crónica de José Soares Paz na Terra Em modo de Guerra

Views: 0

Peixe do meu quintal

Paz na Terra

Em modo de Guerra

 

Para os cristãos, tudo começa com a existência de Jesus, judeu, pregador e mais tarde endeusado pela instituição religiosa numa das suas primeiras assembleias, reunida mais de dois séculos depois da sua morte. E daquela pequena seita de seguidores, partiram de um grupo que se foi desligando do judaísmo e se desenvolveu rumo à numerosa religião da atualidade – o Cristianismo. Esta gerou o Catolicismo e daqui, outras surgiram em discórdia protestante, como Anglicanos, Batistas e outras, a quem os católicos depreciativamente chamam de ‘seitas protestantes’.

Mas antes, temos os Hebreus, que são um povo de origem semita, grupo étnico que se diz descendente de Sem, personagem bíblica e um dos filhos de Noé e que segundo a narrativa bíblica, estabeleceu-se em Canaã (parte da atual Israel) por meio do patriarca Abraão. Ao longo da sua história, os hebreus emigraram para o Egito, retornaram a Canaã, reconquistaram a terra dos cananeus e filisteus e, depois de serem conquistados por uma série de povos, passaram a fugir da região por conta da violência romana e não só. Há quem afirme que os palestinianos de hoje, serão descendentes dos filisteus, cuja pátria se situava onde hoje existe Gaza – a Filistina.

Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da nossa existência é adorá-Lo. Eles também acreditam que o islão é a versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio de Abraão, Moisés e Jesus, que eles consideram profetas. Os seguidores do islão afirmam que as mensagens e revelações anteriores foram parcialmente alteradas ou corrompidas ao longo do tempo, mas consideram o Alcorão (ou Corão) como uma versão inalterada da revelação final de Deus.

Todas estas três grandes religiões são monoteístas (um só Deus) e abraâmicas (tendo Abraão como referência teológica).

Os três nomes de Deus: Jeová, Deus-Pai, Alá, ser supremo, invisível, omnipresente e omnisciente, construtor, obreiro e mestre de tudo o que existe. Juiz Final.

Tanto para o Judaísmo como para o Islão, não existe Natal. O conservadorismo e a ortodoxia judaica, ainda esperam pelo seu Messias. Se estivéssemos a falar de política, diríamos que eles seriam da direita ou mesmo extrema-direita em muitos contextos temporais.

Assim que pelo meio, temos o Cristianismo que mediava muitas das situações à sua volta, inspirados na mensagem de Paz, Solidariedade, Igualdade entre todos os povos, etnias ou religiões. Isso era inadmissível para os radicais judeus. Estes eram fechados e, ainda hoje, há problemas com casamentos entre não judaicos, principalmente entre os mais conservadores. Quando Jesus, enquanto judeu que representava ideias jovens e progressistas do judaísmo, abriu as portas a todos os povos não judeus aos ensinamentos da Bíblia Hebraica, isto causou tal escândalo por entre os velhos defensores da ordem habitual, que logo trataram de conspirar para se verem livre desse jovem de ideias revolucionárias ou, como hoje diriam alguns, completamente ‘fora da caixa’.

De acordo com The World Factbook, elaborado pela CIA com dados de 2012, os sistemas religiosos e espirituais com maior número de seguidores em relação à população mundial são: cristianismo, 28%; islamismo, 22%; hinduísmo, 15%; budismo, 8,5%; pessoas sem religião, 12% e outros, 14,5%. Estudos conduzidos pela Pew Research Center em 2009 mostram que, geralmente, nações mais pobres têm maior proporção de cidadãos que consideram a religião muito importante do que em nações ricas – exceção feita aos Estados Unidos e Kuwait. A irreligiosidade responde por 14,27% e o ateísmo 3,97% da população mundial, seguidos pelas religiões étnicas indígenas.

A partir do século III, os cristãos começaram a celebrar o nascimento de Jesus. O Islão haveria de nascer cerca de trezentos anos depois, no ano 600 da era cristã, visto que o seu fundador e profeta Maomé, veio ao mundo na cidade de Meca por volta do ano 570.

Na Antiguidade e antes da Era cristã, muitos povos comemoravam o solstício de inverno (natalis invicti Solis). A festa originalmente era destinada a celebrar o nascimento anual do Deus Sol. A festividade foi transformada pela Igreja Católica no século III para estimular a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano e então passou a comemorar o nascimento de Jesus.

Como a troca de presentes e muitos outros aspetos da festa de Natal envolvem um aumento da atividade económica entre cristãos e não cristãos, a festa tornou-se um acontecimento significativo e um período chave de vendas para os retalhistas e para as empresas. O impacto económico da comemoração é um fator que tem crescido de forma constante ao longo dos últimos séculos em muitas regiões do mundo.

A tradição diz que o Presépio (do latim: praesepio) surgiu em 1223 da era cristã, quando São Francisco de Assis quis celebrar o Natal o mais realista possível e, com a permissão do Papa, montou um presépio de palha, com uma imagem do Menino Jesus, de seus pais Maria e José, juntamente com um boi e um jumento vivos e vários outros animais. Nesse cenário, foi celebrada a Missa de Natal.

O sucesso dessa representação do presépio feita por Francisco de Assis foi tanto, que rapidamente se estendeu por toda a Itália. Logo se introduziu nas casas nobres europeias e de lá foi descendo até às classes mais pobres. Na Espanha, a tradição chegou pela mão do Rei Carlos III, que a importou de Nápoles no século XVIII. A popularidade nos lares espanhóis e latino-americanos estendeu-se ao longo do século XIX e chegaria a França nos começos do século XX. Em todas as religiões cristãs, é consensual que o Presépio é o único símbolo do Natal de Jesus verdadeiramente inspirado nos Evangelhos.

Pelo egoísmo intrínseco dos humanos, o berço histórico desta festa global de Paz – cidade de Belém – faz parte da geografia de guerra a que assistimos. As milenais lutas pelas supremacias religiosas, onde cada lado afirma perentoriamente que a verdade de Deus está na sua posse, continuam a verter vítimas através dos mais variáveis interesses. Os fanatismos extremistas, tanto de um lado como de outro, tem sido a maior fábrica de holocaustos e de horrores, onde se espelha a estupidez humana e o esquecimento do Deus de três nomes.

jose.soares@peixedomeuquintal.com