Categoria: sociedade consumidor

  • O FRIO EM CASA DOS PORTUGUESES

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    ATÉ QUANDO, SENHORES?
    PORTUGUESES COM FRIO EM CASA NO INVERNO
    por Hugo Tavares da Silva – Expresso
    “Se eu tivesse de dizer um número, há entre duas a três milhões de pessoas em pobreza energética no país”, diz ao Expresso João Pedro Gouveia, investigador na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa integrado no grupo de investigação Center for Environmental and Sustainability Research. “Sou capaz de dizer que 80% das pessoas em Portugal estão desconfortáveis em casa”
    O despertador toca, o sol ainda não abriu os olhos, lava-se o rosto, enfia-se um gorro na cabeça para o pequeno-almoço ser aviado com algum conforto. Ou, já depois disso e de estômago saciado, seguem-se reuniões através de plataformas online com o cachecol a abraçar o pescoço com afinco para ajudar a aquecer a alma. Esta é a realidade de muitos portugueses. Numa altura em que uma vaga de frio (explicada AQUI) pintou de branco o Alentejo, fez disparar a compra de aquecedores e nos fez a todos falar mais do que nunca sobre o tempo, o Expresso foi saber por que razão a população portuguesa sofre tanto com o clima em casa. Chama-se pobreza energética.
    “Se eu tivesse de dizer um número, há entre duas a três milhões de pessoas em pobreza energética no país”, diz ao Expresso João Pedro Gouveia, investigador na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa integrado no grupo de investigação CENSE (Center for Environmental and Sustainability Research). “Sou capaz de dizer que 80% das pessoas em Portugal estão desconfortáveis em casa. Ou não têm conforto térmico. É uma combinação de fatores culturais e adaptação: as pessoas acham a energia cara, os rendimentos não são altos, o país foi-se habituando a consumir pouca energia, mas isso origina problemas de saúde. Agora, em casa, pode haver até problemas de produtividade. Eu tenho reuniões e vejo pessoas de cachecol. É inadmissível. Em países desenvolvidos há 30 anos que ninguém se permite ter frio em casa…”
    De acordo com um relatório do CENSE, publicado este mês, os países do Sul da Europa, como Portugal, Itália e Grécia, Malta e Chipre, apesar de terem invernos menos rigorosos quando comparados a países do Centro e Norte da Europa, “têm taxas de excesso de mortalidade no inverno consideravelmente superiores a países nórdicos como a Finlândia e a Suécia”. Embora 20% das habitações do país terem direito a uma tarifa social para ajuda ao pagamento das contas de eletricidade e gás natural, o acesso é limitado e escasso. O tema é sensível e preocupante.
    Voltemos ao início: o que é pobreza energética e como é que o CENSE o define? “É a incapacidade que as pessoas têm de satisfazer as suas necessidades energéticas básicas, com particular foco no aquecer e arrefecer as habitações”, continua este investigador que é doutorado em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável – Sistemas Sustentáveis de Energia. O índice criado por este gabinete da Nova analisa a combinação entre problemas de eficiência energética das habitações e dos equipamentos usados, baixos rendimentos e preços de energia elevados – em 2018, as contas da eletricidade e gás em Portugal foram respetivamente 12% e 28% superiores à média europeia. Gouveia chama-lhe um “triângulo de vulnerabilidade”.
    Este tema começou a ser tratado há cerca de 30 anos no Reino Unido, com os olhos na energia e na crise do petróleo. Depois chegou à Irlanda e, há qualquer coisa como cinco anos, começou a ser um problema explorado na Europa, nomeadamente com projetos no Norte e Centro do continente. O CENSE tem liderado este trabalho em Portugal desde 2016, sendo que nos últimos anos deu um salto importante de qualidade no que se refere a dados e conclusões, e projetos, culminando agora na coordenação, juntamente com outras quatro entidades europeias, do Observatório Para a Pobreza Energética, o apoio direto à Comissão Europeia nesta temática. “Em termos europeus, o problema já foi reconhecido, o que obriga os Estados europeus a fazer estratégias, criar indicadores e métricas de monitorização. Vamos apoiar diretamente municípios com projetos para tentar caracterizar, mapear, resolver e criar políticas ou medidas.” Estão previstos 80 projetos para os próximos quatro anos. “É a coisa mais importante a nível de pobreza energética a nível europeu”, explica.
    Como funciona, então, o índice do CENSE? Atualmente a análise do tal triângulo de vulnerabilidade acontece em todas as freguesias do país, no continente e nas ilhas. Este índice permite detalhar a realidade de uma determinada freguesia do país ou até comparar freguesias ou concelhos. Esta informação está tratada tanto para o inverno como para o verão, pois os desafios e características do país (clima) e das habitações são diferentes. Embora o inverno seja o freguês habitual das conversas sobre pobreza energética, este investigador considera que o verão “é bastante importante” porque existe o “impacto das alterações climáticas” que vai agravando o panorama. “Portugal tem dupla vulnerabilidade.”
    Segundo João Pedro Gouveia, “um dos factores principais de pobreza energética é a falta de qualidade dos edifícios em Portugal”. E vai mais longe: 70 a 75% dos edifícios certificados no país estão abaixo do regulamento que está identificado como eficiente no regulamento térmico dos edifícios. “Só temos um terço dos edifícios certificados, portanto a realidade é muito pior certamente. São muito mais do que 70% dos edifícios com má qualidade.”
    O índice do CENSE, apontando aos edifícios, permite perceber como é o isolamento das habitações nas diferentes regiões, o tipo de paredes e telhados, de janelas, que equipamentos de climatização são usados, se são lareiras ou aquecedores a óleo ou elétricos. Estas informações resultam de meio milhão de certificados energéticos que têm à disposição, que funcionam no fundo como uma amostra. A esta informação junta-se a questão socioeconómica. Recorre-se à taxa de desemprego nas diferentes regiões, ao nível de escolaridade. Analisa-se consumos de energia. Tudo junto e tratado chega-se à vulnerabilidade energética de cada região. Os rendimentos permitem perceber a capacidade adaptativa àquelas condições de uma determinada população. “Posso ter uma casa muito má mas, se for muito rico, posso resolver o problema. Gasto energia, ou tenho a capacidade de pôr isolamento ou de mudar de janelas.” Este nível de detalhe, que permite diagnosticar problemas e falhas por região e freguesia até, é inédito na Europa, garante.
    O investigador fala num “índice vivo”, em constante evolução e com integração de mais informação, que permite caracterizar em vez de monitorizar. Faltam dados. “O que o nosso índice traz e que é super útil é esta identificação das zonas mais vulneráveis. As zonas de prioridade de ação. Se sei que determinadas freguesias ou municípios são piores e mais vulneráveis à pobreza energética, a nossa ferramenta permite-nos identificar soluções. Ou seja, perceber o impacto que tem se se melhorar isolamento, se se melhorar janelas. Se o Governo tiver 600 milhões de euros, onde vai investir? Vai para Bragança? Madeira? Onde vai investir primeiro?”, questiona.
    E responde a seguir: “Em termos nacionais, no geral, temos a Madeira como bastante vulnerável. As freguesias da Madeira estão no topo”. Segundo os dados do centro, nove das 10 freguesias do país mais vulneráveis à pobreza energética no inverno pertencem àquela ilha. Curral das Freiras e Jardim da Serra, no concelho de Câmara de Lobos, e a freguesia da Ilha, do município de Santana, ocupam o pódio. Longomel, em Ponte de Sor, no Alto Alentejo, é a única freguesia continental que se intromete neste ranking top-10; nos 25 primeiros lugares só quatro freguesias não estão na Madeira. Quanto ao verão, as freguesias mais vulneráveis e que revelam maiores problemas para o arrefecimento das habitações estão nos concelhos de Pampilhosa da Serra, Gouveia, Celorico da Beira, Celorico de Basto, Idanha-a-Nova, Montalegre, Cinfães, Baião e Vinhais. É importante referir que a distância e o nível de vulnerabilidade não é assim tão diferente entre as primeiras 100 freguesias. “É praticamente a mesma.” A possibilidade de analisar freguesias permite escapar ao pouco rigor que era catalogar ou caracterizar concelhos como Cascais ou Évora, por exemplo, que têm pequenas localidades em condições muito diferentes.
    “O objetivo quando começámos com isto era que fosse um problema reconhecido”, vai embrulhando o tema, “para que seja de entendimento público que não é normal as pessoas, em Portugal, passarem frio em casa. Temos a perspetiva que duas camisolas resolvem o problema”.
    E avisa: “Toda esta vulnerabilidade está a ser agora agravada com a covid-19, com as pessoas em casa e com o confinamento. Não é só um problema energético, é um problema energético, social, económico e ambiental. Há uma combinação de fatores que faz com que Portugal seja bastante vulnerável. Este é um problema que não é o Ministério do Ambiente que vai resolver, não é, há ligações à Saúde, à Segurança Social e à Economia”.
    No relatório já mencionado do CENSE, é referido que se estima que entre 50 e 125 milhões de europeus se encontrem atualmente em situação de pobreza energética. “A Comissão Europeia reconhece que este é um problema em crescimento nos Estados-membros, e realça a necessidade de o abordar e proceder à sua resolução”, pode ler-se no documento.
    Não serão programas isolados e desgarrados que resolverão o problema, avisa o investigador. “Isto não vai funcionar com centenas de milhões de euros, isto é um problema transversal à sociedade portuguesa. É um problema grande, com 70 ou 80% dos edifícios de má qualidade, com consequências grandes para as pessoas. É preciso um programa a sério, ligado a objetivos que temos de neutralidade carbónica, de melhoria de eficiência energética. É preciso atuar.”
    Image may contain: people sleeping, text that says "MAIS DE 70% DOS PORTUGUESES SENTE FRIO EM CASA FRIO É CAUSA DE MORTE EM PORTUGAL"
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    • Mas de chorar a rir (ou o contrário) são as páginas da

      Direção-Geral da Saúde

      a dar conselhos para a saúde: agasalhe-se, aqueça a casa… É preciso, de facto, ser estúpido. Põem uns putos a recibos verdes a fazer social media e é o que se vê…

  • SANTANA CASTILHO, A CULPA ERA DO POSTIGO

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    Afinal era o postigo!
    1. Sobre o vírus e a doença que provoca, cientistas invocam estudos, modelos matemáticos e dados estatísticos para contraditarem outros que, socorrendo-se de recursos idênticos, deles divergem. De uns nunca tinha ouvido falar, de outros conheço currículos sólidos e longos. De uns procurei produção científica sujeita a avaliação por pares e não encontrei, de outros li o que está publicado, sob esse requisito de validação.
    É este exercício racional que me tem ajudado a construir opinião própria e a blindar contra a cruzada do medo que as televisões continuam a alimentar. Porque mesmo nos piores momentos é possível viver de pé e pensar, procurando não nos precipitarmos a aderir e só aderir ao que se entende por via da dúvida construtiva.
    2. Não me agrada ver os que censuravam a TINA doutros tempos quererem convencer-me que não há alternativa ao confinamento, aos testes a eito, aos desinfectantes a jorros e à suspensão das liberdades individuais básicas.
    Não aceito que António Costa me culpe pelo fracasso da sua governação, cavalgando o medo, porque o medo é o instrumento que mais nos faz desaprender. Sim, o medo tornou-se uma espécie de religião e muitos bispos profanos usam-no como estratégia de poder. Por isso têm medo que o medo acabe.
    Rejeito a banalização do estado de emergência (vamos no 9º com o 10º anunciado) e o atropelo a liberdades e garantias dos cidadãos, constitucionalmente protegidas, como forma de gerir a saúde pública. E não me sirvo de teorias da conspiração para destacar o que é evidente: com este expediente cerceiam-se greves e protestos por parte dos que são proibidos de trabalhar, enquanto avança a substituição de postos de trabalho por soluções digitais (professores e médicos incluídos). A pandemia é uma desgraça para a maioria e uma rica oportunidade para alguns. Qualquer ser pensante não paralisado pelo medo tem obrigação ética de procurar perceber porque crescem exponencialmente as fortunas dos mais ricos do mundo, num cenário de devastação económica e de destruição massiva de milhões de pequenos modos tradicionais de ganhar a vida.
    Rejeito o cancelamento por decreto dos direitos constitucionais, a intromissão na esfera privada das famílias, a suspensão da democracia para determinar a prisão domiciliária da sociedade inteira, a transformação de seculares modos de vida num imenso parque temático de rituais patéticos, que me reconduzem aos preâmbulos de fascismos doutros tempos.
    Governantes sensatos e cultos, independente de qualquer ideologia militante, não poderiam ignorar que a propósito dos danos da covid-19 se ensaiam engenharias sociais, alavancadas pelos avanços fabulosos da digitalização global, que outro fito não têm senão controlar e domesticar a liberdade individual. Porque não sou negacionista, preocupa-me muito o potencial infeccioso do vírus. Mas porque não sou estúpido, preocupam-me muito mais os efeitos colaterais, destruidores, de muitas das medidas tomadas para o combater.
    3. Não sei se é fragmento literário ou se aconteceu e alguém me contou. Numa ou noutra hipótese, desconheço o autor. Mas a história narra-se assim: um menino de 4 anos tinha um vizinho idoso, cuja mulher morreu. Ao vê-lo chorar, o menino sentou-se no seu colo. Quando a mãe lhe perguntou o que tinha dito ao velhinho, ele respondeu:
    – Nada. Só o ajudei a chorar.
    A história estava guardada na minha memória. Saiu de lá e levou-me às lágrimas quando o outro dia vi a expressão, já definitivamente ausente e esmagadoramente macabra, de um velho a receber a visita de um familiar, dele separado por um vidro. Gostava que os protectores sanitários dos velhos abandonados em lares a lessem.
    São os que têm mais de 80 anos que maioritariamente aumentam o actual número diário de mortos, sendo que a covid- 19 apenas é o factor que agrava patologias e fragilidades previamente existentes. E para estes, que vivem em lares ou isolados, falhámos na tomada de medidas diferenciadas. Não é o confinamento que os protege do frio ou resolve as suas carências graves, alimentares e de assistência médica. O confinamento afasta-os da família. E isso vai-os matando aos pedaços. Um confinamento rigoroso baixa a transmissão da infecção mas não evita as mortes dos socialmente mais frágeis, quase 2 milhões que vivem com pensões de reforma abaixo dos 400 euros.
    4. Tenhamos a clarividência de reconhecer que a ameaça de ruptura nos hospitais não é nova. Todos os anos os hospitais se aproximam da ruptura por esta altura. Dados disponíveis no site da OMS mostram que em 2018 morreram em Portugal, por gripe e pneumonia, 8.158 pessoas.
    As consequências da proliferação do vírus apenas agravaram cenários idênticos doutros anos, tudo resultado do desinvestimento sistemático no SNS, operado na última década. Com efeito, há 10 anos, pelo menos, que começaram a diminuir o número de camas nos hospitais. A redução generalizada de recursos humanos, a insuficiência das estruturas humanas e materiais em cuidados intensivos e a falta de articulação da saúde com a assistência social não são de agora. É de agora o aumento crescente da emigração de médicos e enfermeiros, cuja formação paga por nós acaba posta ao serviço de países terceiros? Revisitem a reportagem da jornalista Ana Leal sobre 15 hospitais do SNS, que passou na TVI24 a 13 de Abril de 2015, e digam-me se o cenário apocalíptico aí documentado se afasta do que hoje é descrito. Neste quadro, era desejável que se apurasse o número dos que morreram por falta de tratamento, por outras causas que não covid-19, particularmente depois da ministra da Saúde se imiscuir nos actos médicos dos hospitais do SNS, suspendendo por despacho as cirurgias prioritárias, designadamente as do foro oncológico.
    5. A história das vacinas, um dos recursos mais poderosos da medicina para impedir mortes, está recheada de incidentes, por erros e pressões políticas. Por todos, cito dois:
    – A tuberculose, cujo bacilo causador foi descoberto por Robert Koch em 1882, só conheceria uma vacina 45 anos depois, em 1927. Infelizmente, quando foi administrada pela primeira vez, provocou a morte de 72 crianças, por um erro de manipulação, que juntou à vacina bactérias activas.
    – O enorme fiasco (custos e efeitos secundários na saúde de muitos cidadãos) que resultou da pressão política do presidente Gerald Ford, em 1976, para que os EUA produzissem uma vacina para uma epidemia que acabou por não se verificar (a gripe suína).
    Moderna, Pfizer e BioNTech queimaram etapas de teste em animais e pularam directamente para o ser humano, numa vacina assente em operações de edição genética. Não sei se as 29 mortes verificadas na Noruega e as 55 ocorridas nos EUA, após a administração da vacina da Pfizer, permitem o estabelecimento de uma relação de causa, efeito. Mas deveriam ditar medidas apropriadas até que as respectivas investigações médicas e forenses estejam concluídas. E o discurso único deveria aceitar a perplexidade de quantos receiam eventuais efeitos, a prazo, desta inovação científica, marcada pela fragilidade das tradicionais e cautelosas fases de teste.
    A vacina não vai acabar com a circulação do vírus. Vai evitar que quem esteja vacinado tenha doença grave quando se cruzar com o vírus. Com efeito, a 13 deste mês, durante uma conferência do JPMorgan (um dos maiores bancos do mundo, pois claro), Stephane Bancel (CEO da Moderna) afirmou que a covid-19 vai tornar-se endémica, que o SARS-CoV-2 não vai desaparecer e que nós teremos que viver com esse vírus para sempre, opinião partilhada por muitas autoridades de saúde pública e pela própria OMS (Prof. David Heymann, presidente do seu Grupo Consultivo Estratégico).
    6. No quadro deste escrito, seria imperiosa uma referência aos testes PCR. Um teste PCR positivo, desde que verdadeiro, identifica no corpo do paciente a presença de matéria viral. Mas não permite concluir que se esteja em presença de um perigo de contágio, já que tal perigo depende da quantidade de matéria viral existente. E são muitos os especialistas que consideram uma insanidade testar qualquer pessoa sem sintomas.
    Numa informação divulgada a 14 de Dezembro de 2020, a OMS reconheceu problemas relacionados com os testes PCR, em consequência de acções judiciais (uma delas ocorrida em Portugal) que reclamaram da sua inabilidade para diagnosticar a doença como, aliás, reconheceu explicitamente o próprio inventor, Prof. Kary Mullis, Nobel da Química em 1993. O insuspeito Anthony Fauci declarou publicamente ser totalmente inútil executar testes PCR com 35 ciclos ou mais (e não se conhece, geralmente, o número exacto de ciclos que os laboratórios executam durante os testes PCR).
    No site da OMS pode ler-se que o teste PCR é um processo de acerto e erro, com muitos falsos positivos. E nessa linha basta atentarmos à saga vivida há dias por Marcelo Rebelo de Sousa (ora positivo, ora negativo, com escassas horas de permeio) e à circunstância de ter visitado um lar de idosos (um lar de idosos, sublinho) na pendência de um teste PCR (cujo resultado, insolitamente, lhe foi comunicado por jornalistas à saída, em frente às câmaras), para ficarmos conversados sobre a fiabilidade do processo.
    7. A decisão sobre o confinamento seria sempre crítica e difícil. Mas deveria ser uma decisão de sim ou não. Esta espécie de confinamento é pouco mais que nada. Vamos pagar custos altíssimos para ter benefícios quase nulos. Vamos cilindrar o comércio de rua e atirar para a falência boa parte do nosso tecido produtivo, gerando desemprego, fome e pobreza.
    Quando as autoridades nos dizem que 87% dos casos não permitiram a identificação do contágio, confessam que falharam grosseiramente na vertente eventualmente mais eficaz para combater a pandemia: o rastreio e a vigilância epidemiológica.
    Ao contrário do que aconteceu em Março, são agora permitidas celebrações religiosas, funcionamento da catequese incluído. O Governo considerou que as confissões religiosas cumpriram sempre as regras de segurança sanitária. Restaurantes, ginásios, cabeleireiros e tantos outros não cumpriram?
    Não é difícil aceitar os argumentos de António Costa a favor da escola presencial. Mas há uma incoerência insanável entre a sua retórica em defesa da necessidade de ficarmos em casa e a decisão de manter as escolas abertas, o que significa a mobilidade diária de mais de 2 milhões de pessoas.
    É evidente a inconsistência e a arbitrariedade das medidas. Compreende-se que se possa ir à drogaria, mas não à livraria? À missa mas não ao teatro? À catequese mas não à sala de estudo? Aos refeitórios mas não aos restaurantes? Ao postigo do confessionário mas não ao postigo do boteco?
    In “Público” de 20.1.21
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  • DEP RIP Mª Beatriz Chrystello

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    29 anos menos 18 dias depois do meu pai, a minha mãe deixou-nos órfãos 5.2.1992)

    DEP RIP Mãe Maria Beatriz de Magalhães Alves Chrystello20.3.1923-18.01.2021

    ao longo da vida escrevi alguns textos para ela e que selecionei e agora evoco em sua homenagem

    2011, A UMA MÃE DEPRIMIDA – CRÓNICA 106, 28 AGOSTO 2011

    Normalmente são os mais velhos quem dá conselhos aos mais novos, e os incentivam a lutarem contra as adversidades, mas aqui vai haver uma pequena inversão de valores pois à minha mãe deu-lhe agora com esta linda idade de 88 ½ anos para andar desanimada e deprimida. Nem se entende bem por que razão, pois o país está de vento em popa rumo à sua destruição final e a aprestar-se para se tornar num rodapé da História.

    Mas afinal que há de novo entre este país hoje e aquele que deixei em 1972-1973? Uma pequena diferença chamada democracia que diz respeitar o voto popular, mesmo que não sirva para nada. Se os antigos senhores do Estado Novo tivessem descoberto esta aspirina…tinha-se poupado a Revolução dos Cravos e seus heróis. Hoje há liberdade de expressão de imprensa, mas com ela – como dizia Eça – não se pagam dízimos nem a hipoteca da casa. Uma mãe nunca se deve cansar pois tem todos os dias da sua vida para dedicar aos filhos e netos e tem uma enorme responsabilidade em esperar que eles atinjam as metas que se propuseram. Nesse particular, foste bafejada com o tardio amadurecimento do filho varão que, sem cabeça para os negócios, enveredou por uma via literária que te deveria encher de orgulho para dizeres MISSÃO CUMPRIDA.

    Claro que todos nós sabemos que esse caminho foi tortuoso, passado em longínquos locais (ainda é) e com mais escolhos do que aqueles que a tripulação do Vasco da Gama encontrou na primeira viagem do caminho marítimo para as Índias. Mas chegou a bom porto e se não mercadejou com os locais teve o mérito de ver reconhecido parte do seu esforço em prol da língua de todos nós.

    Mais razão para depressões teriam os teus filhos e netos cujo futuro é sombrio e sem se vislumbrar melhoria possível num decénio ou dois a não ser emigrar. Deves passar em revista o quão afortunada tens sido, pela vida conjugal sem divórcios que são hoje moeda comum, pelos filhos que não sendo perfeitos são bem melhores dos que se veem por aí, o mesmo se podendo dizer dos netos que tantas alegrias te deram e companhia fizeram num mundo em que a maior parte dos netos nem sabe quem são os avós. Claro que tens razão para andares deprimida, os ossos já não são o que eram, a memória de quando em vez prega umas partidas, o frio sente-se mais, os amigos vão escasseando e cada vez há menos gente da tua geração com quem conversar. Mas, se olhares em volta nos que foram mais bafejados pela roda do dinheiro verás que são bem menos felizes do que tu, quer em saúde quer em momentos felizes.

    Quem disse que o dinheiro traz felicidade deveria ser masoquista. Pode ajudar a retirar alguns contratempos diários e dar uma ilusória sensação de felicidade como aquela que tive durante anos, mas nada se compara a uma vida vivida para os fins que se conseguiram almejar e cumprir. A maioria da população mundial nem sabe para que vive ou por que vive. As convulsões que te rodeiam, a falta de valores e princípios por que sempre te regeste e que passaste aos teus estão seriamente comprometidas neste mundo sem valores ou com valores diametralmente opostos aos teus, e apesar da enorme maleabilidade e aceitação de novos paradigmas entendes que tudo isto mudou demasiado depressa e para pior.

    Mas este discurso que muitas vezes partilho contigo não deixa de ser curiosamente idêntico ao que a tua mãe e outros usaram em épocas diferentes. Assim foi sempre ao longo dos tempos. Nunca o ser humano deixou de ser escravo da sua época e dos seus condicionalismos. Claro que quando te queixas quanto à meteorologia tens toda a razão, isto anda tudo às avessas do que era, em tempos idos, quando ainda havia quatro estações do ano e quando estavam associadas à agricultura, que como todos sabemos desapareceram do sistema. Nem agricultura nem estações, e teremos de inventar novos padrões para nos regermos ou fazer como aprendi aqui nos Açores: em vez de definir amanhã vou à praia, decidimos apenas quando o tempo deixa ir à praia.

    Imagina tu que até o tempo nos tirou essa oportunidade de escolha. Crescemos – e educaste-nos – a acreditar no matrimónio como coisa inviolável até à morte, e hoje nem sequer se equaciona essa oportunidade quando as pessoas se juntam ou procriam, eu sou das últimas abencerragens a ainda acreditar nessa instituição talvez por te me ter servido tão mal das primeiras vezes que a tentei. No nosso tempo, que era o mesmo para ti e para mim, os filhos tinham um pai e uma mãe, hoje todas as combinações são possíveis e nem sempre as biológicas…nenhum dos teus netos ainda casou no sentido tradicional do termo e mesmo que o faça não terá o significado que teve para mim ou para ti. Dantes estudar para se tirar um curso abria as portas do emprego, hoje nada significa e muito menos a promessa de emprego. Poderíamos, neste momento, afirmar que isto eram razões mais do que suficientes para te deprimir, mas se pensarmos melhor deveria ser motivo de gáudio por ainda teres vivido num tempo em que as coisas eram brancas ou pretas enquanto hoje nunca têm aquelas cores, antes se metamorfoseiam de tons infindáveis de cinzento deprimente.

    Se passares em revista as conquistas que atingiste desde o nascimento até hoje verás que nenhuma foi fácil e todas eram carregadas de esforço e sacrifício, abdicação e dedicação. No teu tempo as mulheres sabiam cozinhar e os teus filhos ainda recordam os teus pratos e os teus dons culinários. Hoje têm de pagar bem caro e nenhuma comida se lhes compara. O teu rolo de lombo de vitela fazia-me andar milhares de quilómetros e ainda tem um sabor único.

    No nosso tempo as famílias mantinham contacto e os primos davam-se durante toda a vida, hoje as crianças nascem e crescem sem sequer saberem que têm primos. Ainda hoje lamento que eu e os primos primeiros, segundos e terceiros nos tenhamos apartado e nem sequer conhecemos os descendentes uns dos outros. Foi assim que antevi a minha família e quando a tive, o mundo em volta já tinha mudado. Tive de me socorrer das recordações, de revisitações e de revivalismos para dar à estampa em livro a narrativa desses tempos, cuja maior parte podemos considerar saudosos pelos bons momentos vividos. Não consegui passar aos filhos nem um décimo do que tu e o pai me passaram, mas convenhamos que é difícil, nesta era, um pai ou mãe competirem com a TV, PlayStation, GameBoy e computadores entre tantas outras coisas que existem hoje e os transformam em viventes de mundos virtuais.

    Sempre tivemos as nossas diferenças, e quem as não tem? mas soubemos maduramente passar por cima delas e viver harmoniosamente melhor do que alguma vez sonhamos, sem nos atropelarmos nem às nossas crenças, cada um seguindo caminhos e trilhos que se não se cruzam também se não afastam. Chama-se a isto um equilíbrio saudável, cumpriste a tua missão como mãe e passei anos a tentar redimir-me daquilo de que era acusado.

    Depois a 19 de maio Cristóvão de Aguiar autografou um livro para ti em que ficou escrito

    Cumpri a minha quota-parte contigo e com o pai – em tempos e moldes diferentes – estabeleci uma paz duradoura e um entendimento. Haverá quem prefira chamar-lhe um pacto de não-agressão, mas creio que se trata antes do respeito mútuo que hoje existe. Não sei se estas linhas servirão para desanuviar a depressão que alegas ter e a falta de vontade de tudo, mas deveriam pelo menos fazer sorrir-te ao almoço e sentires orgulho nos filhos e netos que tens.

     

    em 2013

    582. dia da mãe #1, 5 maio 2013

     

    8 de dezembro é o meu dia da mãe

    mas calendários mudam-nos os políticos

    e mandam que seja hoje

    contrariado, obedeço

    para te dizer, mãe,

    errei quando te dizia

    não pedi para ser nascido

    bem hajas por isso

    valeu a pena ter vivido

     

    em 90 anos assististe a muita dor

    preocupações, canseiras e desgostos

    mas feliz de mim que ainda te dei

    netos, alegrias e vitórias

    livros, colóquios e memórias

     

    fica connosco para partilhares

    mais sonhos que tenho para te dar

    em 2014

    647. Dia da mãe fora de prazo, 4 maio 2014

     

    queria escrever um poema à mãe

    neste dia que decretaram ser dia dela

    mas não consigo esquecer o 8 dezembro

    e aliás é dia da mãe todo o santo dia

     

    queria escrever um poema à mãe

    a pedir desculpa pelo que fiz

    pelo que não disse e devia

    pelo que preocupei e não alegrei

    pelo que senti e não disse

     

    queria escrever um poema à mãe

    dizer da saudade dos afagos e ternuras

    sentir o conforto da infância

    viver o futuro que sonhaste

    apagar as tristezas do caminho

    as mágoas, dores e canseiras

     

    queria escrever um poema à mãe

    dizer palavras que nunca disse

    escrever esta partilha de amor

    lembrar os momentos protegidos

    as admoestações benignas

    mas nunca aprendi a dizer

    amo-te mãe

    +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

    2007 (ChronicAçores)

    A morte, como já disse, por diversas ocasiões, é tabu na sociedade ocidental. Não se prepara para ela nem se aceita livremente quando chega. Prefiro a maneira de ser e de estar em conformidade com os ritos orientais. Toda a vida é experimentada tendo em mente que a morte é o passo seguinte, o fim, o objetivo primário. A vida é a fase transiente e passageira, e não um desfecho em si. Apenas a curta etapa, a passagem por esta orbe que diariamente os humanos destroem.

     

    No taoismo, o Tao é mais do que um caminho, a fonte de tudo neste mundo. Ao seguir o caminho, os taoistas aspiram à união com o Tao, e, com as forças da natureza. Isso implica livrar-se de preocupações e apego ao mundo material para concentrar-se no caminho, alcançando equilíbrio e harmonia na vida e conquistando a paz que vem da compreensão. Diz-se dos que atingem o objetivo que serão imortais após a morte física.

    será lembrada nos momentos bons antes e depois da minha diáspora e por estas imagens que recolhi ao acaso

    1941

     

     

     

     

     

    1985

     

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  • QUANDO O RESTAURANTE É PEQUENO MAS CABEÇA DO DONO NÃO É

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    Aldous Huxley, ′′ Um mundo feliz “