Categoria: OBIT OBITUARIO

  • MORREU O POETA João Rui de Sousa (1928-2022),

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    Ernesto Rodrigues sonoerdtpS8mga1lcl58l326 1 650a3ucmfmt h 9c 8 6f · João Rui de Sousa (1928-2022), meu velho Amigo, faleceu hoje. 1. Entrei em contacto com a poesia de João Rui de Sousa por acaso, jovem perdido nas alturas de Bragança: ao analisar «Meditação em Samos» (1970), em «A Poesia Portuguesa Hoje» (1973) – longe de imaginar que João Rui e eu nos tornaríamos amigos, regularmente à mesa, cúmplices em certas aventuras e até companheiros de uma volta à ilha da Madeira em bicicleta –, Gastão Cruz identificava nesse quarto livro alguns pressupostos clássicos do autor, como equilíbrio, harmonia, ordem, nitidez. Penhor dessa sintaxe íntima era o fogo – ora, «O Fogo Repartido» (1960-1980; 1983) reuniria a produção de duas décadas, com inéditos, outros saídos na revista & etc. As opiniões que nesta soma se congraçavam eram de monta, tendo algumas merecido embora alfinetada de João Gaspar Simões em recensão do Diário de Notícias (9-VI-1983). Assim, Jorge de Sena, nas Líricas Portuguesas (II, 21983), considerou a «grande arte da metrificação fluente, severidade da expressão irónica, viril secura no manejo das metáforas, e um moralismo áspero que nunca se concede a facilidade do protesto retórico». David Mourão-Ferreira (Portugal – A Terra e o Homem, 3.ª Série, II, 1981), enquanto lamentava a «extrema discrição com que [João Rui de Sousa] vem aparecendo», o que lhe retirava «uma notabilidade mais ampla, a que os seus textos têm irrecusável direito», mostrava-o inserindo «a fixação do insólito e a transfiguração do quotidiano em quadros muito pessoais de permanente meditação ontológica, através de uma linguagem por vezes elíptica mas nunca descarnada, numa sistemática recusa a todas as seduções da facilidade». Do mais falam ilustres resumidos na Concisa Instrução aos Nautas (1999), seu décimo segundo título – decerto, a sua edição mais breve e modesta, folhas soltas presas por um fio, em que assenta este meu texto –, devendo retomar-se a síntese de Fernando J. B. Martinho no capítulo “Fidelidade ao humano” de Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50 (1996: 271 ss; 22013), quando cura da Cassiopeia, «antologia de poesia e ensaio» co-fundada, em Março de 1955, por João Rui de Sousa. Dito isto, como quem faz balanço para fecho de contas do autor de Fernando Pessoa – Empregado de Escritório (22010), o que acrescenta aquele hoje raro livro de cordel, cuidado no Funchal pelo comum e malogrado Amigo José António Gonçalves? Em primeiro lugar – e mais do que no luxuoso, circunstancial, descritivo Respirar pela Água (1998; com pinturas de Carmo Pólvora), afirmando a mudança de paradigma no que toca aos elementos naturais –, temos um propósito de unidade que o vocábulo ‘instrução’ indicia. Esta provê à técnica do olhar, qual arte de marear na costa madeirense, mas sulcam-na interrogações em cinco dos onze poemas em trânsito para aquela “Visão primeira do Porto da Cruz”, último texto, e matriz, inaugural memória do chão paterno. Recordação, este «retrato» na câmara escura da intimidade vem disparado «em transe» – atitude, já, do poeta iónico, picado pelo espírito do lugar. Neste sentido, João Rui de Sousa tornou-se emérito poeta madeirense – se quiserem laureá–lo, e ele aceitar… –, como não há muitos: «Ter as mãos que se entreabrem / à ilha que seja berço, / […].» Um desejo. …Porque, e num segundo momento, o inspirado caminho de regresso, «conciso», se possível, à casa do Pai, acontece de fora (e, com o Poeta, estivemos frente à casa do Pai), mar fora, até à exclamação de “Terra à vista!”, e, logo, este verso semiparentético, que encaminha para história pessoal: «Voltar. Voltar a onde não estive / (ou estive?). […]» Balouçados na estrutura anaforizante das redondilhas iniciais, agora retomada no impositivo «Voltar» – antes de, à frente, o polissíndeto reforçar a copulativa existencial –, percebe-se um conhecimento «ao menos pela névoa», aquela (quem sabe?) reminiscência de velhos filósofos, momento em que a contingência vira essência, as coisas só existem enquanto conservam «o sonho por sentido» e o poeta se transforma na mítica tripulação em busca da «luminosa / penumbra de emoção e afecto», de fantástico (aí estão os «animais faustosos, retumbantes»), já longe dos ‘sombreados’ que envolvem Enquanto a Noite, a Folhagem (1991). A erótica de Obstinação do Corpo (1996), entretanto, não se mostrará tão feliz, ou optimista – subsiste um grito quase cinquentenário quando interpela o “Ilhéu de Baixo (ou da Cal)” –, como este abraço-revisitação à casa «com traves de magia e alimento». Eis como do fogo se veio à água; raiz, enfim, para fechar a parábola. A imagem do farol em centelhas de letras, na capa de 1999, é, por isso, um achado. Nesse peregrinar costeiro – elemento calmo, alma enraizada, inscrita «neste rosto e nesta fala» –, temos, derradeiramente, nauta pacificado, em visões pacientes e desenhadas das naturezas humana e marinha. A paisagem transmuda-se em não raros quadros à Bosch ou de herdeiros surrealistas (por exemplo: «Eis as trepadeiras coleantes / que vão do mar ao fundo / (com olhos muito grandes de cobalto) / ao trono mais íngreme da verdura»), o que significa recomposição da ilha – e dou exemplo chagalliano –, «com telhados planando entre animais / suspensos entre a pedra e um fio de treva». Na lógica quinhentista, por outro lado, nauta avisado aparelha também «a alma para a morte», como diz Camões (Os Lusíadas, IV, 86). Ora, este descobrimento de João Rui de Sousa, que se lê ao contrário, se informado não fosse, mais aparelhado do que é – do argumento ao léxico, do búzio regular de toantes e consoantes a sinestesias e imagens visualmente fortes, como aquela «extensa lança arremessada / ao coração das águas» referida à Ponta de São Lourenço –, e para uso próprio e alheio, seria difícil de encontrar. Depara-se-lhe a origem da vida, não perigo de morte. Não é subversão pequena. Em transe prosodicamente vigiado – interpolo a notável imagem de “Cuidar a razão”, num já bastante diferente Os Percursos, as Estações (2000: 29): «Administra a tua razão / como um anjo louco» –, este, digamos, poema em 11 cantos ao Arquipélago acrescenta-lhe uma espécie bibliográfica – logo, regional –, e, face ao sobressalto temático na produção de João Rui de Sousa, retempera a sua lira, que também reequaciona. Como será, doravante, esta lírica, já sobre a praia dos afectos, e despedidas, como se deve a quem embarca? Encontro uma síntese admirável dessa caminhada de quatro decénios em “Colar” (2000: 131): As vozes são pátrias repartidas / por muitos lábios. // E os lábios são rosas embebidas / por um ardor de estames. // E os estames são aves surpreendidas / pelo furor de tudo quanto ousamos. Assim, «E já no porto da ínclita Ulisseia» (Os Lusíadas, IV, 84), e já deste lado da amizade, é bom, Poenauta, tê-lo entre nós. 2. No acto da atribuição do Prémio Vida Literária (2012) pela Associação Portuguesa de Escritores, olhando tardiamente, mas com justiça, a 13 volumes reunidos em dois da Obra Poética. 1960-2000 (2002) , bem como ao crítico disperso, ao prefaciador, ao editor de Mário Saa, Poesia e Alguma Prosa (2006), entre outras dádivas –, reli Lavra e Pousio (2005), reiterando a paixão pelo desporto, numa Leonor camoniana preparando-se para o salto em altura (p. 85), e Quarteto para as Próximas Chuvas (2008). Este abre e fecha com «O ser é transformável e transforma-se.», representativo de ecos e toadas – variações em anáfora, discretas repetições em copulativos (verbo e conjunção), dícticos de tempo e lugar – e da acção que sobre nós exerce quem nos sofre. Rareia desenlace («Um dia me olharás e não respondo.» [p. 66]), algum sob modo de «sombras», ou de expressionismo cru, não a metáfora líquida prevalecente: «e a corça de seiva a percorrer / a escuridão dos corpos trucidados.» (p. 20) Há um crescente grau de indissociabilidade, que é a perda de nós mesmos, quando não nos perdemos em enumeração. Veja-se a narrativa em bela redondilha menor (não é única) de “Frio”, que encerra: «Sentado num banco / o frio era tanto / que o frio era eu!» (p. 46) E um discreto Cesário revisto em Álvaro de Campos: «Ó esquinas e portais, tanques e calçadas, / sois coisas que em voragem vão no mundo / e que nestes meus dedos fazem escala!» (p. 73) O real desce ao discurso das formas (há heptassílabos inesperados, outras metrificações discretas) em registos da técnica espacial, do elemento vegetal, do exemplo agrícola ou espécie botânica, que foram os primeiros amores do nosso diplomado e sua originária actividade profissional. Nessa empiria se apoia a quarta parte, ‘O rosto (o rasto) da escrita’, em torno da poética autoral, a que dá passagem “Límpidas palavras” (p. 82), final da terceira parte, ‘Fulgurações’. As palavras “Vêm de dentro” e têm o destino das plantas, que não são senhoras de si mesmas. Sê-lo-á o próprio sujeito? “Ossos do ofício” conclui: Repito. É nestes dias de sol (de sul) / que eu trabalho. // Mesmo quando apenas sombras / crescem. E a dor é já um sal / irrecusável. (p. 131) É como se outro mar invadisse o mar de brincar que é a vida. E, neste reino de sombras que o muito ler adensa, só atingíssemos o «vulto» daquilo por que vivemos, situação presente do autor empírico. «Vultos» reiterados encontraremos em Ardorosa Súmula (2016), onde o que arde – motivo dos inícios desta poética – é, agora, o olhar, enquanto regressa, também, uma prosopografia da «escrita que tarda» e Eros renasce, na madureza clássica de “Intensificação”. Sabe bem encerrar com Alberto Caeiro na retentiva, num desses inesperados finais que também marcam João Rui de Sousa: É em íngremes serranias – e talvez ao luar – / que acompanho o gado (o vulto / das palavras) de que às vezes sou dono / e sou pastor. // Bem junto a ele, e vislumbrando ao longe / ruínas e caminhos, hortejos e silvedos / (e mesmo um corpo em chamas de guitarra), / reencontro o fio das frases e os poemas / − seus currais. (2008: 132) Teresa Martins Marques sonoerdtpS8mga1lcl58l326 1 650a3ucmfmt h 9c 8 6f · 2 comments Luís Filipe Marcão Privei com o João Rui nos encontros de poesia e sensibilidades poéticas em Monsaraz, finais dos anos 90. Um poeta maduro que sabia acolher os mais novos. Descanse em paz. Reply17 h Maria Cantinho sonoerdtpS8mga1lcl58l326 1 650a3ucmfmt h 9c 8 6f · 2 comments Ruy Ventura Devo-lhe atenções que nunca lhe pagarei! Já se sabe onde e quando será o funeral? Reply3 h

  • MAIS UM JORNALISTA NOS DEIXOU

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    ARMANDO PEREIRA DA SILVA (1940-2022)
    Morreu o jornalista Armando Pereira da Silva, uma das melhores pessoas que conheci, ao longo da vida. Só os velhacos não conseguiam gostar de um homem de enorme carácter, profissional competente, dotado de uma enorme sensibilidade e rara inteligência.
    Foi chefe de redacção, entre outros, do Diário de Lisboa, e d’o diário, assumindo também a direcção do jornal. Passou pela Casa da Imprensa, a instituição mutualista dos jornalistas, tendo presidido à respectiva direcção.
    Deixo a minha solidariedade aos filhos – um deles até se chama Sérgio – e um abraço ao Armando, um amigo que nunca esquecerei.
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  • Perdeu-se um professor de excelência

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    Hoje dia da Região Autónoma dos Açores, a região ficou mais pobre !
    Perdeu um excelente homem e um profissional de excelência; eras o expoente máximo na Gestão de Qualidade nos Açores .
    Perdeu-se um professor de excelência que transformou-se num bom amigo .
    Como professor eras exigente ( no bom sentido da palavra) através das tuas enormes competências técnicas e teóricas sobre Gestão de Qualidade.
    Foi contigo Prof José Carlos que experimentei sushi pela primeira vez no fantástico Umai!
    Saber onde comer bem era uma das tuas especialidades , dialogar contigo era sinónimo de aprendizagem constante .
    Eras de um trato fácil e sempre com um sorriso que mesmo nas dificuldades ajudava a resolver os problemas!
    O mundo é muito cruel sem percebemos o porquê!!!
    À Carlota, Maria e Mafalda os meus sentidos pêsames e um abraço de força !
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  • aos amigos de Timor: morreu a Sissi (Iracema Santos Clara)

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    soube agora que faleceu em fevereiro a amiga Sissi, Iracema Santos Clara, professora de muitos e amiga de lonaga data. Fui em setº 1973 com o marido de avião para Timor, como recordava no livro de 1999 Timor Leste 1973-75 o dossier secreto:

    a última mensagem dela fora na passagem de ano “Abraço grande. Que o ano que começa lhe traga saúde, alegria e o amor dos que lhe são queridos.”

     

    em 2019 escrevia-me assim:

    Olá amigo!

    Comecei a entrar nos seus poemas que são irmãos da ilha bela. Estou a gostar muito. Levou-me a voar no sentido de não tocar o chão e levou-me a correr atrás dos termos cujos significados não conhecia…apenas ia adivinhando. Vou construindo um glossário.
    Parabéns, poeta. Felicitações, amigo.

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    … Dispus-me a partir, para alívio dos restantes e do Sr. Neves, da Air France, que temia perder o voo. O Capitão Manuel Alberto Botelho dos Santos Clara viajava em primeira classe (um dos poucos militares com quem me dei após o SMO, que sempre respeitei e de quem fiquei amigo. Não o vejo desde 1988 embora me corresponda com a Sissi (Iracema, mulher dele falecida em fevº 2022 mas só o soube em junho 2022, e com quem me correspondi ao longo de décadas), os restantes oficiais na classe económica. Eu aspirava a voos mais altos com a habitual descontração, e palavras bem sussurradas em Francês, aliadas ao charme latino, consegui que uma simpática hospedeira me levasse ao bar no 1º andar do Boeing 747 onde passei a viagem a beber champanhe, na companhia dela que passou mais tempo comigo no luxuoso conforto do que nas funções dela, para espanto do Santos Clara que estranhava a minha presença….

    Deixando para trás locais que só a memória despalavrada pode recordar, eis Díli, seis horas depois, viagem fulminantemente rápida. Pareciam 400 mas foram só 212 km. Ao entrar, por Bécora, a leste, chineses e timorenses partilham a promiscuidade da falta de estruturas urbanas. Uma avenida, demasiado larga, espalha a poeira pesada sobre o colmo das palapas.

    Messe de Oficiais, meio-dia. Ia alto o sol. Eu e o Capitão Santos Clara de blazer azul. As calças, brancas, ficaram cor de duna. Díli é uma planície, espraia-se pela enseada, baía majestosa à sombra imponente da vizinha Ataúro. Um porto incipiente abriga a anacrónica lancha Tibar (mais tempo em doca seca do que na água), onde flutua a esfarrapada bandeira portuguesa que ninguém substituiu. Na direção da Areia Branca, destroços naufragados à superfície, de barcaças japonesas da 2ª Guerra. A marginal termina a oeste, no bairro do Farol, vivendas construídas depois da Guerra, para chefes de departamento e escalões superiores do exército colonial. Díli, 16 km de asfalto esparsamente distribuídos na capital. Três casas sobreviveram à devastação nipónica. No aeródromo, em dia de São Avião, um Land Rover limpa a pista dos pachorrentos búfalos, vacas balinesas e porcos. A artéria comercial atravessa Díli de ocidente a oriente, espinha dorsal da capital. …

     

     

    Bobonaro: …

    O Comandante de Setor, Jorge Gouvea Falcão (faleceu março 2020) era uma joia de pessoa, casado com uma chinesa, a Lotus de Jade Tchum, coadjuvado pelo civilizado Cap. Pereira Coutinho. O Cap. Careano era um parvo, substituído pelo Santos Clara que tinha ido comigo. Com o bonacheirão Cap. Páscoa tive poucos contactos….

     

  • MÁRIO MESQUITA – UM ILHÉU MUITO À FRENTE, DO PAÍS…

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    MÁRIO MESQUITA – UM ILHÉU MUITO À FRENTE, DO PAÍS…
    No dia em que a RDP Açores faz 81 anos de vida, não me apetece escrever nada. São tantas as memórias e as perdas, que sinto uma nostalgia sem retorno. Nem a casa do velho Emissor Regional dos Açores, símbolo de uma cidade de 2ª Guerra Mundial, conseguiu resistir. Nem Gaspar Fructuoso, nome da rua, Historiador-Mor,- 500 anos depois do seu nascimento – conseguiu sensibilizar quem quer que seja…Da minha janela há hoje uma cidade cinzenta, chuvosa e triste. Há dias assim…
    A morte abrupta, repentina, inesperada, de Mário Mesquita, deixa-me num vazio imenso. Revejo o que lhe escrevi há poucos dias: “ Caro Amigo, Mário Mesquita. Tarde é o que nunca chega e eu chego em cima data limite do prazo. As minhas desculpas… Aqui lhe deixo o meu olhar impressionista sobre Manuel Ferreira com a gratidão de tão honroso convite”. Mário Mesquita tinha convidado por telefone e depois por escrito, para com Ele, Ernesto Resendes,e Santos Narciso, ajudar a coordenar um livro de “ estudos e testemunhos” sobre o escritor e jornalista Manuel Ferreira, pois segundo M.M. “dez anos decorridos após o desaparecimento de Manuel Ferreira, é ocasião de lembrar a sua personalidade singular e o seu papel na literatura e na imprensa açoriana”
    Foi a última vez que conversei ao telefone com Mário Mesquita. Ele por causa de Manuel Ferreira e eu, para falar do meu reconhecimento pela sua obra notável, exemplar, superior. Para lembrar o pai, Higino Mesquita, com quem passei grandes momentos à conversa junto à Palmeira do Largo de Camões, sempre na busca de um mexerico de bastidor quando o seu filho Mário era o brilhante e interventivo Director do Diário de Noticias de Lisboa; para falar destas coisas corriqueiras do ser-se avô…Dias antes da apresentação do livro sobre a sua obra, o correio trouxe-me, enviado pela editora, o livro sobre a sua obra” A Liberdade por Princípio, Estudos Testemunhos em homenagem a Mário Mesquita” com uma tocante dedicatória:” Para o Sidónio Bettencourt com a amizade e o apreço profissional do Mário Mesquita”. Em 1989, brindou-me no Diário de Lisboa, que então dirigia, com um texto de reconhecimento e incentivo, sobre o meu modesto contributo ao jornalismo radiofónico, com a reportagem “ Vestígios Açorianos no Desterro Brasileiro”. Não tendo sido académico e muito menos seu aluno, bebi tudo que escrevia, quer nos jornais, nos livros, nas revistas da especialidade como a “ Comunicação e Linguagens” da Universidade Nova de Lisboa; quer sobre os Açores e toda a temática sobre a História e em particular nas relações com os E.U.A. Tenho à cabeceira o “ “Mini-Dicionário da Autonomia dos Açores” que passa por conceitos tão detalhados como “ açorianidade, autonomia, nacionalismo, continente, iberismo, separatismo, consciência regional” e tantos outros de plena actualidade…
    A sua dimensão é imensa, inovadora e multidisciplinar, de grande qualidade, académica, jornalística, literária. Um pensamento de luta e de lucidez. Um grande intelectual que orgulha a sua terra, os Açores; a sua Ilha, São Miguel, o seu país, Portugal. Mário Mesquita é um Ilhéu, muito à frente, do seu País.
    Mário Mesquita vai para Ficar, cada vez, mais Presente. O Tempo vai dizer-nos do tamanho do seu Exemplo, e da sua Obra.
    Há dias ao telefone uma última frase em jeito de despedida: “ a sua neta, é toda, o seu avô. Nunca me engano nas feições”. Ele sorriu… Para sempre. S. B.
    You, José Carlos Oliveira Frias, Paulo Mendes and 6 others
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  • Morreu o jornalista e escritor Fernando Sobral – O Jornal Económico

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    O jornalista Fernando Sobral, colaborador do Jornal Económico, faleceu esta sexta-feira, vítima de doença prolongada. O Jornal Económico apresenta sentidas condolências à família e aos amigos de Fernando Sobral.

    Source: Morreu o jornalista e escritor Fernando Sobral – O Jornal Económico

  • TIMOR IN MEMORIAM

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    FLORES AMARGAS (AI FUNAM MORUK )
    TRIBUTO AO CASAL TERESA GALHARDO/ SILVÉRIO HENRIQUE DA COSTA JÓNATAS
    Em Timor-Leste cumpre-se a cerimónia do sétimo dia depois do funeral, o chamado das Flores Amargas, o dia Ai Funan Morok. Devido ao seu conhecimento de Timor e das suas gentes, Teresa Galhardo foi um elemento fundamental no estabelecimento da ligação entre nós e os timorenses que aqui viviam o exílio da pátria. Reencontrámo-nos no lançamento dos meus dois livros, A Batalha das Lágrimas e Crónicas Timorenses, respetivamente o 1º e 2º volumes de uma obra de 5 volumes intitulada A Pedra e a Folha. Com o casal, o meu contacto veio a dar-se quando empreendi a escrita do 3º volume desta obra , com o título Os Timorenses (1973-1980). Para uma inteira compreensão do período da descolonização que se seguiu à Revolução do 25 de Abril, solicitei a ajuda do Coronel Jónatas que gentilmente se prestou a dar-me todos os esclarecimentos sobre essa conturbada época da nossa história. Durante meses trabalhei assídua e arduamente com o coronel Jónatas, lendo documentos que até então jaziam no fundo dos baús mergulhados no pó do esquecimento público e dos historiadores e que pacientemente, o coronel Jónatas me foi não apenas dando para consulta como se empenhou em debater comigo todos os pontos que a minha ignorância dos factos encontrava obscurecidos. Nesses longos fins de tarde que se prolongavam pela noite dentro, Teresa Galhardo , a nossa Gunga, deu-me igualmente informações preciosas sobre o ambiente vivido nessa distante parcela do império português , quer antes, quer durante a Revolução dos Cravos até à sua saída do território. Muitos personagens do meu livro lhe devem igualmente a possibilidade de uma segunda vida pela sua presença num romance histórico, beneficiando-os de alcançarem a sua posteridade pela sua presença num livro, pois o que é a escrita senão a palavra que dura? Jamais esqueceria os mimos culinários com que nos brindou ao jantar, na pausa do intenso trabalho a que nos tínhamos devotado durante horas. Nas anotações do coronel Jónatas colhi muita informação sobre o carácter e o temperamento de muitas personalidades da História contemporânea timorense, muitos dos seus protagonistas de então são considerados hoje heróis nacionais tombados pela pátria e cuja personalidade não era vislumbrada por quem abordasse este período incandescente do nascimento da nação e da independência, suas tensões e conflitos se não tivesse tido acesso a essas observações do coronel Jónatas. Tendo com os militares de Abril e suas famílias ressurgido as relações entre as pessoas no corpo social, o seu convívio com os líderes timorenses e suas famílias foram-me de uma grande utilidade para a compreensão do clima moral dessa época assim como a das forças sociais que emergiram em Timor. Devo-lhes a minha aproximação à personalidade não só de António Duarte Carvarino e esposa Maria do Céu Pereira, professora de uma filha do casal ,assim como a dos líderes políticos mais relevantes . Todos esses pormenores só podiam ter sido observados e recolhidos por um militar de Abril aberto à sua comunidade de origem e igualmente aberto aos outros homens, aceitando-os na sua nobre missão sem abdicar da lealdade e isenção que devido ao seu alto cargo devia a si mesmo, aos seus familiares e amigos, à hierarquia militar e à sua pátria.Até sempre, querida Gunga.
    Joana Ruas
    You, Arlindo Mu, José António Cabrita and 22 others
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      José António Cabrita

      Muito obrigado por esta partilha. Uma partilha de estudiosa e escritora, claro que sim; mas, sobretudo a partilha humana e próxima que, por vezes, mas só para os estudiosos avisados, acontece com as suas fontes.
      Permita- me, por favor, está enfatização, que pode parecer desmedida.