contra as obras em ponta delgada

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Atentado à harmonia da cidade
Como muita gente sabe, a Praça Gonçalo Velho Cabral, em Ponta Delgada, foi construída na década de 1950, aproveitando espaço conquistado ao mar e inspirada na mais do que secular Praça do Comércio, em Lisboa.
Há poucos anos a Praça do Comércio foi alvo de uma intervenção urbanística, questionável em alguns aspectos, mas não ficou mal. Agora também pretendem realizar uma alegada requalificação da Praça Gonçalo Velho Cabral (e áreas contíguas), mas não inspirada na obra que decorreu naquele vasto espaço lisboeta.
De resto, penso que não são comparáveis a obra na Praça do Comércio e a intervenção prevista na Praça Gonçalo Velho Cabral, absurda, feia e inoportuna, em minha modesta opinião.
Vamos então por partes. A Praça do Comércio já teve árvores há muitos anos e foram retiradas numa intervenção anterior para dar maior visibilidade a todo o edificado envolvente. Pelo contrário, querem plantar árvores na Praça Gonçalo Velho Cabral. Na Praça do Comércio não descaracterizaram o edificado, nomeadamente as arcadas. Na Praça Gonçalo Velho Cabral está previsto pintar as cantarias de branco. Na Praça do Comércio não construíram umas banquetas circulares que parecem uns bidés ou lava-pés, como querem fazer na Praça Gonçalo Velho Cabral. O piso na Praça do Comércio está com um aspecto discreto, em consonância com a monumentalidade existente, enquanto na Praça Gonçalo Velho Cabral o chão ficará com umas linhas estonteantes, se é que essa obra será concretizada. E mais diferenças poderia apresentar.
Realço apenas que a obra prevista para a Praça Gonçalo Velho Cabral me parece até ferida de ilegalidade, porque a Igreja Matriz de São Sebastião, que é dos monumentos mais antigos e belos dos Açores, deve ter um perímetro de proteção, que não permite fazer tudo o que se quer, muito menos obras alegadamente “bonitinhas”, mas precipitadas. O próprio edifício dos Paços do Concelho e as Portas da Cidade, pela sua antiguidade e características, também não permitem em seu redor delírios arquitectónicos.
Ponta Delgada tem vários edifícios particulares em ruínas, alguns ameaçando a segurança nas ruas onde se localizam. Um até tem sido motivo de queixas na imprensa e a Proteção Civil já alertou para o perigo existente. São edifícios particulares, mas a Câmara Municipal tem a responsabilidade de intervir, demolindo até e passando os custos para os proprietários, em defesa do bem colectivo, mas nesse aspecto tem sido muito passiva.
É com essas questões e outras naturalmente, como a limpeza e a manutenção do piso das ruas, que a Câmara Municipal deve preocupar-se em primeira linha, em vez de estar a inventar obras completamente inoportunas, polémicas e caras.
Tenho consideração e apreço pela senhora presidente da edilidade, drª Maria José Lemos Duarte, mas penso que ela está muito mal aconselhada quanto à anunciada intervenção na Praça Gonçalo Velho Cabral.
Gostaria de recordar que uma vereação anterior lembrou-se de construir em Ponta Delgada um Museu de Arte Contemporânea. Encomendou o projecto ao mais famoso arquitecto brasileiro e um dos mais talentosos em todo o mundo. O projecto custou muito dinheiro, mas não passou de projecto, porque nunca houve Museu e muito menos Arte Contemporânea. E, pronto, lá se foi uma “pipa de massa” de dinheiro público, à conta da leviandade de um executivo municipal. Haja memória para não repetir erros!
Oxalá não estejamos novamente perante uma situação semelhante. A Câmara Municipal está a pagar – e muito, com certeza – a arquitectos e a consultores por esse projecto de chamada requalificação da “baixa” de Ponta Delgada, para depois possivelmente nada ser feito, porque está à vista que a população citadina está a recusar as alterações previstas, porque, de facto, não fazem sentido e representam um atentado à harmonia da cidade.
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