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CRÓNICA 411 um banho de merda, 13.8.2021
(esta e anteriores em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html)
Que me perdoem os mais puritanos mas não havia outra forma de descrever o que os banhistas nacionais, estrangeiros e nativos andaram a fazer nestas semanas nalgumas das praias mais emblemáticas dos Açores. Começou por Porto Pim no Faial, depois foi a vez de Santa Barbara e Monte Verde na Ribeira Grande de S. Miguel, no Porto de Porto Formoso, na Madalena do Pico e Areia Funda. E na Calheta (Portinhos da Fajã Grande) em São Jorge.
Há décadas que se fala nisto mas não se passa de falas. Tudo regressa à inação e desleixo. Pode sempre culpar-se a agropecuária, a falta de civismo nas ribeiras, condições anómalas ou de exceção, chuvas em excesso, mas nem governo, nem câmaras, nem juntas de freguesia, nem capitanias fizeram fosse o que fosse. Entretanto, anunciam o paraíso da biosfera, o turismo sustentável, as mil e uma maravilhas da natureza nos Açores mas esquecem-se de dizer cuidado não entrem no mar ou tomam banho de merda no verdadeiro e mais literal sentido da palavra.
Pouco se investiu a construir ETAR, nas vilas, cidades, freguesias e lugarejos das ilhas. Nunca foi uma preocupação eleitoral nem autárquica pois todos sabemos que a merda não dá votos. E não me consta que algum candidato às próximas eleições tenha mencionado o tema, provavelmente devido ao mau odor que exala, pelo que nem promessas de melhorias existem. Mas pode sempre acontecer um deles ler esta crónica e prometer que vai à loja dos chineses comprar meia dúzia de ETAR
Entretanto, faça como eu. Banho só em piscina privada, na banheira ou no chuveiro onde é altamente improvável o surgimento da bactéria e-coli e outras fecais que abundam nas praias dos Açores.
Dizia um relatório do Estado do Ambiente nos Açores (2016) enumerando as estações de tratamento existentes nessa data:
Devido a constrangimentos no acesso a sistemas coletivos de drenagem e de tratamento de efluentes, e a elevados custos de investimento associados à construção de estações de tratamento de águas residuais convencionais, economicamente insustentáveis, a implantação de fossas séticas é, ainda, uma opção bastante utilizada para o tratamento de águas residuais domésticas e industriais em aglomerados de pequena dimensão.
Número e tipo de instalações de tratamento de águas residuais existentes na RAA, por concelho, em 2016 | ||
Zona | ETAR | Fossas Sépticas Coletivas |
Vila do Porto | 2 | 2 |
Lagoa | 1 | 3 |
Nordeste | 0 | 24 |
Ponta Delgada | 3 | 42 |
Povoação | 0 | 12 |
Ribeira Grande | 2 | 34 |
Vila Franca do Campo | 1 | 26 |
Angra do Heroísmo | 2 | 20 |
Praia da Vitória | 2 | 4 |
Santa Cruz da Graciosa | 1 | 1 |
Calheta | 0 | 0 |
Velas | 0 | 1 |
Lajes do Pico | 0 | 0 |
Madalena | 0 | 0 |
São Roque do Pico | 0 | 0 |
Horta | 0 | 5 |
Lajes das Flores | 0 | 2 |
Santa Cruz das Flores | 0 | 1 |
Corvo (Concelho) | 1 | 0 |
Fonte: ERSARA (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos dos Açores) e DRA (Direção Regional do Ambiente)