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
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Ao longo de toda a vida nunca fui pessoa de muitos amigos, conhecidos aos montes, mas amigos foi sempre uma classificação restrita. Alguns desses amigos são-no, há décadas, herdados da diáspora em Timor, Macau, Austrália e outras paragens, e podem passar anos, dezenas deles, que a amizade nunca se esvai e os contactos se mantêm, mais ou menos fugazes consoante a vida de cada um.
Este ano, entre muitos outros que se foram, fui particularmente tocado pela passagem a outra dimensão do meu mentor Malaca Casteleiro, do Leonel Batalha ex-secretário do Consulado-Geral em Sydney mais pai que ex-sogro e agora o Peter.
Tenho perante a morte uma atitude filosófica muito oriental
A passagem terrena é curta e o melhor a fazer é aproveitá-la bem, enquanto cá se anda. Nunca se sabe quando chega o prazo de validade de cada um. A quantidade de horas desperdiçadas em guerras, desentendimentos, amuos é enorme, considerando o já imenso tempo malbaratado a dormir e noutras atividades sem impacto na marca terrena que cada um pensa deixar. Disto é feita a matéria humana. Quem era eu, para endireitar o mundo? Já deixara de o fazer há mais de uma década. A morte, como já escrevi, por diversas ocasiões e formas, é uma noção tabu na sociedade ocidental. Não se prepara para ela nem se aceita livremente quando chega. Preferia uma maneira de ser e de estar mais em conformidade com os ritos orientais. Toda a vida é experimentada tendo em mente que a morte é o passo seguinte, o fim, o objetivo primário. A vida é a fase transiente e passageira, e não um desfecho em si. Apenas a curta etapa da passagem por este orbe que diariamente os humanos destroem.
O Peter foi um dos meus primeiros chefes na Emigração, Serviço de Intérpretes pelo Telefone (TIS) nos idos de 1984, nativo da Madeira crescido em Moçambique falava fluentemente dez línguas entre as quais russo e grego e apoiou-me na entrada para a função pública australiana onde me radiquei no Ministério do Emprego e Relações Industriais, como se chamava então.
Mantivemos sempre contacto e foi parceiro de incontáveis jogos de pingue-pongue, que detestava perder contra mim e o meu amigo angolano Jacko (então acabado de chegar à Austrália). Foi durante alguns anos, Conselheiro das Comunidades Portuguesas, mas muito crítico do papel que essa entidade tinha e que ele acusava de nada servir, pois os governantes nunca seguiam as indicações dos emigrantes.
esta e anteriores em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html
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Liverpool, England.November 21 2020.
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Crónica 367, um pequeno conto surreal 20.11.20
Uma mulher fez-se explodir no centro de Tunes, capital da Tunísia. A explosão ocorreu na movimentada avenida Habib Bourguiba. Oito dos feridos são agentes da polícia.
A mulher usou uma granada de fabrico caseiro com pequenas quantidades de explosivos. Fotografias entretanto publicadas pela rádio nas redes sociais mostram uma mulher no chão, aparentemente morta, com ferimentos na anca esquerda, vestida com calças e blusão escuro, com véu.
Desde a revolução que fez cair a ditadura de Ben Ali, em Janeiro de 2011, a Tunísia foi palco de centenas de atentados que quase acabaram com o turismo, setor responsável por 7% do PIB.
Era jovem e sonhava com revoluções, uma alma perdida nos labirintos do Daesh que sonhava com as suas 72 virgens nos céus e o fim dos infiéis cristãos que dominam o mundo e conspiram contra a memória de Alá.
Quando viu o Pedro Paulo Câmara após este a fotografar nas pedras do cais em Lisboa, trocara com ele um breve e tímido sorriso e dele ouviu estas palavras.
Quando, no cais das minhas colunas, uma imagem fala por si, fala pelo mundo. Voa, gaivota, voa de asas milenares, mais velhas e usadas do que esta nação ou esta Europa casa-mãe e casa-mar. Voa e recebe nos teus ninhos todos quantos de amparo precisam.
Não entendeu então que a Ibéria em tempos fizera parte desse sonho do Al-Andalus e ainda éramos todos aparentados, herdeiros dessa vivência intemporal que unia credos distintos séculos antes das fogueiras da Inquisição.
Nada tinha a temer, nem era ucraniana para morrer torturada numa sala do SEF no aeroporto de Lisboa no séc. XXI.
Subiu aos céus na Tunísia sem saber da pandemia de Covid-19 ignorando que como descendente renegada de sefardita podia requerer a nacionalidade portuguesa e ser feliz aqui em frente ao Tejo. foto do Pedro Paulo Câmara