UM SAPATEIRO EM SANTA MARIA

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Ateliê do Sapateiro em Santa Maria
Jovem sapateiro mantem uma arte em vias de extinção na ilha de Santa Maria
Quis a vida que Fábio Resendes, de 34 anos, natural de Vila do Porto, se dedicasse à profissão de sapateiro. Passados alguns meses após ter terminado a escola, surgiu a oportunidade de fazer uma formação para aprender a arte de sapateiro.
“Não tinha nenhum gosto pela arte de sapateiro em especial. Decidi agarrar a oportunidade, porque estava desempregado. Fazia uns biscates, mas esta era uma forma de ficar com o dia todo ocupado e resolvi arriscar”, contou o aprendiz de sapateiro na altura, adiantando ainda que “inscreveram-se três ou quatro pessoas, mas, no fim das contas, no primeiro dia de formação, só compareci eu.”
A formação era dada pelo Sr. José de Freitas Resendes, ou Mestre José Resendes como era vulgarmente conhecido, com quem Fábio aprendeu tudo sobre a arte de sapateiro. O facto de terem o mesmo apelido foi apenas uma mera coincidência, pois Fábio não conhecia o Mestre José Resendes até ao início da formação. “Como temos o mesmo sobrenome, o Sr. José começou a dizer que talvez ainda éramos família, mas eu nunca o tinha visto” recordou Fábio.
Fábio Resendes aprendeu e trabalhou com o Sr. José de Freitas Resendes ao longo de quatro anos, altura em que a formação terminou e teve que abandonar o Ateliê de Sapateiro, pois a associação Salvaterra não tinha possibilidade de integrar mais ninguém. O mariense explicou que esteve nove anos fora da profissão, tempo em que fez outros trabalhos, nomeadamente na agricultura e nos trilhos pedestres que se foram abrindo e criando em Santa Maria.
“Em 2016, com o falecimento do Sr. José de Freitas Resendes, a associação contactou-me e convidou-me a regressar a casa, e eu aceitei”, relatou Fábio.
O sapateiro natural de Vila do Porto clarificou que o serviço mais comum são os sapatos, no entanto, conforme explicou Fábio, “também faço consertos de malas, cintos e até já arranjei bolas de futebol, é um pouco o que aparece.”
Tendo em conta que vivemos numa época em que é fácil comprar sapatos novos, Fábio Resendes considera que as pessoas recorrem menos ao sapateiro, quando comparado a antigamente.
“Há coisas que sempre compensa arranjar, pois com uns pequenos arranjos resolve-se o assunto e já não é preciso comprar sapatos novos. Agora, a juventude na sua maioria utiliza sapatilhas. Antigamente fazia-se sapatos novos, de raiz; nos dias de hoje, é só arranjos.”
O sapateiro mariense referiu que o Inverno é a época em que o Ateliê de Sapateiro tem mais trabalho, na qual aparecem mais artigos para arranjar, tais como botas de senhora, sapatos finos e sapatos de homem. Já o Verão é mais fraco, pois as pessoas utilizam maioritariamente chinelos. “Por vezes, aparecem umas colagens e pouco mais. Apesar de termos assim muito mercado, aparece sempre alguma coisa. Há dias melhores que outros.” adiantou Fábio. Quando tem poucos afazeres no Ateliê de Sapateiro, Fábio Resendes dedica-se a outras tarefas na Associação Salvaterra.
Quando questionado sobre qual o maior desafio com que se deparou, Fábio recorda que na altura em que era aprendiz, o que teve mais dificuldade em aprender foi fazer a linha.
“Na altura de aprender, o que me custou mais a fazer foi a linha. Fazemos a linha para depois fazer as pontas, para poder coser os sapatos à mão. Com um fio do tipo do barbante, fazemos a linha conforme o que vamos fazer, com três ou quatro fios, depois nas pontas fazem-se umas tranças, pois aquilo tem que ficar muito bem enrolado, senão para coser é mais difícil.”
Fábio Resendes trabalha sozinho e é o único a exercer a profissão de sapateiro na ilha. Relativamente ao futuro da profissão, em Santa Maria, Fábio mostra-se pessimista, tendo em conta que vê pouco interesse dos mais jovens por esta arte de sapateiro.
“Isto é para acabar de certeza. Pelo que vejo nos jovens, eles não aderem muito a coisas antigas. Julgo que é mais uma profissão que se vai embora, à semelhança do que aconteceu com os moinhos e o barro também está um pouco fraco. Aliás, se eu não tivesse dado continuidade, já teria desaparecido.”
O sapateiro perspectiva, para o seu futuro, continuar durante muitos anos a trabalhar no Ateliê de Sapateiro. “Gosto daquilo que faço e quem faz o que gosta, não se cansa. Apesar de ter sido algo que surgiu na minha vida sem estar à espera, espero continuar a fazer isso durante muitos anos.” concluiu.
Carlota Pimentel
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