CRÓNICA 397 A MARQUISE DO RONALDO E AS OUTRAS 29.5.2021

Views: 0

CRÓNICA 397 A MARQUISE DO RONALDO E AS OUTRAS 29.5.2021

 

ESTA SEMANA FOI NOTÍCIA uma comédia de erros, um canal de notícias da TV argentina revelou uma cacha impressionante, embora um pouco falhada, na noite de quinta-feira, quando relatou que William Shakespeare, “um dos escritores mais importantes da língua inglesa” tinha morrido cinco meses após receber a vacina COVID. De facto morreu um senhor com aquele nome que havia sido o primeiro a tomar a vacina mas nem sequer era escritor, e é preciso muita ignorância da “pivot” da TV argentina (uma cara larocas sem cérebro) para dar a notícia sem se rir da sua incultura.

MAS IMPORTANTE FOI ISTO. ANDA TUDO EM ALVOROÇO. O futebolista Ronaldo acaba de construir uma marquise de gosto duvidoso e construção aparentemente ilegal no topo da sua “Penthouse” de sete milhões em Lisboa. Acordaram os mil e um arquitetos, engenheiros e desenhadores que andavam adormecidos desde a década de 1960 quando as “marquises” nasceram que nem cogumelos em Lisboa, no Porto e em tudo o que era edifício. Que eu saiba a maior parte delas, também ilegal e de gosto muito mais que duvidoso, e à revelia de planos municipais ou urbanísticos. A razão da celeuma deve ser devida ao facto de com esta marquise não se poder ver a roupa interior que a namorada do Ronaldo põe a corar ao sol.

A educação, o gosto e cultura não vêm junto com o dinheiro milionário, a foleirice nacional é generalizada e a norma é os ídolos terem pés de barro ou marquises nas Penthouse…mas tudo se resume à velha e nacional tradição da inveja. A gasolina subiu 20 vezes mais que os salários enquanto o petróleo descia mas a preocupação é a marquise…invenção que não abunda por estes meus lados.

 

Viver no campo é uma maravilha, estou na calma bucólica e rural da costa norte da ilha de São Miguel e, por vezes, sinto que voltei atrás no tempo à infância transmontana. O que mais me impressiona (e daí fazer-me lembrar a infância e adolescência) é este sentimento de viver no faroeste sem xerife nem regedor, quando olho ao redor e reparo a quantidade de casas que – nestes 16 anos – foram demolidas, aumentadas, modificadas, recicladas, modernizadas sem que os fiscais da Câmara Municipal da Ribeira Grande se dessem ao trabalho de verificar que decorrem, invariavelmente, sem a aposição da longa nota explicativa e indicadora do licenciamento da obra.

São, decerto, uns serviços de fiscalização compreensivos pois sabem que a situação da pecuária e da agricultura por estas bandas não é das mais famosas, e assim evitam impor coimas, nem querem obrigar a demolições (estou a lembrar-me da promessa de demolição do Prédio Coutinho em Viana do Castelo desde 2000) aos pobres donos dessas moradias que sem projeto, nem arquiteto, nem construtor civil encartado continuam a pontilhar a paisagem rural da costa norte de São Miguel, tornando-a visualmente mais variada.

Algumas das obras, verdade seja dita, ferem a sensibilidade arquitetónica que parece inexistir por estas bandas, umas serão meros mamarrachos, outras verdadeiros abortos de construção muito pouco civil, contrariando as leis da gravidade ou do bom senso, que também não parece abundar por estes lados. Há ainda as que são feitas à total revelia de tudo, umas mais disfarçadas que outras nas traseiras ou ao lado de edificações anteriores ou no topo de edifícios já existentes.

E é disto que gosto, deste sentimento de impunidade, de fora da lei que parece ser característica comum aos homens da costa norte que mostram, com a abstenção maciça nas eleições europeias, estarem verdadeiramente nas tintas para as normas e regulamentos que a EU cria e só servem para empatar a vida de pacatos concidadãos. E como não votam neles também não se dão ao trabalho de os notificar para as obras e longe vá o agouro, se eu quisesse comunicar o facto às entidades competentes tinha de tirar um mestrado em burocracia para reportar o sucedido. Só é chato e incoerente depois pedirem subsídios….

Outras das razões por que tanto me apraz viver no campo é ver como aqui parece que não é preciso ter carta de condução (carros, tratores, ou outras viaturas), nem é preciso levar os carros à inspeção, nem pagar seguro obrigatório contra terceiros, ou usar capacete em veículos de duas rodas… assim se constrói a felicidade deste povo de gostos simples e sem grandes exigências ao poder instituído. Sete em cada dez carros e carrinhas que passam à minha porta têm luzes de stop fundidas…Raras vezes surgem por cá PSP ou GNR a verificar documentação ou outras chinesices que ocorrem nas grandes cidades. E é este sentimento de total alheamento de leis, normas e regulamentos que me faz gostar de aqui viver e de me sentir tão longe do poder centralista. Joel Neto tem razão é bom viver no campo.

 

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

[Australian Journalists’ Association MEEA]

Diário dos Açores (desde 2018)

Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)

Tribuna das Ilhas (desde 2019)

Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020)