
Hoje, passo os dias a escrever cartas que nunca envio.
E a ouvir passos no corredor, imaginando que são para mim.
Não estou triste.
Mas também já não vivo como alguém que se sente lembrado.
E se estás a ler isto…
lembra-te de que o tempo que não dás hoje,
é o arrependimento que te espera amanhã.
️
Milhares de idosos estão vivos. Mas socialmente invisíveis.
Não é preciso gritos, nem escândalos.
Basta o silêncio — e ele já diz tudo.
Se tens pais, avós ou vizinhos mais velhos,
não esperes datas especiais para aparecer.
Liga. Visita. Escuta.
Porque quem um dia te segurou com força,
não merece ser deixado cair no esquecimento.”

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