O Bacalhau Story Centre, ou o país submetido à tirania de saloios
Quando a Nova Portugalidade pediu à câmara de Lisboa que cuidasse e mantivesse a Praça do Império, cujos jardins o vereador Sá Fernandes queria matar por indisfarçável ódio ao significado da praça, disseram-nos que não havia dinheiro. Quando fomos à Assembleia Municipal em defesa do Museu dos Descobrimentos, ideia proposta pelo próprio PS em campanha eleitoral, o argumento foi igual: não havia dinheiro. Claro que haverá dinheiro para o “Bacalhau Story Centre” que a Câmara quer instalar no torreão leste do Terreiro do Paço. Para lá do resto – que o problema deles não era de dinheiro, mas de vontade, já todos sabíamos – o que salta à vista é o provincianismo atroz desta gente a quem o poder caiu nas mãos. O Terreiro do Paço não é um sítio qualquer: a actual Praça do Comércio foi construída explicitamente como centro do poder nacional onde, até ao Terramoto, ficou o Paço da Ribeira. Onde foi a sede da monarquia portuguesa e do Império – onde Dom Manuel supervisionou a criação do nosso império asiático e lia as cartas de Afonso de Albuquerque, Dom João III fez o Brasil, esteve outrora um das maiores colecções de arte da Europa, uma das mais completas bibliotecas e onde se fez a Restauração da Independência – fica agora uma discoteca (torreão ocidental) e, em breve, no torreão oriental, um centro de estudo do bacalhau. É um pouco como se viesse a ser instalado um “Fish and Chips Story Centre” numa ala de Buckingham ou uma fundação da paella frente ao Palácio Real de Madrid. Esta gentinha pequenina não descansará enquanto não reduzir o país inteiro à sua própria escala. Para nosso bem e nossa honra, há que libertar Lisboa deles.