Arquivo da Categoria: judeus jews sionismo islao terror russia

A IDADE MÉDIA VINGA-SE AGORA NA EUROPA ATRAVÉS DO ISLÃO

Views: 0

A IDADE MÉDIA VINGA-SE AGORA NA EUROPA ATRAVÉS DO ISLÃO

Porque queixar-se do Vigor islâmico se o Problema está na Fraqueza político-cultural da Europa?

 

A migração de muçulmanos para a Europa significa um enriquecimento para a economia das nações fortes e para o rejuvenescimento da população europeia, que tinha uma taxa de natalidade muitíssimo baixa, mas, por outro lado, irá provocar consequências problemáticas de longo alcance na cultura e na política da Europa.

Quem estudar as bases do Islão (Corão, sharia-preceitos e os ahadith-feitos de Maomé contidos na Suna) facilmente chega à conclusão que, o Islão é um estilo de vida; nos moldes ocidentais, o Islão é uma ideologia política camuflada de religião; como tal tem mais perspectivas de autoafirmação sociopolítica do que qualquer outro grupo político ou ideologia. O islão submete toda a vida do humano e da sociedade a regras (sharia) incompatíveis com os valores humanos dos Estados ocidentais que dão primazia à soberania do Estado (democracia) e não a Deus/Allah; por outro lado o islamismo é mais compatível com o poder e mais adequado aos instintos das massas globais; a sua divisa é “submissão” (Islão significa resignação, submissão).

Instintivamente, o islamismo conseguiu amarrar os ocidentais à preocupação de o não ofender nem questionar quando impõe os seus hábitos e costumes de gueto. Os governantes europeus como sabem que os seguidores do islão não se adaptam, adaptam-se eles aos muçulmanos para terem o sentimento de não perderem. Por seu lado, a opinião pública ocidental não se preocupa com os próprios erros nem com a falsidade ou autenticidade da comunidade islâmica ordenando o discurso sobre ela apenas pelo imaginário religioso.

O imperialismo islâmico embora não tenha a força económica do Ocidente conseguirá um dia sobrepor-se-lhe devido à conexão identitária da sua ideologia hegemónica (identificação político-sociológica através do laço da religião que tudo une, legitima e subordina: a essência da pessoa e sua relação com o outro é determinada pelo islão, o resto é considerado infiel. Neste contexto, não é sem razão que sistemas também eles autoritários, como o chinês e o russo, tenham medo dos grupos islâmicos dentro do próprio país: estão conscientes de que as suas ideologias políticas passam, mas as do islão são de natureza político-religiosa sustentável devido ao seu caracter de unidade intrínseca. As diferentes formas de governo mais ou menos moderadas estão sempre sujeitas aos guardiões da religião que se afirma como cultura do contra. A vontade do povo é identificada com a tradição de Maomé e por ele é crivada a “democracia”. Segundo a tradição islâmica, o Estado e a Democracia não podem usurpar a soberania de Allah e substitui-la pela soberania do Estado laico. Neste sentido, a nacionalidade secular/Estado é irrelevante perante o Direito Divino (o Corão e a Suna) que são imutáveis. Por isso os crentes mais conformes com os princípios muçulmanos combatem o secularismo porque a doutrina não permite contextualização que só seria possível se fosse permitida a exegese teológica.

Como religião nascida da guerra e de matriz masculina orientada para o poder serve-se do princípio da afirmação do mais forte conseguindo assim afirmar (‘democratizar’ masculinamente) também no povo o mesmo princípio da subordinação, garantidor de uma ordem social estável apesar de injusta porque contra a feminilidade humana. Também a estrutura familiar está concebida no sentido de expandir o Islão. (O Islão tem a mais valia africana de ter feito das tribos errantes da Península Arábica a civilização árabe: hoje o Islão, expresso no Corão e na vontade de Maomé, é a segunda crença maior do mundo, possuindo cerca de 1,8 bilhão de fiéis sobretudo na Ásia e na África).

Concludentemente não baseia a dignidade humana na pessoa, mas na pertença ao grupo muçulmano (de ideologia superior, comparável à de Hitler no que tocava à elevação da raça indo-germânica em relação às outras); deste modo impede o desenvolvimento das potencialidades revolucionárias do individuo na luta pelo desenvolvimento da pessoa humana, dirigindo essas potencialidades emancipatórias individuais para a afirmação global da comunidade islâmica que justifica o Jihad e os ataques suicidas (Ao contrário da antropologia ocidental, a honra humana não vem da pessoa, mas da pertença à comunidade islâmica que confere a personalidade ao indivíduo). A islamidade une consciência de norma, consciência individual e consciência colectiva de forma intrinsecamente ligadas a Allah e a Maomé não suportando a diversidade e fazendo valer em vez dela a consciência do nós (Ummah). Esta implica a não distinção entre sagrado e profano como expressão da lealdade ao país, à comunidade árabe e ao Islão.

A paz islâmica será possível quando governantes e governados se submetem ao código islâmico na vivência do dia a dia e na promoção da paz e da fraternidade islâmicas no mundo. A fraternidade islâmica não conhece o amor ao próximo, em vez dele afirma o amor e a solidariedade com o irmão muçulmano numa ética do ser bom o que serve o mundo islâmico e mau o que se encontra fora dele (O dar al-Islam – territórios onde se pratica a lei islâmica – identificado com a Ummah, contra o dar al-Harb – “área de guerra” ou seja área não islâmica). Daí a tolerância geral islâmica em relação ao terrorismo islâmico.

O sentimento de pertença religiosa é determinante no Islão, facto que a sociedade ocidental ignora como factor de sustentabilidade e por isso não consegue compreender a dinâmica de grupos como Al Kaida, ataques suicidas em nome de Allah, bem como levantamentos gerais no mundo islâmico quando o Islão é ofendido. O sentimento de pertença tem de passar pelo islão; a Ummah (comunidade dos muçulmanos de todo o mundo) que transcende Estados, Constituições e regiões e a pertença ele implica o sobrepor-se a todos os demais. O problema maior vem do facto de não reconhecer o que não seja islâmico (só ordem mundial islâmica) nem a divisão entre poder religioso e poder secular, factos estes que ajudam a garantir a guerra até ao fim dos tempos (o mundo muçulmano fá-lo em nome de Allah e o ocidental em nome do bem-estar económico).

Neste contexto, as democracias ocidentais estarão condenadas a oscilações cíclicas precárias por razões intrínsecas a elas mesmas porque legitimamente baseiam a afirmação das democracias na dignidade humana e na individualidade, factores estes que criam dificuldades à afirmação de interesses meramente institucionais e que explicam o desequilíbrio entre sistemas autárquicos e sistemas democráticos – daí uma certa lógica no autoritarismo crescente também em democracias. Perante o sistema muçulmano estas democracias tornam-se sistemicamente fracas correndo o perigo de serem dominadas por ele pois este afirma-se e concebe-se como grupo (o órgão ou grupo assume supremacia em relação ao elemento e a expansão global em relação à expressão regional geográfica). A falta de organização orgânica interna das democracias ocidentais (existência de uma orgânica meramente externa a nível de administrações ou elites sem transcendência– sem identidade comunitária cultural popular) levará a Europa a islamizar-se e a perder o seu caracter humanista próprio. (O problema da civilização ocidental de cunho cristão situa-se nela mesma ao identificar o amor indiscriminadamente a Deus-ao Próximo- e a si mesmo, numa visão de humanidade universal de irmãos e não de culturas, civilizações ou formas de governo. Neste sentido Jesus não era cristão, europeu, africano ou asiático e o seu povo era a humanidade.

Segundo a Universidade de San Diego, daqui a 12 anos, 25% da população da Europa será muçulmana. A sociedade islâmica é consistente por si mesma e afirma-se como sociedade paralela controlada pelas mesquitas numa afirmação não inclusiva, mas do contra; na Europa há já cidades onde a maioria da população com menos de 18 anos é muçulmana. Na Inglaterra onde normas da sharia (lei islâmica) já são integradas (paralelamente) no direito inglês, um terço dos estudantes muçulmanos britânicos são a favor da criação de um califado mundial. Em muitas cidades inglesas as prefeituras são já dirigidas por muçulmanos (Londres é um exemplo disso), o que noutras circunstâncias não envolveria medos. Medos são maus conselheiros porque deles surgem lutas instintivas (1)

O problema não deve ser colocado nas pessoas muçulmanas que são inteligentes e apenas sabem tirar proveito dos fortes e das fraquezas da sociedade ocidental. A consciência islâmica leva-os a investir na política porque esta tem grande influência no desenvolvimento da consciência dos povos; o facto de muçulmanos serem individualmente reféns do sistema religioso instiga-os a conceberem um mundo a ser cativo. A questão não é a força do islão, mas a fraqueza da cultura ocidental (2) que ultrapassou o seu Zénite e tem a pouca sorte de gerar governantes e elites irresponsáveis e também elas de ideologias decadentes.

A emigração muçulmana em massa para a Europa sem medidas políticas de integração que fomentem a sua evolução religiosa e evitem a formação de guetos está a ser o maior erro político cometido por uma oligarquia europeia comprometida num progresso desintegrador da cultura europeia que tenta compensar a sua carência reprodutora e o envelhecimento da sociedade com a importação de famílias muçulmanas fecundas que por sua vez são conscientes da robustez da sua unidade cultural, aquilo que justamente os torna fortes.

A queixa, contra um islão consciente do que é poder e como poder se torna sustentável, é, na Europa, reduzido a um lamentar de carpideiras à frente do moribundo. Um grande erro foi a política europeia ter-se orientado apenas por factores de razão económica desprezando o factor cultural próprio e nessa lógica ter fomentado uma política multicultural – uma estratégia asseguradora da construção de barreiras e guetos culturais dentro da própria sociedade – em vez de implementar uma política dialógica intercultural de enriquecimento mútuo para as partes envolvidas (a questão coloca-se só em relação ao Islão porque pelo observar da História todos os grupos étnicos e religiosos integram-se ou vivem sem exigências exageradas).

Nos anos oitenta, como porta-voz dos 35 mil estrangeiros no Conselho de Estrangeiros de Kassel lutei pela afirmação dos direitos dos estrangeiros na Alemanha em benefício sobretudo dos muçulmanos. O contacto directo com a comunidade muçulmana (representantes das associações em torno das mesquitas e imames) permitiu-me, pouco a pouco, compreender a estratégica esperta e coerente do islão e perceber o porquê da decadência da sociedade europeia em relação à sociedade islâmica (trata-se do encontro de duas sociologias e de duas antropologias tão distantes uma da outra com a Idade Média e da Idade Moderna uma da outra: a primeira faz valer a comunidade à custa do indivíduo e a segunda faz valer a individualidade à custa da comunidade); o Ocidente contemporâneo afirma o individualismo contra a comunidade e o islão afirma a comunidade contra o indivíduo: dois extremos, no primeiro domina o relativismo e no segundo o dogmatismo. Para termos um possível exemplo do pior que poderia esperar à sociedade europeia seria imaginar o seu desenvolvimento com o desenvolvimento da Turquia desde 1915 e observar o destino das minorias.

Urge o encontro intercultural e a inter-relação dialogal equitativa de comunidade e indivíduo para corrigir a política multicultural de forças paralelas, para se iniciar um período de inclusão dos valores da comunidade e do indivíduo. O Islão pode aprender da comunidade ocidental e esta pode aprender do Islão.

É interessante verificar que nos inícios dos anos oitenta, nós os representantes dos Conselhos de Estrangeiros nos dirigíamos aos Países Baixos para os imitarmos nas suas medidas progressistas e liberais de acolhimento de estrangeiros para as aplicarmos nas nossas câmaras municipais. Hoje, 60% da população dos Países Baixos considera a imigração muçulmana em massa como o erro político número um pós-guerra mundial.

Nos países de imigração já é possível observar, no comportamento social, as diferentes atitudes dos grupos imigrados de diferentes regiões e culturas em relação à sociedade acolhedora. Daí também a injustiça feita a muitos imigrantes ao metê-los todos no mesmo saco; o mesmo se dará ao considerar todos os imigrantes islâmicos pela mesma rasoura. O pensamento indiferenciado tem sido um erro comum a políticos e populações no que se refere ao tema das migrações.

Desde o Renascimento operou-se uma emancipação progressiva do indivíduo em relação à comunidade. Tal como na Idade Média a comunidade (instituição) abusava do indivíduo, a partir da emancipação renascentista e moderna o indivíduo emancipou-se de tal modo que exteriormente chegou ao exagero de prescindir do seu fundamento que é a comunidade; com a desintegração social em processo e a desconstrução cultural europeia damos início à queda do império ocidental tal como aconteceu com o Império romano. Os muçulmanos, que se encontram estruturalmente na Idade Média beneficiarão da vantagem de se afirmarem como comunidade numa sociedade ocidental já não comunidade, por isso condenada a abdicar e a ceder ao relativismo cultural e à consequente afirmação de egos não orgânicos que se tornarão anonimamente controláveis por supraestruturas globalistas.

Um grande motivo histórico para consolação no suceder-se das civilizações, é o facto de, geralmente, ao expirarem terem dado oportunidade a um passo em frente, dando origem a novas perspectivas! Segundo analistas até as guerras foram factores de grande desenvolvimento humano.

O mundo anda escuro demais, mas isso é uma questão cíclica como a das estações do ano; o pior não será a escuridão, mas sim andar sem ideia do caminho nem saber aonde ele leva. Temos o exemplo da escuridão da noite e verificamos que também ela tem sentido, mas para podermos andar nela temos de adaptar as pupilas ao escuro, que é a outra parte da realidade. O mais importante é saber como caminhar e para onde. Andar às apalpadelas pode ajudar a afinar o sentido de orientação.

António CD Justo

Notas em “Pegadas do Tempo”: https://antonio-justo.eu/?p=8885

 

 

GUERRA E SUBMISSÃO

 

A guerra implica sempre injustiça dos dois lados. O fatal é que geralmente cada lado tem razão e faz uso do princípio: “nós” somos os bons, só os outros são maus. Socialmente seria mais honesto dizer: o “nós” são os nossos interesses e deles fazemos depender o bem e o mal.

Para complicar, na sociedade, as probabilidades de ser enganado multiplicam-se de ambos os lados. As duas partes governantes influenciam o seu público, através dos meios de comunicação, para que a população assuma com gratidão a fatura da guerra.

O povo carrega a cruz, e quem tem a cruz só lhe resta a possibilidade de abençoar!

Perante a decisão determinante dos governos a sociedade reage como o gato que uma vez admoestado assume o gesto de submissão roçando em torno das pernas do poder transformando a oportuna agressão em amizade submissa.

António CD Justo

Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=8883

MODO DE CRISE

 

A palavra do ano 2023 na Alemanha é “modo de crise” porque a política não consegue sair da crise e a “coligação dos semáforos” em Berlim está ela própria a criar crise social na sua forma de governar. O governo quis burlar o orçamento de 2024 para contornar o travão constitucional da dívida, mas o Tribunal Constitucional impediu-o e deste modo o governo já não pôde utilizar os 60 mil milhões de dívidas da pandemia de Corona para a transformação ecológica e outros planos do governo.

O conflito político, económico e geoestratégico na Ucrânia e em Gaza e um amontoado de novas emergências estão a causar crises em todo o mundo. Esperemos que o modus de crise não passe a stand bei nos desafios da futura coexistência global.

Por estas e por outras, embora dolorosamente, no futuro teremos de aprender a viver em “modo de crise”.

António CD Justo

Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=8881

 

Na Saxónia, podes pedir nacionalidade alemã – mas tens de apoiar Israel

Views: 1

Na Saxónia-Anhalt os candidatos a cidadania no Estado têm de concordar que Israel tem o “direito de existir”.

Source: Na Saxónia, podes pedir nacionalidade alemã – mas tens de apoiar Israel

Turista morre em ataque com faca e martelo no centro de Paris. Duas pessoas ficaram feridas – Mundo – Correio da Manhã

Views: 0

Polícia deteve o agressor.

Source: Turista morre em ataque com faca e martelo no centro de Paris. Duas pessoas ficaram feridas – Mundo – Correio da Manhã

Alterações à Lei da Nacionalidade podem impactar descendentes de judeus sefarditas e cidadãos que contestam “artigo 14” – Jornal Mundo Lusíada

Views: 0

De acordo com o advogado luso-brasileiro Paulo Porto Fernandes, que atuou na Assembleia da República de Portugal como deputado, sendo eleito pela emigração pelo círculo de fora da Europa, “a concessão da nacionalidade portuguesa aos descendentes de judeus sefarditas, expulsos da Península Ibérica em 1492, deveria terminar em dezembro de 2023

Source: Alterações à Lei da Nacionalidade podem impactar descendentes de judeus sefarditas e cidadãos que contestam “artigo 14” – Jornal Mundo Lusíada

Um judeu português, construtor de pontes | Sete Margens

Views: 0

“Um judeu português, patriota, que amava imensamente o seu país, homem culto e afetuoso, dedicado à sua comunidade, conciliador, um homem que a ninguém deixava indiferente pela gentileza e elevação no trato.” Assim definiu a Comunidade Israelita de Lisboa a personalidade do seu antigo presidente, Jo

Source: Um judeu português, construtor de pontes | Sete Margens

HISTÓRIAS DA INQUISIÇÃO EM BRAGANÇA

Views: 0

Nós Transmontanos, Sefarditas e Marranos – JOÃO MARTINS, ESTALAJADEIRO (1525– ANTES DE 1593)
João Martins e sua mulher foram os primeiros que encontrámos trabalhando na indústria hoteleira em Bragança. Exploravam uma estalagem e entre os seus hóspedes havia dois estudantes. Um deles era filho do cura de Carragosa. O outro chamava-se António de Morais, filho de um Pantaleão de Morais. Não temos informação segura Da escola que frequentavam mas pensamos que estudariam no colégio dos Jesuítas, em instalações ainda provisórias. Isto porque no mesmo processo de João Martins se fala do “colégio que agora faziam da Companhia de Jesus”. (1)
Em simultâneo ia-se delimitando o espaço da atual Praça da Sé e eram já construídas bastantes casas envolventes, a avaliar pelas testemunhas referidas no processo e que ali moravam. Havia também ali um banco de ferrador e uma das casas era exatamente a estalagem de João Martins. Estas e outras notas se colhem deste processo. E isso prova que a leitura dos processos da inquisição também tem interesse para o estudo do desenvolvimento urbano da cidade.
Na dita estalagem esteve hospedado em Janeiro de 1561 o carpinteiro Francisco Teixeira. No mês de Maio seguinte, o “bispo” de Miranda do Douro, (2) terá ido visitar Bragança e ali tirou devassa sobre eventuais comportamentos judaicos. E então, apresentou-se Francisco Teixeira e disse que presenciara algumas zangas entre o estalajadeiro e a mulher e que no meio de uma discussão ouvira aquele dizer “que havia de vender quanto tinha e ir-se a caminho do Golfo e deixá-la com suas filhas”.
Acrescentou o carpinteiro que João Martins e a mulher não trabalhavam nos sábados, que nesses dias vestiam camisas lavadas e nos domingos punham “vestidos da semana”. E que, por ver estes comportamentos do estalajadeiro, Francisco Teixeira o questionara um dia perguntando-lhe se era bom cristão e seguia a lei de Cristo. Ao que aquele respondera “que de judeu se não podia fazer bom cristão, como de cristão se não fazia bom judeu”.
A questão parecia ter ficado por ali. Ninguém terá aparecido a confirmar aquela denúncia. No entanto, um ano depois, chegou a Bragança, enviado pela inquisição de Lisboa a fazer nova “visitação”, o Mestre Francisco Cano. (3) E então caíram sobre João Martins novas acusações de judaísmo. O primeiro denunciante foi o licenciado Cristóvão Pires que disse:
– Que ouvira dizer a António Pires, seu irmão, que duas pessoas, ou uma pessoa lhe disseram que ouviram dizer certas palavras contra a virgindade de nossa senhora a um cristão-novo desta cidade…
Mais de uma dúzia de vizinhos de João Martins desfilou em seguida perante o visitador, confirmando a denúncia e acrescentando outras. Sobre o assunto, vejamos o depoimento de António de Morais, o estudante que atrás apresentámos:
– Disse que ele testemunha ouviu pelejar, haverá um ano, a João Martins com sua mulher, jurando muito, pondo a boca em Deus e também ameaçando a mulher, que a queria queimar e aos filhos e se havia de ir por aí além, não declarando aonde se havia de ir, o que ele ouviu por estar presente. E dali a uns dias (…) ouviu ele testemunha ao dito João Martins sobre outras pelejas que havia tido com suas vizinhas que sua mulher tinha um quarto de cristã-velha e 3 quartos de cristã-nova e que havia de ir buscar um feixe de vides para lhe queimar o quarto que tinha de cristã-velha…
Imagine-se: queimar a parte cristã-velha que a mulher tinha!… No entanto, se aqui se trata de um desabafo, o mesmo não acontecia com a máquina inquisitorial que até averiguava se alguém tinha 1/8 ou 1/16 avos de sangue hebreu!
António de Morais só lhe ouviu dizer que “se havia de ir por aí além”. Contudo a generalidade das testemunhas acrescentou a indicação do destino da fuga, que seria a região do Médio Oriente. Vejamos, por exemplo o que depoimento do alfaiate Pero Gonçalves:
– Disse que uma noite pelejara João Martins com sua mulher e lhe dizia que a havia de queimar a ela e às filhas e que se havia de ir para o Golfo. O que ele ouviu e lhe pareceu mal por ser o Golfo onde se vão fugindo os judeus…
Interessante esta informação: até aos anos de 1560 a rota principal de fuga dos cristãos-novos de Bragança seria a região do Golfo. De referir também que o pai e um tio do nosso estalajadeiro tinham também fugido para o Golfo, sendo aquele processado pela inquisição e queimado em estátua. E ele próprio confessaria aos inquisidores “que tinha vontade de ir para o Golfo para ser judeu”.
Outra denúncia foi apresentada por um membro da confraria das Chagas, em linguagem bem castiça e saborosa:
– Disse que indo ele testemunha pedindo esmola para a confraria das Chagas, (…) o dito João Martins alçou a aba do pelote, como lhe mostrava a fraldiqueira, e deu um piparote dizendo: pegue lá, que eu não tenho dinheiro – dizendo isso como homem que fazia em pouca conta a devoção de Deus.
Voltemos a Bragança, ao verão de 1562. Na sequência da visitação de Francisco Cano, João Martins foi levado para a cadeia de Miranda onde permaneceu 3 meses, ao fim dos quais, em 12.12. 1562, o provisor do bispado, Dr. Gil do Prado mandou copiar as denúncias feitas nas visitações e o mandou levar para a inquisição de Lisboa onde foi entregue em 23 daquele mês de dezembro.
Metido na prisão, logo em 15 de Janeiro, João Martins pediu audiência e confessou suas culpas, dizendo que fora catequizado por um “homem pobre e velho, alfaiate, natural de Mogadouro” seu vizinho em Bragança, chamado João Álvares. E contou que guardava os sábados, que fazia jejuns judaicos, nomeadamente o do Kipur e que também sua mulher o acompanhava nas ditas cerimónias. Curiosa resposta a sua quando o inquisidor lhe perguntou porque se fiara num pobre velho:
-Disse que lhe dissera que a lei dos judeus era alva e ele creu que na dita lei se podia salvar por ser alva.
Seria relativamente breve a sua passagem pelas masmorras da inquisição, saindo condenado em cárcere e hábito perpétuo no auto de fé celebrado em 6 de maio de 1563.
Como era de norma, foi enviado para o colégio da fé para ser instruído na doutrina cristã. Em 26 de junho seguinte, no seguimento de uma petição e com prova de estar bem instruído, foi autorizado a deixar o colégio e ir morar no bairro de Santa Marinha, em Lisboa, uma espécie de liberdade condicional, como hoje diríamos, com obrigação de andar vestido com o sambenito e de se apresentar diariamente nas Escolas Gerais.
Entretanto, e no seguimento das suas denúncias, Catarina Martins, sua mulher, foi também presa (4) e metida nos cárceres da inquisição, em 16 de Agosto de 1563. Dias depois o inquisidor geral autorizava que lhe tirassem o hábito penitencial a João Martins e que regressasse a Bragança, em resposta a uma segunda petição e “havendo respeito a ele ser muito pobre e necessitado (…) e por ter 4 filhas, as quais andam por casas alheias”.
Resta dizer que João Martins faleceu antes de 1593, altura em que sua mulher foi presa segunda vez, acabando queimada na fogueira do auto de fé de 8 Outubro de 1593 (5)
Também Helena Martins, filha do casal e herdeira da estalagem, casada com João Pires, foi presa em 1593 pela inquisição de Coimbra.
E a história desta família na inquisição continuou pela geração seguinte, com a prisão de duas filhas de Helena e João Pires, em 1595: Ana e Catarina. (6)
NOTAS e BIBLIOGRAFIA:
1-ANTT, inq. Lisboa, pº 12468, de João Martins. Sobre a construção do colégio ver: RODRIGUES, Luís Alexandre, Bragança no Século XVIII. Urbanismo. Arquitectura, volume I, pp 309-313. O primeiro sacristão que encontramos da igreja de S. João (a do Colégio) chamava-se Pedro de Lafaia, filho de João de Lafaia, carpinteiro que também trabalharia na construção do colégio. Um tio materno de Pedro Lafaia era sacerdote, cura da igreja de Sezulfe e outro era membro da Companhia de Jesus – ANTT, inq. Coimbra, pº 2155, de Pedro de Lafaia.
2-Se bem que no processo se fale na “devassa que o senhor bispo de Miranda tirou, visitando a cidade de Bragança” pensamos que o visitador terá sido o provisor do bispado e deão do cabido Dr. Gil do Prado, um dos fiéis servidores do inquisidor mor, cardeal D. Henrique. Ver: ANDRADE e GUIMARÃES, Os Judeus em Trás-os-Montes A Rua da Costanilha, Âncora Editora, Lisboa, 2015, pp. 75-79.
3-Mestre Francisco Cano foi secretário e testamenteiro da rainha D. Catarina, mulher de D. João III. Da Casa da mesma rainha, seu “esmoler” e confessor era também o bispo D. Julião de Alba, tal como fora o primeiro, D. Toríbio Lopes, enquanto o segundo D. Rodrigo de Carvalho era inquisidor em Évora. Pensamos que seria interessante fazer um estudo aprofundado das relações entre D. Catarina, o cardeal D. Henrique, a inquisição e o bispado de Miranda.
4-ANTT, inq. Lisboa pº 3546, de Catarina Martins.
5-IDEM, inq. Coimbra, pº 4147, de Catarina Martins – ALVES… Memórias… vol . 5 p. 57.
6-IDEM, inq. Coimbra, pº 2744, de Ana Martins; pº 6089, de Catarina Martins.
António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães
May be an image of 8 people, street and text that says "Bragança Praça da Se"
All reactions:

You and 10 others

1 share
Like

Comment
Share