Categoria: TIMOR história e memorias

  • LINGUA PORTUGUESA EM TIMOR

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    Dia Mundial da Língua Portuguesa
    Em Timor, durante a ocupação indonésia, um grupo de pessoas, liderado pelos Padres Leão da Costa (falecido) e Domingos da Cunha, fez tudo o que estava ao seu alcance, inclusive correr risco de vida, para salvar a Língua Portuguesa, considerada língua dos timorenses, com toda a propriedade, e factor distintivo da sua identidade única, forjada ao longo de séculos, também no encontro entre a cultura portuguesa e as culturas dos diversos reinos timorenses. Fica aqui um pequeno contributo no blog do centro de investigação (CIDTFF) para marcar o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Espero que gostem de ler.
    Cumprimentos muito especiais ao Sr. Padre Domingos da Cunha.
    Salvar a língua portuguesa: O Externato de São José em Timor durante a ocupação indonésia
    BLOGS.UA.PT
    Salvar a língua portuguesa: O Externato de São José em Timor durante a ocupação indonésia
    Texto por Ângelo Ferreira (CIDTFF), no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Língua Portuguesa Defendi no passado dia 24 de março uma tese de doutoramento em Educação, com a orientação do Prof.…
    You, José Bárbara Branco, Estevao Cabral and 53 others
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    • Vicente Faria

      Viva a CPLP e viva Timor-Leste, um povo, uma nação com a sua própria identidade bem preservada.🇹🇱🇵🇹

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  • timor morreu o avô Serra

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    Rosely Forganes

    May be an image of 1 person
    Antonio Sampaio

    is with

    António Serra

    .

    Morreu o “avô” Serra, um dos portugueses que vivia há mais anos em Timor-Leste

    Díli, 09 abr 2021 (Lusa) – José Serra, um dos portugueses que vivia há mais temp…

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    • Um herói da luta pela independência, nunca reconhecido! A memória de um povo é o seu futuro. Sem memória…

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    • Para sempre na memória de quem teve o privilégio de o conhecer e privar um pouco com ele, ouvir as suas histórias, comer o seu tukir de cabrito, beber da sua paz e verdade
      Um abraço

      eterno Avô

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    • Que descanse em paz!!
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    • Paz à sua alma
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    • Que descanse em paz. Gostei muito de o conhecer e de ouvir as histórias da História Timorense.
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    • Tive o privilégio de o conhecer. Visitei-o várias vezes entre 2004 e 2008. Que descanse em paz.
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    • Também tive o previlegio de conhecer este senhor e ouvir a sua vida, Paz a sua Alma.
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    • Nunca reconhecido.
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    tS1ponso0reodhfgf

    Rui Sá Pinto Correia
    Partiu um português feito mundo, dos últimos que o mundo teve e que se guardou pelas montanhas de Timor como se fosse o seu torrão natal, o Fundão, e de quem tive o privilégio de ouvir as suas histórias de vida.
    Conheci-o quando num périplo pelas montanhas de Liquiçá após ter feito a viagem Lisboa-Dili de moto, cheguei ao seu terreiro nos píncaros das montanhas de Liquiçá.
    Transcrevo a memória que ficou deste primeiro contacto a que se seguiram depois outros encontros e partilhas.
    Descansa em paz avô Serra.
    Março, 2017
    Avô Serra com 89 anos é uma figura bem conhecida em Timor-Leste, tendo sido o único português a ter permanecido no território durante a ocupação indonésia, sendo obrigado a refugiar-se nas montanhas com a guerrilha por 3 anos durante a luta de resistência.
    Com 25 cabeças de gado que o governador Alves Aldeia lhe entregou, chegou a ter 400. Com a invasão, entregou-as todas para alimentar a guerrilha. Confessa com alguma amargura, não ter visto reconhecida pelos novos governantes da terra a sua participação no esforço da luta pela independência. Talvez por ter cor de pele de malai. Lembra todos aqueles que muitas vezes sem testemunhado esforço na luta de libertação recebem agora pensões de veteranos, quando ele por 24 anos resistiu sozinho naquelas serras perdidas de montanha.
    Actualmente dedica-se à sua plantação de café e a fornecer de frutas e caprinos o hotel de referência da capital, o Hotel Timor.
    Natural do Fundão, veio para Timor em 1964 a convite de um seu irmão. Desde então não mais regressou a Portugal. Em 2000, o Embaixador e o programa de TV “Portugal no Coração” chegaram a ter preparada a viagem de saudade e regresso, que não se concretizou. Agora diz que a juventude e as pernas, que lhe pesam, já lhe não permitem voltar. Tem medo de assim traçar o futuro certo que viu a outros suceder, os quais depois da visita tão ansiada à longínqua “metrópole” se deixaram morrer escassas semanas depois de voltarem a Timor.
    Num canto do terreiro aponta o seu lugar onde ficar.
    Desço a montanha entre o verde fresco e fim de tarde. No horizonte suspensa entre mar e céu, a ilha de Alor e do mistério, apresenta-se majestosa em toda a sua extensão, coberta de nuvens alvas como neve.
    As portas abertas das habitações oferecem o simples conforto do fim de dia. Um sorriso numa cara bonita à beira do caminho espreita entre bambus e elegância. Súbito o doce aroma do café torrado e a excelência doce do leite creme mimoseiam-me o olfacto. Num momento realizo, como se justifica num ermo, uma vida longe de um outro mundo.
    +8
    Rui Sá Pinto Correia

    added 12 new photos to the album Visita à Quinta do Avô Serra.

    Visita à quinta do “Avô” Serra em Maubara.
    Avô Serra com 89 anos é uma figura bem conhecida em Timor-Leste, tendo sido o único português a ter permanecido no território durante a ocupação indonésia, sendo obrigado a refugiar-se nas montanhas com a guerrilha por 3 anos durante a luta de resistência.
    Com 25 cabeças de gado que o governador Alves Aldeia lhe entregou, chegou a ter 400. Com a invasão, perdeu todas estas cabeças de gado para alimentar a guerrilha. Confessa com alguma amargura, não ter visto reconhecida a sua participação no esforço da luta pela independência pelos novos governantes da terra. Talvez por ter cor de pele de malai. Lembra todos aqueles que muitas vezes sem testemunhado esforço na luta de libertação recebem agora pensões de veteranos, quando ele por 24 anos resistiu sozinho naquelas serras perdidas de montanha.
    Actualmente dedica-se à sua plantação de café e a fornecer de frutas e caprinos o hotel de referência da capital, o Hotel Timor.
    Natural do Fundão, veio para Timor em 1964 a convite de um seu irmão. Desde então não mais regressou a Portugal. Em 2000, o Embaixador e o programa de TV “Portugal no Coração” chegaram a ter preparada a viagem de saudade e regresso, que não se concretizou. Agora diz que a juventude e as pernas, que lhe pesam, já lhe não permitem voltar. Tem medo de assim traçar o futuro certo que viu a outros suceder, os quais depois da visita tão ansiada à longínqua “metrópole” se deixaram morrer escassas semanas depois de voltarem a Timor. Num canto do terreiro aponta o seu lugar onde ficar.
    Desço a montanha entre o verde fresco e fim de tarde. No horizonte suspensa entre mar e céu, a ilha de Alor e do mistério, apresenta-se majestosa em toda a sua extensão, coberta de nuvens alvas como neve.
    As portas abertas das habitações oferecem o simples conforto do fim de dia. Um sorriso numa cara bonita à beira do caminho espreita entre bambus e elegância. Súbito o doce aroma do café torrado e a excelência doce do leite creme mimoseiam-me o olfacto. Num momento realizo, como se justifica num ermo, uma vida longe de um outro mundo.
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    • Bonito texto de homenagem
      Correcção, não foi o único português, que permaneceu em Timor durante A ocupação Indonésia
      Havia também um Alentejano de apelido Casanova, ou Casa Branca
  • 722. as inundações em díli (ao luís takas cardoso)

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    1. as inundações em díli (ao luís takas cardoso)

     

    segunda feira de pascoela

    tiraram as pulseiras eletrónicas

    estamos em liberdade condicional até nova ordem

    quero sair à rua conversar com os peixes falantes

    das últimas chuvas em timor

    nas ruas e estradas que já não há

    nas palapas que a correnteza levou

    país de ricos cheio de pobres

    estradas que vão reconstruir

    e os desprovidos a viver ao relento

    desta vez a culpa não é do malai

    como em 1973 quando houve inundações

     

    queria ver o governo a distribuir riqueza

    do petróleo e do gás para todos

    para terem casas, água, luz, saneamento

    para não construírem nas encostas despidas

    nas margens das ribeiras que se fazem rios

    na costa de marés cheias devastadoras

     

    escrevi em 1972 que era preciso um poeta

    para ministro das finanças

    tu meu caro luís takas Cardoso

    és o meu indicado

    para dar alforria aos pobres

    iluminar as palapas

    educar os analfabetos

    matar a fome nas montanhas

    criar o país que tantos sonhamos

     

    chrys c (inédito)

  • RUY CINATTI POETA E ANTROPÓLOGO

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    LONDRES – 8 MAR 1915 – Nasce RUY CINATTI – que seria um antropólogo e agrónomo de nomeada, tendo-se consagrado como poeta.
    Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes1, filho de António Vaz Monteiro Gomes2 e de Hermínia Celeste Cinatti3 (casaram em Londres em 24 de Janeiro de 1914), nasceu, em Londres, em 8 de Março de 1915. A morte da mãe, em 2 de Abril de 1917, e a ausência do pai em missão do governo português nos Estados Unidos, levaram a que Ruy Cinatti tivesse ficado ao cuidado do avô materno, Demétrio Cinatti4.
    Em 15 de novembro de 1921, morreu Demétrio Cinatti, e o neto, Ruy, então com seis anos de idade, passou a viver com os avós paternos, o juiz Rui Luís Gomes5 e a mulher, Amélia Augusta Vaz Monteiro6 . Entretanto, o pai, casara em segundas núpcias, nos Estados Unidos, com Flora Stern7, em 1919, de quem teve uma filha, Amélia Vaz Monteiro Gomes8. O seu regresso a Portugal, em Junho de 1925, determinou que Ruy Cinatti passasse, pela primeira vez, a viver com o pai.
    Entre 1925 e 1931, frequentou o Colégio Arriaga, o Instituto Profissional dos Pupilos do Exército e o Colégio de Nuno Álvares, tendo iniciado, em Outubro de 1931, o curso complementar dos liceus, no Liceu Passos Manuel, que concluiu em 1934. Contrariando a vontade do pai, que pretendia que ingressasse na Escola Naval ou na Escola de Guerra, Ruy Cinatti, inscreveu-se em Agronomia e, por imposição paterna, voltou para casa da avó Amélia.
    Em 1935, participou no I Cruzeiro de féria às Colónias, organizado pela revista “O Mundo Português” e dirigido pelos professores Marcello Caetano, Orlando Ribeiro e Norberto Cardigos dos Reis. No ano seguinte, e ainda relacionado com o Cruzeiro, publicou, na mesma revista ” O Mundo Português” (3/30, de 1936), o conto “Ossobó”, a história de um pássaro que vivia nas florestas da ilha do Príncipe. Em 1937, publicou no “Diário de Lisboa” (21de outubro de 1937) a primeira versão do texto “Retrato de minha Mãe”, que, posteriormente, corrigida e aumentada, serviria de introdução ao seu primeiro livro de poesia “Nós Não Somos Deste Mundo” (Cadernos de Poesia, lisboa, 1941, 2ª edição, Ática, 1960).
    No verão de 1938 viajou até Inglaterra para frequentar um curso de férias em Oxford, onde não conseguiu inscrever-se. Em alternativa, frequentou um outro curso, na Universidade do Sudoeste de Inglaterra, em Exeter, tendo ganho o prémio “The Oxford BooK of English Verse”, pelo melhor ensaio. Em 1939, colaborou no “Jornal da MP/Mocidade Portuguesa publicando seis textos: “Da arte de andar”, “Partida”, “Cabo Verde”, duas “Cartas a um Vanguardista” e um comentário a um apelo de Salazar à vida ativa. No mesmo ano, empenhou-se no lançamento de uma revista, “Cadernos de Poesia”, que acabou por fundar juntamente com Tomaz Kim (pseudónimo literário de Joaquim Monteiro Grilo), José Blanc de Portugal e João Cabral do Nascimento. O primeiro fascículo da revista saiu em 9 de Março de 1940 a que se seguiram quinze números distribuídos por três séries: 1940-1942, 1951 e 1952-1953. Em Maio de 1942, editou uma outra revista, “Aventura”, que dirigiu, ao longo dos cinco números publicados, até Setembro de 1944.
    Além de estudante de Agronomia e de editor/organizador das revistas “Cadernos de Poesia” e “Aventura”, Ruy Cinatti, foi também, neste período, locutor da Mocidade Portuguesa na Emissora Nacional e redator da revista dos universitários católicos, “Ala”. Em 1943, concluiu, ao fim de oito anos e meio, o curso e o tirocínio obrigatório de Agronomia. Faltava-lhe, no entanto, a dissertação final que só apresentaria em Maio de 1950, com o trabalho “Reconhecimento em Timor”, tendo recebido a classificação final de dezanove valores.
    Em Maio de 1944, ingressou como meteorologista na “Pan American Airwais”, onde se manteve até 1946. Neste mesmo ano de 1946 foi convidado para integrar a nova administração portuguesa em Timor-Leste como secretário do Governador Óscar Ruas. Partiu de Lisboa, juntamente com a restante comitiva, em 26 de Junho e chegou a Díli a 27 de Julho. Apesar de as suas expectativas profissionais não se terem, em parte, realizado confessa-se apaixonado por Timor que o prendeu “com cadeias de ferro , a ponto de estar disposto a iludir o bom senso ou o que ele me indicar.” No entanto, ao fim de dezoito meses no território, decidiu regressar a Lisboa “devido à necessidade inadiável de defender a tese e ter um modo de vida definido” e também pela avó cujo estado de saúde, entretanto, se agravara.
    Partiu de Díli, em Dezembro de 1947, e chegou a Lisboa em meados de 1948, onde vem encontrar a avó diminuída mas livre de perigo. Também o conflito com a família paterna, em especial com o pai, agudizou-se e, para piorar as coisas, não tinha casa. “E assim encontrei-me em Lisboa sem família e num estado de grande depressão(…). Encontrei a paz com os meus amigos e tenho vivido mais ou menos com eles. Entretanto, tenho estado a trabalhar na tese, sobre as madeiras de Timor. O progresso nessa tarefa não tem sido o que poderia esperar.” Em Abril de 1949, e, depois de entregue à Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais o relatório das suas pesquisas de Timor, além de um requerimento dirigido à mesma Junta, no qual propunha o seu regresso a Timor para prosseguir os seus trabalhos de campo, foi integrado neste organismo como estagiário com a incumbência de estudar “a flora, madeiras e recursos económicos” do território.
    No ano seguinte, além da apresentação da tese, publicou três estudos de carácter científico relacionados com Timor: “Esboço histórico do Sândalo no Timor Português” (Junta de Investigações Coloniais, 1950), “Explorações Botânicas em Timor” (Junta de Investigações Coloniais, Coleção “Estudos, ensaios e documentos”, nº 4, 1950) e “Reconhecimento Preliminar das Formações Florestais no Timor Português” (Junta de Investigações Coloniais, Coleção “Estudos, ensaios e documentos”, nº 5, 1950). Em 28 de Setembro de 1951, viu realizado o seu propósito de voltar a Timor, ao ser nomeado chefe dos Serviços da Agricultura do Governo de Timor. Partiu no dia seguinte e chegou a Díli em 10 de Novembro depois de ter passado por Beirute, Calcutá, Singapura, Jacarta e Bali.
    No entanto, e apesar do seu entusiasmo pelo regresso ao território, não estava muito confiante em relação às funções que iria exercer: “Eu vinha preocupado com o ofício que mais tarde ou mais cedo terei de desempenhar e não conseguia dominar a angústia nem o desejo de fuga para qualquer ilha, a leste.” O objetivo principal no seu regresso a Timor, “investigar e realizar agronomia”, assentava na liberdade de movimentos que lhe permitisse percorrer o território. Segundo informa Ruy Cinatti numa carta a um amigo, o próprio Ministro do Ultramar (Sarmento Rodrigues), face ao seu entusiasmo teria afirmado: “V. vai para Timor para andar a monte, conviver com o indígena e não toca sequer num papel”. Não foi isto que aconteceu, pelo menos, a maior parte do tempo. “Só papéis e mais papéis”, queixa-se.
    Com efeito, o segundo período de permanência de Cinatti em Timor, à semelhança aliás do que aconteceu no primeiro, ficou também marcado do ponto de vista profissional pela incompatibilidade entre a missão oficial de que se sentia incumbido e a lógica do Governo de Timor, que privilegiava o trabalho de gabinete. “Isto de Governo de Timor é um autêntico Governo de Tarados e eu, para não criar exceções, resolvi sê-lo também à minha maneira”. Por outro lado, o cansaço e a frustração adensam-se, “Timor começa a saturar-me demasiado”. Neste estado de espírito, quatro anos depois de ter chegado ao território, sente-se pouco disponível para “continuar a servir uma administração que vai de mal a pior”. Requereu uma licença graciosa e partiu para Lisboa em Dezembro de 1955, onde chegou em Janeiro de 1956.
    Em Lisboa, reencontrou o pai, com sessenta e nove anos que se preparava para as suas terceiras núpcias com uma australiana de trinta anos, Mary Clarissa Gwendoline Broaadley. O casamento realizou-se em Londres, a 29 de Novembro de 1956. Profissionalmente, e na impossibilidade de regressar imediatamente a Timor – alegou “conselho clínico” para não voltar já à província -, requereu à Junta de Investigações do Ultramar a sua integração nos quadros do organismo. Na primavera de 1957, depois de terminada a licença graciosa, ingressou, finalmente, nos quadros da Junta de Investigações do Ultramar e, desde logo, apresentou uma proposta para frequentar em Inglaterra um curso de Antropologia Cultural. O objetivo era simples: obtido o grau académico poderia regressar a Timor como investigador e já não como funcionário do quadro administrativo. A proposta foi deferida e Ruy Cinatti autorizado pela Junta a deslocar-se “para Inglaterra pelo período de três anos com o fim de obter o grau de B. A. ou B. Sc. (Bacharel em Artes ou Ciências) em Antropologia Cultural e Social”.
    Inicialmente, matriculou-se na Universidade de Londres. No entanto, em Outubro de 1957, transferiu-se para Oxford não só para ter “mais sossego e menos tentações” mas também pelo facto de o curso de Oxford se destinar “exclusivamente a estudantes pós-graduados e a obtenção do diploma [compreender] o período de um ano.” Diplomou-se em Antropologia Geral e Social em Junho de 1958. Em Outubro do mesmo ano, chefiou uma missão da Junta de Investigações do Ultramar a Timor com a finalidade de estudar o “habitat insular” mas, em Novembro, regressou a Oxford com a intenção de prosseguir os estudos de antropologia e de obter um grau académico em Antropologia Cultural. Entretanto, publicou a obra “O livro do Nómada Meu Amigo” (Guimarães Editores, 1958, 2ª ed. 1966 e 3ª ed. 1981), pela qual recebeu o Prémio Antero de Quental.
    Em meados de 1961, depois de dois anos e meio em Oxford, regressou a Lisboa com o fim de assegurar financiamento oficial para a realização de trabalhos de campo em Timor no âmbito da preparação da sua tese de doutoramento em Antropologia. Assegurado o financiamento, partiu para Timor, via Nova Iorque, onde participou, em representação do Gabinete de Negócios Políticos do Ministério do Ultramar, na Assembleia de Estudos Africanos. A viagem a Nova Iorque foi o expediente encontrado para suportar parte dos custos da deslocação a Timor, em representação da Junta de Investigações do Ultramar. Permaneceu em Timor de Novembro de 1961 a Dezembro de 1962, período durante o qual desenvolveu diversos trabalhos no campo da antropologia aplicando os conhecimentos teóricos adquiridos em Oxford. Em carta ao prof. Penniman, o seu tutor em Oxford, afirma: “Estou muito feliz em Timor. Tudo o que tenho aprendido em Oxford está a dar os seus frutos. Esta ilha é um paraíso antropológico, completamente ignorado e demasiado vasto para um homem só.”
    Em Janeiro de 1963, já em Lisboa, passou a residir, pela primeira vez, em casa própria, alugada a seu pedido pela irmã. No que respeita a trabalhos científicos, publicou na revista “Colóquio” (Abril de 1963) um estudo, “As Pinturas Rupestres de Timor”. Participou também, em Junho deste ano, no Congresso Internacional de Etnografia, em Santo Tirso, onde apresentou uma comunicação com o título “Tipos de casas timorenses e um rito de consagração”. No ano seguinte, publicou dois trabalhos sobre Timor: “Useful Plants in Portuguese Timor – An Historical Survey” (comunicação apresentada ao V Congresso Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, Coimbra, 1964) e “Brevíssimo Tratado da Província de Timor” (Lisboa, 1964). Deslocou-se ainda a vários países europeus para discutir com diversos especialistas a sua análise das pinturas rupestres de Timor.
    Entretanto, em Junho de 1964, requereu às autoridades académicas de Oxford a prorrogação do prazo de entrega da sua tese de doutoramento, o que lhe foi concedido até ao último trimestre de 1967. Em 1965, deslocou-se, em representação da Junta de Investigações do Ultramar, a Lhaore, no Paquistão, para assistir a um seminário de arte, literatura e cultura afro-asiática. No entanto, “por razões de natureza política” os portugueses não foram admitidos no encontro. “Tanto melhor”: aproveitou o impedimento para viajar por diversos países do Médio Oriente cujo relato, com o título “Persépolis”, foi publicado na revista “Geographica” (1/4, de 1965).
    No ano seguinte, em Julho de 1966, deslocou-se, em serviço oficial, pela última vez a Timor, onde permaneceu até Setembro desse ano. No regresso passou por Honolulu e visitou o México antes de, em Nova Iorque, participar num colóquio de estudos luso-brasileiros.
    Entre 1967 e 1970, Ruy Cinatti, prosseguiu a sua atividade profissional na Junta de Investigações do Ultramar e escreveu os seguintes treze livros de poesia, tendo publicado a maior parte:
    “Manhã Imensa”, 1967 (publicado em 1984, pela Assírio e Alvim);
    “Sete Septetos”, 1967 (publicado em 1967, pela Guimarães Editores);
    “Memória Descritiva”, 1967 (publicado em 1971, pela Portugália Editora);
    “Crónica Caboverdeana”, 1967 (publicado, sob o pseudónimo de Júlio Celso Delgado, em 1967);
    “Ossobó”, 2ª ed., 1967;
    “O Tédio Recompensado”, 1968 (publicado em 1967, pela Guimarães Editores);
    “Um Cancioneiro para Timor”, 1968 (publicado parcialmente, em 1969, no jornal “A Voz de Timor”);
    “Borda D’ Alma”, 1969 (edição do autor, 1970);
    “Uma Sequência Timorense”, 1969 (publicado em 1970 pela Editora Pax);
    “Conversa de Rotina”, 1969 (publicado em 1973 pela Sociedade de Expansão Cultural);
    “O Ministério – Poema sério-jocoso em um canto”, 1970 (policopiado);
    “Corpo-Alma”, 1969 (publicado, postumamente, em 1994 pela Presença);
    “Archeologia ad Usum Animae”, 1969 (inédito);
    “Gazetilha”, 1970 (inédito).
    Em Julho de 1968, recebeu o Prémio Nacional de Poesia com a obra “Sete Septetos”. Em 1970, no âmbito das suas atribuições na Junta de Investigações Coloniais, foi nomeado membro da Comissão Científica do Vale do Zambeze-Cabora Bassa na área do habitat e urbanismo regional: “Estou agora metido na Comissão Científica do Vale do Zambeze-Cabora Bassa na área do habitat e urbanismo regional. Mas ainda lá não fui. É tudo papelada e os meus mais próximos colaboradores são todos muito analiticozinhos e não percebem as sínteses científico-poéticas.” No ano seguinte, 1971, participou, como representante da referida comissão num simpósio internacional, nos Estados Unidos, subordinado ao tema “Man Made Lakes”.
    Em Setembro deste ano e a convite do seu amigo Carlos Abecasis, presidente da Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, desloca-se a este território para proceder a uma avaliação sobre a integração local da empresa. Na sequência desta viagem escreve a obra inédita “Itinerário Angolano”. Também neste ano recebeu o Prémio Camilo Pessanha com a obra “Uma Sequência Timorense”.
    Em 1972, concedeu uma entrevista ao jornal “A Voz de Timor” na qual faz o balanço da sua atividade literária e refere que tem inéditos dez livros entre os quais “Paisagens Timorenses com Vultos”, que será publicado em 1924, pela editora Pax. Organizou também um novo livro de poesia “Lembranças para S. Tomé e Príncipe”, publicado em 1979 pelo Instituto Universitário de Évora. No âmbito profissional, foi encarregado de reunir material para o “Inventário Monumental e Artístico do Ultramar Português”. Em 1973, publicou o livro “Conversa de Rotina” (pela Sociedade de expansão Cultural) e apresentou a concurso, para o prémio de poesia da Agência-Geral do Ultramar, o livro ainda inédito “Lembranças para S. Tomé e Príncipe”.
    Acompanhou a revolução de 25 de Abril de 1974 com entusiasmo, primeiro, e preocupação, depois. A situação em Timor preocupava-o especialmente e procurou intervir de várias maneiras. Primeiro, por uma longa carta de resposta a um artigo do “Diário de Notícias” sobre Timor, enviada ao jornal em Janeiro de 1974 e que não foi publicada. Depois, em duas entrevistas que concedeu, ambas em 1975, uma ao jornal “A Luta” e a outra ao Jornal “Nova Terra”. Finalmente, através dos esforços que desenvolveu para se deslocar em funções oficiais ao território de Timor a fim de, por um lado, prosseguir as suas investigações arqueológicas e, por outro lado, colaborar com as autoridades portuguesas na descolonização do território. No entanto, e dada a situação política em Portugal, a deslocação não foi autorizada.
    Em Novembro de 1975, foi nomeado “Investigador e Consultor de Assuntos Relativos ao Sudeste Asiático, especialmente Timor” junto do “Museu de Etnologia”. Entre 1976 e 1984 publicou os seguintes livros: “Import-Export” (pela Meridiano, 1976), “O a Fazer, Faz-se” (Meridiano, 1976), “Lembranças para S: Tomé e Príncipe” (pelo Instituto Universitário de Évora, 1979), ” 56 Poemas” (pela Regra do Jogo, 1981. 2ª ed. Relógio de Água, 1992), e “Manhã Imensa” (pela Assírio e Alvim, 1984).
    Reformou-se com setenta anos em 1985. Morreu em 12 de Outubro de 1986 no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa e foi enterrado no Cemitério dos Ingleses9.
    1 Esta breve nota biográfica deve quase tudo, senão tudo, à obra do prof. Peter Stilwell “A Condição Humana em Ruy Cinatti, Editorial Presença, 1995.
    2 António Vaz Monteiro Gomes nasceu, em Lisboa, em 16 de Janeiro [ou 17 de Outubro] de 1887 e morreu, na mesma cidade, em 2 de Janeiro de 1958.
    3 Hermínia Celeste Cinatti nasceu , em Macau, em 17 de Dezembro de 1877 e morreu, em Lisboa, em 2 de Abril de 1917.
    4 Demétrio Cinatti nasceu, em Lisboa em 1 de Maio de 1851 e morreu, na mesma cidade, em 15 de Novembro de 1921. filho do arquiteto e cenógrafo italiano, José Cinatti, que veio para Portugal em 1836, e de Maria Rivolta, casou em Macau, em 25 de abril de 1876, com Hermínia Maria de Jesus Homem de Carvalho, falecida em 1900. Oficial da Marinha (reformou-se como Capitão-de Mar-e-Guerra), foi Comandante da Polícia Marítima e Capitão do porto de Macau, tendo, posteriormente ingressado na carreira consular: cônsul de Portugal em Cantão (1890), Pretória (1895), Havre (1905-1911), e, finalmente, em Londres (1911-1916).
    5 Vicente Luís Gomes nasceu, em Faro, em 21 de Agosto de 1861 e morreu, em Lisboa, em 31 de Julho de 1834. Casou, em Lisboa, em 2 de Fevereiro de 1887, com Amélia Augusta Vaz Monteiro.
    6 Amélia Augusta Vaz Monteiro Gomes nasceu, em Lisboa, em 26 de Março de 1859 e morreu, em Cascais, em 5 de Setembro de 1951.
    7 Flora Stern, de nacionalidade americana, morreu em 1950.
    8 Amélia Vaz Monteiro Gomes, irmã de Ruy Cinatti, nasceu, nos Estados Unidos, em 16 de Agosto de 1922, e morreu, em Lisboa, em Outubro de 1977.
    9 Segundo explica o Prof. Peter Stilwell, na nota 64 da página 389 do seu estudo “A Condição Humana em Ruy Cinatti”, “O Cemitério Britânico, mais conhecido como Cemitério dos Ingleses, remonta a um período em que não era dada sepultura a não-católicos nos cemitérios do país. Foi então criado pelos cidadãos britânicos não-católicos um cemitério próprio e, dentro do espírito da época, estabeleceu-se a norma, ainda hoje vigente, de não autorizar a sepultura de católicos nesse terreno – mesmo que de nacionalidade britânica. A sepultura de Cinatti no Cemitério Britânico ficou a dever-se ao facto de Flora Stern, segunda mulher de António Vaz Monteiro Gomes. não ser católica. Como a família adquiriu um talhão no cemitério por ocasião da sua morte, em 1950, nele puderam ser sepultados também os restos mortais de António Vaz Monteiro Gomes (1958), Amélia Vaz Monteiro Gomes (1977) e, por fim, como último membro da família, Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes (1986)”.
    [texto partilhado da página oficial da Universidade Católica Portuguesa, disponível na «net»]
    Proponho a revisitação de um programa da série ‘RTP ensina’, intitulado “Ruy Cinatti, o poeta antropólogo”.
    Autor de uma poesia despojada, Cinatti encanta-se pelas terras e gentes de Timor e teme pelo futuro da colónia portuguesa. Denuncia a “cobiça dos Indonésios”, alerta para os perigos da descolonização mas os poderosos não o ouvem e um povo é massacrado.
    Foi um homem do mundo, viajante da Europa, África e Oriente, um observador atento da natureza, mas só em Timor tem o apelo de uma terra que toma como sua. O antropólogo não resiste aos rituais desta nova cultura, o poeta fica preso ao exotismo de uma ilha que mora em paragens distantes.
    “Tudo me é novo e estranho”, escreve Ruy Cinatti no primeiro encontro com a colónia portuguesa em 1946, onde vai exercer o cargo de chefe do Gabinete do Governador e, mais tarde, chefe dos Serviços de Agricultura do Governo de Timor. A ilha, que fotografa e filma, transforma-se no centro da sua vida. Em 1956 alerta para a “cobiça dos indonésios” e, depois do 25 de Abril, pressente que algo de mau vai acontecer “àquela gente portuguesa”. Desesperado, procura ajuda para evitar a descolonização e escreve “Timor-Amor”. Em vão. A ilha é invadida. Cinatti já não vai assistir à concretização do sonho da independência que acontece 24 anos depois.
    O poeta antropólogo que nasceu em Londres e que em pequeno é levado a viver no Ribatejo, fez Agronomia na Universidade de Lisboa e Antropologia Social e Etnográfica em Oxford. Publicou os primeiros versos (“Ossobó”) com 21 anos. Nos “Cadernos de Poesia”, que funda juntamente com Jorge de Sena, José Blanc de Portugal e Tomás Kim, procura “um programa de autenticidade poética”, longe das correntes em vigor. A sua escrita é marcada por palavras claras, pelo rigor, por uma aparente simplicidade reveladora do homem profundamente religioso que é.
    Ao longo da sua vida são muitos os livros publicados e os galardões atribuídos. ”O Livro do Nómada Meu Amigo” tem o Prémio Antero de Quental, “Uma Sequência Timorense” é prémio Camilo Pessanha e “Sete Septetos” recebe o Prémio Nacional de Poesia.
    Nos últimos anos de vida conhece uma tal solidão que o faz dizer “hei-de morrer como um rato na sarjeta”. O poeta que “não era deste mundo” morre a 13 de Outubro de 1986, aos 71 anos.
    Neste artigo recuperamos o testemunho do poeta Fernando Pinto do Amaral sobre a importância da publicação da Obra Poética de Ruy Cinatti.
    Ruy Cinatti, o poeta antropólogo
    ENSINA.RTP.PT
    Ruy Cinatti, o poeta antropólogo
    Autor de uma poesia despojada, Cinatti encanta-se pelas terras e gentes de Timor e teme pelo futuro da colónia portuguesa. Denuncia a “cobiça dos Indonésios”, alerta para os perigos da descolonização mas os poderosos não o ouvem e um povo é massacrado.
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  • Ex-padre acusado de abusos em Timor-Leste é procurado por fraude bancária nos EUA

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    Ex-padre acusado de abusos em Timor-Leste é procurado por fraude bancária nos EUA
    Pante Macassar, Timor-Leste, 22 fev 2021 (Lusa) – O ex-padre norte-americano, que vai ser julgado em Timor-Leste por abuso sexual de menores, entre outros crimes, é procurado pelos Estados Unidos que pediram à Interpol a detenção por suspeitas de fraude.
    Na página digital da Interpol pode ler-se que Richard Daschbach é procurado pelas autoridades dos Estados Unidos por pelo menos “três acusações de fraude bancária”, sem apresentar quaisquer dados do processo em causa.
    A “notificação vermelha” da Interpol, com o número 2019-112634, refere que Dashbbach é natural da Pensilvânia, completou 84 anos no final de janeiro e tem nacionalidade indonésia e norte-americana.
    Este tipo de notificação da Interpol é emitida para “fugitivos procurados tanto para julgamento como para cumprir uma sentença”, explica a Interpol.
    Trata-se de um “pedido às autoridades judiciais em todo o mundo para que localizem e detenham provisoriamente a pessoa em causa à espera de extradição, entrega ou outras ações legais”.
    A notificação inclui quatro fotografias do ex-padre que começa a ser julgado na terça-feira no Tribunal do enclave de Oecusse-Ambeno, pelos crimes de abuso sexual de menores, pornografia infantil e violência doméstica.
    Timor-Leste não tem atualmente qualquer acordo de extradição internacional.
    ASP // EJ
    Lusa/Fim
    May be an image of 3 people and text that says "INTERPOL BACK TO SEARCH RESULTS DASCHBACH, RICHARD JUDE Wanted by United States 1 NTERPOL RED NOTICE Identity particulars Family name DASCHBACH Forename RICHARD JUDE Gender Male Date birth Place birth 26/01/1937 84 years old) Pennsylvania, United States Nationality United States, Indonesia"
    Rosa Horta Carrascalao, Rosely Forganes and 90 others
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    • Entrega só o homem que eles lá saberão tratá-lo da saúde.
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  • CROC EM DILI 1955

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    O QUE NÃO FOI O MATADOR —- 1.ª Alfândega de. Díli / Janeiro de 1955.
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    • NOS MEUS TEMPOS EM 73-75 EM DILI ERAM DESTE TAMANHO OU POUCO MAIORES, NADA QUE SE COMPARE AOS MONSTROS DE HOJE
  • OUTRA VERSÃO SOBRE O DESAPARECIMENTO DO ARBIRÚ

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    OUTRA VERSÃO SOBRE O DESAPARECIMENTO DO ARBIRÚ

     

    Tito Duarte escreveu em 28.4.2020

    “Hoje, vou dedicar o meu post ao José Rocha, e à sua meia-irmã, Telvira Dores.

    Na manhã do dia 28 de abril de 1973, partiu de DÍLI o navio “Arbirú”, construído nos estaleiros de Aveiro, propriedade do governo de Timor, destinado à cabotagem, sob o comando de José da Rocha Dores. Ia com destino a Banguecoque e, além da tripulação, levava alguns passageiros, entre eles a esposa do capitão – Rosentina Napoleão, mais conhecida por Babo – e mais três senhoras: a esposa do comandante dos portos – Pacheco Medeiros – a do gerente do BNU e a de um major Viegas, algarvio.

    Menos de 24 horas depois, o navio deixou de comunicar, o que não era de estranhar, pois já acontecera anteriormente. Porém, passados os doze dias, calculados para chegarem à capital da Tailândia, nada aconteceu. Passado que foi algum tempo, iniciaram-se as buscas, quer pelos nossos dois aviões “Dove”, quer por alguns países da área. Alguns dias depois, soube-se que havia um sobrevivente – Paulo do Rosário -, timorense, resgatado do mar por uma córcora da Indonésia e levado para a ilha das Flores.

    Pouco se soube do que ele relatou e, embora o chefe dos Serviços Meteorológicos – Dr.. Manuel da Costa Alves – tenha pedido, ao Centro Meteórico de Darwin, cópias das cartas meteorológicas e das imagens obtidas por satélite, daquela zona, que provavam a evidência clara a confirmar o diagnóstico, formulado pelos colegas australianos de ” que um pequeno e intenso ciclone tropical” justamente na posição indicada pelo marinheiro sobrevivente, “provava a existência de uma banda nebulosa com curvatura ciclónica perto do centro de perturbação e que pode ter originado uma tromba de água, que é, nem mais nem menos, um tornado no mar.”

    O governador, inexplicavelmente, com a colaboração da PIDE DGS, não ligou importância ao diagnóstico daquele técnico, nem o deixou dialogar com o náufrago), nem à afirmação do comandante dos portos, nem à minha – que, então chefiava os Serviços das Alfândegas – de que o navio não tinha carregado qualquer mercadoria… nada!

    Com que propósitos preferiram que se espalhasse o boato – que ainda hoje parece perdurar – de que o navio tinha sido atacado por piratas, ou pela Frelimo (incrível!), ou de transportar armas, devido a um misterioso negócio militar, de armas. Passados todos estes anos, penso que o propósito, de ocultar toda a verdade, terá sido para não terem que pagar indemnizações ou multas, pois o “Arbirú” destinava-se à cabotagem, por conseguinte ao longo da costa, e não a viagens de “longo curso “. Várias vezes já fora a Singapura, a Banguecoque, a Hong-Kong, ou a Fremantle, na Austrália. Estarei perto ou longe da verdade? Os conhecedores do assunto, já quase todos desapareceram. É o que posso, amiga Telvira e amigo José Rocha.”

    Foi isto que escrevi na altura no livro Timor Leste o dossier secreto 1973-1975 ed contemporânea:

    MAIO 1973 – Em maio assiste-se a um novo mistério típico de Timor, quando o navio Arbirú deixa Dili dia 28 rumo a Hong Kong, Macau e Banguecoque e subitamente desaparece dos mares sem deixar vestígios. Com a cooperação internacional, extensas buscas são feitas pelas marinhas da Indonésia, Filipinas e Malásia mas sem resultados!

    Umas semanas mais tarde, um único sobrevivente é recolhido em circunstâncias pouco críveis. Como sobreviveu no alto mar, infestado por tubarões e sem alimentos, permanecerá para sempre um mistério. Depois de chegar a Dili descreve com implausível detalhe as suas experiências de náufrago, deixando mais perguntas sem resposta do que aquilo a que responde.

    As conjeturas, então feitas, merecem apenas um vago comunicado oficial. Embora se tratasse de um cargueiro, naquela viagem transportava cerca de vinte passageiros civis, na sua maioria mulheres de oficiais do exército e senhora da alta sociedade local. Depois de inquirido localmente, o sobrevivente foi transferido para Lisboa para mais interrogatórios. Desconheço se alguma vez regressou a Timor. Dois anos mais tarde, começaram a surgir rumores de que alguns viúvos estariam a receber mensagens das esposas desaparecidas, mas nenhum deles estava disposto a discutir o assunto ou especular sobre o mesmo. Outro tabu!

    Arbirú a Lifau

    Já em 2020, em plena pandemia do Covid-19, mão amiga fez-me chegar um texto sobre o Arbirú, que corrobora uma das muitas versões que ouvi em Timor sobre esse desaparecimento. O novo testemunho que me chegou afirma:

    Estive lá (jun 72 até outº 75) em Ataúro, servindo na Marinha – Radionaval. Isso deu-me oportunidade de ver, formar opiniões diferentes dum artigo de Tito Duarte que colocou em linha. O Arbirú e comandante tinham uma posição única em Timor… Sou contemporâneo das famílias – não tenho intenções de mexerico. O Arbirú fazia contrabando como qualquer um. Neste caso como navio único em Timor era muito importante mas era um segredo aberto. Na viagem anterior um tripulante foi preso pela PIDE por contrabando de munições. Na última viagem o comandante do navio moveu mundos e fundos para ele ir na viagem. Antes da partida o comandante Rocha insistiu em informar o Sargento Lourenço da capitania sobre a situação financeira completa. Como não era habitual pedido, disse ” nunca se sabe…” Na última viagem para Banguecoque seguiam como passageiros os membros da Comissão organizadora da Festa do 10 de junho com fundos para compras, e dinheiro do Conselho de Câmbios para transferir para Lisboa. Nos passageiros iam senhoras da fina flor de Díli como a esposa do Comandante DM Medeiros, do Gerente BNU Figueiredo, do Comandante da Intendência militar, esposa do Comandante Rocha, e esposa de oficial de Informações militares (que não chegou a partir). No cais com as despedidas habituais, D Babo hesita, demora a embarcar, chorando incontrolável. O Comandante Rocha manda Luís Napoleão (irmão dela) levá-la para bordo… no último momento, o oficial de informações militares entra na ponte cais velozmente , trava junto da prancha de embarque, sobe rapidamente, agarra esposa por um braço e desce. O Comandante pergunta ele responda ”a minha mulher não vai ”. Entram no jipe e desaparecem.

    O navio só foi dado como desaparecido quando uma das casas comerciais chinesas em Díli, não tendo recebido noticias da chegada a Banguecoque, contactou os serviços portuários (Banguecoque) acerca da chegada navio. Foi-lhe respondido ”não está no porto nem é esperado”. Quer dizer não há ETA (data prevista de chegada) ou qualquer outra info. Só depois disso foi dado como desaparecido pelas autoridades de Timor. Devido ao tempo decorrido por não haver ideia da posição do navio, como habitual foram alertados os serviços de busca e salvamento numa área alargada – Indonésia, Singapura Hong Kong (Royal Navy) e Austrália. Nada. Havia incerteza sobre a posição do Arbirú porque apesar de ter rádios de longo alcance, sempre verificados antes de longas viagens, o navio só fazia contacto uma ou duas vezes depois da saida. A Estação Radionaval fazia chamada e escutava em hora e frequência determinadas. Depois disso fazíamos chamada e registávamos – chamado, escutado, não ouvido. Era o habitual, portanto não havia motivo para alarme. Quando chegava ao porto de destino comunicava através da Radio Marconi e nós interrompíamos escuta até sermos avisados da ETD (data estimada de partida) e nova escuta. Eles criaram essa situação e hábito e nunca foram corrigidos! Só passados uns tempos as autoridades receberam informação de um ”timorense” dado à costa na ilha das Flores. A Informação não correspondia à posição e área de interesse da busca que estava muito mais afastada.

    Quando eventualmente Paulo do Rosário foi trazido das Flores contou que o navio fora afundado por uma vaga gigante. Havia chuva torrencial com gotas do tamanho de pontas de dedo, vagas enormes, vento forte quando tudo aconteceu e ele, Rosário, estava na popa a fumar um cigarro… o navio afundou mas ele salvou-se porque entretanto já na agua conseguiu agarrar-se a uma tábua… (sem referenciar os outros náufragos). Ao fim de algum tempo deu à costa. Este foi o relato publicado na VOZ DE TIMOR. Chegado a Díli foi levado pela PIDE para investigação e mesmo quando libertado, ficou confinado em casa guardado por policia.

    O Arbirú nessas viagens fretadas levava grades com galinhas no convés juntamente com grande número de bidons vazios. Navegava leve porque ia vazio e com combustível suficiente só para chegar ao porto de destino. Levava dinheiro ou cartas de credito para atestar depósitos e os ditos bidons vazios. Com a diferença de câmbio fazia uma maquia. Era outro hábito permanente (de tal forma que quando voltava Díli, descarregava num dia ou dois e invariavelmente navegava para a contracosta por uma semana! Quando havia falta de combustível em Dili este vinha da montanha…). Não há referência alguma desses bidons vazios a flutuar durante as buscas. Eles seriam parte dos destroços que esperavam encontrar… Mas nada foi avistado. No fim agarraram-se a uma referência dos serviços meteorológicos australianos ”talvez pequeno tornado na área com pequenos vestígios de ‘‘flotsam (detritos à deriva). ‘‘ E foi assim o fim da investigação oficial. Houve missas pedindo a ajuda divina mas não para encomendar os mortos – naquela altura ”desaparecidos”.

    Só para confirmar que o M/V MUSI navegando Singapura – Díli costumava pedir reatamento de comunicações via Marconi duas vezes por dia, religiosamente, comunicava só para dizer “ loud and clear” no traffic – until next QSO thanks and out.” O mesmo com petroleiros nacionais para o Golfo Pérsico passando por Nacala em Moçambique diariamente até entrar em Ras Ta Nura (Arábia Saudita, Golfo Pérsico). Na volta ainda atracado pedia para recomeçar o contacto até Nacala. O mesmo Radionaval Lourenço Marques (Maputo), Macau e até na base em Diego Garcia. A exceção – Arbirú.

    Sistema manhoso desde sempre. O chefe de máquinas e telegrafista do navio era sempre da Marinha. O mesmo ramo Marinha, alojamento etc. O ultimo telegrafista permanente, CÉLIO aparentemente também queria negociar mas por conta própria e tentou fazer outra comissão mas o Comandante informou o Governador que era desnecessário haver telegrafista permanente. Na navegação costeira só telefonia e para o estrangeiro poderiam levar um dos Correios ou um militar com comissão terminada mas aguardando transporte de regresso. O governador concordou e um aprendiz de feiticeiro perdeu o negócio.

    Quando um novo enfermeiro começou a comissão, Sargento Simões, teve que fazer uma fogueira nas traseiras da radionaval para queimar a droga. Palavras dele próprio e confirmado por outros… Esse citado telegrafista Célio é fácil de referenciar porque tinha uma moto Honda 300 cor amarelo berrante que foi passando de um dono para outro ate agosto 1975.

    O penúltimo Chefe de Máquinas, na penúltima viagem sofreu um acidente enquanto o navio estava atracado em Singapura. A única testemunha que estava com ele na casa das máquinas disse que teria tocado numa bateria e morreu eletrocutado… Ele era um homem novo e muito calado. Quando em Díli, Jantava e dormia na Radionaval, e dizia que tinha medo do que via… O novo chefe de máquinas morreu na última viagem. Eu vi a esposa dele no Aeroporto de Figo Maduro à chegada dos refugiados de Atambua e ela perguntava a toda a gente lavada em lágrimas: digam-me só se eu sou viúva, digam se o meu marido esta vivo ou morto!

    E para finalizar o caso do Sargento maquinista morto em Singapura. Houve um Inquérito sobre o “acidente” efetuado na Capitania de Díli. Aparentemente a única testemunha era já de idade e meio surdo. Quando ele começou a falar contando o acontecido, foi ouvido gritarem-lhe “ouve, tu só respondes ao que te perguntarem. Nada mais!” Recorde-se que a capitania era o lugar de trabalho e escritórios do pessoal ligado a ela – Sargento Lourenço e escriturários. Lugar de entrar e sair dos que estavam ligados a estas funções. Portanto na sala de inquérito estava rodeado desse pessoal…

    Depois de algum tempo, meses talvez, passado sobre o naufrágio o José Rocha, filho do Cmdt Rocha chegou de Lisboa, passou um tempo curto e depois voltou para Lisboa. Falou-se que aparentemente as partilhas tinham sido feitas sem alarde. Talvez as informações recebidas pelo Sargento Lourenço tivessem sido úteis.

    Da parte da Dona Babo ouvi de um parente que tudo tinha sido partilhado sem problemas ou dividido sem dúvidas ou amarguras… Costumávamos acampar para o sudoeste e éramos todos um grupo unido. De ambas as ocasiões foi citado que não tiveram que esperar pelos sete anos (desaparecidos sem prova de morte ou restos mortais…) Alguém saberia alguma coisa que os meros mortais ou plebeus não tinham acesso.

    Durante anos ouviu-se dizer que alguém em Jacarta ou Surabaya via alguém conhecido, a quem chamava mas olhavam para trás e seguiam sem responder. Mesmo depois da invasão indonésia, timorenses circularam por portos e juraram que “aquele navio era o Arbirú…” Uma pintura diferente, uma chapa aqui ou ali mas era o Arbirú. De lembrar que o navio fora construído no estaleiro de S. Jacinto, Aveiro. Era difícil haver navios gémeos navegando nessas paragens. Eu próprio em Darwin em trânsito para Hong Kong para trazer o rebocador Lifau encontrei um irmão do enfermeiro de bordo, Borges, que me afirmou ter mantido contacto com Darwin (onde este residia) com um tripulante indonésio que lhe afirmou saber que o irmão estava vivo e iria trazer fotos na próxima viagem… Penso que o capitulo do desaparecimento do Arbirú esta terminado.

    PS – Estive em Macau três vezes fazendo parte da tripulação do Lifau na viagem inaugural e quando fomos buscar a Laleia. Ficávamos alojados no edifício da guarnição local e para facilitar também fazia turnos na Radionaval na Guia. O alojamento perto das oficinas navais, jantávamos no clube da Guarda – Policia Marítima ao cais para a ilha da Taipa.

     

  • refugiados Timor 1975

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    Joao Paulo Esperanca

    and

    Arlindo Mu

    shared a link.

    In September 1975 my grandfather, Abilio Henriques, was among 44 refugees who were asked this very question by Australian immigration officials in Darwin. He had come from then Portuguese Timor, now Timor-Leste, on board the only Royal Australian air force plane ever hijacked.

    'It was life or death': the plane-hijacking refugees Australia embraced
    THEGUARDIAN.COM
    ‘It was life or death’: the plane-hijacking refugees Australia embraced
    Luke Henriques-Gomes’s grandfather was one of 44 refugees to arrive in 1975 on the only RAAF plane ever hijacked. The official response still staggers him

    In September 1975 my grandfather, Abilio Henriques, was among 44 refugees who were asked this very question by Australian immigration officials in Darwin. He had come from then Portuguese Timor, now Timor-Leste, on board the only Royal Australian air force plane ever hijacked.

    You, Rosa Horta Carrascalao and Arlindo Mu

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    • Remember quite well that last flight hijacked by UDT retrieving force as Fretilin was approached to retake Baucau, from memory there were ex-police Gil, Abilio etc

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      • 10 h
  • RECORDAR A MINHA PRIMEIRA PÁTRIA Timor 73-75 – 3 filmes

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    https://vimeo.com/manage/110002337/general

    https://vimeo.com/manage/110002337/general

    https://vimeo.com/manage/110002337/general

    https://youtu.be/Nw0upGoHpBA

  • Há 34 anos morria Ruy Cinatti.

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    Ricardo Antunes

    shared a memory.

    ctg8Sponnhsored

    Há 34 anos morria Ruy Cinatti.
    Porque hoje é dia 12 de outubro, não posso deixar de assinalar uma efeméride importante para Portugal e Timor-Leste: cumprem-se hoje 34 anos da morte de Ruy Cinatti, um dos portugueses que melhor conheceu e compreendeu Timor e as suas gentes. Essa proximidade levou-o a realizar dois pactos de sangue com timorenses e a escrever várias obras sobre esta terra.
    Aqui podem encontrar a biografia do escritor (da autoria de Cláudia Castelo): https://u6bi6h.s.cld.pt
    Aqui, mais algumas informações:
    http://www.snpcultura.org/recordar_ruy_cinatti.html (com várias fotografias de Timor, nos anos 60)

    cs1r1 tnSOpgdgcotonlfbser mo2r0fsegn19fad

    Há 33 anos morria Ruy Cinatti.
    Porque hoje é dia 12 de outubro, não posso deixar de assinalar uma efeméride importante para Portugal e Timor-Leste: cumprem-se hoje 33 anos da morte de Ruy Cinatti, um dos portugueses que melhor conheceu e compreendeu Timor e as suas gentes. Essa proximidade levou-o a realizar dois pactos de sangue com timorenses e a escrever várias obras sobre esta terra.
    Aqui podem encontrar a biografia do escritor (da autoria de Cláudia castelo): https://u

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