CULTURA INIGUALÁVEL,

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3.7.2021, CRÓNICA 403

 

Decreta-se que todo o músico deve atuar gratuitamente em 90% dos eventos para os quais é convidado.

Todo o escritor deve abdicar do seu tempo para embelezar eventos patrocinados, e o mesmo se aplica a artistas plásticos, dançarinos, pintores, escultores e demais fazedores de arte.

Só assim podemos democratizar a arte e torná-la acessível às massas que nada entendem de cultura.

Em troca o estado deve conceder o rendimento mínimo aos artistas para que possam criar livremente.

Temos de combater ferozmente a comercialização da arte nessa luta inglória de artistas e escritores com jogadores de futebol que são quem entretêm as massas na sua excecional mestria de pontapear o esférico.

Para a saúde espiritual do povo, devem manter-se apoios e subvenções às atividades religiosas incentivando a participação maciça em procissões, festas religiosas, romarias.

A televisão deve continuar a sua missão civilizadora mostrando todas as catástrofes, desgraças e demais tragédias que ocorrem para todos os que não têm tempo de observar a realidade que os rodeia.

A TV apimenta a vida sexual de cada um com o voyeurismo de séries como o Big Brother, que espelha, de facto, a sociedade contemporânea e que se não aprende nos bancos da escola ou nas universidades

Deve ser ministrado nas escolas um ensino de história revista e corrigida dos erros do passado imperialista e colonialista.

Devemos extirpar a etimologia discriminatória que carateriza a sociedade portuguesa há mil anos, de chauvinismo, machismo e opressão, usando-se a novilíngua neutra que não ofende nem menoriza ninguém.

Só assim poderemos dar o salto para o futuro e colocar o país em competição com os restantes que pagam mais do dobro dos nossos salários e cujo custo de vida é metade do nosso.

A saúde deve ser devidamente paga em vez de sistematicamente deficitária e paga com subvenções estatais, incentivando-se a escolha de seguros individuais de saúde.

Idêntica medida se deve aplicar nas escolas e universidades para que não sejam perenemente deficitárias permitindo que os encarregados de educação possam escolher as melhores escolas para os seus filhos e não as escolas públicas onde abundam professores politizados, descontentes e desmotivados.

Os hospitais públicos, sempre deficitários, devem ser reformulados permitindo aos melhores médicos e enfermeiros o trabalho em unidades privadas dispondo do mais recente equipamento e metodologias pois só a busca do lucro pode conduzir a melhores tratamentos e intervenções cirúrgicas.

A justiça que hoje é lenta e custosa deve ser privatizada para que os melhores advogados se possam ocupar dos casos verdadeiramente importantes e não das pequenas causas e dívidas que hoje entopem os tribunais e a que ninguém satisfaz, permitindo que entidades tipo cobrador de fraque e os credores possam executar livremente a cobrança das suas dívidas diretamente dos devedores.

Devem ser igualmente revistos e suspensos todos os Planos de Ordenamento Territorial e de Urbanismo que só entorpecem o verdadeiro e harmonioso desenvolvimento do tecido urbano e rural.

As leis de proteção do meio ambiente em nada contribuíram para a melhoria das alterações climatéricas e aquecimento global, estando provado que de nada serviram, pelo que devemos seguir o princípio da regeneração natural que sempre foi o mais eficiente meio de a Terra se revitalizar.

Isto acontece ciclicamente com vulcões, furacões, terramotos, inundações, deslizamentos de terras, tsunamis e outras formas de se atingir um equilíbrio ecológico natural.

No campo político devemos abdicar das restrições de mandatos e outras medidas que impedem os bons políticos de concluírem as suas obras de longo prazo, muitas delas demoram décadas a concluir.

Igualmente se deve reservar o voto para pessoas cultas e educadas. A maioria de iletrados vota sem saber como nem porquê, o que distorce a realidade e permite a subida ao poder de populistas e ditadores.

Os elevados níveis de abstenção demonstram que essas pessoas não estão interessadas em votar e, portanto, devem ser libertadas dessa exigência eleitoral desnecessária que só prejudica uma boa governação.

Uma sociedade só é perfeita quando os cidadãos tiverem tantos deveres quantos os direitos, e aquilo que se assiste, hoje, é a proliferação de direitos sem os correspondentes deveres, com todos os encargos e injustiças e iniquidades no sistema judicial e na justiça social.

Deve ser abolido o rendimento de inserção social que criou gerações de párias e não permite o emprego total, devendo ser constitucionalmente garantido o direito ao trabalho por parte de todos os cidadãos.

Devemos fechar a imigração que só descarateriza o tecido da sociedade portuguesa, desvirtuando a sua herança e tradições com hábitos e costumes estrangeiros, totalmente alienígenas da sociedade.

Éramos todos muito mais felizes quando não éramos comandados por Bruxelas, nem tínhamos o Euro que só veio encarecer o custo de vida, destruindo as pescas, a agricultura e outras atividades económicas que fizeram de Portugal um país rico num passado recente.

Se conseguiu ler isto tudo até aqui sem se beliscar, devo alertá-lo que a minha sátira é uma forma subtil de reagir à tirania que nos manipula e a fina ironia é apanágio dos loucos. Cito Jack Kérouac

“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de casos. Os pinos redondos em buracos quadrados. Os que fogem ao padrão. Aqueles que veem as coisas de um modo diferente. Não se adaptam às regras, nem respeitam o status quo. Pode citá-los, discordar, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E enquanto alguns os veem como loucos, nós vemo-los como geniais. Porque as pessoas suficientemente loucas para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.