civismo precisa-se 26.8.2023

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513. civismo precisa-se 26.8.2023

 

O tormento das festas da nossa senhora do rosário da lomba da maia voltou, pendular como cometa Halley.

Nota prévia: nada tenho contra festas e tradições, antes pelo contrário, espero que se perpetuem e mantenham o tecido de que é feito o povo insular . Discordo do assenhorear-se musicalmente do pimba e música brasileira que se tem verificado nas últimas décadas, mas admito que é para satisfazer o gosto da populaça.

Infelizmente discordo de foguetes e roqueiras que nos atormentam e aos nossos animais domésticos entre as 7 da manhã e as duas ou três da manhã seguinte, sem respeito pelo descanso dos que não têm nem saúde, nem idade nem propensão para as festividades.

Habito mesmo em frente a um improvisado bar, desses que nascem como cogumelos em todas as festas populares. Dali vêm sons que nem são demasiado altos em decibéis e onde as libações gastronómicas e de bebidas nem são incomodativas. O que me apoquenta são os jovens entre os 12 e os 20, em especial elas, que são histéricas, em alto tom e risos estrídulos cheios de hormonas, para impressionar os jovens cheios de testosterona.

São esses que me preocupam, bebem cá fora, urinam e vomitam nas escadas da minha casa, fazem demasiado barulho, chegam ao cúmulo de bater à porta.

Dantes, quando a saúde nos permitia, íamos passar esta semana a outra ilha, agora é mais difícil. Mas depois de 2023, vamos pensar em AL ou turismo rural noutra localidade durante este tormento das festas.

É raro o ano em que não escreva sobre este tema, no resto do ano não me incomodam nem eu incomodo ninguém, salvo o suplício das roqueiros por tudo e por nada.

Ora a RTP-Açores decidiu no sábado de festas repetir um magnifico concerto que a Ana Paula Andrade (excelente maestrina e nossa pianista residente nos colóquios da lusofonia desde 2008) deu no Teatro Micaelense em 2017 e ao qual assistimos in loco. Deliciados com esse néctar musical mal sabíamos o tormento que se seguiria durante a noite, mas antes ainda deu para tecer este poema ….

  1. pianíssimo (à Ana Paula Andrade) 26.8.2023

 

as tuas mãos são poemas

que dedilhas no teclado

pianíssimos versos que invejo

umas vezes a solo

outras com solfejo

seja com violino ou violoncelo

a métrica rigorosa

desenha o bailado dos teus dedos

as teclas calcorreiam desertos

montanhas, mares e vulcões

impérvios a ciclones ou furacões

compões obras maiores que a ilha

mais altas que a montanha do pico

mais fundas que a fossa das marianas

poemas que dançam na partitura

vibrações únicas numa só leitura

o sentir e a alma açorianas

 

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists’ Association – MEEA]

drchryschrystello@journalist.com,

Diário dos Açores (desde 2018)/ Diário de Trás-os-Montes (2005)/ Tribuna das Ilhas (2019)/ Jornal LusoPress, Québec, Canadá (2020)/ Jornal do Pico (2021)

 

esta e anteriores em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html