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Vários
1 – Nos meus tempos de menino, havia apenas três clubes de futebol no Faial: o Sporting Clube da Horta, o Fayal Sport Club e o Angústias Atlético Clube.
Grande era a rivalidade entre eles. E não havia a mínima possibilidade de um sócio ou adepto de um clube mudar para outro. Quem era do Sporting, morria do Sporting.
Quando chegou o 25 de Abril e surgiram os primeiros partidos, cada faialense escolheu o seu e passou a tratá-lo como se fosse um clube. Muitos sem olhar a ideologias (compreensivelmente, já que nem sabiam o que seria tal), outros tantos sem ler sequer uma linha do programa do partido ao qual aderiam, diziam “eu sou do PPD”, ou “eu cá sou PS”, como se na lapela tivessem um pin com uma bola e duas chuteiras.
O primeiro debate televisivo entre Mota Amaral e Martins Goulart foi para ver quem ganhava e por quantos golos. Mais do que argumentos e sua validade, estava em causa quem dava mais porrada verbal e arrasava o oponente.
Tantos anos passados, algumas coisas mudaram. Quem troca de partido já não é achincalhado como vira-casacas. Mas o sentido clubístico permanece em muitos espíritos, como se viu após as últimas eleições regionais. Com particular destaque para o despique entre Mota Amaral e Carlos César na comunicação social. Chama-se a isto maturidade democrática. O que é perfeitamente natural, 46 anos após o 25 de Abril…
2 – A Constituição proíbe a existência de partidos regionais. Mas os muitos que têm vindo a surgir a nível nacional podem concorrer nas ilhas, mesmo que alguns dos seus dirigentes máximos nem em férias tenham aqui vindo antes. Escolhendo para candidatos, nalguns casos, cidadãos que foram corridos de outros partidos ou cujo nível deixa muito a desejar. Resultado: os programas eleitorais de alguns destes pequenos partidos mostram desconhecer por completo a nossa realidade. Mas há gente que neles votou, ao ponto de terem agora esses partidos representação na Assembleia ou até grupo parlamentar. Pulveriza-se a democracia por via indirecta. Mais um sinal de enorme maturidade do regime…
3 – Carlos César diz que o PS tem “o direito e o dever” de formar governo nos Açores. Direito e dever que foram negados a Passos Coelho em 2015… por César.
Mas não é sobre legitimidade que quero falar nesta nota. A última vez que ouvi César falar de direito e dever foi sobre os famosos reembolsos em passagens aéreas de que beneficiou. Recebeu quinhentos euros por semana, dois mil por mês, da Assembleia da República.
Se ficava em Lisboa, metia esse dinheiro ao bolso. Se vinha aos Açores, pedia reembolso e ficava com a diferença entre os quinhentos euros que recebia da Assembleia e os cento e trinta e poucos que pagava.
Num debate com Pedro Santana Lopes, numa estação televisiva, a jornalista que moderava perguntou a César se considerava um direito seu receber aquele reembolso, já que era a Assembleia da República a pagar a passagem.
César respondeu que considerava o recebimento de tal vantagem indevida não apenas um direito, como um dever.
Circunstâncias diferentes, dirão alguns. O mesmo espírito, digo eu…
António Bulcão
(publicada hoje, no Diário Insular)