Arquivo da Categoria: TIMOR história e memorias

Voos comerciais entre a Austrália e Timor-Leste arrancam depois de décadas de “charters” – Observador

Views: 0

A pandemia da Covid-19 levou a que o país ficasse durante mais de um ano praticamente sem voos, mesmo de “charters”, com as ligações a serem retomadas de forma gradual desde então.

Source: Voos comerciais entre a Austrália e Timor-Leste arrancam depois de décadas de “charters” – Observador

Timorenses votaram hoje Presidente da República – O País – A verdade como notícia

Views: 0

Decorreram hoje eleições presidenciais em Timor-Leste e o processo de contagem de votos iniciou logo depois do fim da votação. As eleições são descritas como as mais concorridas de sempre, com 16 candidatos e mais de 800 mil eleitores. As eleições presidenciais deste sábado em Timor-Leste, país com uma democracia ainda em construção, podem ter

Source: Timorenses votaram hoje Presidente da República – O País – A verdade como notícia

HERÓI TIMORENSE

Views: 1

Um herói luso-sino-timorense.
Pensei em ti meu querido tiozinho Su Sing Chung assim como toda a familia em Portugal…Decidi dedicar-te estas fotos de recordacao da tua visita a Australia em Novembro 2014 onde os teus amigos e familiares de Melbourne celebraram este dia especial contigo e o Ze Filipe
+7
You, Shusan Liurai, Angelo Ferreira and 13 others
2 comments
Like

Comment
2 comments
  • Arlindo Mu

    A dra Chungue (esposa ) foi a minha professora de ingles na Escola Tecnica em 72/73

Pensei em ti meu querido tiozinho Su Sing Chung assim como toda a familia em Portugal…Decidi dedicar-te estas fotos de recordacao da tua visita a Australia em Novembro 2014 onde os teus amigos e familiares de Melbourne celebraram este dia especial contigo e o Ze Filipe

You, Shusan Liurai, Angelo Ferreira and 13 others

2 comments
Like

Comment

SciELO – Brazil – Língua portuguesa como marca distintiva: uma escola de identidade timorense na ocupação indonésia Língua portuguesa como marca distintiva: uma escola de identidade timorense na ocupação indonésia

Views: 0

Source: SciELO – Brazil – Língua portuguesa como marca distintiva: uma escola de identidade timorense na ocupação indonésia Língua portuguesa como marca distintiva: uma escola de identidade timorense na ocupação indonésia

poemas dedicados a timor no dia em que a indonésia invadiu

Views: 0

 

pintura de margarida bem madruga, oferta ao cnrt, timor-leste, 1999

 

 

 

 

 

 

 

timor excertos d epoesia dedicada a timor do livro CRÓNICA DO QUOTIDIANO INÚTIL DE CHRYS CHRYSTELLO, 40 anos de vida literária 2011 ed calendário de letras v n gaia.

 

547. eleições sem lições em timor, 8 julho 2012

 

díli 23 setembro 1973

cheguei hoje a timor português

a vinda marcará a minha vida para sempre

sem o saber nunca mais nada será igual

o futuro começa hoje e aqui

entrei no tempo da ditadura

sairei na democracia adiada

 

na bagagem guardo sabores,

imagens e odores

sonhos de pátria e amores

divórcios e outras dores

 

cheguei sem bandeiras nem causas

parti rebelde revolucionário

tinha uma voz e usei-a

tinha pena e escrevi sem parar

pari mais livros que filhos

para bi-beres e mauberes

 

48 anos de longo inverno da ditadura

24 de luta independentista

agora que a lois vai cheia

e não se passa na seissal

já maromác se apaziguou

crescem os lafaek nos areais

perdida a riqueza do ai-tassi

gorada a saga do café

resta o ouro negro

para encher bolsos corruptos

sem matar a fome ao timor

 

perdido nas montanhas

sem luz, água ou telefone

repetindo gestos seculares

mascando sempre mascando

o placebo de cal e harecan

mas com direito a voto

para escolher quem o vai explorar

sob a capa diáfana da lei e ordem

do cristianismo animista

 

oprimido sim

mas enfim livre.

 

 

548. queria ser toké 11 julho 2012

 

eu queria ser toké e contar o que vi

desde que partiste em 1975

 

queria saber falar

dar os nomes os locais e os atos

de todas as atrocidades, violência e mortes

que testemunhei mudo na minha parede

 

eu queria ser toké e escrever tudo

 

queria contar o que não querem que se saiba

queria contar o que não queriam que se visse

queria contar os gritos que ninguém ouviu

 

queria ser água e apagar os fogos

que extinguiram a nossa história

como se não fora possível reconstruí-la

 

queria ser pássaro e levar nas asas

todos os que foram chacinados

violados, torturados e obnubilados

voar com as crianças que morreram de fome

as mulheres tornadas estéreis

 

tanta coisa que queria dar-te timor

e não posso senão escrever palavras

lembrar teu passado heroico

sonhar futuros ao teu lado

 

 

549. alucinação na areia branca (timor) 11 julho 2012

 

era maio em 1975

havia luar na areia branca

sem ondas na ressaca

caranguejos azuis na fina areia

baratas voadoras à frente dos faróis

eram pequenos os lafaek e raros

quase se ouviam os corais a falar

 

ao longe sem luzes em díli

o escuro dos montes

 

entre nós e o ataúro

deslizavam barcos espiões

antecipavam a komodo

ensaiavam invasões

 

corri a alertar

ninguém quis ouvir

escrevi e denunciei

chamaram-me alucinado

 

nunca imaginei o genocídio

 

 

 

 

 

 

550. timor nas alturas 15 julho 2012

 

queria subir ao tatamailau

pairar sobre as nuvens

das guerras, do ódio, das tribos

falar a língua franca

para todos os timores

 

queria subir ao matebian

ouvir o choro dos mortos

carpir os heróis esquecidos

 

queria subir ao cailaco e ao railaco

consolar as vítimas de liquiçá

beber o café de ermera

reconstruir o picadeiro em bobonaro

tomar banho no marobo

ir à missa no suai

buscar as joias da rainha de covalima

passar a fronteira e voltar

chorar todos os conhecidos e os outros

 

e quando as lágrimas secassem

à minha palapa imaginária regressaria

à mulher mais que inventada

um pente de moedas de prata ofertaria

vogando nas suas ribeiras e vales

sussurrando no espesso arvoredo

desaguando no vale de vénus

 

nos seus beiros navegaria

ao ataúro e ao Jaco rumando

desfrutando a paz e as belezas ancestrais

ouvindo os tokés e as baratas aladas voando

os insetos projetados contra as janelas

atraídos pela luz do petromax

 

a infância e a juventude são como uma bebedeira

todos se lembram menos tu

 

551. lágrimas por timor, até quando? 16 julho 2012

 

confesso sem vergonha nem temores

hoje os olhos transbordaram

lágrimas em cascata como diques

pior que a lois quando a chove

 

o coração bateu impiedoso

os olhos turvos a mente clara

as mãos trémulas de impotência

 

nas covas e nas valas comuns

muitos se agitaram com a morte gratuita

 

mais um casal de pais órfão

mais um filho varado às balas

sem razões nem justificações

 

poucas vozes serenas se ouviram

velhos ódios, vinganças acicatadas

o povo dividido como em 1975

 

sem alguém capaz de congregar o povo

sem alguém capaz de governar para todos

sem alguém acima de agendas pessoais

sem alguém acima de partidos

 

temos de ultrapassar agosto 75

udt e fretilin

a invasão indonésia e o genocídio

 

faça-se ou não justiça

é urgente um passo em frente

 

é urgente alguém com visão

um sonhador, um utópico

um poeta como xanana já foi

 

alguém que ame timor

mais do que ama suas crenças

mais do que ama suas ideias

mais do que ama sua família

 

talvez mesmo uma mulher

sensível e meiga

olhar almendrado

pele tisnada

capaz de amar

impulsiva para acreditar

liberta de injustiças passadas

solta de ódios, vinganças e outras

capaz de depor as armas

todas e liderar.

 

 

578. eu canto do maio, maio 1, 2013

 

eu canto do maio as mortes inúteis

os deportados para timor

o sangue derramado

tudo o que se pedia eram 8 horas

de trabalho, descanso e recreação

 

eu canto do maio a memória de 1886

do degredo, do cárcere, das torturas

das manifes proibidas, das bandeiras

vermelhas do sangue inocente

sem olhar a partidos nem a pessoas

 

apenas o direito inalienável

ao trabalho, ao descanso, à recreação

 

para que os novos fascistas de hoje

não roubem essas memórias

esses direitos, essas lutas

eu canto do maio o dia do trabalhador

hoje desempregado, sem-abrigo, doente

nos novos gulags e campos de concentração

sem grades nem gás mortal

 

 

608. eleições 29 jul 2013

 

era tempo de eleições

políticos vinham e prometiam

a populaça aplaudia

acenava e acreditava

 

 

depois de contados votos

os políticos desapareciam

junto com as suas promessas

e o povo esquecido esperava

assim crendo na democracia

uma pessoa, um voto, uma promessa

repetiam a antiga escravatura

acreditando serem livres

 

 

610. história timor, 29 jul 2013

 

primeiro veio a polícia

expulsos estudantes “ocupas”

 

depois vieram bulldozers

assim acabou o hotel resende

 

era história em díli

e um povo que destrói

não merece o seu futuro

mas ganhou condomínios de luxo

 

 

 

685 dili inundado, 6, fevº 2016

 

maromác zangou-se

as ribeiras transbordantes

em dili nada mudou

tudo alagado como dantes

 

décadas depois

nem os milhões do petróleo

dominam as águas

passados quarenta anos

sem dinheiro para voltar

dominam-me as mágoas

 

a minha saudade

rima com verdade

 

 

 

 

634. guerra colonial, moinhos, 20/8/2013

 

há várias catarses

para a guerra colonial

escrever livros

tornar-se alcoólico

ser antissocial ou violento

eu apenas mudei de nome

e de nacionalidade

e nunca escreverei

uma palavra que seja

sobre esse inferno

não posso perder mais tempo

com essa trampa.

449. EROS nos jardins de leste Díli, Timor, novembro, 25, 1974

 

 

 

os corpos se venderam por dez réis de nada

 

assim me serviam do que criam inútil

 

e se davam

 

fáceis e apáticas

 

faziam amor como quem respira

 

isto é

 

o ritmo cósmico da órbita do poema

 

descrevia uma sinusoide irregular

 

e de tanto engravidarem

 

sentiam na carne

 

o vício de todas as necessidades

 

e de tantas fomes acalentarem

 

o instinto as aguilhoava

 

nascituras

 

logo então vitimadas

 

 

-EROS senhor e amo nos jardins de leste

 

 

pequenas

 

saracoteantes

 

delicado delinear de dietas forças

 

figuras de cabaia e lipa[1]

 

 

dos agrestes picos montesinos

 

às planuras

 

frágeis ninfas

 

que o sol em nascendo vê primeiro”

 

diac ca lai? la diac malai[2]

 

e a gente compra

 

Escudo ihra – Né

 

la cói! ata! lima

 

cabeça búlac! menina lá diac… ossam báric

 

loro mai massimida

 

os lábios de carmim de viva cal e da harecan

 

haneçam maliri.[3]

 

 

 

 

 

 

 

431. V. TIMOR Díli, Timor, setembro, 20, 1973

 

 

timor cresceu cercado

 

lendas que a distância empolgou

 

o sonho

 

a quietude

 

as 1001 noites do oriente exótico

 

o sortilégio dos trópicos

 

para o europeu

 

chegar era já desilusão

 

desprevenido

 

sobrevoa estéril ilha

 

montes e pedras

 

agreste paisagem sulcada

 

leitos secos

 

abruptas escarpas

 

terra sem marca de homem

 

esparsas cabanas de colmo

 

será isto timor?

 

o avião desce o vazio em círculos

 

em vão os olhos buscam a pista

 

por trás de um montículo imprevisto

 

se vislumbra o “T

 

e a torre de controlo dos folhetos de propaganda

 

nunca existiu

 

a alfândega é o bar

 

a sala de espera

 

sob o zinco e o colmo

 

isto é baucau

 

aeroporto internacional

 

a vila salazar dos compêndios

 

que a história esqueceu

 

uma turba estranha se amontoa

 

à chegada do cacatua-bote[4]

 

o patas-de-aço

 

esta a cerimónia sagrada do deus estrangeiro

 

descendo dos céus

 

dia de festa para os trajes multicoloridos

 

o contraste do castanho de sóis pigmentados

 

cinco da matina

 

e é já o pó e o calor

 

o espanto mudo nas bocas incrédulas

 

as formalidades aqui com sabor novo

 

espera lenta e compassada

 

séculos de futuro por viver

 

antes que ele venha

 

antes não venha

 

num barracão zincado uma velha bedford

 

de carga com caixa fechada

 

vidros de plástico sob o toldo puído

 

pomposo dístico colonial

 

carreira pública baucau-dili

 

picada em terreno plano

 

mar ao fundo

 

baucau

 

cidade menina por entre palmares

 

densa vegetação tropical

 

connosco se cruzam estranhos homens de lipa[5]

 

galo de combate ao colo

 

entre torsos e braços nus

 

das ruínas do mercado se evocam

 

desconhecidos templos romanos

 

estrada n.º 1 até dili

 

sulcam-se abruptas as encostas

 

ao mar sobranceiras

 

ali se adivinham cristais multicolores

 

em lugar de pontes se atravessam ribeiras

 

enormes

 

leitos secos

 

o tempo as converteu em estradas de ocasião

 

pedregoso solo

 

cores indefinidas

 

castanhos e verdes

 

palapas [6] dissimuladas na paisagem

 

imagens tristes de pedras e montes

 

baías primitivas

 

inconquistas

 

praias de despojos e conchas

 

paraísos insuspeitos

 

as gentes de sorrisos vermelhos

 

assusto-me

 

não é sangue nas bocas gengivadas

 

masca, mescla de cal viva e harecan[7]

 

placebo psicológico da alimentação que falta

 

um sorriso encarnado esconde a fome

 

súbito

 

por paisagens que só a memória

 

sem palavras descreverá

 

eis dili

 

a capital

 

larguíssima avenida semeando o pó nas palapas

 

casas de pedra com telhados de zinco

 

na ponta leste chinas e timores

 

partilham a promiscuidade da pobreza

 

dili

 

plana e longa

 

a vasta baía antevendo imponente

 

o ataúro ilha

 

um porto incipiente

 

a marginal desagua no farol

 

construções coloniais pós 1945

 

da guerra que ninguém quis

 

dos mortos que os japoneses quiseram

 

da neutralidade do país mãe calado e violado

 

albergam chefes de serviço

 

altas patentes militares

 

sem guerras para lutar

 

sem movimentos libertadores das gentes

 

 

 

quinze quilómetros de asfalto

 

três casas dantes da guerra grande

 

aeródromo em terra batida

 

um jipe de afugenta búfalo

 

a rua comercial atravessa dili senhora

 

de leste a oeste

 

espinha dorsal

 

o centro

 

o palácio das repartições

 

do governo

 

perto um museu

 

o seu nome ostenta o vazio

 

riquezas sem fim

 

seus governadores exportaram

 

patriotas

 

colonizadores de séculos com nada para mostrar

 

um museu morto

 

dois sinaleiros nas horas de ponta

 

ociosos às portas dos cafés

 

à noite transfiguram-se

 

os bas-fond

 

o texas bar

 

da prostituição às slot machines

 

o submundo

 

a vida underground

 

afogar esperanças em álcool

 

sonhos há muito perdidos nunca sonhados

 

restaurantes poucos

 

melhor comida a chinesa

 

bares espalhados pela cidade

 

militares e álcool para calar distâncias

 

um portugal dos pequeninos

 

longínquo

 

cada vez mais

esquecido

 

nunca

 

perdido.

 

 

 

1973 numa cidade sem vida

 

morrendo nas cinzas próprias de cada noite

 

por entre o silêncio e a voz triste dos tokés[8]

 

o calor putrefacto

 

por entre o voo alado das baratas gigantes

 

carros poucos

 

de dia só do estado

 

motocicletas pululam por entre viaturas oficialmente pretas e verdes

 

esperando mulheres de oficiais

 

às portas dos cabeleireiros

 

do liceu

 

militares a pé

 

em berliets ou unimogs

 

chineses muitos

 

 

 

dili é isto

 

a desolação

 

na parte alta da cidade o complexo militar

 

barracas insalubres

 

sob a sombra dos hospitais

 

um civil um militar

 

fresco e verdejante vale

 

triste esta cidade

 

pretensamente euro-africana

 

palapas marginando ruas

 

nelas vive o timor

 

sem água nem luz

 

dez ou quinze filhos

 

que importa

 

a miséria é só uma e a mesma?

 

 

 

esta “a terra que o sol em nascendo vê primeiro”

 

 

 

aqui as imagens

 

e são já história

 

não se repetirão

 

 

 

aqui não daremos testemunho

 

como transfigurar

 

colónias pacíficas

 

em palcos de guerra.

 

 

 

 

433 I BUCÓLICA BOBONARIANA-I Bobonaro, Timor, novembro, 23, 1973

 

 

 

a colina à esquerda ergue-se mansamente

 

sem pressas

 

caminha do mar

 

reproduz-se altiva

 

pico agreste me vigia

 

não há vegetação

 

nem sinais de gente

 

(terá emigrado daqui a seiva?)

 

as rochas puras ainda

 

primitivas

 

nascituras

 

erguidas por ciclópicas mãos

 

do fundo dos mares

 

quedaram-se ostensivas

 

desafio de nuvens eternas

 

arbustos pequenos

 

insignificantes como as gentes

 

misturados na paisagem

 

espraia-se na vastidão o olhar

 

(começa em mim)

 

e só montes

 

pedras

 

horizonte

 

e eu aqui fechado

 

cercado

 

ilha de mim próprio

 

o vale profundo

 

(talvez abismo, talvez acusação)

 

resisto

 

diviso emaranhado das brumas

 

ciscos amarelos

 

(segredam-me são casas de gente)

 

 

ENTÃO PARTO.

 

 

sem hesitar cavalgo

 

pedras

 

ribeiros

 

encostas

 

subo

 

desço

 

torno a subir e nada destrinço

 

insensível à rude beleza

 

atinjo inóspito cume

 

estranhamente plano

 

nele plantaram casas

 

cinco

 

seis

 

uma ao centro

 

lulic[9] dizem-me

 

baixo-me e entro

 

teto erguido a pique

 

muro de pedra a tocar baixo sobrado

 

térreo madeirame trabalhado segue as vigas

 

quadros sacros

 

sol

 

elementos

 

animais

 

no andar elevadiço

 

um lar entesourado em morada última

 

assusto-me

 

em volta ósseas relíquias

 

cheiro imenso a fumigação

 

 

 

saio

 

 

 

respiro ar puro

 

sacrossanto

 

das montanhas cercanias

 

 

 

uma laje quadrada

 

uma placa ereta

 

tipo tumular

 

flores murchas e perdidas

 

casas sem muros

 

no andar térreo

 

animais se abrigam

 

por cima pessoas se alojam

 

deitadas

 

a nascer

 

a cozinhar

 

a comer

 

a dormir

 

a morrer

 

 

 

quando as chuvas tombam

 

e o colmo amolece

 

quando o sopro do vento vem

 

rasgando a mirrada pele

 

quando maromác[10] se zanga

 

nascem surdos lamentos

 

ninguém ouvirá.

 

 

 

olhei

 

vi gente

 

acocorada

 

semidespida

 

esquelética

 

nuas crianças

 

algumas do colo a mim chegaram

 

sorrindo orgulhosas da sua alva pele

 

pedindo as fotografasse

 

tartamudeavam malai[11] como quem se afirma

 

compreendi esse estranho orgulho

 

ilegítimo

 

mulheres se alugam para não perecerem

 

da fome vil

 

quando novas servem de pasto

 

a abutres forasteiros

 

depois

 

escavacadas

 

descarnadas

 

desdentadas

 

mascando infindáveis sementes

 

esboçam sorrisos

 

para a objetiva acusadora e cúmplice

 

 

 

não mais suportei este dantesco inferno

 

saí

 

acenei

 

 

 

voltei as costas

 

voltei ao exílio

 

 

 

  • ENOJADO -.

 

 

 

 

450. O TETO DO MUNDO Díli, Timor, dezembro, 3, 1974

 

 

como romper as palavras?

 

o som e o lamento do ai-tassi

 

sagrado lenho

 

em ti se moldaram

 

faces e rugas milenárias

 

caminhos de teto do mundo

 

nas mãos vazias viaja o passaporte

 

para que não sucumbas hoje

 

há muitas mortes nos amanhãs

 

teus pés ligeiros voam vinte quilómetros

 

o cacho solitário que colheste

 

bananas com que não matas as fomes

 

enganas malai com parco lucro

 

escudo lima[12]

 

e teu rosto infantil e puro

 

sorria

 

vendeste a sobrevivência duma semana

 

caminhas curvado e galgas montanhas

 

teus os reinos de Railaco e TataMaiLau[13]

 

por isso retornas e teu sorriso é jovem

 

na cal e harecan misturas o prazer e o engano

 

também teu estômago sorri confiante

 

também tua a linguagem do corpo

 

no regresso de braços dolentes

 

firme em teu braço direito

 

o teu combate de penas

 

pobre mercador de ilusões em galos de luta

 

acaricias teu ganha-pão

 

teu desporto

 

e apostas

 

mais

 

sempre mais

 

são tuas as lágrimas

 

a revolta e a derrota

 

é teu o sangue e o alimentaste

 

guardas o estilete acerado

 

não decepou medos

 

são tuas as planícies e as ribeiras

 

as torrentes inundaram o arrozal

 

levaram pontes e caminhos

 

e tu ris do grande engenheiro malai

 

como do búfalo do china luís

 

navegando rumo à liberdade

 

nem pensas na tua

 

das árvores pendem camarões doces do rio

 

e o pequeno jacaré

 

faz o cruzeiro oceânico Ribeira de Seiçal-Dili

 

maromác[14] sabe

 

maubere é diac [15]e vai passar

 

esse o lado outro do abismo.

 

 

 

 

434. A LEPRA Díli, Timor, dezembro, 3, 1974

 

 

 

eu vi-os

 

de olhar gasto e gestos caídos

 

vinham com neves eternas nos cabelos

 

enxada às costas

 

vergados ao peso de séculos

 

maltrapilhos

 

descalços

 

rotos

 

bronzeados por sóis perdidos

 

na memória dos tempos

 

uma grande fome para contar

 

e o silêncio sem fim

 

de todas as solidões

 

 

falei-lhes

 

acenaram sem se deterem

 

cadência de autómatos

 

sem vontade

 

explicaram por gestos

 

o que presumi sorriso

 

onde só havia gengivas descarnadas

 

informes

 

perguntei

 

donde vinham

 

de que estranha guerra

 

sobreviviam

 

sem abrandarem a insólita marcha

 

puxaram da bia sem idade

 

acenderam-na na concha dos dedos recurvos

 

suspiraram

 

fundo

 

como jamais ouvira

 

era um sopro indefinido

 

murmurado

 

amargo

 

 

 

entretanto havíamos chegado

 

povoado estranho

 

sem gente

 

nem cães

 

ladrando em redor

 

casas estranhas

 

elevações de colmos

 

suspensas de estacas

 

mudas

 

sem janelas

 

nem portas

 

um silêncio velho de morte

 

 

 

deixar a alma

 

deste ritmo

 

parar

 

 

deixar o instante

 

deste tempo

 

renascer

 

eterno

 

 

 

esta a proposta

 

inicial

 

iniciática

 

até lá, como?

 

 

 

 

433.II BUCÓLICA BOBONARIANA Bobonaro, Timor, novembro, 23, 1973

 

 

 

(permaneci calado

traído por pensamentos galopantes

onde as mulheres

cadê as crianças?

que gente esta

donde vem?

que peso arrastam

penosa

mecanicamente?)

 

 

 

ao longe divisei um ancião

 

vergado como uma aduela

 

corri para ele

 

inspirou-me medo

 

fez um gesto vago

 

um arremedo

 

a suster-me

 

estaquei a distância

 

nem um pássaro riscava a muda quietude do céu

 

 

 

tremi

 

como se de súbito

 

me penetrassem

 

as respostas todas

 

 

 

virei costas

 

e corri

 

corri

 

corri

 

 

 

e aqui estou

 

hoje

 

a dar-vos conta

 

do que vi.

 

 

 

 

 

452. MEMÓRIAS Díli, Timor, abril, 13, 1975

 

 

 

ave louca

 

sinusoide voo

 

rias-te

 

nem sabíamos o quê

 

de quê

 

era já o fumo

 

olhos e mãos

 

baças mãos

 

gestos nunca antes inventados

 

sabíamos do tempo a imponderabilidade

 

a curva obscena dos corpos

 

na posse do mundo estávamos e éramos

 

coloridos e diáfanos

 

queimávamos identidades

 

alguém cantarolava palavras

 

desconexas

 

inúteis

 

carícias

 

premeditadamente esquecidas

 

ela se levantou

 

a víamos como se não fosse

 

isto é

 

criada no instante mesmo

 

hesitante

 

avançava pela janela

 

ninguém a abrira

 

seria talvez noite

 

transcendental o país

 

bebedeiras de amor

 

roteiros estelares

 

no suor do regresso

 

como se nunca partiras

 

no sorriso distante

 

nos teus lábios

 

cresceram da criança os olhos

 

encheu-se a sala de frágeis gestos

 

alguém ousara!

 

na rua um escape no silêncio do grito

 

a regra é saber que horas são

 

ou medo

 

a vertigem

 

a regra do pavor

 

o voo de ficar

 

céleres que nem imagens

 

falam de nós

 

no teto branco ou nu

 

ou somos

 

desirmanados no frémito que nos invade

 

a resposta recusada

 

texto ou resumo

 

a vida violada.

 

 

 

 

451. PORQUE JOVENS Bali, dezembro, 3, 1974

 

 

 

eram jovens

 

por isso partiam

 

nas mãos os cravos

 

nos lábios mil sangues

 

por florescer

 

os corpos amadureciam quando matavam

 

pilhavam

 

violavam

 

era o fogo das balas

 

as granadas

 

o napalm

 

a carne para canhões

 

 

 

porque jovens

 

cantavam impolutos

 

e as mãos decepavam

 

a saudade desilusionada

 

irmãos todos

 

fratricidas

 

o papão fantoche do governo

 

lhes ensinara o decálogo de guerra

 

indesejada

 

 

 

porque jovens

 

partiam obrigados

 

nos sonhos

 

armada a verdade

 

vulcões por semear

 

sangrando campos

 

estiolavam

 

eram os braços emigrados

 

era a fome

 

eram soldados

 

era o povo

 

porque soldados e povo

 

partiam

 

levavam ódios insentidos

 

cumpriam destinos alheados

 

nos lábios as palavras

 

e eram amor

 

o alfabeto dos oprimidos

 

para uso interior

 

lá onde os regulamentos não mandam

 

pelo caminho

 

eram a voz e a bandeira

 

o povo sorria às armas

 

libertado caminhava

 

no braço armado do povo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

443. Post-scriptum (a andré breton)

 

 

 

como num mundo

 

outro

 

em mim

 

aguda memória

 

inenarrável

 

caminho no fogo das mãos

 

é nossa a estrada

 

alheios

 

os calendários o negam

 

no vento da derradeira galáxia

 

nascitura terra

 

fálica linguagem

 

precipitamos cegueiras

 

violento abismo

 

 

  • momento zero na viagem do corpo-

 

 

fomos a lava e o magma

 

ébrios

 

exaustos

 

incendiário batismo bíblico

 

construímos a casa e as areias

 

nove

 

para ti

 

eram os meses infenecidos

 

hoje

 

palavras intimidadas

 

seminolentes

 

cerne de alquimias

 

para quê crer

 

utopias suicidas

 

o país o decepam

 

apáticos

 

direi mesmo

 

apátridas

 

resignados

 

assistimos

 

gerámos a hidra

 

agnósticos

 

incréus

 

expectamos

 

das cinzas

 

das ruínas

 

obnubiladas memórias

 

aqui começa

 

a medieval noite

 

silêncio de vivos com morte nos olhos.

[1] saia de tecido colorido, típica de Timor, de origem malaia, e que é usada enrolada à cintura, descendo até aos tornozelos

[2] Em Tétum no original

[3] Em Tétum no original

[4] cacatua-bote ou patas-de-aço eram designações dadas pelos timorenses aos aviões

[5] lipa, saia de tecido colorido, típica, de origem malaia, os timorenses usam-na enrolada à cintura descendo até aos tornozelos.

[6] casas cónicas, quadradas ou rectangulares em colmo

[7] folha de planta semelhante à do tabaco

[8] espécie de lagarto sonoro, cuja idade se determinava pelo número de vezes que emitia o som toké.

[9] lúlic significa sagrado em tétum

[10] o equivalente a deus em língua tétum

[11] designação dada aos brancos pelos timorenses

[12] o equivalente a cinco escudos em moeda de timor

[13] picos mais altos de timor, rondando os 3 mil metros de altitude

[14] maromác o equivalente a deus em língua tétum

[15] maubere é diac, o timorense é bom, coisa boa

 

the last WWII Australian digger dies

Views: 0

The 2/2 Commando Association has announced the death of the last of their members to be in Timor during WWII, Condolences !
May be an image of 1 person and outdoors
VALE ALFRED JAMES (JIM) ELLWOOD – VX67548 – 1921-2021
Sadly, I inform Doublereds members and supporters that WWII Timor campaign veteran Jim Ellwood passed away peacefully at his Melbourne home last Sunday afternoon surrounded by his family – Jim was aged 99 years and would have celebrated his 100th birthday on the 16th of December. Jim’s son Damian has advised me ‘I think we will convert the 100th into a celebration of his life as he didn’t want a funeral service’.
Corporal Jim Ellwood was a Cipher Specialist with NT Force Signals when he arrived on Timor with the advance party of the No. 4 Independent Company on 15 September 1942. He was attached to Sparrow Force HQ in his specialist capacity and continued in that role when Lancer Force succeeded Sparrow Force on 7 December 1942. He then volunteered as a member of the 14 man S Force (Stay Behind Party) that was established on 9 January 1943 to continue to observe and report on Japanese activities after the departure of the No. 4 Independent Company from Timor. S Force was evacuated from Timor to Fremantle by the submarine USS Gudgeon on 10 February 1943. Ellwood returned to Timor in September 1943 as a member of the ill-fated SRD (Z Special) Operation Lagarto, was captured and spent the remainder of the war as a POW (mostly in Dili) and subject to terrible deprivation and torture.
The late Jim Truscott prepared an informative article relating aspects of Jim’s life and wartime experiences; the issue of COMMANDO – The Magazine of the Australian Commando Association that includes the article can be downloaded from https://www.yumpu.com/…/commando-magazine-edition-3-2020 – see p. 63-66.
Jim Ellwood was a humble, brave and honourable man who would have been well known to many of the No. 2 Independent Company men who served on Timor.
VALE Jim, RIP
Ed Willis, President, 2/2 Commando Association of Australia

conference online Timor Cast a Magical Spell 50 Years Ago, by Chrys Chrystello

Views: 0

Topic: Luso-Brazilian Culture: Timor Cast a Magical Spell 50 Years Ago, by Chrys Chrystello
Time: Nov 29, 2021 04:30 PM Central Time (US and Canada) 21.3o azores

Join Zoom Meeting
https://wisconsin-edu.zoom.us/j/92089145687

Meeting ID: 920 8914 5687
One tap mobile
+13126266799,,92089145687# US (Chicago)
+16465588656,,92089145687# US (New York)

Dial by your location
+1 312 626 6799 US (Chicago)
+1 646 558 8656 US (New York)
+1 301 715 8592 US (Washington DC)
+1 346 248 7799 US (Houston)
+1 669 900 9128 US (San Jose)
+1 253 215 8782 US (Tacoma)
Meeting ID: 920 8914 5687
Find your local number: https://wisconsin-edu.zoom.us/u/ad7K8n7WSJ

Join by SIP
92089145687@zoomcrc.com

Join by H.323
162.255.37.11 (US West)
162.255.36.11 (US East)
115.114.131.7 (India Mumbai)
115.114.115.7 (India Hyderabad)
213.19.144.110 (Amsterdam Netherlands)
213.244.140.110 (Germany)
103.122.166.55 (Australia Sydney)
103.122.167.55 (Australia Melbourne)
149.137.40.110 (Singapore)
64.211.144.160 (Brazil)
149.137.68.253 (Mexico)
69.174.57.160 (Canada Toronto)
65.39.152.160 (Canada Vancouver)
207.226.132.110 (Japan Tokyo)
149.137.24.110 (Japan Osaka)
Meeting ID: 920 8914 5687

Slide1.JPG