crónica de ANTÓNIO BULCÃO, JOELNINAS…

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Joelninas
Começou por ser convidado para “ter a ideia” do mote das festas deste ano.
Continuou indo botar discurso na Câmara, para apresentar tal ideia, aproveitando para se meter pela política dentro, avisando contra perigos vários que os simples mortais teimam em não ver, mas que ele não pode deixar passar um que seja.
Meteu as polpas dos dedos no teclado e, como sempre, surgiu mais uma pérola, desta vez a letra da marcha oficial, uma intrincada malha erudita e de rima forçada.
E culmina vendo o seu espaço comercial escolhido para ser palco de alguns eventos durante as festas.
Agora à atenção do Sr. Presidente da Câmara, não posso deixar de dizer: umas festas populares, como são as Sanjoaninas, têm de desenrolar-se, do princípio ao fim, em espaços públicos. Por várias razões.
Primeiro, porque não pode um ente público, dada a sua natureza, privilegiar privados tomados de per si ou em relação a outros. Escolher um espaço privado para eventos públicos é dar ao espaço escolhido a publicidade que o seu proprietário devia pagar como todos os outros, é trair as leis mais fundamentais da concorrência. Imaginemos que a Câmara escolhia uma tasca para ter animação musical todos os dias, e as outras que assobiassem os seus concessionários…
Segundo porque tal decisão implica lucro para quem abre a porta. Cada café ou água que sejam vendidos na livraria escolhida encherão a caixa registadora do seu proprietário, que não a do Adriano ou da In Folio.
Terceiro porque aqueles que, com fundadas razões, nunca porão os pés naquele lar, vêem-se privados da possibilidade de assistirem aos eventos que no seu interior terão lugar. No meu caso, não assistirei ao lançamento dos livros da Liliana Lima nem ao concerto íntimo do Carlos Alberto Moniz, apenas e tão só porque não acontecem num espaço público.
Por todas estas “aparições”, apesar de a convite, era mais que justo esta edição das Sanjoaninas chamar-se Joelninas. E aqui fica tal registo, para a História de Angra. Não sei até se não seria de retirar a imagem do São João da esquina da Rua com o seu nome, e meter no seu lugar uma estátua em tamanho real do maior escritor que nesta ilha nasceu, à excepção de todos os outros…
Esta febre vai passar, um dia. Até tal dia, que se munam os donos das casas da Rua da Sé das mais finas pétalas, para lançarem das suas varandas perfumes rosados sobre a melena negra deste iluminado, quando a marcha passar. Que se vistam crianças de branco, aguardando nos passeios que ele dê umas voltinhas coreografadas, para o rodearem, darem-lhe as mãos, voltearem como anjos à volta deste improvisado e vaidoso deus.
E aos que dizem que tenho obsessão pelo rapaz, esperem até verem os seus nomes arrastados na lama, serem transformados em potenciais assassinos, as suas mensagens privadas divulgadas em todos os órgãos de comunicação social, serem constituídos arguidos e terem de se defender por um crime que não cometeram, com todo o mal que isso causou. Hoje meu, amanhã teu…
Post Scriptum: A presente crónica é fruto da liberdade de expressão, meu direito constitucional e legal, do qual nunca abdiquei nem abdicarei. E quem enche a boca tanta vez com tal liberdade de expressão, vai ter de meter na cabecinha que a mesma é universal, não apenas de alguns e quando dá jeito.
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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89Sanjoaninas 2024 - Festival em Ilha Terceira - Açores

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José Fayal

Grande António Vulcão. Eu disse Vulcão? Mas é que é mesmo. Vulcão de coerência e de liberdade, Vulcão de raiva e revolta contra injustiças e açambarcamentos culturais.
Joelninas está bem caçada. Cada vez mais devo um abraço faialense a este Senhor chamado Bulcão.
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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