CRISE EM CUBA

Escreve Carlos Vargas:
CUBA
É preciso dizer que o embargo americano não é a única causa da falta de bens essenciais em Cuba. A pobreza cubana radica em dois fatores principais: 1. A insistência em políticas económicas erradas, entre as quais uma atávica e excessiva dependência do Estado e do turismo. 2. Um sistema de protecção social subfinanciado e depauperado ao longo de décadas, que se tornou insuficiente.
É preciso dizer também que o embargo americano, decidido há 60 anos num contexto de guerra fria e de comoção nacional devido à crise dos mísseis, é hoje uma peça política obsoleta sem qualquer sentido ou racionalidade. Tem o significado de uma vingança do castrismo fora do seu tempo. Porém, o embargo é um fator de agravamento das dificuldades do povo cubano, em particular dos mais pobres. É dos EUA que poderiam chegar as transferências em dólares dos emigrantes e uma panóplia de bens de primeira necessidade que o embargo impede de chegarem a Cuba. As remessas estão limitadas a 1.000 dólares por trimestre, ou seja, a uma pequena fração do salário médio de um emigrante nos EUA, fomentando por isso o mercado negro e a corrupção.
Com 243 medidas aprovadas por Trump a agravarem o embargo, a pandemia e o colapso do turismo, as coisas terão piorado bastante. Já antes, quem voasse de Miami para Havana podia ver aviões cheios de emigrantes carregados de comida até às orelhas. Literalmente. Numa ocasião cheguei a ver uma senhora que transportar um cordão de salsichas debaixo do lenço que lhe tapava os cabelos arriscando ser presa. Vi passageiros com sacos de supermercado atulhados de medicamentos ou acartando uma parafernália de eletrodomésticos, peças de automóvel, pneus de bicicleta ou material de pesca. Tudo espalhado por malas, malinhas e malotes ou dissimulado no próprio vestuário. Bastaria viver por umas horas a experiência desse espectáculo indigno para se ter a percepção do drama que é viver dia após dia, ano após ano, década após década, sem o básico essencial.
O embargo americano não explica toda a miséria que se vê em Cuba mas agrava-a severamente. E causa danos, sobretudo aos mais pobres. Aliás, se o embargo fosse inócuo, como alguns pretendem, não estaria em vigor há 6 décadas e resistido a 15 mandatos presidenciais, entre os quais 7 administrações democratas, desde John F. Kennedy.
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    Jose Gomez Bulhao

    Se os cubanos (o regime) não conseguiram superar nem contornar o embargo americano durante 60 anos, então isso quererá dizer que o que Cuba necessita é novamente de voltar a depender dos EUA como antes de Fidel, pergunto-me?