controlo dos cruzeiros nos Açores

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Coronavírus – um plano cheio de contingências…

“O aumento das escalas de navios de cruzeiro da mais variada proveniência de passageiros e portos, pode trazer-nos transtornos imprevisíveis.
A meu ver, deverá fazer-se um controlo sanitário muito apertado, mesmo que isso gere constrangimentos aos visitantes, às empresas locais e, eventualmente, cancelamentos. O mais importante é a salvaguarda dos residentes.”

1. O coronavírus/COVID-19 continua a sua caminhada imparável, instalando-se aqui e ali, fazendo suas vítimas dentre os mais vulneráveis. Instala-se, sem apelo nem agravo, gera instabilidade pessoal, familiar, social e económica e nem mesmo os serviços de saúde mais preparados estão imunes aos seus malefícios.
Pode mesmo dizer-se que o coronavírus, transformando-se em pandemia, é – mutatis mutandis – a peste negra da Idade Média, a febre hemorrágica viral que tantos países ainda afeta, a lepra dos nossos dias.
Nestes pedaços da Europa banhados pelo Atlântico, não estamos imunes – Deus queira que sim! – a essa detestável maleita. Se aqui vier parar, poderá ter sido trazido por hospedeiro chegado via marítima, ou por via aérea. A nossa permeabilidade é de tal ordem que as nossas fronteiras marítimas, mesmo se encerradas a esse vírus terão muitas dificuldades em suster tal inimigo público.
O assunto tem sido sobejamente abordado nos media, sobretudo nas TV’s.
Especialistas da área, quando interrogados sobre se o país está preparado para uma pandemia, respondem, imediatamente que não. E justificam com os cortes na saúde, a falta de profissionais e de equipamentos adequados e as dificuldades no tratamento das populações do interior e das ilhas, quando o vírus atacar em força.
2. Com três hospitais centrais, (só o de Angra está integrado na rede nacional de diagnóstico de segunda linha) os serviços de saúde parecem impotentes, por comprovada e pública falta de meios humanos para responder satisfatoriamente e em circunstâncias excecionais, se a pandemia for declarada.
A notória incapacidade de instalações adequadas ao tratamento de doentes afetados; uma população envelhecida residente em seis ilhas, onde só existem centros de saúde, e não há meios humanos e técnicos adequados; os constrangimentos em instalar de quarentena idosos acamados e com difícil mobilidade… como vai ser possível diagnosticar o vírus em tempo útil e tratá-lo, se todos estes problemas existem? Com que rapidez serão transportados para os hospitais os pacientes afetados?
Estas são questões que ainda não vi respondidas satisfatoriamente.
Longe vão os anos em que famílias inteiras foram devastadas pela lepra. Nesses tempos, de que tanto ouvi falar meu pai que os guardava bem presentes, casas e famílias ficaram completamente isoladas para impedir o contágio, num abandono terrível. Muitas pessoas morreram devido à carência médica e de medicamentos.
Dessas tragédias por que passaram populações isoladas, a história açoriana quase nada relata. E seria importante, para que pudéssemos compreender melhor a luta de tanta gente que então viveu e cresceu sem o essencial e que só se resgatou com a emigração.
3. Agora que os Açores dispõem de administração autónoma exige-se que o anunciado plano de contingência para fazer face à eventualidade de um surto epidémico, seja adequado às conhecidas carências e especificidades e que, os diversos locais de tratamento funcionem bem.
Não podemos aceitar, nem esperar que sejam outros a definir o modo como devemos organizar-nos para responder a esta gripe. Precisamos de apoio e da solidariedade nacional e europeia, sim!, mas temos a noção de que quem não experienciou o viver em ilhas, dificilmente nos compreende.
A União Europeia anunciou há dias uma dotação orçamental importante destinada ao combate ao coronavírus e à investigação científica associada à descoberta da vacina.
As dificuldades decorrentes da ultraperiferia, aconselham que as autoridades regionais sejam corajosas e determinadas e, secundando este anúncio, solicitem às instâncias europeias, com projetos bem elaborados e fundamentados, apoios para prevenir e conter a propagação do vírus, que facilitem a mobilidade dos doentes em meios aéreos adequados à sua debilidade e reforcem a capacidade de resposta dos cuidados de saúde em todas as ilhas.
4. O aumento das escalas de navios de cruzeiro da mais variada proveniência de passageiros e portos, pode trazer-nos transtornos imprevisíveis.
A meu ver, deverá fazer-se um controlo sanitário muito apertado, mesmo que isso gere constrangimentos aos visitantes, às empresas locais e, eventualmente, cancelamentos. O mais importante é a salvaguarda dos residentes.
Sem serviços de saúde eficazes, competentes e rápidos – muito mais agora -, operadores e turistas dificilmente confiarão na qualidade das respostas que encontrarão nos portos de escala.
Prestes a entrar a época alta do turismo, espera-se que tudo seja feito para prevenir e cuidar de eventuais doentes afetados pelo COVID/19, para que esta indústria continue em franco crescimento.
Prevê, é certo, uma diminuição do número de turistas a nível mundial. Todavia, a saúde é um bem prioritário que anda de braço dado com qualquer destino turístico.
Façamos tudo o que está ao nosso alcance para promovê-la, sem nos esquecermos dos açorianos mais vulneráveis e com menores acessos aos cuidados médicos e hospitalares.

(José Gabriel Ávila – jgazores@gmail.com – jornalista c.p. 239 A – escritemdia.blogspot.com in Jornal Diário dos Açores de 29.02.2020)

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Comments
  • Cristi Amaral O meu ponto de vista não entrava nem saía ninguém, governo só pensa no turismo,deixa fulano A,B,C viajar depois sabe lá se teve em contato com alguém que ainda não manifestou os sintomas mas já tem o vírus, é uma bola de neve
  • Ulla Eduarda Machado-Damhaug Control d quem sai!
  • Maria Das Neves Baptista Muito bem! Espero que reflexões e alertas não caem em saco roto.
  • João Costa Relativamente ao 4 ponto, deveria ser como diz, mas como sempre, o capitalismo prevalece ao bem estar das populações e sua proteção…

Comentários

Um comentário a “controlo dos cruzeiros nos Açores”

  1. Avatar de Ana Franco
    Ana Franco

    É URGENTE CUIDAR OS ACESSO DOS VISITANTES AOS AÇORES. NAO PODE HAVRR MAIS ATRASOS NESSE SENTIDO. DESCUIDAR OS ASPECTOS FOCADOS NESTE ARTIGO É CRIME.