Categoria: Timor

  • sereias de timor leste

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    • Rosely Forganes and Maria João Moniz Barreto shared a link.

      “Há muitos filmes para fazer em Timor”

      pontofinalmacau.wordpress.com

      David Palazón é um espanhol que em 2008 trocou Londres por Díli. E

      “Há muitos filmes para fazer em Timor”

      004David Palazón é um espanhol que em 2008 trocou Londres por Díli. Envolveu-se com a cultura tradicional do país e prepara-se para lançar o documentário “Wawata Topu – Sereias de Timor-Leste”. É a história de mulheres da ilha de Atauro que mergulham e caçam peixe para sobreviver.

      Hélder Beja

      Mulheres vestidas, com uma espécie de lança numa das mãos, a entrarem nas águas que banham a ilha de Atauro, em Timor-Leste. Fazem-no para apanhar peixe, ostras, o que houver. Fazem-no por necessidade e a história, contada em imagens, parece de outro tempo mas também de outro mundo. David Palazón, cineasta, e Enrique Alonso, antropólogo, juntaram-se para filmar e perceber a vida na aldeia de Adara, na costa oeste de Atauro. O resultado é “Wawata Topu – Sereias de Timor Leste”, documentário de 33 minutos que deve estrear em breve em vários festivais. David Palazón conta como tudo começou.

      – Como se deparou com a história das melhores de Atauro que praticam este tipo de pesca tão especial?

      D.P. – Entre 2009 e 2012 estive a viajar pelo país e a trabalhar com vários timorenses. Numa dessas viagens, Nelson Turquel – um dos fotógrafos que trabalhou no filme – foi à aldeia de Adara e voltou com umas fotos que utilizámos no evento “Academia das Artes e Indústrias Criativas 2011”. Fiquei com essas fotografias e, em conversa com outro espanhol, Enrique Alonso, que é antropólogo e trabalhava como assessor do Ministério das Pescas, falámos de Atauro, que é um epicentro do mar e das pescas. Como ele já não estava a fazer assessoria e tinha tempo livre, falámos destas mulheres de Atauro. Há muitos filmes para fazer em Timor. Este era atractivo, ver as mulher ali debaixo de água… São as únicas mulheres em todo o Timor-Leste que o fazem. Pedimos fundos ao Secretariado da Comunidade do Pacífico. Queríamos também fazer um livro, com o estudo, mas só houve dinheiro para o filme. Pedimos autorização, fomos para a aldeia durante uma semana, entrevistámos toda a gente, levámos vários amigos como voluntários e outros que foram pagos. O Mário Gomes, que trabalha em Atauro, é um dos tipos mais espevitados de Adara e abriu-nos as portas da sua família na aldeia. Filmámos tudo a partir daí.

      – Que tipo de tecnologia usaram para filmar debaixo de água?

      D.P. – Tínhamos dois amigos que fazem mergulho, o Nuno da Silva e Bea. Mergulharam com botijas de oxigénio e filmaram debaixo de água com uma caixa que levava a câmara dentro. Além disso, tínhamos duas câmaras Canon próprias para filmar na água. Foi assim que filmámos o que é a pesca, os barcos, as redes, a luta com o peixe e tudo isso. Para o resto usámos uma HDV profissional.

      – Estas mulheres vão pescar para o mar sem qualquer equipamento, normalmente vestidas, com uns óculos artesanais que usam debaixo de água. Como foi a experiência de filmá-las?

      D.P. – Elas pescam nos recifes. É um pouco a contradição do filme: a beleza visual do que elas fazem é grande, mas ao pescarem assim estão a destruir um pouco o recife. Mas enfim… Os homens pescam na parede vertical, quando o recife termina. As mulheres pescam no máximo a dois, três metros de profundidade. Às vezes vão quase a andar. Filmámo-las durante três dias a pescar e a cada dia mudavam de lugar, consoante as marés. Elas têm o seu próprio sistema de rotatividade e sabem quando têm de ir a um sítio e ao outro. Os peixes que apanham não são muito grandes, mas também apanham ostras e outras coisas que encontram.

      – O documentário mostra-nos que o fazem por necessidade, como modo de subsistência. Depois, têm de caminhar algumas horas para vender o que pescam no único mercado de Atauro, certo?

      D.P. – O mercado é em Beloi [zona onde atracam os barcos vindos de Díli]. Elas têm de andar duas horas e meia até chegarem ao mercado. É ao sábado que fazem esse caminho.

      – Interessou-lhe esta questão de sobrevivência, do porquê das mulheres terem começado a dedicar-se a este tipo de pesca?

      D.P. – A mim o que me interessa mais é retratar a realidade. A questão explicativa das coisas, ao trabalhar com o Enrique que é antropólogo, estava mais com ele. Quando íamos à aldeia o que eu fazia era documentar histórias visualmente – as crianças, a igreja. Quando encontrávamos alguém que queríamos entrevistar, como o professor ou o chefe da aldeia, era o Enrique que conduzia as entrevistas, para averiguar o porquê de estas mulheres terem esta actividade. Há diferentes níveis económicos dentro da aldeia. No caso destas mulheres, ou estão sem marido, ou são de famílias com muitos irmãos, ou são poucas mulheres e por necessidade familiar têm de fazê-lo. Não têm dinheiro e por isso não podem comprar redes. Os peixes que pescam são para comer. Se pescam mais algum, vendem-no e compram arroz ou suprem qualquer outra necessidade básica que tenham. Nunca conseguem ter dinheiro para redes ou para construir um barco que lhes permita ir um pouco mais longe e pescar peixes maiores. Na aldeia há outras mulheres que não fazem pesca aquática porque têm barco e vão com o homem. É uma actividade social mas também é uma necessidade. Não vão fazer pesca submarina como se fossem fazer pilates.

      – Ainda que seja um documentário sobre estas mulheres, há uma boa parte sobre outros temas da aldeia, como o casamento, etc. Foi uma opção difícil fazê-lo assim? Não acha que o espectador pode estar à espera de mais cenas subaquáticas e mais imagens desta mulheres a pescar?

      D.P. – A pesca é a desculpa, mas o filme é uma investigação. Nesta aldeia toda a gente é protestante, não católica. Não fumam, não bebem, têm uma espécie de comportamento social diferente, um sentimento animista da sua própria religião tradicional, de como têm de casar. O tema do casamento é um intercâmbio económico. Aquilo a que chamam “barlaque” [oferta que o marido faz à família da noiva] é bastante complicado de traduzir. A língua não pode traduzir este tipo de actividade social. Se o traduzimos como “bride wealth”, estamos a dizer que as mulheres têm um preço e é politicamente incorrecto. É complicado, depende da audiência. Se for uma audiência que trabalha com o tema do género, verão isto do ponto de vista de defesa dos direitos da mulher. Mas a nossa intenção não era essa, mas simplesmente fazer um retrato do porquê de as mulheres terem esta actividade. Estivemos lá uma semana e tampouco é uma espécie de documentário à Jacques Cousteau, todo debaixo de água. Elas não passam toda a semana debaixo de água. Fazem-nos durante uma hora, três ou quatro vezes por semana. O material que temos filmado corresponde à vida de autóctones que levam. A primeira edição do documentário que fizemos era mais longa. Para esta, retirámos coisas, exactamente por querermos ter mais tempo as mulheres. Fizemos mais umas entrevistas, para que nos contassem a sua história.

      – Já vive em Timor-Leste há alguns anos e “Wawata Topu – Sereias de Timor Leste” não é o seu primeiro projecto no país. Como vai viver de Londres para Timor?

      David Palazón – Coisas da vida… Eu era professor na universidade, em Londres, tinha estudado lá, trabalhava como freelancer e com projectos artísticos. Interessavam-me as questões socioculturais e o poder pôr em prática a criatividade em lugares um pouco fora de contexto, onde talvez faça mais falta. Tinha então um amigo português que estava a fazer fotografia documental nas ex-colónias portuguesas e foi ele que me apresentou Timor. Era suposto virmos juntos. A ideia era ficar três meses e depois seguir para a Austrália. No final das contas ele não veio, eu encontrei um programa de voluntariado e fiquei por aqui.

      – Apaixonou-se pelo país? O que é que aconteceu?

      D.P – Bem, é um bocado uma relação de amor e ódio (risos). Fazes amigos timorenses, tens relações que geram projectos e, depois do voluntariado, apareceu um projecto com uma universidade australiana [Griffith University] e estive três anos a fazer pesquisa sobre as culturas tradicionais de Timor. Isso levou-me a colaborar com o Governo e há projectos que estão agora nas mãos deles. Entretanto estou a fazer vários projectos, faço design como freelancer.

      – Porquê essa relação amor/ódio?

      D.P. – É como em qualquer outro país em vias de desenvolvimento. Gosto das especificidades que tem, do facto de poder ir a Adara e filmar umas mulheres que pescam por necessidade, mas tudo é muito lento, sobretudo trabalhar com o Governo é lento. Não que tudo seja mau. Há coisas boas e coisas más.

      – Disse há pouco que há muitas histórias para contar em Timor. Vai continuar a filmar a essas histórias?

      D.P. – Depende. Está tudo relacionado com os projectos que estão em marcha. Queremos conservar o que existe no que toca à cultura e aos antepassados, mas fazer com que a nova geração reinterprete tudo isso e faça algo que possa criar empreendedores criativos, que possa gerar dinheiro e emprego – uma indústria. Aqui não há indústria de cinema. São sempre projectos promocionais, cooperações, ou são estrangeiros como eu que fazem alguma coisa. Agora há outro filme, que se chama “A Guerra de Beatriz” [de Luigi Acquisto e Bety Reis], há uma colaboração entre os estrangeiros e os timorenses. Para que os timorenses sejam capazes de ter a sua indústria de cinema, seja a que nível for, precisam de praticar e de fazer projectos. Se não há estudos, ou vão a estudar para fora ou tudo é um processo muito lento.

      – Enquanto vai filmando estes projectos, há jovens locais que aprendem consigo?

      D.P. – Sim, tenho vários discípulos que começaram comigo quando eu era voluntário. Com um deles, o Victor [de Sousa], fizemos o “Uma Lulik”, um filme para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Passou nas televisões de todos os países de língua portuguesa através do programa DOCTV CPLP. Isso foi o resultado de trabalhar com um rapaz timorense durante um ano. Ele teve a ideia, fizemos a proposta, ganhámos um concurso, procurámos uma empresa. Fiz um pouco de director executivo, dei-lhe capacidade a ele, cedi equipamento, ele aprendeu um pouco mais e fomos filmando durante um ano. Ele vinha ter comigo a cada mês e pouco a pouco íamos montando o filme. Conseguimos mandar o filme a alguns festivais e ganhámos um pequeno prémio em no Festival Internacional de Brisbane. Mas não há indústria, é complicado. Ele agora tem estado a filmar os miúdos que lançam papagaios de papel em Agosto, que é o mês em que faz mais vento. É uma curta-metragem, uma espécie de exercício. Filmam, editam e eu pago a produção. Depois meto o filme online, para que seja visto e, se estiver suficientemente bem, mandamo-lo a algum festival. Há um marketing por trás disto que leva tempo e dinheiro que ninguém paga.

      – Por falar em festival, onde gostaria de ver estrear este “Wawata Topu – Sereias de Timor Leste”?

      D.P. – Já a enviámos para 12 festivais. Enviámo-la ao Indie Lisboa, a dois festivais em Londres, a um na Nova Zelândia, um em Los Angeles, outro na Austrália, outro na Holanda, na Alemanha e Canadá. Estamos à espera. Alguns são festivais etnográficos, outros são curtas-metragens documentais e outros estão mais relacionados com o mar.

      – E em Timor, quando vão mostrá-lo?

      D.P. – No último fim-de-semana deste mês vamos projectá-lo na aldeia, em Adara. Não temos verba para alugar um cinema. Toda a gente nos pergunta quando vai acontecer. Dentro de 15 dias virá um representa do Secretariado da Comunidade do Pacífico, saberemos a sua opinião sobre o filme. Estamos a traduzi-lo para francês, para passar nas TV’s do sudeste do Pacífico. Em Timor, de momento, há esta projecção prevista para Adara e suponho que haverá um screening em Díli, na Fundação Oriente ou algo assim.

      – Está a trabalhar noutros projectos?

      D.P. – Estou a terminar uma curta experimental que é ainda uma surpresa, um pouco secreta. É uma colaboração com a bailarina Collen Coy e o maestro Simão Barreto, que viveu muitos anos em Macau. Para já não posso dizer mais.

  • ARTE TIMORENSE

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    Ketta Linhares é filha de pais timorenses e após as “ondulações” na sua vida, a mãe sem querer deu-lhe o rumo que estava a precisar para lançar o seu próprio negócio…e assim nasceu a marca “Laloran”, que significa “onda” em tétum.

    É a marca dos cadernos para desenhar de capa dura e lombada em tecido. Um dos tecidos é o tais timorense que dá um toque especial aos mesmos, que Ketta faz manualmente e que podemos encomendá-los aqui: http://book-sketch.blogspot.com/

    Saiba mais sobre o processo de fabrico dos cadernos nas mãos e no relato da autora.

    ketta

    vimeo.com

    This is a video made with Ketta, for Ketta 🙂 Hope you enjoy its simplicity.
  • música timorense

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    inalou-musica timorense.wmv

    www.youtube.com

    one of the hauntingly beaultifull sound of timor leste classic song ..inalou ..beaultifull mu
  • pintura de Gabriela Carrascalão

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    Photo
    http://timordonorteasul.blogspot.com/2008/02/moonlight-dancing-de-mgabriela.html

      • Gabriela Carrascalao Moonlight Dancing – titulo em Inglês deste quadro – Tebe numa noite de luar!

        , Março de 2003

        Loi Sa’e
        é aparição!
        donzela dengosa,
        Vaidosa!
        o monte desce,
        silhueta ondulante,
        a lua ilumina
        é convite para o amor!
        O batuque grita
        de ritmo marcante….
        mais alto…
        Loi Sa’e geme …
        o mancebo encanta
        Dança !…
        ao ritmo do batuque
        Loi Sa’e, luz da lua
        toda ela se mexe ,
        é o eco do bamboleio
        seu corpo serpenteando…
        é som do roçar dos tais
        xiu! xiu! assa xiu ! assa xiu!
        Loi Sa’e, luz da lua
        Dos suspiros em ais!
        Loi Sa’e….
        O mancebo desafia
        dança seu corpo
        serpente sensual…
        seus seios acaricia …
        ao ritmo do batuque
        Loi Sa’e!
        À luz da lua
        O mancebo espia
        donzela dengosa !
        Tebe à luz do luar!
        É noite para amar!….
  • poema de Gabriela Carrascalão

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    Este poema faz parte do curriculo do 12 ano da Escolas Portuguesas de TL. Foram escolhidos tres poemas sobre Timor : este, um de Rui Cinatty e um do Padre Barros Duarte. …

    Poema :
    Titulo : Menino Abandonado
    autora; MGabriela Carrascalao

    01-12-2006

    Menino…. Abandonado,
    rejeitado!
    chorando!…
    nas ruas de Dili!…
    Secas! Poeirentas!
    Menino magoado!
    Perdido…
    Angustiado!
    Geme!
    Garoto inocente!
    triste, mal amado!
    Menino esfomeado!
    inocência violada !
    criança usada!
    rosto massacrado,
    lágrimas !
    de sangue jorrando!
    nas ruas de Dili!…
    Secas! Poeirentas!
    Criança chorando!
    Meu Menino,
    garoto magoado!
    Triste !…
    abandonado!…

    MGabriela Carrascalão
    1-12-2006

    MGabriela

  • OS ANTIGOS REINOS DE TIMOR-LESTE LIVRO DE DOM XIMENES BELO

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    Copiado do livro «OS ANTIGOS REINOS DE TIMOR-LESTE» da autoria de Dom Ximenes Belo.

    «2º Reino de Hum (Home)

    Em 1703, já havia um rei, a quem o Governador mandou presentes (cfr. MATOS, Artur Teodoro de, ob.cit, p. 338). Nesse ano, o reino de Hum estava com o partido real, isto é, reconhecia a soberania portuguesa. O rei assinou uma petição ao Rei de Portugal, apoiando a continuação do Governador António Coelho Guerreiro por mais seis anos no governo das Ilhas de Solor e Timor (LEITÃO, Humberto, ob.cit.,p.44,nota 2).
    Na segunda metade do século XX, era liurai de Home, Lourenço Monteiro (Asu-Txai). Era escrivão ou escriturário. E porque sabia lere e escrever foi eleito chefe, ficando no lugar do tio que era “verdadeiro chefe” de Home, e que era analfabeto. O filho de Lourenço, José Monteiro foi chefe do Posto em Fatuberliu, Fatumean e Ossú.»

    NB. Penso que houve um lapso. “Lourenço Monteiro (Asu-Txai) está errado. Asu-Txai foi o antecessor de liurai Lourenço Monteiro. Vê-se na foto Helena Fernandes, uma das filhas de liurai Asu-Txai. Para mais detalhes partilho também o que escrevi há tempos no facebook. Obrigado.

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=467924029920321&set=a.324506470928745.74651.100001081850467&type=3&theater — with Guido Hideo Junior.

    Copiado do livro «OS ANTIGOS REINOS DE TIMOR-LESTE» da autoria de Dom Ximenes Belo. «2º Reino de Hum (Home) Em 1703, já havia um rei, a quem o Governador mandou presentes (cfr. MATOS, Artur Teodoro de, ob.cit, p. 338). Nesse ano, o reino de Hum estava com o partido real, isto é, reconhecia a soberania portuguesa. O rei assinou uma petição ao Rei de Portugal, apoiando a continuação do Governador António Coelho Guerreiro por mais seis anos no governo das Ilhas de Solor e Timor (LEITÃO, Humberto, ob.cit.,p.44,nota 2). Na segunda metade do século XX, era liurai de Home, Lourenço Monteiro (Asu-Txai). Era escrivão ou escriturário. E porque sabia lere e escrever foi eleito chefe, ficando no lugar do tio que era “verdadeiro chefe” de Home, e que era analfabeto. O filho de Lourenço, José Monteiro foi chefe do Posto em Fatuberliu, Fatumean e Ossú.» NB. Penso que houve um lapso. “Lourenço Monteiro (Asu-Txai) está errado. Asu-Txai foi o antecessor de liurai Lourenço Monteiro. Vê-se na foto Helena Fernandes, uma das filhas de liurai Asu-Txai. Para mais detalhes partilho também o que escrevi há tempos no facebook. Obrigado. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=467924029920321&set=a.324506470928745.74651.100001081850467&type=3&theater
  • crónica 124 DOM XIMENES BELO NO 19º COLÓQUIO DA LUSOFONIA

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    http://www.diariodetrasosmontes.com/cronicas/cronicas.php3?id=1361&linkCro=1

     

     



    Crónica 124 26 março 2013 dom Ximenes Belo no 19º colóquio da lusofonia

     

     

    Crónica 124 26 março 2013
    Rudyard Kipling está celebrizado pelo «If» («Se») que é exatamente o oposto daquilo que rege os colóquios «Não prometemos, fazemos». Só que, desta vez, saboreamos o acre travo das provações climatéricas que quase iam comprometendo de forma terminal o 20º colóquio marcado para 14 a 17 de março na Maia, ilha de São Miguel, Açores.
    Uma depressão cavada estacionária por cima do arquipélago trouxe chuvas torrenciais, ventos ciclónicos, desabamentos de terras, naufrágios e um total de seis mortes a estas ilhas tão fustigadas e impediu a aterragem de aviões de Lisboa e Porto a partir do dia 12…Os nossos oradores e presenciais que iriam chegar a partir daquela data começaram a ver os seus voos adiados, cancelados e mais de 1120 pessoas esperavam nos aeroportos de Lisboa e Porto um voo para a ilha do Arcanjo.
    Todos os planos foram literalmente por água abaixo, recorreu-se ao plano «B» mas novos cancelamentos e adiamentos, horas desesperantes de espera no aeroporto Papa João Paulo II na Nordela em PDL fizeram gorar novas esperanças. De volta ao computador se elaboraram planos alternativos enquanto os telemóveis se agitavam com mensagens, telefonemas e adiamentos ou cancelamentos. Os planos quase esgotavam o alfabeto disponível e decidiu-se cancelar tudo o que se estava previsto para o primeiro e segundo dias do evento. No jantar de boas vindas, em vez de 25 pessoas éramos seis ou sete. Na manhã de dia estava anunciada uma palestra na escola da Maia, sobre a paz. por Dom Ximenes Belo, Prémio Nobel da Paz 1996 e a apresentação da Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos em dois volumes. O lançamento tinha sido anunciado em toda a ilha por todas as escolas e não podia ser alterado, mas o restante da programação desse dia incluindo a abertura formal do colóquio, lançamentos literários na livraria Solmar e um jantar oferecido ela Associação Agrícola de São Miguel tudo foi alterado.
    Cancelaram-se recitais, atuações de grupos musicais e passeio para incluir as sessões formais do colóquio no sábado dia 16. Finalmente pelas 11 e meia da manhã de dia 15 começaram a chegar oradores e presenciais…em três aviões consecutivos de Lisboa. Remarcou-se o almoço na Maia onde acabamos por ter mais de 20 pessoas e logo a seguir a este improvisou-se uma audiência na escola para a palestra de Dom Ximenes Belo. Depois recolheram todos ao hotel onde nos reunimos para jantar ainda sob intensa chuva que iria persistir com intensos e cerrados nevoeiros.
    O 19º colóquio começou assim n sábado e prolongou-se até domingo, um dos mais curtos eventos desde o seu dealbar em 2001-2002, caracterizado pela presença de personalidades ilustres que, pela primeira vez, estavam presentes como a representação do Camões agora denominado Instituto da Cooperação e Língua, e o Diretor Executivo do IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa) da CPLP, entre outras personalidades.
    Tudo correu dentro do apertado horário com a precisão de um relógio suíço sem mais percalços ou incidentes, e uma boa integração dos elementos que nunca estiveram nos nossos convívios anteriormente.
    Depois das boas-vindas pelo presidente da Junta de Freguesia da Maia (esta foi a primeira vez que os colóquios se realizaram numa freguesia), este fez a apresentação da mostra de artesanato local e de fotografias da Maia, havendo igualmente a abertura da mostra de livros da editora Calendário de Letras. Depois seguiram-se dois vídeos, um ilustrando a história e as belezas e riqueza da Maia e outro da AICL; recapitulando em imagens os 18 colóquios anteriores. Seguiram-se os discursos oficiais começando com o do Presidente da AICL
    SENHOR representante do PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES, Subsecretário Regional da Presidência para as Relações Externas Dr Rodrigo Oliveira
    SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DA RIBEIRA GRANDE, DR RICARDO SILVA
    SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DA MAIA, JAIME RITA
    DEMAIS ENTIDADES REGIONAIS,
    MONSENHOR DOM CARLOS FILIPE XIMENES BELO, nosso convidado de honra neste colóquio
    ÁLAMO OLIVEIRA, nosso escritor convidado e homenageado neste colóquio
    CAROS/AS ACADÉMICOS/AS,
    CARAS E CAROS ASSOCIADOS/AS,
    MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES
    A TODOS AGRADEÇO A PARTICIPAÇÃO NESTA CERIMÓNIA FORMAL DE ABERTURA DO 19º COLÓQUIO DA LUSOFONIA DA AICL.
    AGRADEÇO EM ESPECIAL O PATROCÍNIO DA JUNTA DE FREGUESIA DA MAIA SEM O QUAL NÃO SERIA POSSÍVEL TERMOS REUNIDOS AQUI ACADÉMICOS E LUSÓFILOS DE TANTOS PAÍSES E REGIÕES
    A todos dou as boas-vindas a esta costa norte da ilha de São Miguel, tantas vezes esquecida ao longo dos séculos, e mesmo mais recentemente quando fica afastada das rotas de visitantes e turistas. Estamos em pleno coração da zoina histórica da Maia, ativa freguesia do concelho da Ribeira Grande, situada entre as suas congéneres de S. Brás, a ocidente; a Lomba da Maia, a nascente; e os concelhos de Vila Franca do Campo e Povoação, a sul. A sede da freguesia, inclui os lugares da Lombinha da Maia e da Gorreana, ocupando grande parte de uma fajã vulcânica geologicamente muito jovem, com apenas dez mil anos.
    Seguindo a Enciclopédia Açoriana, a Maia terá sido fundada nos finais do séc. XV, por Inês da Maia, nativa de terras do Lidador perto do Porto. Na ilha havia então dois municípios, os de Vila Franca do Campo e de Ponta Delgada.
    O primeiro historiado, o douto Gaspar Frutuoso fala das curiosidades da freguesia, dos moinhos, do dia-a-dia e dos primeiros povoadores que tiveram intenção de a fazer vila sem o conseguirem. Em termos eclesiásticos, a paróquia cedo ganhou alguma relevância fazendo parte da ouvidoria de Vila Franca, a única em S. Miguel. Só em 1698 foram criadas as ouvidorias de S. Sebastião em Ponta Delgada e N. Sra. da Estrela na Ribeira Grande. Por razões geográficas, a paróquia do Divino Espírito Santo da Maia foi incluída na de N. Sra. da Estrela.
    Entretanto, as obrigações fiscais passaram a ser cumpridas na Ribeira Grande, mas só em 1820 a Maia ficou a fazer parte deste concelho. No entanto, em 1916 esta paróquia foi integrada como limite ocidental da ouvidoria dos Fenais da Vera Cruz (Fenais da Ajuda) aquando da criação de novas ouvidorias.
    A sua malha urbana apresenta um desenho de ruas paralelas orientadas na direção norte-sul, unidas por travessas de orientação leste-oeste, situação muito rara nos Açores. Dadas estas características, foi classificado como património regional o centro urbano ao redor da igreja paroquial, dedicada ao Espírito Santo, e construída de 1796 a 1825.
    Entre os seus edifícios notáveis, encontra-se o Solar de Lalém, do séc. XVIII e XIX, e onde foi incorporada a ermida de S. Sebastião de 1687. Ali se realizaram em 87 e 89 dois encontros de escritores açorianos, e onde João de Melo recebeu o seu primeiro prémio literário , pelo livro Entre Pássaro e Anjo.

    http://vambertofreitas.files.wordpress.com/2011/04/maia_foto1.jpg
    Diz Vamberto Freitas em 2011 no artigo Do Bar Jade ao Grupo Balada Abpril 9, 2011
    O movimento e o debate de ideias nos bastidores levaram ao primeiro encontro da Maia organizado por Daniel de Sá, Afonso Quental, Carlos Cordeiro e, mais tarde, Urbano Bettencourt, Silva Melo e José Bettencourt da Câmara, que dinamizariam no Solar de Lalém essa convivência que, durante alguns dias, juntava escritores e estudiosos residentes no arquipélago, no Continente e na Diáspora, inclusive Brasil. … a açorianidade tomava agora várias formas, era vivida e escrita nas mais longínquas geografias marcadas pela nossa presença histórica. … a escrita açoriana entrava numa outra fase de universalidade que naturalmente se revia nas mais variadas formas, nos mais originais e por vezes inesperados temas., para além do isolamento e subdesenvolvimento, emigração e guerra colonial. Quem não queria ser identificado como «escritor açoriano» ou ser incluído num corpo literário definido como «literatura açoriana» estava mais do que livre para seguir o seu caminho sem nunca ser hostilizado, muito menos «excluído» do grupo.
    Tentamos, em memória desses Encontros, que a comitiva ficasse alojada no mítico e ora privado Solar de Lalém mas preços exorbitantes, exigências e alterações ao acordado levaram-nos a buscar outras paragens e daí estarmos alojados no paradisíaco coração da ilha em pleno Vale das Furnas.
    No lugar da Gorreana aqui na Maia, produz-se o famoso chá do mesmo nome, sendo este laborado na única fábrica que se manteve ativa, sem interrupções, desde o terceiro quartel do século XIX e que visitaremos amanhã.
    A situação geográfica da Maia, numa zona do concelho em que há uma acentuada descontinuidade em relação ao conjunto formado pela cidade da Ribeira Grande e freguesias mais ocidentais, e o seu relevo geográfico, fizeram da Maia uma alternativa para as populações da zona na busca de bens e serviços que normalmente só são acessíveis nas sedes de concelho, daqui derivando as suas legítimas aspirações ao longo dos últimos 500 anos para ser vila mas cremos que será apenas uma mera questão temporal até que isso aconteça.
    A zona costeira da Maia dispõe de excelentes condições para a natação e mergulho, sendo os fundos marinhos circundantes dos melhores da ilha, quer no que respeita à paisagem subaquática quer no que se refere às espécies e quantidade de peixes observáveis.
    Encontra-se referida como «O Reduto do logar da Maya» na relação «Fortificações nos Açores existentes em 1710» .[1] A Capitania Geral dos Açores reportava o seu estado em 1767: «§20.° — No logar da Maya se conservam alguns vestígios de que houve alli um Forte chamado do Espirito Santo, e se deve novamente edificar, pela necessidade que tem aquelle sitio de ser defendido.»[2] Esta estrutura não chegou até aos nossos dias.
    Nos últimos dois anos tem-se assistido a uma rica panóplia de eventos destinados a celebrar os 5 séculos da Maia cuja data exata não consta dos arquivos, o que vem provar a vitalidade desta freguesia que tem sob a liderança de Jaime Rita, a visão e a coragem de se abalançar a ser a primeira freguesia a receber um Colóquio da Lusofonia o que, decerto, ficará na história e servirá de exemplo nestes dias conturbados em que por mor da crise, a cultura é das primeiras rubricas a serem penalizadas nos cortes de apoios governamentais a todos os níveis. Ao apostar neste apoio incondicional aos Colóquios, quando alguns municípios o declinaram, a Junta de Freguesia da Maia deu um exemplo de que os cidadãos não precisam só de obras de construção civil, ou da solidariedade social autárquica, nem apenas das hortas comunitárias, nem só dos festivais pagãos e religiosos como também se lhes deve dar a hipótese de poderem receber uma tão nobre audiência como esta, onde a Lusofonia está aqui representada por gente de vários países e regiões como Açores, Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, EUA, Galiza, Macau, Portugal, Roménia, Timor-Leste.
    A cultura e a educação são a maior riqueza de um povo que não se contabiliza na fria natureza dos números da economia e finanças. Um povo culto está ao lado dos governantes na busca de soluções para as crises, um povo orgulhoso da sua língua não se deixa silenciar para pagar as dívidas da banca mundial. É esse povo que visamos conquistar nos Colóquios da Lusofonia.
    Todos sabemos que a história sempre se fez de guerras e de casamentos entre as tribos, hoje faz-se pela globalização económica que desconhece as fronteiras marcadas em tempos imemoriais pelos homens e é aí que a língua comum assume um papel vital de moeda de troca entre os povos. Mesmo muitos daqueles que sempre se insurgiram contra a Lusofonia surgem agora como vocais e aparentes paladinos da mesma, como instrumento de captação de um mercado de mais de 240 milhões de almas. Se a guerra dos afetos entre povos irmãos parecia exclusiva da coutada dos poetas, eis que agora – timidamente – desponta o interesse económico nessa cruzada da língua comum, como motor capaz de inverter políticas centralistas e nacionalistas de séculos. Nisso reside a grande arma que devemos utilizar, neste longo caminho de sobreviver através da língua e cultura comuns, em vez de ficarmos marginalizados em variantes e dialetos, redutores da enorme identidade global que é a Lusofonia sem distinção de nações, credos ou etnias.
    Advogamos sempre que um povo que lê não se deixa esmagar pela fria ditadura dos impostos, não se deixa dominar e toma decisões conscientes, necessidades bem prementes nestes dias de globalização neoliberal desenfreada, guiada pelo paradigma único do lucro a qualquer custo. Sem desmerecer os méritos do sistema capitalista, apostamos mais na Humanidade feita de homens e mulheres com princípios sãos. Sustentamos a igualdade, a justiça e o mérito irmanados por um poderoso elo comum: a língua de todos nós – seja ela de origem ou adquirida -, mas a língua em que comunicamos, trabalhamos e vivemos. Esse laço comum não distingue nem discrimina. Podemos fazer a diferença, congregados em torno dessa ideia abstrata e utópica de irmanação pela Língua numa escrita unificada. Podemos criar pontes entre povos e culturas no seio da grande nação lusofalante, independentemente da nacionalidade, naturalidade ou ponto de residência.
    Esta a verdadeira Lusofonia que propugnamos. Não somos donos da língua apenas meros amantes e utilizadores da mesma, e nela queremos congregar não só os países de língua oficial portuguesa como todas as comunidades onde existam lusofalantes independentemente da sua matriz de origem.
    Não queremos um Quinto Império para reviver falsas glórias de outrora, pretendemos apenas dar voz a todos os que se expressam e trabalham nessa mesma língua, queremos partilhar a enorme riqueza da língua comum, com enorme valor no PIB, como elo motriz que a catapulte da sua eterna semiobscuridade para a ribalta dos fóruns mundiais onde já é a quinta mais falada ou no seio da internet onde surge como terceiro idioma mais usado.
    Dito isto, somos – como organizadores deste 19º colóquio, a AICL – associação internacional dos colóquios da lusofonia, um exemplo da sociedade civil atuante em torno de um projeto de Lusofonia sem distinção de credos, nacionalidades ou identidades culturais. Depois de termos ido ao Brasil, Macau e Galiza queremos voltar ao Brasil, ir aos EUA e Canadá, a Cabo Verde, Roménia, Timor-Leste e a outros países.
    A nossa ação, desde 2006, na divulgação da açorianidade literária é o exemplo vivo de como concretizar utopias com esse esforço coletivo que é o contagioso espírito de grupo que nos irmana e nos tem permitido avançar com ambiciosos projetos desde que em 2001 iniciámos os colóquios, para patentear que era possível ser-se organizacionalmente INDEPENDENTE e descentralizar estes eventos sem subsidiodependências. Estabeleceram-se nestes anos várias parcerias e 21 protocolos com universidades, politécnicos e outras entidades que possibilitam embarcar em projetos mais ambiciosos com a necessária validação científica. Nos Açores, agregamos académicos, estudiosos e escritores em torno da identidade açoriana, escrita e tradições, na perspetiva de enriquecimento da Lusofonia, sempre com as suas diversidades culturais que, com a nossa podem coabitar.
    Pretendemos divulgar a identidade açoriana não só nas comunidades lusofalantes mas em países como a Roménia, Polónia, Bulgária, Rússia, Eslovénia, Itália, França, onde lentamente estão a ser feitas traduções de obras e de excertos de autores açorianos. Por isso, em todos os colóquios mantivemos sempre uma sessão dedicada à tradução, importante forma de divulgação da língua e cultura. Veja-se o exemplo de Saramago que vendeu mais de um milhão de livros nos EUA onde é difícil a penetração de obras de autores estrangeiros. A este propósito, um dos mais ousados projetos destes colóquios a Antologia Bilingue para as comunidades da diáspora, lançada em 2011, tem esta tarde o lançamento da sua versão monolingue, trata-se da Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos em 2 volumes e edição da Calendário de Letras.
    Em linha desde janeiro 2012 disponibilizamos gratuitamente no nosso portal, www.lusofonias.net, os CADERNOS DE ESTUDOS AÇORIANOS que trimestralmente publicámos, estando já disponíveis dezena e meia de cadernos, suplementos e vídeo-homenagens a autores açorianos. Serviram de suporte ao curso de Açorianidades e Insularidades da Universidade do Minho e que ambicionámos levar, um dia, numa plataforma em linha para todo o mundo, além de servir de iniciação para os que querem ler excertos de obras de reconhecidos autores açorianos cujas obras dificilmente se encontram no mercado livreiro. Há marcas indeléveis de insularidade que acompanham os autores açorianos nas suas peregrinações, um elo comum que abarca os autores compilados nos Cadernos Açorianos, entre tantos que escrevem tendo por pano de fundo os Açores como espaço cultural de forte marca identitária.
    Gostava de chamar a vossa atenção para os dois últimos cadernos açorianos, um dedicado a Victor Rui Dores e o outro ao dramaturgo Norberto Ávila que hoje se junta a nós pela primeira vez, acompanhando o escritor homenageado ÁLAMO OLIVEIRA. Em outubro 2012, levamos os Colóquios a Ourense na Galiza, parcela esquecida da Lusofonia que foi o berço da língua de todos nós, e ora tenta reunir-se com as demais comunidades lusofalantes. Ali lançámos o MANIFESTO AICL 2012, a língua como motor económico, um contributo para a política da língua no Brasil e Portugal. Vivemos hoje uma encruzilhada semelhante à da Geração de 1870 e das Conferências do Casino.
    Embora maioritariamente preocupados com os aspetos mais vastos da linguística, literatura e história, somos um grupo heterogéneo unido pela Língua comum a todos nós e que configura o mundo, sem esquecer como Wittgenstein disse que o limite da nacionalidade é o limite do alcance linguístico.
    Resta apenas que mais e mais gente se junte à AICL – Colóquios da Lusofonia – para irmos mais longe e levar o nosso MANIFESTO a todos, incluindo os países de expressão oficial portuguesa e que sirva de ponto de partida para o futuro que ambicionamos e sonhamos. Com a ajuda e dedicação de todos muito mais podemos conseguir como motor pensante da sociedade civil para que juntos possamos fortalecer o que nos une e que é património imaterial de tantos.
    Fala-se hoje mais Português em Angola e Moçambique do que no tempo da presença portuguesa apesar da forte competição das línguas nativas. Em Goa existem mais de 15 mil falantes e há um recrudescimento do interesse pela língua portuguesa com novos livros publicados mais de 50 anos após a extinção da presença lusófona. Em Macau a língua portuguesa é mais falada e estudada hoje do que quando os portugueses lá estavam. Lembro a importância da língua portuguesa em contextos hostis como no caso de Timor-Leste onde sob a ocupação neocolonial indonésia, as novas gerações impedidas de falar Português começaram a usar esta língua como língua de resistência. Como segunda língua oficial há dez anos o número de falantes nem a 5% chegava e hoje já há mais de 25%.
    Vários idiomas da Tailândia, Malásia, Índia e Indonésia têm centenas de palavras portuguesas bem como a língua japonesa: álcool, veludo, jaqueta, bolo, bola, botão, frasco, irmão, jarro, capa, capitão, candeia, castela (bolo de pão-de-ló), copo, vidro, tempero, tabaco, sabão, sábado, choro, tasca, biombo etc. Há ainda um idioma próprio Papiá Kristang (língua cristã) ou português de Malaca falado na Malásia, Singapura, Tailândia, Ceilão e Indonésia constituído por palavras portuguesas com formas gramaticais diferentes. Existe ainda o Patuá de Macau mas em vias de extinção.
    Por último gostava de lembrar a honra que temos neste biénio 2013-2014 de homenagear Álamo Oliveira, um autor que como tantos outros não tem a projeção que merece pela sua vasta e rica obra. Nos Colóquios tentamos seguir as indicações que recebemos e uma das questões colocadas aquando da antologia bilingue foi a de termos deixado de fora as mulheres na escrita açoriana (excetuando Maria de Fátima Borges). Sempre abertos a sugestões e críticas adotou-se para este 19º colóquio o tema 1, AS MULHERES NAS LETRAS AÇORIANAS. Curiosamente, apesar da extensíssima divulgação que este 19º colóquio teve, a maioria das mulheres escritoras açorianas contemporâneas ignorou esta oportunidade. Mesmo assim, posso anunciar aqui em primeira mão que iremos prosseguir como estava programado com uma nova Antologia no feminino, sob o tema Açores 9 ilhas 9 escritoras.
    A língua não é só um meio de comunicação nem uma arma económica, ela expressa o sentimento dos povos, permite a preservação das lendas e narrativas, recria as baladas dos bardos, favorece a leitura dos clássicos, aproxima povos e perpetua o ADN nacional. Vamos continuar a criar intercâmbios entre os Açores e o resto do mundo para incrementarmos relações culturais entre as regiões e comunidades onde se fala a mesma língua.
    Dou agora a palavra ao convidado de honra Dom Ximenes Belo, seguido do nosso escritor homenageado Álamo Oliveira, a representante da Presidente do Camões Dra. Ana Isabel Soares, o presidente da edilidade Dr Ricardo Silva a que se seguirá o representante do Presidente do Governo Regional, senhor Subsecretário Regional da Presidência para as Relações Externas Dr Rodrigo Oliveira.
    Seguiu-se depois a primeira sessão dedicada inteiramente à homenagem a Álamo Oliveira, começando por um vídeo http://www.lusofonias.net/doc_download/1529-5-alamo-oliveira.html produzido pela AICL com apoio técnico do nosso associado Instituto Politécnico da Guarda, a surpresa de um trio de professores da escola da Maia a interpretarem O rimance de Dona Baleia em versão musicada por eles. Depois, era a grande surpresa, dois poemas de Álamo «ganga azul» e «eu fui ao pico e piquei-me» traduzidos em várias línguas e apresentados ao vivo ou em gravação nessas línguas. Um projeto que irá ser colocado no portal em breve quando estiverem concluídas as traduções noutras línguas.
    Seguiu-se uma magistral apresentação da colega Rosário Girão e Manuel J Silva da universidade do Minho sob o título «o poeta do banco verde», a tradutora norte-americana Katharine Baker apresentou «traduzir os poemas Berkeley e são Francisco» de Álamo Oliveira e Chrys Chrystello fez uma recensão genérica das obras do autor terminando com a excecional obra «A Traceira de Jasus»

    O almoço, oferecido pela Junta de Freguesia, foi de Sopas do Divino e carne do mesmo, servidas no salão da Fábrica de Chá da Gorreana devido ao mau tempo, com apoio de alunos da escola profissional das Capelas. Depois passou-se aos trabalhos da parte de tarde com uma sessão de poemas escolhidos e ditos pelo autor Álamo Oliveira. Nessa sessão Rolf Kemmler da UTAD, continuou a sua saga de estudos de trabalhos feitos por estrangeiros sobre os Açores no fim do séc. XIX e início do séc. XX. Vilca Merízio do Estado de Santa Catarina, falou de dois autores desconhecidos dos seus tempos na Universidade dos Açores e Rolf apresentou outro trabalho sobre Luiz Mascarenhas Gaivão e a sua obra, antes da Concha Rousia da Academia Galega da Língua Portuguesa debater a influência da Galiza na poesia de Chrys Chrystello.
    A dupla Augusto Rodrigues (Universidade de Brasília) e Simona Vermeire da Roménia (Universidade do Minho) acabou por ser notícia como os únicos que não conseguiram voo tempo de chegarem aos Açores para o 19º colóquio, deixando apenas Luís Gaivão no último painel do dia a debater a literatura angolana contemporânea na obra de Manuel Rui, acompanhado de Perpétua Santos Silva na Racionalidade e afetos na relação com a língua portuguesa em Macau.
    Entretanto na RTP Açores no mais divulgado programa Atlântida havia um especial dedicado ao colóquio com reportagens sobre Álamo Oliveira e painéis onde intervieram Norberto Ávila, Helena Chrystello, Ana Isabel Soares (do Camões e ainda Laura Areias que todos disseram ter corrido muito bem. http://www.rtp.pt/programa/tv/p29930/e6
    Apressadamente, digiram-se todos para Ponta Delgada onde, na Livraria Solmar (Avenida) ao bater das 19.00 se fariam as apresentações literárias deste colóquio. Chrys começou por falar de Timor e do fardo que transportou ao longo de 24 anos em que foi uma das poucas vozes no jornalismo mundial dedicado ao problema da independência de Timor-Leste, servindo isto de prelúdio para a apresentação da sua trilogia da História de Timor em CD, composta pelo livro 1 Timor-Leste o dossiê secreto (1973-1975), livro 2 Historiografia de um repórter (1982-1993) e livro 3 Guerras tribais, a história repete-se (1984-2006). Depois Concha apresentou o livro dos 40 anos de vida literária CRÓNICA DO QUOTIDIANO INÚTIL uma compilação das Obras Completas do autor incluindo a reimpressão do primeiro volume publicado em 1972, o volume dois (1967-1975), volumes 3 e 4 (1970-1982) e o novo volume 5 após um hiato de 20 anos que reúne poesia escrita entre 2010 e 2012.
    A seguir, Helena Chrystello em nome dela e da outra coautora Rosário Girão falou desse extraordinário projeto dos Colóquios a Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos (17 autores em dois volumes) que embora anterior no tempo, sucede à Antologia bilingue de 15 autores lançada em 2011 e que faz parte do Plano Regional de Leitura e vai ser submetida para consideração para o Plano Nacional de Leitura.
    Por último Concha Rousia apresentou a sua mais recente obra Nântia e a cabrita d’oiro, um romance infantojuvenil efabulado na própria história da Galiza.
    Seguiram depois os conferencistas para o jantar que lhes era graciosamente oferecido pela AASM Associação Agrícola de São Miguel, em Santana na Ribeira Grande, onde se degustou o excelente bife da ilha acompanhado só de produtos açorianos, do pão ao queijo, ao vinho, ao ananás…
    Tivemos o privilégio de tornar a ter no nosso seio o excelente tocador de Viola da Terra, Rafael Carvalho que já estivera no nosso Colóquio na Lagoa em 2008. Foram momentos bem expressivos que antecederam o jantar e – apesar de ter outros compromissos – e de esta sessão ter sido adiada 24 horas, o jovem Rafael não quis deixar de se associar e estar presente.
    Tal como na sessão de abertura em que falara da paz, Dom Ximenes Belo mostrou-se jovial, bem-disposto e falador contrastando com anteriores ocasiões enque foi sempre muito formal e mais sisudo. Dir-se-ia que estava à vontade e se sentiu bem enquanto os colóquios cumpriam a sua parte e o isolavam da comunicação social como ele expressamente solicitara. Autorizara apenas fotos nos locais por onde passou e nas intervenções formais quer nos colóquios quer nas suas perambulações pastorais pela Igreja a Maia e outros locais de culto onde foi prestar homenagem à memória de açorianos célebres como o túmulo de Dom Jaime Goulart.
    A sessão correu tão bem que a Assembleia-Geral da AICL foi adiada 24 horas…entretanto a chuva e o nevoeiro não davam tréguas e permaneceram connosco até à data em que escrevo salvo raras exceções muito curtas…
    Este colóquio estava assim resumido a dois dias bem intensos. Era para se ter realizado em três dias bem preenchidos e tivemos de o comprimir em dois, mas felizmente os dois dias decorreram sem atrasos em relação aos horários previstos, nem nos almoços (dois dos quais realizados no Sagitário da Maia com mais de vinte e tal pessoas e sem demoras).
    Domingo começaria com a poesia interventiva da Galiza pela voz da autora Concha Rousia antes da sessão 5 em que iriam intervir ANDRÉ CRIM VALENTE da UERJ, CRIATIVIDADE LEXICAL NA MÍDIA E NA LITERATURA: NEOLOGISMOS INUSITADOS, seguido de EDLEISE MENDES da Universidade da Bahía DESAFIOS E PERSPETIVAS CONTEMPORÂNEAS PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS LE/L2 COMO LÍNGUA DE CULTURA(S), Luciano Pereira da ESE/Instituto Politécnico de Setúbal A VALORIZAÇÃO DO TRABALHO NO CONTEXTO DO ENSINO DA LÍNGUA E CULTURA PORTUGUESA num virulento ataque ao mundo contemporâneo desumanizado e Ana Isabel Soares do Camões TRADUÇÃO PARA LÍNGUA PORTUGUESA DA EPOPEIA FINLANDESA KALEVALA. Depois de um aceso debate seguiu-se o Recital de Ana Paula Andrade do Conservatório de Ponta Delgada acompanhada por Henrique Constância ao violoncelo e a estreia da já famosa soprano Helena Ferreira que a todos encantaram. Houve a apresentação pública de inéditos do Padre Áureo da Costa Nunes de Castro, nativo do Pico e radicado durante décadas em Macau, algumas peças do cancioneiro Açoriano e por último a surpresa de duas estreias musicadas por Ana Paula Andrade do poema «A Religiosa» de Álamo Oliveira e de «Maria nobody» de Chrys Chrystello em trabalhos de qualidade excecional que podem ser ouvidos em http://www.lusofonias.net/cat_view/132-imagens-aicl/130-coloquios-acores/243-19o-coloquio-maia2013.html?view=docman Antes do almoço ainda deu para uma excelente sessão dos metres, a sessão das Academias em que intervieram Evanildo Bechara ABL, Brasil, ACORDO ORTOGRÁFICO; João Malaca Casteleiro ACL, Lisboa, ACHEGAS AO ACORDO ORTOGRÁFICO: SERÃO POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NA DUPLA GRAFIA PARA UMA UNIFICAÇÃO MAIS COMPLETA DA ORTOGRAFIA?; Concha Rousia AGLP, GALIZA E O AO 1990; e outra estreia neste colóquio Gilvan Muller De Oliveira, Diretor do IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa em Cabo Verde) da CPLP, DO ACORDO ORTOGRÁFICO À GEOPOLÍTICA INTERNACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA NO SÉC. XXI. Mais outro curto e intenso debate.
    De tarde era a vez do tema de honra «a mulher nas letras açorianas» com intervenções de Helena Anacleto-Matias, ISCAP, Porto, SOBREVOANDO A ILHA-MÁTRIA DE NATÁLIA CORREIA, UMA PANORÂMICA; Laura Areias, CLEPUL, U. LISBOA, OS ANSEIOS DAS INSULANAS; e Álamo Oliveira, escritor, Terceira, Açores, recordar ADELAIDE FREITAS. Faltou a escritora local Ângela de Almeida para faltar de Natália Correia.
    A última sessão de palestras era ocupada com o tema Açorianos em Macau e Timor com Raul Leal Gaião, Lisboa, AÇORIANOS EM MACAU, D JAIME GOULART – DO PICO A MACAU, DE MACAU A TIMOR e, Dom Carlos Ximenes Belo, Timor-Leste, BISPOS AÇORIANOS EM MACAU E MISSIONÁRIOS AÇORIANOS EM TIMOR. Houve tempo para interessante debate embora a comunicação social se tenha queixada por não poder intervir no mesmo. Entregaram-se os Certificados coma fotografia de família dos presentes, apresentaram-se conclusões e projetos novos
    É NOSSO COSTUME AGRADECER DEPOIS DE CADA COLÓQUIO desta vez, porém, os agradecimentos têm um sabor especial pois ninguém desistiu de estar presente apesar dos contratempos de voo e ajudaram todos com a sua presença a fazer deste colóquio um evento memorável apesar de ter sido dos mais curtos da sua já longa história…
    Aos patronos das 3 Academias agradeço a vossa continuada presença desde 2007 que constitui um incentivo triplicado (Bem Hajam MALACA CASTELEIRO, EVANILDO BECHARA E CONCHA ROUSIA)
    Uma palavra de apreço muito especial a Dom Ximenes Belo pela sua alegria, jovialidade e excelente entrosamento no seio desta nossa família lusófona. Tentámos dar-lhe o máximo de espaço ao longo destes dias sem o constranger apesar das 1001 solicitações e esperamos que volte um dia mais tarde. As crianças na escola adoraram a sua presença e todos nos sentimos mais ricos com a sua bonomia e esperança em dias melhores. Foi assim que Timor ficou independente por haver gente que acreditou.
    Um agradecimento muito sentido ao Jaime Rita, ao Filipe Braga, Alina, Marina e Daniela e aos incansáveis e sempre solícitos condutores da Junta de Freguesia da Maia e Casa do Povo pela sua dedicação enorme que nos permitiu resolver problemas com os quais nem nós conseguíamos imaginar e que foram causados pelos cancelamentos e adiamentos sucessivos de voos. Agradecemos que divulguem pelos que aqui são nomeados.
    Aos nossos outros convidados «especiais» – apesar de sermos todos iguais – a nossa gratidão por se terem integrado tão bem e tão depressa nesta nossa «família lusófona» com especial apreço pelos esforços efetuados pelo ÁLAMO OLIVEIRA e pelos PROFESSORES ANDRÉ CRIM VALENTE, GILVAN OLIVEIRA E ANA ISABEL SOARES que muito vieram enriquecer o conteúdo das comunicações.
    Foi graças a todos vós que creio termos conseguido atingir os nossos objetivos saindo deste encontro com tantos novos projetos que iremos construir nos próximos 2 a 3 anos.
    Um último agradecimento público à sempre incansável e flexível Dona Beatriz do Rego do nosso Hotel na Vista do Vale (hoje cheio de sol) e ao Sr. Augusto do restaurante Sagitário que conseguiram a curto prazo satisfazer todas as nossas necessidades e que nos deleitaram com uma boa culinária para encher os estômagos já que a mente a enchemos nós. Obrigado ao Jorge Rita da Associação Agrícola de São Miguel, pela oferta de 37 bifes que perdurarão na nossa memória; bem como ao Eng.º Mota da Fábrica de Chá da Gorreana por nos receber assim como ao Zé Carlos Frias da Livraria Solmar pois ambos nos fizeram sentir em casa.
    A todos os que não puderam, não quiseram ou não tiveram a oportunidade de estar presentes, apenas vos posso dizer NÃO SABEM O QUE PERDERAM!
    Obrigado a todos pela vossa amizade e incentivos, bem hajam e até ao 20º colóquio no Rio de Janeiro como cremos que será oficialmente anunciado em breves semanas.

    CONCLUSÕES

    CONCLUSÕES
    1. TENTAR INCLUIR A ANTOLOGIA DE AUTORES AÇORIANOS CONTEMPORÂNEOS EM DOIS VOLUMES NO PLANO NACIONAL DE LEITURA
    2. PROJETO DE ANTOLOGIA NO FEMININO 9 ILHAS 9 ESCRITORAS NOS PRÓXIMOS DOIS ANOS
    3. PROJETO DE MUSICAR (VERSÃO MÚSICA CLÁSSICA) POEMAS DE AUTORES AÇORIANOS
    4. PROJETO DE MUSICAR (VERSÃO POP E ROCK) POEMAS DE AUTORES AÇORIANOS E DOS COLÓQUIOS
    5. PROJETO DA JUNTA DE FREGUESIA CRIAR UM CANCIONEIRO DA MAIA
    6. PUBLICAÇÃO DE UMA COMPILAÇÃO DE TEXTOS DRAMÁTICOS A INCLUIR NO PLANO CURRICULAR DO ENSINO E MAIS TARDE NO PLANO REGIONAL DE LEITURA

     

    mail: Chrys Chrystello

    Crónica anteriores:

    Crónica 121 Lusofonias: Do Canadá à Galiza, 26/10/2012
    Crónica 117 portugueses 30 junho 2012
    17 colóquio da lusofonia lagoa abril 2012
    SANTA MARIA ILHA-MÃE – AICL REPUDIA EXCLUSÃO DA AGLP
    CRÓNICA 100 Maia(Açores) 5 séculos e um livro
    A Ásia recebeu os Colóquios da Lusofonia numa ponte entre os Açores e Macau
    CRÓNICA 91 DUAS MORTES, UM SÓ PAÍS
    RESCALDO DO 14º COLÓQUIO DA LUSOFONIA
    Evocação da mátria Bragança
    CRÓNICA 81 um transmontano no Brasil
    CRÓNICA 79 (des)igualdades e discriminações
    DA HOMENAGEM A PAULO QUINTELA E MIGUEL TORGA A CRISTÓVÃO DE AGUIAR
    Homenagem contra o Esquecimento sob o signo do novo acordo ortográfico em Bragança
    O clímax dos Encontros de Lusofonia
    Museu da Lusofonia em Bragança
    7º colóquio da lusofonia de 2 a 5 de outubro 2008
    Lusofonia nos Açores em Maio 2008
    Bragança capital da lusofonia por 4 dias
    para que servem os acordos ortográficos, se a línga portuguesa (europeia) desaparecer? venha saber o que se vai debater no 6º colóquio anual da lusofonia
    dois académicos de renome em Bragança no 6º colóquio da lusofonia
    Porque sou um australiano transmontano
    aind ao 5º colóquio da lusofonia ou de como descobri que sou bragançano
    Crónica 2
    Manifesto para uma lusofonia universal

     

     

  • FERNANDO SYLVAN POETA TIMORENSE

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    Fernando Sylvan, pseudónimo de Abílio Leopoldo...
    J M Domingues Silva15 August 15:33
    Fernando Sylvan, pseudónimo de Abílio Leopoldo Motta-Ferreira (Díli, 26 de Agosto de 1917 — Cascais,25 de Dezembro de 1993), foi um poeta, prosador e ensaísta timorense.
    (In Wikipédia)Biografia

    Nasceu em Díli, capital de Timor-Leste, contudo, passou a maior parte de sua vida em Portugal, onde morreu, na vila de Cascais. A distância geográfica entre Portugal e Timor não impediu Sylvan de continuar escrevendo sobre o seu país de origem, dissertando sobre suas lendas, tradições e folclore. Um de seus temas preferidos é a infância, período de sua vida que lhe deixou muitas saudades de Timor. Enfim, Fernando Sylvan é um dos grandes poetas da língua portuguesa e presidiu à Sociedade de Língua Portuguesa, em Portugal.

    Um de seus poemas mais conhecidos é Meninas e Meninos, publicado em 1979.
    Obra

    POESIA

    Vendaval. Porto, 1942 Oração. Porto, 1942 Os Poemas de Fernando Sylvan (capa de Neves e Sousa). Porto, 1945 7 Poemas de Timor (com vinheta de Azinhal Abelho e um desenho de João-Paulo na 1ª edição). Lisboa, 1965. 2ª edição, pirata. Lisboa, 1975. Mensagem do Terceiro Mundo (poema e traduções de Barry Lane Bianchi, Serge Farkas, Inácia Fiorillo e Marie-Louise Forsberg-Barrett para inglês, francês, italiano e sueco). Lisboa, 1972. Tempo Teimoso (capa da 1ª edição de Cipriano Dourado). Lisboa, 1974. 2ª edição, Lisboa, 1978 Meninas e Meninos, Lisboa, 1979 Cantogrito Maubere – 7 Novos Poemas de Timor-Leste (carta-prefácio de Maria Lamas, nota de Tina Sequeira, capa de Luís Rodrigues). Lisboa, 1981. Mulher ou o Livro do teu Nome (com 21 desenhos de Luís Rodrigues, prefácio de Tina Sequeira). Lisboa, 1982 A Voz Fagueira de Oan Timor (organização de Artur Marcos e Jorge Marrão, prefácio de Maria de Santa Cruz). Lisboa, 1993.

    PRESENÇA EM COLECTÂNEAS DE POESIA

    Enterrem Meu Coração no Ramelau (recolha de textos de Amável Fernandes, desenhos de José Zan Andrade e capa de António P. Domingues e Fortunato). Luanda, União dos Escritores Angolanos, 1982. Primeiro Livro de Poesia — Poemas em língua portuguesa para a infância e adolescência (selecção de Sophia de Mello Breyner Andresen, ilustrações de Júlio Resende). Lisboa, Caminho, 1991. Floriram Cravos Vermelhos — Antologia poética de expressão portuguesa em África e Ásia (por Xosé Lois García). A Corunha (Galiza), Espiral Maior, 1993.

    PROSA

    LIVROS

    O Ti Fateixa. Parede, 1951 Comunidade Pluri-Racial. Lisboa, 1962 Filosofia e Política no Destino de Portugal. Lisboa, 1963 A Universidade no Ultramar Português. Lisboa, 1963 O Racismo da Europa e a Paz no Mundo. Lisboa, 1964 Perspectiva de Nação Portuguesa. Lisboa, 1965 A Língua Portuguesa no Futuro da África. Braga, 1966 Comunismo e Conceito de Nação em África. Lisboa, 1969 Recordações de Infâncias (colaboração de Tina Sequeira). Lisboa, 1980 O Ciclo da Água (BD de Luís Rodrigues). Lisboa, 1987 Cantolenda Maubere/Hananuknanoik Maubere / The Legends of the Mauberes (traduções: para tétum, de Luís da Costa; para inglês, do Departamento de Projectos da Fundação Austronésia Borja da Costa. Ilustrações: 7 pinturas e 2 desenhos de António P. Domingues). Lisboa, 1988.

    SEPARATAS

    Da Pedagogia Portuguesa e do Desvalor dos Exames. Lisboa, 1959 Relação dos Idiomas Basco e Português. Lisboa, 1959 Arte de Amar Portugal. Lisboa, 1960 A Língua e a Filosofia na Estrutura da Comunidade. Lisboa, 1962 O Espaço Cultural Luso-Brasileiro. 2ª edição. Lisboa, 1963 Obscina Narodov Timora. Moscovo, 1964 Como Vive, Morre e Ressuscita o Povo Timor. Lisboa, 1965 Aspects of the Folk-stories in Portuguese East Africa. Atenas, 1965 Função Teleológica da Língua Portuguesa. Coimbra, 1966 A Verdadeira Dimensão do Verdadeiro Homem. Braga, 1969 A Instrução de Base no Ultramar. Lisboa, 1973 Língua Portuguesa e seu ponto de angústia hoje. Lisboa, 1978

    PARTES DE LIVROS

    O Ideal Português no Mundo. Lisboa, 1962 Perspectivas de Portugal. Lisboa, 1964

    TEATRO

    Duas Leis, peça em 3 actos, escrita em 1949 e representada em 1957 Culpados, peça em 2 actos, escrita em 1957
    Prémios

    Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (postumamente)

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  • PRÉMIO NOBEL DA PAZ, DOM CARLOS FILIPE XIMENES BELO

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    D. Carlos Ximenes Belo Bispo residente e administrador apostólico da diocese de Díli entre 1983 e 2002. Nasceu em 1948, em Wallakama, uma aldeia perto de Vemasse, em Baucau, na ponta leste de Timor.Estudando sempre em escolas missionárias, graduou-se em 1973, no Seminários de Dare, nos arredores de Díli. Depois partiu para Lisboa, onde estudou no Colégio Salesiano Novitiate. Tendo regressado por um curto período de tempo a Timor-Leste, lecionou no Colégio Salesiano em Fatumaca. Entre 1975 e 1976, esteve em Macau, no Colégio Dom Bosco, não presenciando a chegada das tropas indonésias ao território timorense. Pouco tempo depois, partiu para Portugal, onde estudou filosofia religiosa na Universidade Católica de Coimbra. Depois, foi enviado para Roma, onde estudou na Universidade Salesiana loc

    al. De volta a Lisboa, em 1980, foi ordenado padre. No ano seguinte, voltou a Timor com a intenção de ajudar a manter viva a religião católica, bastante limitada pela presença e pelo domínio dos indonésios, maioritariamente muçulmanos.O enorme contacto com a juventude, em parte devido às necessidades de apoio à comunidade, e as crescentes pressões diretas do domínio das autoridades militares indonésias, levaram-no a resistir abertamente, recusando-se sempre a obedecer às regras do invasor. Em 1983, foi nomeado administrador apostólico da diocese de Díli. Desde então, tem travado uma luta cerrada para defender os direitos humanos e a autodeterminação do povo timorense. A 12 de novembro de 1991, após o massacre de Santa Cruz, o bispo acolheu centenas de fugitivos que procuravam refúgio das tropas indonésias. Devido ao seu apoio e às suas denúncias à comunidade internacional da violência e opressão exercidas contra o povo timorense, o bispo tornou-se o alvo de várias tentativas de assassínio.Em 1 de outubro de 1996, foi galardoado, juntamente com José Ramos-Horta, o porta-voz internacional para a causa de Timor Leste desde 1975, com o Prémio Nobel da Paz, a mais prestigiada distinção política mundial.Em 1999, a situação política em Timor Leste agravou-se após a realização de um referendo sobre a autodeterminação dos timorenses, realizado a 30 de agosto, cujo resultado foi favorável à independência do território. A casa de D. Ximenes Belo foi alvo de um dos sucessivos ataques que as milícias integracionistas fizeram no território, pelo que o bispo se viu forçado a abandonar Timor Leste.Em 2001 recebeu, juntamente com Alexandre (Xanana) Gusmão e José Ramos-Horta, o título de Doutor “Honoris Causa” pela faculdade de Letras da Universidade do Porto.Já depois da independência do território, em novembro de 2002, D. Ximenes Belo resigna ao cargo de bispo de Díli, alegando razões de saúde.
  • língua portuguesa em timor-leste XIMENES BELO

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    A Língua Portuguesa em Timor-Leste

    Por D. Carlos Ximenes Belo, SDB*

    O contacto dos Portugueses com os Timorenses data de 1512, quando depois da Conquista de Malaca os navegadores lusos sulcavam os mares da Insulíndia, em demanda de especiarias, cravo, noz moscada, canela e sândalo. Na altura, a língua do comércio naquelas paragens era Malaio. Porém ao longo do século XVI e XVII, a língua franca era o Português. O ensino da língua Portuguesa em Solar, Flores, Timor e Ilhas circunvizinhas, foi implementado, sobretudo, pelo missionários dominicanos. Pois nos finais do século XVI fundaram um seminário menor em Solor para ensinar os meninos da Ilha a ler, contar. Nos princípios do século XVI, com a perda de Solar para os Holandeses, abriram outro seminário em Larantuca. Na Ilha de Timor, onde a presença dos dominicanos se fez sentir com maior intensidade, abriram-se escolas rudimentares nos reinos, junto das capelas e igrejas, que não eram senão barracões coberto com colmos de palmeiras ou coqueiros ou de capim. Na segunda metade do século XVIII, fundou-se o primeiro seminário em Oe-cusse, durante o governo do Bispo do Bispo Frei António de Castro (1738-42). Em 1747, abria-se um segundo seminário em Manatuto. Não dispomos de relatórios dos Frades, sobre o funcionamento, o programa de estudos, nem o número de alunos, e muito menos de sacerdotes formados, fruto daquelas duas instituições. Em 1769, por causa do cerco dos Topasses e da ameaça dos holandês, a Praça de Lifau foi incendiada, e mudou-se a capital para Dili. Presume-se que em Dili, os dominicanos residentes na Praça de Dili, tivessem fundados escolas. O certo é que em 1772, o comandante de um navio francês François Etienne Rosely depois de ter visitado Lifau, Dili e outras povoações costeiras, fazia este comentário: “Quase todos os chefes falam Português e nos reinos vizinhos dos Portugueses é a língua geral (…). Conheci alguns muito sensatos, espirituais, engenhosos, sinceros e de boa fé, entre os quais um, muito versado na História da Europa”.Ao longo do século IX, verificou-se a diminuição de missionários dominicanos. E isso teve consequência na acção missionária e naturalmente do ensino do Português. Entre os anos 1830 a1856, o primeiro padre Timorense, Frei Gregorio Maria Barreto dirigia uma escola rudimentar nos reinos de Oe-Cuuse, Ambeno e Dili. Em 1863, o governador Afonso de Castro fundou ma escola régia em Dilui, destinada aos filhos dos Chefes e de outros principais. A direcção dessa escola foi entregue ao segundo padre Timorese, Jacob dos Reis e Cunha. O grande desenvolvimento das escolas das missões deu-se em 1878, quando o padre António Joaquim de Medeiros, mais tarde Bispo de Macau, estabeleceu o programa da educação da juventude timorense com a abertura de escolas rurais em Manatuto, Lacló, Lacluta, Samoro, Oe-Cusse, Maubara, Baucau, etc. A instrução, a certa altura era tão absorvente que os padres, dedicavam-se mais às escolas do eu à missionação. Essa situação mudou tempestivamente com o governo do Bispo Dom José da Costa Nunes. Em 1924, fundou-se a escola de Preparação de Professores-catequistas. Os timorenses que tinham sido aprovados nessa escola, e depois de serem nomeados professores, foram colocados em diversas estações missionárias, tornado-se agentes principais do ensino da Língua Portuguesa nas aldeias e no sucos. Em 1935, o Governo da Colónia de Timor decidiu entregar o “ensino primário, agrícola, profissional às Missões Católicas, sob a superintendência do Governo da Colónia” (Portaria Oficial, n.º 14). Em 1936, fundou-se o Seminário Menor em Soibada, pelo padre Superior daquela Missão, Jaime Garcia Goulart. E em 1938, funda-se o primeiro liceu. Pode-se afirmar que em 1940, 4 % dos Timorenses falavam o Português, isto é os funcionários, os professores e os catequistas, os “liurais” e chefes, aqueles que tinha tirado a 3 ª e a 4ª classe em Dili e no Colégio de Soibada.

    Até á invasão das tropas estrangeiras, Australianos e Holandeses num primeiro momento, e depois, os Japoneses, o ensino ficou paralisado. Depois do Armistício de 1945, e da retomada da soberania em Timor, retomou-se o ensino, reabrindo-se colégios e escolas. Em 1960, com o major da Engenharia Themudo Barata, como Governador da Província, assiste-se a um surto de escolas municipais. E em 1963, o Exército começa a dedicar-se ao ensino, nas escolas dos sucos., escolas essas situadas nos lugares de mais difícil acesso. Até 1970, havia no Timor Português um Liceu (de Dili), um Seminário Menor, onde se ministrava o ensino secundário. Uma Escola de Enfermagem, Uma Escola de Professores do Posto, Uma Escola Técnica, em Dili, e em Fatumaca, uma Escola Elementar de Agricultura. Nesse havia em Timor 311 escolas primárias, com 637 professores e 34.000 alunos. Até 1975, data da invasão da Indonésia do território de Timor, apenas 20% dos Timorenses falavam correcta e correntemente o Português. Como se explica esta situação? Vários factores: a distância (20 mil quilómetros da Metrópole); reduzido orçamento destinado ao ensino e instrução; reduzido número de professores; a falta de interesse da maioria de famílias (agricultores); só dois semanários ( A Voz de Timor e a Província de Timor), um quinzenário, a Seara (propriedade da Diocese de Dili); apenas 2 emissoras. Tudo isso pouco contribuiu para a difusão da Língua. A existência de 21 línguas ou dialectos, o que permitias aos falantes, usarem o Português, só no âmbito da escola ou nos actos oficiais.

    O Período da Ocupação indonésia (1976-1999). O ensino da Língua portuguesa foi banida e proibida em todo o Território, excepção feita ao Externato de São José. A Diocese de Dilui, contudo, publicava os seus documentos (quer da Câmara Eclesiástica ou do paço episcopal) em Português. A guerrilha comunicava-se em Português. Nalgumas repartições do Estado, poucos timorenses, informalmente comunicam-se em Português. Houve casos em que um outro jovem foi esbofeteado por saudar o missionário com um “Bom-dia, senhor padre!”.

    Hoje, embora o Português seja considerado a Língua oficial de Timor, a par do Tetum, (art. 13 da Constituição de RDTL), a sua implementação depara-se com grandes obstáculos. Há sectores da sociedade timorense que são contra o uso da Língua Portuguesa; as línguas nacionais(21) e línguas estrangeiras (O Bahasa e Indonesia e o Inglês) são fortes concorrentes do Português. O timorense, às vezes, recorre-se ao uso do idioma mais fácil para a comunicação (Tetum, Bahasa, Inglês). Existência de insuficiente número de professores, de livros, de jornais e de rádios e da televisão. Ainda não está generalizado o costume de leitura entre os já “alfabetizados”, sobretudo, leitura de livros, especialmente os da Literatura.

    Desafios: continuar a apostar no ensino e na prática da Língua Portuguesa. Para isso, exige-se maior empenhamento dos governantes; na maior distribuição de livros e de outro material, maior implantação da rádio e da televisão nos Distritos e Su-distritos. Daqui, a necessidade cooperação de todos os Países da CPLP.

    Num mundo globalizado, o actual panorama da existência de 4 Línguas em Timor (Tetum, Português, Inglês e Bahasa Indonésia), é enriquecedor e vantajoso. Pois cada Língua é uma janela aberta para o Mundo. Por outro lado está o orgulho da preservação da própria identidade nacional. E aqui vale a mensagem do Poeta: “A minha Pátria é a minha língua” (Fernando Pessoa).

    *Dom Carlos Filipe Ximenes BeloAntigo Bispo de Dili e Premio Nobel da Paz de 1996.