DA NOITE DA MAIORIA ÀS NOITES DOS AÇORES E DO ALASCA

  1. DA NOITE DA MAIORIA ÀS NOITES DOS AÇORES E DO ALASCA

 

Mais uma eleição legislativa em Portugal em que finalmente houve vencedores claros e muitos vencidos, pela segunda vez o PS com maioria absoluta para distribuir as prebendas (como bem entender) do PPR, e se for inteligente, esvaziar os 7% de salvadores da pátria com cheiro a mofo salazarento e os liberais que desde 1832 sempre perderam todas as batalhas. A nível regional a “caranguejola” bem pode estremecer com estes resultados e se tiverem inteligência limpam os secretários e diretores regionais impostos pela coligação e que tão mal têm feito à governação. O CDS só sobrevive nas “ilhas adjacentes” com uma representação desproporcionada à vontade popular e o PSD regional tem de tomar decisões dolorosas para completar a legislatura.

 

Como ninguém na campanha se preocupou com os dois maiores problemas destas ilhas é melhor eu lembrar a quem nos governa que as medidas avulsas para combater a perda demográfica são meros paliativos que não combatem nem resolvem esse cancro. Como sempre escrevi, os açorianos votam com os pés, emigrando e numa terra de salários de miséria e de empresários sem tarelo, o trabalho mal remunerado e sem perspetivas futuras só pode levar a maior desertificação humana das ilhas mais pequenas incrementando a macrocefalia económica de São Miguel. O outro problema que ninguém debateu é mais preocupante que a sangria demográfica: 33507 pessoas (14.2%) da população açoriana não têm escolaridade. Uns adicionais 53 mil (22,4% dos 236440 habitantes) apenas têm o ensino básico. Como também venho escrevendo desde 2005 não há massa crítica nas ilhas nem material humano pensante capaz de promover o desenvolvimento económico e tirar-nos desta letargia de desenvolvimento, tradicionalmente assente em monoculturas (agora passamos da vacaria para o turismo). Investir na educação e formação contínua é essencial e já tarda depois de milhões esbanjados em empresas públicas e parapúblicas altamente deficitárias. Quem souber resolver o problema que ouse fazê-lo antes que sejamos absolutamente redundantes.

E porque cito o Alasca no título? Por ver várias séries (The last Alaskans, The last frontiier da KIlcher Family Homestead, e outras) em que as pessoas vivem em condições extremas por opção, livre escolha, desígnio ou tradição, em que têm de trabalhar arduamente para garantir o seu sustento animal (caça e pesca) e económico (venda de peles ou gado), vivendo sem a maioria dos confortos a que nos habituamos (eletricidade, casas de banho, água, distantes centenas de quilómetros da cidade ou vila mais próxima, dezenas de quilómetros sem vivalma), e tendo acesso exclusivo em avioneta nalgumas épocas do ano, rios traiçoeiros no verão ou gelados no inverno, cheios de ursos pardos ou pretos, alcateias de lobos e outros predadores em que o homem só está no topo da cadeia alimentar se tiver armas e pontaria afinada. Mas o ponto que queria ressalvar para o nosso caso é que muitos deles são licenciados, e quase todos têm, pelo menos a escolaridade, com uma cultura geral que me surpreende, além de que estão bem equipados para sobreviver a invernos nucleares e outros cenários apocalíticos. Nós aqui nestas nove ilhas, mal deflagre uma nova guerra ou uma grande crise, ficaremos isolados e famintos, sem importarmos tudo o que necessitamos e sem produzirmos a maior parte dos víveres essenciais. Outra coisa que não me surpreendeu e me fez inveja nesses habitantes do Alasca, em locais remotos sem vivalma, cumprem as quotas de pesca (seja halibute ou salmão) e de caça (alce, caribu, etc.) e não matam as fêmeas com crias para manter o equilíbrio ecológico. Ninguém os vigia, não há PSP, GNR, ASAE ou quejandos, mas não excedem as quotas por seu livre arbítrio. Exemplos que gostaria de ver aqui, e lá voltamos ao mesmo, eles são educados e instruídos e nós continuamos analfabetos e impreparados. Basta analisar o registo cultural, cientifico e linguístico deles e compará-lo com o das nossas nove ilhas e é nesses momentos que gostaria que fossemos do Alasca.

Chrys Chrystello, drchryschrystello@journalist.com

Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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