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José Soares
Puxão d’orelhas
Nos princípios e muito embora o “bebé” tivesse nascido de rabo virado prá lua, parecia que todos à sua volta iriam tratar dele com o supremo interesse coletivo dos eleitores.
“Senhor representante da república, fique sabendo que nós assinamos de cruz este acordo e nada trará de volta os socialistas ao poder nos Açores – pelo menos durante a próxima legislatura”.
“Muito bem, meus senhores e senhoras (?). Tomando a v/palavra de honra (?) dou-vos o pesado encargo de governarem com estes acordos agora assinados e ficam penhorados pela vossa palavra”.
E lá foram todos almoçar e combinar quem iria para qual pelouro. Bolieiro teve logo o primeiro desassossego: “Não aceito menos do que vice”. – Pronto, pá! Não há problema. Vamos tentar equilibrar o barco”.
Entretanto, desavenças no chega pra lá, chega pra cá, quebra-se a primeira virtude, que havia sido colada com muita saliva: o deputado e líder Carlos Furtado, abandona o partido – mas fica no parlamento! – como deputado independente. Como ele próprio afirmou “… os cheques não são maus…”.
A tal “incidência parlamentar” mostrou ser nada mais que um penso rápido e o verniz mal pintado no princípio, começou a estalar por todos os lados. Lá diz (ou dizia) o povo: “Casa onde não há democracia, todos ralham pelo mesmo poder”.
E a coisa foi-se desmoronando. Egoísmos, orgulhos, prepotências, egocentrismos e aquela desenfreada vontade de “mostrar quem sou”, faz cair aquele grupo que pretendia governar, destronando o partido socialista, no poder há um quarto de século – mais ano, menos ano.
Um casamento que acabou em plena lua-de-mel, onde começam a descobrir que afinal os interesses uns dos outros não condizem mesmo nada nas cores.
Enfim, os gostos não se discutem. O problema é que o alto patronato colonial chamou-os – a todos – para lhes explicar como é isso de assinar ‘incidências parlamentares’ e depois transformar essas folhas assinadas, em papel de toilete. E lá foram, como cordeirinhos, a Belém – nome sugestivo para esta época natalícia – para ouvirem do “menino Jesus” a reprimenda da praxe. “Ou vocês deixam esse vício de copiar os enredos dos de cá e portam-se bem… ou vão todos prá oposição onde, pelos vistos, não deviam ter saído”.
E prontos! De seguida ao puxão d’orelhas, foram todos almoçar com os seus chefões partidários, a dar-lhes contas do sucedido e do que fazer a seguir.
Isto pode ser uma peça de teatro. Mas não sei se faria aqui uma peça dramática, ou uma revista daquelas que eu via no teatro Maria Vitória do Parque Mayer dos anos sessenta do século passado.
O pior é que ninguém pensa no povo, esse elemento tão apregoado por todos eles e à custa do qual brincam às escondidas.
E, afinal, o Povo é quem mais ordena!
E vai ordenar… a seu tempo.