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A Falta de Pontualidade Lusa
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A Falta de Pontualidade Lusa
De entre todas as marcas identitárias que nos definem como tal, a que mais me incomoda e desapacencia é a falta de pontualidade; ao ponto de pensar que me sinto deslocado e deveria ter nascido noutro país.
Quando se combina qualquer coisa (seja um jantar, uma reunião ou um simples encontro informal entre amigos), temos sempre ali uns confortáveis 60 minutos de tolerância. Nunca nada é marcado para horas certas: é sempre “entre as 9 e as 10”, ou, quando muito, as “8H30 – 9H00”.
Poucos são aqueles que assistem a uma missa (um acto solene) desde o início. Há até quem entre na igreja, no momento em que o sacerdote profere a bênção final. Os alunos chegam ao primeiro tempo lectivo depois do segundo toque – sempre culpa dos progenitores, porque não acautelam os constrangimentos impostos pelo trânsito à hora de ponta. As sessões parlamentares, tanto nacionais como autárquicas, nunca começam quando previsto. Tive responsabilidades educativas, enquanto encarregado de educação e a maior parte dos meus “homólogos” chegavam atrasados às reuniões. Mesmo quando o SNS funcionava bem, os médicos não começavam a consulta à hora a que se obrigavam. Nos nossos jogos de futebol dominical, no relvado do IPB (entre cotas), há meia dúzia de atletas (sempre os mesmos) que aparecem meia hora mais tarde do combinado.
Mas a fama de “atrasados”/ incumpridores de horários vem de longe e extravasa fronteiras. Em novembro do ano passado, inserido numa excursão de Bragança, fui ver a Lisboa, no Altice Arena, um memorável concerto do famoso André Rieu. Músicos e artista, à hora certa (15H30), começaram o espectáculo. 10 minutos depois do início, ainda entravam na sala centenas de pessoas. Um episódio que mereceu a ironia de Rieu: “ we are in Portugal!”.
Um amigo meu, médico espanhol que trabalha em Bragança, a propósito do assunto, confessou-me há pouco tempo que, na qualidade de estrangeiro, esta faceta do desrespeito pelo horário laboral foi uma das coisas que mais lhe custou a compreender.
Há quem diga que este “defeito” – assim como os demais já apontados – é um fenómeno cultural, que nasceu connosco e se cultivou desde o início da nacionalidade, passando de geração em geração, qual legado patrimonial imaterial cá da gente. No entanto, tenho uma opinião diferente desta teoria, que é a seguinte: a geneticidade deste comportamento só acontece em solo português. Isto porque aos nossos laboriosos e respeitados emigrantes, que trabalham, por exemplo, em França, na Alemanha, na Suíça e na Bélgica, não lhes são permitidos estes “àvontadinhas”. Ou seja, o “cultural” é, como no caso em apreço, uma desculpa de mau pagador. Quem não ouviu falar da pontualidade britânica?
Como as minhas esperanças na mudança dos traços comportamentais da lusa gente são remotas e com laivos de romantismo – refiro-me, naturalmente, aos pouco abonatórios -. Resta-me a consolação de saber que os repórteres da CMTV estão no local do crime, antes do mesmo acontecer.
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