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DE NÁPOLES, COM AMOR
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Não passaram 24 horas desde que um amigo italiano me veio visitar a Nápoles e já fomos expulsos por seguranças de um clube náutico exclusivo. Jogavam pólo aquático e havia uma esplanada com vista sobre o Vesúvio. Deram-se conta de que não encaixávamos no tom monocórdico das camisas brancas abertas até ao peito. Comentei que para a próxima voltávamos de passa-montanhas. No bairro de Chiaia, os carros são de alta cilindrada e nenhum tem matrícula polaca. Nas montras, há casacos com lã da Mongólia por 500 euros. Nos bairros pobres, as matrículas polacas abundam. Porquê? Porque há empresas que fingem ser donas dos carros e motos atribuindo-lhes matrículas polacas para os seus verdadeiros donos não terem de pagar seguro. Se forem atropelados em Nápoles, havendo escolha, evitem viaturas com matrícula polaca. Esta é a capital das falcatruas. Algures, numa casa qualquer aqui perto alguém canta ópera. Não é a primeira vez que acontece desde que aqui cheguei. É uma cidade que vibra ao som de buzinas, scooters e música. Há um homem que vende tabaco de contrabando a metade do preço. Da esplanada, assisto ao concerto de vespas conduzidas por crianças e adultos sem capacete. Às vezes, três ou quatro na mesma moto. Há uma ausência absoluta de regras. Não se governam nem se deixam governar, como disseram em tempos os romanos dos lusitanos. Por 40 euros pode comprar-se 100 euros em notas falsas. Quando Hitler visitou Nápoles, no meio da multidão silenciosa, enquanto fazia a saudação nazi, alguém gritou que estava a ver se chovia. Quando os nazis fugiam das ruas estreitas de Nápoles, há 80 anos, a população atirava bidés, sanitas e lavatórios pela janela sobre as cabeças dos alemães. É uma rebeldia popular permanente. De tal forma, que há mais de 20 anos, quando tornaram obrigatório o cinto de segurança, vendiam t-shirts com uma faixa negra estampada na diagonal. Aqui parece que as regras são para violar. Lembro-me de Donetsk quando me disseram para não usar cinto de segurança por causa das bombas. Nas mesmas ruas estreitas, procuro um antigo reformatório ocupado com um centro social. Há sofás na rua com famílias a ver televisão. A caminho, vejo um rapaz com uma t-shirt da Cesária Évora. Uma mulher fala crioulo. Dentro do centro social antifascista há uma espécie de tômbola popular acompanhada de concertos que dura noite fora. É difícil não se gostar desta cidade. Foi a última noite.
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já lá estive e gostei apesar de ser uma cidade suja..os napolitanos são simpáticos e gostam dos portugueses …quando cheguei ao porto da cidade a paisagem era deslumbrante com o quadro da cidade velha tendo como fundo o Vesúvio ..perguntaram de onde vinha e respondi Portugal …de repente o fulano que tinha o quiosque no porto começou a gritar “são portugueses”e acrescentou podem ir à vontade ninguém vos vai importunar …no dialecto napolitano tem muitas palavras portuguesas …quanto vale ser português !!!!!
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