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533. Tocam os sinos 20.7.2024
Era um sábado veranil de julho como qualquer outro, o céu estivera anormalmente limpo de farrapos de nuvens até meio da tarde quando os sinos tocam como já, há muito, os não ouvia. Assarapantado com esta interrupção da tarde silenciosa fui à janela indagar o que se passava, pois esta semana não estavam previstas festas nem eventos extraordinários na Lomba da Maia.
Foi então que vi a abater-se sobre a ilha um capelo cinzento vindo de su-sudoeste ofuscando o calor solar que nesta tarde aqui chegara aos 26 ºC.
Nada de anormal, a Proteção Civil já avisara que vinham dias de temperaturas acima da norma e a água do mar devia chegar aos 26 ºC, com todos os perigos que isso implica quer de precipitação, quer de formação de anormalidades para a época e zona, como furacões. Estavam a ser batidos os recordes de temperaturas diurnas há vários dias e até os pássaros andavam mais quedos e silentes.
“SIGNVM”. Palavra latina empregue entre os séculos VI e VII com o duplo significado de símbolo ou sinal e que passou a designar “sino” em algumas línguas novilatinas, como o português. O sino é parte integrante da paisagem cultural e sonora do mundo ocidental e o que me chamou a atenção depois do toque dos sinos foi uma enorme mancha negra na estrada regional, mesmo à porta da escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Lomba da Maia. Uma mancha com mais de 5 metros, que digo nem 6 nem 7 mas mais de 8 metros, uma imponente limusine de não sei quantas portas a aguardar a descida dos noivos.
Casar hoje em dia, já é um ato de coragem (quem se arriscaria com os atuais prognósticos da economia mundial?) e de rebeldia (já quase ninguém casa) e fazer disso um alarde tal, ostentatório, era uma prova inequívoca de alguém que queria desafiar o destino.
Fui buscar a máquina fotográfica a ver se reconhecia alguém nos noivos ou convidados, quem sabe se teriam sido alunos da minha mulher. Se são daqui da Lomba as hipóteses de terem sido alunos dela entre 2005 e 2023 eram superiores a 95%, mas não os reconheci. Quiçá poderiam até ter ido connosco numa das viagens que ela organizou a Bragança (2007, 2009), ao Faial (2011) e à Serra da Estrela (2014,2019), mas só saberei mais tarde quando a minha informadora de eventos oficiais e oficiosos vier limpar a casa para a semana.
E concluo esta narrativa, com a minha opinião cética, não é normal aqui na Lomba da Maia termos visões destas…mas um casamento que começa com esta ostentação vai acabar mal…pode começar numa limo negra e acabar num trator verde…