Arquivo da Categoria: Timor

TIMOR NA ASEAN

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na data em que Timor se junta à ASEAN este poema meu de 2012:

551. lágrimas por timor, até quando? (lomba da maia, julho 2012)

 

confesso sem vergonha nem temor

os olhos transbordaram hoje

lágrimas em cascata como diques

pior que a lois quando chove

o coração bateu impiedoso por timor

os olhos turvos a mente clara

as mãos trémulas de impotência

nas covas e nas valas comuns

muitos se agitaram com a violência

mais uma morte gratuita

mais um casal de pais órfão

mais um filho varado às balas

sem razão nem justificação

 

poucas vozes serenas se ouviram

velhos ódios, vinganças acicatadas

o povo dividido como em 1975

 

sem alguém capaz de congregar o povo

sem alguém capaz de governar para todos

sem alguém acima de agendas pessoais

sem alguém acima de partidos

 

temos de superar agosto 75

udt e fretilin, a invasão

a indonésia e o genocídio

amigo, família, irmão

 

é urgente um passo em frente

faça-se ou não justiça

vamos congregar toda a gente

 

é urgente alguém com visão

um sonhador, um utópico

um poeta como xanana já foi

todos juntos em união

 

alguém que ame timor

mais do que as suas crenças

mais do que a sua família

mais do que as suas tenças

ou memórias e homilias

 

talvez mesmo uma mulher

meiga e sensível

olhar almendrado

pele tisnada e volúvel

capaz de amar

impulsiva para acreditar

 

talvez mesmo uma mulher

liberta de injustiças passadas

solta de ódios, vinganças

e outras dores desusadas

capaz de abdicar

das armas e liderar .

Ramos-Horta viaja para Malásia para visita oficial e cimeira da ASEAN

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O Presidente timorense, José Ramos-Horta, viajou hoje para a Malásia para uma visita oficial e para participar na cimeira da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), organização a que Timor-Leste conclui a adesão no domingo.

Source: Ramos-Horta viaja para Malásia para visita oficial e cimeira da ASEAN

Timor oriental, au pays des crocodiles – Regarder le documentaire complet | ARTE

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Le Timor oriental est le plus jeune État d’Asie – il a obtenu son indépendance en 2002. Dans ce pays, la nouvelle génération s’attelle à protéger une nature encore préservée, où évoluent de rares espèces animales, dont le célèbre crocodile marin, ancêtre vénéré de l’île devenu aujourd’hui monstre tueur.

Source: Timor oriental, au pays des crocodiles – Regarder le documentaire complet | ARTE

‘It still hurts’: Families seek justice 50 years since the Balibo Five murders

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On the 50th anniversary of the Balibo Five murders, families are still grieving the loss of their loved ones and remain committed to holding those responsible accountable for their actions.

Source: ‘It still hurts’: Families seek justice 50 years since the Balibo Five murders

RAMOS HORTA E XANANA NAO SAO FARINHA DO MESMO SACO

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Não concordo com todos aqueles que metem no mesmo saco Xanana Gusmão e Ramos-Horta. O Presidente da República sabe perfeitamente quem o elegeu. Sendo uma pessoa muito inteligente faz o jogo de cintura para que haja equilíbrio entre as instituições do país. Não lhe interessa e nem deve criar um clima de instabilidade. Passou por uma situação difícil no passado e sabe que está sempre entre a espada e a parede. Muitas vezes comete erros em tentar salvaguardar a imagem do outro. Daí o associarem ao outro. Farinha do mesmo saco. Aconselho que utilize os serviços da Presidência para explicar ao país o que pretende em vez de responder às questões a quente entrando em contradições desnecessárias.

Xanana, a Política do Drama e as Sombras do Poder em Timor-Leste

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Xanana, a Política do Drama e as Sombras do Poder em Timor-Leste

Kota Lale
6 h
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Xanana, a Política do Drama e as Sombras do Poder em Timor-Leste
Reflexão sobre a Crise Moral e os Desafios da Democracia às Vésperas da Integração na ASEAN
Por: Loro Sa’e Obsever
Do Símbolo da Resistência à Sombra do Poder
Timor-Leste foi, em tempos, uma história de coragem, uma pequena nação nascida da dor, do sacrifício e do sangue do seu povo.
No centro dessa história estava Xanana Gusmão, rosto da resistência e símbolo da unidade nacional.
Duas décadas após a restauração da independência, porém, a figura que outrora encarnava a esperança tornou-se também um espelho das contradições do poder: o herói transformado em governante incontestável; o libertador que agora dirige um sistema frequentemente marcado por desigualdades e privilégios.
Continua a falar em nome do povo, mas muitas decisões parecem beneficiar círculos restritos do poder.
Continua a pregar a humildade, mas à sua volta cresceu uma elite que vive com ostentação e distância da realidade popular.
O poeta da revolução converteu-se no arquiteto de um império político, e a luta libertadora transformou-se num drama de poder.
Do Combatente ao Guardião Absoluto
Xanana é produto da história, mas hoje parece também prisioneiro dela.
Apresenta-se como o “guardião da revolução”, como se apenas ele detivesse a chave do destino nacional.
Desse modo nasceu uma política excessivamente centrada na figura do líder, onde a lealdade pessoal frequentemente pesa mais do que o mérito e o serviço público.
Esse modelo cria dependência: os funcionários esperam ordens, os cidadãos hesitam em questionar, e o Estado perde a autonomia moral que deveria sustentá-lo.
Debaixo do carisma, instala-se uma cultura de medo e silêncio, o tipo de ambiente que lentamente sufoca a democracia.
Dili e o Surgimento de uma Nova Burguesia Política
Vinte anos depois de o povo lutar pela terra e pela dignidade, grande parte da riqueza nacional concentra-se agora nas mãos de poucos.
Dili mostra duas faces:
de um lado, carros de luxo, moradias imponentes e festas políticas;
do outro, desemprego, preços elevados e o desespero silencioso da população.
Quem prospera em Dili hoje?
Não são os camponeses de Baucau, nem os pescadores de Liquiçá, nem os professores de Viqueque.
São os empresários políticos e os intermediários que orbitam os centros de poder.
O que se vive não é desenvolvimento, mas um tipo de colonialismo interno, onde os novos senhores falam Tétum e empunham a bandeira nacional, enquanto o povo continua à margem.
O Estado e as Redes de Interesses
Diversos observadores e ativistas sociais têm alertado que o perigo atual de Timor-Leste não vem de fora, mas de dentro:
de redes político-económicas opacas que debilitam o Estado e capturam recursos públicos.
Os processos de contratação, as licenças e os investimentos estatais parecem frequentemente influenciados por conexões pessoais e partidárias.
As recentes declarações do Ministro Agio Pereira, advertindo sobre a infiltração de redes organizadas em instituições públicas, trouxeram à luz uma preocupação legítima.
A coragem de abordar esse tema demonstra que a integridade e a transparência ainda têm defensores dentro do próprio governo, e que esses valores são essenciais para restaurar a confiança dos cidadãos.
Teatro Político e Crise Moral
Na política, a imagem tornou-se mais poderosa do que o conteúdo.
O líder carismático pode ser, ao mesmo tempo, o revolucionário humilde e o governante intocável.
Quando o discurso da resistência é usado para justificar práticas de poder, corre-se o risco de transformar a memória em propaganda.
Mas a ilusão começa a desvanecer.
O povo observa, questiona, e sente na pele o custo da desigualdade.
As palavras já não bastam, a democracia precisa de moral e de verdade.
CNRT e o Desafio da Reforma
O CNRT, partido nascido do espírito de libertação, enfrenta hoje o seu maior desafio:
pode transformar-se num partido moderno, de serviço público, ou continuará a ser instrumento de privilégios e proteção política?
Críticos argumentam que o partido se converteu num espaço onde a lealdade pessoal é mais valorizada do que a competência e a ética.
Contudo, há vozes reformistas que buscam mudar essa cultura, exigindo auditorias, transparência e meritocracia.
Essas vozes merecem apoio, pois sem elas não há renovação, nem futuro democrático.
A Verdadeira Luta: Entre a Corrupção e a Honestidade
Timor-Leste já não vive uma guerra entre partidos, mas um confronto moral entre os que servem e os que se servem do Estado.
Essa batalha atravessa ministérios, parlamentos e aldeias.
E, embora o povo não tenha armas, tem algo mais poderoso: consciência.
A consciência de que o país não pertence a uma família nem a um grupo;
de que a independência é vazia se só enriquece alguns;
de que a liberdade deve ser continuamente reconquistada através da justiça.
Tempo de Reflexão para as Lideranças
Nenhum líder é eterno.
O verdadeiro estadista é aquele que sabe quando passar o bastão à próxima geração, com dignidade e visão.
Se Xanana Gusmão, símbolo máximo da resistência, tiver a grandeza de promover uma transição política saudável, a história o recordará como o pai da nação moderna.
Mas, se o poder continuar a ser um fim em si mesmo, a memória coletiva também registrará o lado sombrio dessa persistência.
Retomar o Espírito da Luta
A independência não foi conquistada para enriquecer elites, mas para restaurar a dignidade popular.
A soberania real não se mede por bandeiras ou cerimónias, mas por justiça, igualdade e honestidade no governo.
O maior inimigo de Timor-Leste já não é o invasor estrangeiro, mas a corrupção interna travestida de nacionalismo.
E esse inimigo só pode ser vencido com verdade e coragem.
Chegou o momento de uma nova geração de timorenses, estudantes, trabalhadores, intelectuais, reformistas, retomar o rumo moral do Estado.
Construir instituições fortes, inclusivas e dignas é o único caminho para uma independência plena.
Às Vésperas da ASEAN: Um Espelho para a Nação
Nas próximas semanas, Timor-Leste deverá tornar-se membro pleno da ASEAN, um passo histórico no plano diplomático, mas também um teste de maturidade nacional.
A ASEAN exige estabilidade, transparência e governação responsável.
O mundo observará não apenas discursos e cerimónias, mas a coerência entre o que dizemos e o que fazemos:
como gerimos o erário público, como aplicamos a lei e como tratamos o nosso povo.
A adesão à ASEAN será vazia se não vier acompanhada de reformas internas.
É hora de provar que merecemos esse lugar, não apenas pela bravura do passado, mas pela integridade do presente.
Conclusão: Para que a História Não se RepitaTimor-Leste encontra-se, mais uma vez, numa encruzilhada.
Ou continua a viver da glória passada, ou tem a coragem de escrever um novo capítulo baseado em justiça e ética.
A história lembrará quem falou e quem se calou.
Quem lutou pela verdade e quem preferiu o conforto da mentira.
E, no fim, uma verdade permanecerá:
a verdadeira independência não depende de quem governa, mas de quem tem a coragem de servir com honestidade.
Nota do autor:
Este texto é uma reflexão e análise política baseada em observações e debates públicos em Timor-Leste. Não pretende acusar ou difamar qualquer indivíduo, mas sim contribuir para um diálogo construtivo sobre integridade, liderança e o futuro da democracia timorense.
***

Malnutrition Of Lusitania Expresso Ship: When Indonesia Kisses Political Gelagat In East Timor Sea

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The Santa Cruz tragedy made Indonesia’s face bad in the eyes of the world. The massacre incident was used by East Timorese fighters to harvest international support. The result many criticized Indonesia. Those who want East Timor to be independent are piled up.

Source: Malnutrition Of Lusitania Expresso Ship: When Indonesia Kisses Political Gelagat In East Timor Sea

recordar Balibó

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1. por António Sampaio ex Lusa

Voltar a Balibó obriga a recordar as tragédias que aqui se viveram. Evidentemente as mortes dos Cinco de Balibo, jornalistas australianos mortos por soldados indonesios a 16 de outubro de 1975.
Mas recordo também a tristemente famosa casa dos batons. Ou como é aqui conhecida a Kissing House.
Recordo a noticia que escrevi aqui há praticamente 26 anos
Timor-Leste: Balibo, uma cidade fantasma com as marca da violencia em cada casa
Criado: 02/10/1999 00:00:00
+++Por Antonio Sampaio, enviado da Agencia Lusa+++
Balibo, Timor-Leste, 02 Oct (Lusa) – Soldados australianos
patrulharam hoje os destrocos da vila de Balibo, agora uma localidade
fantasma, a poucos quilometros da fronteira com Timor Ocidental,
encontrando paredes ensaguentadas que atestam a onda de violencia que
varreu a regiao.
Numa das casas, praticamente todas as paredes tinham marcas
que soldados australianos identificaram como “sangue antigo” e que
repetidamente fotografaram, fotografando igualmente uma das paredes
onde estao visiveis varias marcas de baton vermelho.
“Normalmente estas marcas de baton documentam casos de
violacoes em que as mulheres sao viradas contra a parede e depois
violadas”, disse a Lusa um dos soldados da equipa da investigacao
inicial.
As marcas de sangue sao especialmente fortes sob os azulejos
outrora brancos de uma das divisoes da casa, algumas cobertas por um
poster de Jesus Cristo, ali colocado ja depois do que ali tenha
proventura acontecido.
As janelas mostram marcas de golpes de catanas e nas paredes
ha buracos que parecem ter sido feitos por balas. Tal como em todas
as outras casas que a Lusa ja visitou em Balibo, do conteudo interior
nao resta nada.
Da casa imediatamente ao lado, apenas sobraram tres paredes,
numa delas desenhos mal feitos de barretes da Kopassus, as tropas
especiais indonésias, e de uma patente das forcas armadas de Jacarta,
identificado por coronel Soemarno.
Entre as cinzas o cartao de identidade de Roberto da Silva,
nascido e registado em Balibo em 1928.
Numa das residencias vizinhas, apenas pareceu sobrar a conta
de electricidade, datada de Julho de 1999 e passada no nome de
Clotide Tavares.
A conta permanece pendurada na parede da sala, onde um vento
forte faz bater a compasso uma porta semi-destruida que saltou
parcialmente das dobradicas.
Outros dos locais de paragem obrigatoria e a casa onde terao
sido mortos os jornalistas australianos, no dia 16 de Outubro de
1975.
Durante algums minutos reina a confusao, com jornalistas e
soldados a tentarem apurar exactamente qual tera sido a casa onde os
jornalistas foram mortos.
Para muitos foi na casa imediatamente ao fundo da rampa que
liga a estrada principal ao forte portugues, ja que as ultimas
imagens enviadas pelo grupo mostram um dos jornalistas, Greg
Shackelton a pintar a bandeira australiana, e a palavra Australia na
parede exterior.
Essa tragicamente famosa casa, agora sem telhado e com as
marcas visiveis da destruicao, ainda permanece de pe, com as paredes
marcadas por outras inscricoes, a maior parte a favor da
independencia de Timor-Leste, com retratos mal desenhados de Xanana
Gusmao em todas as paredes.
O unico sinal de vida e um ramo de flores frescas colocado num
vaso feito com metade de uma garrafa de agua de plastico, num simbolo
que e usado tradicionalmente em Timor-Leste para marcar locais onde
tera falecido alguem.
Outros dizem no entanto que os jornalistas estavam numa casa
do outro lado da rotunda, marcada por uma estatua integracionista, e
que so escreveram a palavra Australia na primeira casa, porque seria
desse lado que vieram os soldados indonesios.
E os soldados australianos apostam na casa onde foi encontrado
o sangue nas paredes, que agora vai ser “adequadamente investigada”
por uma equipa de peritos em medicina legal.
Da Avenida Integracao, que parte da estrada que conduz a
costa, nao resta uma unica casa. Os vestigios da destruiçao e da
pressa com que os habitantes sairam sao visiveis na rua, dominada
pelo lixo e pelos restos de zinco e madeira tirados dos edificios.
Logo ao lado, uma escola primaria igualmente destruda, com
dezenas de pedras, usadas para partir praticamente todos os vidros,
espalhadas pelas salas de aula.
No que aparenta ter sido a biblioteca, armarios deitados ao
chao com centenas de livros escolares, todos em indonésio, espalhados
em redor.
A vila e um sinal comprovado da destruicao que varreu toda a
metade ocidental de Timor-Leste.
O sinal mais claro da violencia e a total ausencia de
habitantes.
Alem dos soldados, o unico movimento que hoje se viu em Balibo
foi o de um cao, coxo de uma perna a fugir entre as casas.
Lusa/Fim
2. por ChrysChrystelloex-Lusa (in Trilogia da História de Timor
XVII) Timor, Os Mídia E a Cena Política Internacional: Jornalistas Australianos
Foram Mortos Para Silenciar Os Gritos de Revolta Do Mundo Contra a Indonésia
Para que o mundo desconhecesse os seus crimes, os indonésios não hesitaram em matar cinco jornalistas
australianos. Estava-se em 17 de outubro 1975 e duas equipas de filmagem dos canais 7 e 9 da TV australiana
estavam a filmar a queda da cidadezinha de Balibó, em Timor Português, às mãos de tropas indonésias
apoiadas por refugiados timorenses. Essas imagens poderiam tirar todas as dúvidas sobre a participação do
exército regular indonésio no ataque e poderiam desfeitear a propaganda indonésia de que só refugiados
timorenses agrupados no M.A.C. [Movimento Anticomunista] e voluntários da Indonésia estavam a tentar
recuperar o controlo de Timor.Na Maliana, a poucos quilómetros de Balibó uma equipa de filmagens da R.T.P., liderada pelo jornalista
Adelino Gomes testemunhava o ataque de artilharia pesada, bombardeamentos e metralhadoras automáticas
enquanto tentavam filmar a aterragem de um helicóptero momentos depois do combate. Na véspera, Adelino
Gomes (R.T.P.) falara com os seus colegas australianos do canal 7 de Melbourne e do 9 de Sydney. Nas
paredes amarelas da casa onde estavam a palavra Austrália e a bandeira da Austrália eram proeminentes. Um
dele, Greg Shackleton dissera-lhe:
“Isto é para os indonésios notarem, se vierem para Balibó eles saberão que há estrangeiros e não
nos matarão. É a nossa Embaixada.”
Menos de 24 horas depois, ao amanhecer de 16 outubro 1975, os Indonésios começam a atacar Balibó
com o apoio de membros timorenses do M.A.C. Quer as autoridades da Indonésia quer as da Austrália sabiam
que eles ali estavam, apesar de durante anos o terem negado. Uns dias antes os programas de TV haviam
transmitido as suas mensagens a caminho de Balibó por se tratar de uma região prevista para ser atacada
pelos indonésios que iam tentar desalojar as forças inferiores da Fretilin que a defendiam.
Um dos jornalistas australianos conseguiu antes de morrer gritar que era australiano, mas o objetivo
indonésio era o mesmo: eliminar qualquer testemunha inconveniente pelo que todos foram conscientemente
abatidos a sangue frio. Além do jornalista Greg Shackleton, os outros eram Tony Stewart [engenheiro de som],
Jan Cunningham e Brian Peters [operador de câmara] para além doutro jornalista, MalcolmRennie. Os
generais indonésios responsáveis por esta operação [Cor. DadingKalbuardi e Major YunusYusuf, que se
tornaria, ironicamente no Primeiro-ministro da informação do governo de YusufHabibie em junho 1998]
rapidamente foram promovidos depois disto. O fotógrafo oficial desta operação foi também prontamente
condecorado pelo próprio General Suharto.
Embora o Governo Australiano tivesse ficado embaraçado com o impacto do acontecimento na opinião
pública, conduziu um rápido e inconclusivo inquérito, mas acabaria por ser forçado em 21 Out.º 1998, a
reabrir o inquérito na sequência de um programa da ABC TV em que Olandino Rodrigues um timorense que
fazia parte da força indonésia garantir que os jornalistas foram mortos por soldados indonésios depois de a
Fretilin ter retirado de Balibó. Assim se esfumou, de vez (?) a teoria deles terem morrido vítimas do fogo
cruzado.
Naquela época havia outros jornalistas estrangeiros (e australianos) em Timor, incluindo Roger East, os
quais obtiveram depoimentos que já então não deixavam dúvidas da intervenção das Forças Armadas
Indonésias (ABRI) no crime. A Indonésia não pode obter ganhos territoriais substanciais depois da campanha
fronteiriça e passado mês e meio, em inícios de dezembro, era óbvio que a invasão estava iminente, forçando
as autoridades australianas a avisar todos os seus cidadãos para abandonarem o território.
A maioria dos estrangeiros e jornalistas seguiram esse conselho, mas Roger East decidiu ficar, mesmo
depois da Cruz Vermelha Internacional decidir mudar-se para a Ilha do Ataúro. Em 7 de dezembro, uma hora
depois da invasão, Roger East ainda conseguiu através do centro de Telecomunicações da Rádio Marconi, emDili, uma mensagem para a AustralianAssociatedPress [AAP] e Reuters na Austrália. Pouco depois, era levado
para a zona do porto onde foi assassinado juntamente com centenas de timorenses.
A colusão entre o governo da Austrália e os Indonésios foi tal que nem sequer um protesto se ouviu pela
morte deste jornalista e cidadão australiano, ainda hoje, muitas vezes esquecido quando se fala dos restantes
cinco outros jornalistas assassinados. Durante mais de 13 anos [dezembro 1975 – dezembro 1988] a Indonésia
impõe um blackout noticioso quase total sobre Timor-Leste. Poucos são os jornalistas estrangeiros
autorizados a visitar Timor-Leste. Quando as suas visitas são autorizadas eles são estreitamente vigiados e a
sua liberdade de movimentos é mínima. Relatórios de jornalistas independentes focam o medo generalizado
duma população dizimada, traumatizada pela guerra e pela fome, e por todas as outras atrocidades
cometidas pelas forças ocupantes. A única exceção à regra surge de jornalistas comprometidos que decidiram
antes de embarcar escrever peças favoráveis à Indonésia.
Nestes casos são autorizados apenas a verem cidades, novas escolas e hospitais, novas estradas e outros
melhoramentos de fachada com que a Indonésia tenta fazer esquecer o genocídio do povo timorense. Os
contactos com a população e com o mato são muito limitados e as poucas exceções acabariam por resultar
na prisão ou morte dos guerrilheiros (a prisão de Xanana Gusmão em Nov.º 1991 resultou diretamente da
entrevista dada ao sindicalista e jornalista australiano Robert Domm).
A Cruz Vermelha Internacional foi autorizada temporariamente a visitar o território em 24 de março 1979
sob severas restrições e limitações, depois de durante mais de três anos ver a sua presença proibida. Num dos
seus primeiros relatórios, em 1979, a CVI descreve a situação humanitária em Timor-Leste como sendo pior
do que a do Biafra na década de 60 com a morte de dezenas de milhares de pessoas.
Timor foi “aberto” em Jan.º 1989, mas jornalistas independentes e organizações humanitárias viram
negados os seus pedidos de visto. Eu mesmo quando tentei, como jornalista australiano acompanhar a visita
do Papa em Out.º desse ano vi recusado o meu pedido. Outros jornalistas admitem terem sido muito bem
recebidos, convidados para jantares por membros do corpo diplomático e do governo capazes de lhes darem
todo o ‘apoio’ para as suas histórias desde que fossem favoráveis à Indonésia, mas que mais tarde viram os
seus vistos revogados quando não embarcaram no jogo.
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2. BALIBÓ DEZ ANOS DEPOIS 2
2.1. OS RUMORES QUE SE RECUSAM A MORRER
Sidney, outubro 16, 1985, SMH) Faz hoje dez anos que cinco jornalistas australianos foram mortos em Timor-Leste.
Existem questões em relação às suas mortes que nem a Indonésia nem sucessivos governos australianos souberam responder. Malcolm Rennie, Brian Peters, Greg
Shackleton, Gary Cunningham e Tony Stewart não foram os primeiros jornalistas australianos a morrerem numa zona de combate nem serão os últimos.
Nos últimos dez anos, desde que repórteres televisivos e operadores de câmara morreram num ataque à vila timorense de Balibó, mais meia dúzia deles morreu,
sendo o mais recente o veterano cameraman Neil Davis em setembro [1985] em Banguecoque.
Mas, a morte daqueles cinco causou uma série de alegações sem precedente, contra alegações e rumores, que se recusam a desaparecer.
Embora a Indonésia tenha consistentemente negado qualquer responsabilidade nas mortes de Balibó, alegando que as mesmas ocorreram durante a luta que opunha
forças pró-Indonésias da UDT e forças nacionalistas da Fretilin, relatos de testemunhas obtidas através de refugiados e de fugas de documentos secretos norteamericanos
alegam que eles foram mortos por forças do exército regular indonésio.
Os cinco estavam abrigados numa casa em cujas paredes tinham desenhado um mapa australiano e a palavra “Austrália”. Durante o ataque tentaram render-se
aos indonésios, mas em vez disso, foram executados.
Pelo menos um deles foi abatido com rajadas de metralhadora ao tentar escapar para o mato.
Nestes dez anos, houve inúmeros pedidos de membros do Parlamento, da AJA3 e de familiares das vítimas para um inquérito oficial australiano, que sempre foi
recusado. Para a comunicação social, a investigação dos acontecimentos de Balibó quase se tornou numa obsessão.
Havia especulação sobre se os indonésios haviam escolhido atacar Balibó e matar os jornalistas para suprimir detalhes da sua escalada de envolvimento em Timor-
Leste.
O tom simpático dos artigos de jornal que inicialmente surgiram, depressa deram lugar a sugestões de que os jornalistas haviam arriscado a vida deliberadamente e
se haviam tornado simpatizantes da Fretilin. As televisões foram acusadas de imprudência com vista a obterem uma boa caxa.
A questão de como um governo responsável devia proteger os repórteres uma zona de guerra também foi questionada.
2 MARK CHIPPERFIELD, SYDNEY MORNING HERALD 16 OUTUBRO 1985. TRADUÇÃO DO AUTOR PARA A TDM E LUSA
3 AUSTRALIAN JOURNALISTS’ ASSOCIATION
2.2. ASSASSÍNIO A SANGUE FRIO
Para além da questão fulcral sobre se os jornalistas foram assassinados existem outras questões:
ESTARIAM bem informados antes de partirem para Balibó?
ESTARIAM conscientes da concentração maciça de tropas Indonésias em Timor Ocidental?
DEVERIAM ter sido enviados para lá?
Gerald Stone era o diretor de informação do Canal 9 à data e o principal responsável por ter enviado os operadores de câmara Brian Peters e Malcolm Rennie para
Timor-Leste. Ainda hoje não está convencido de que algo pudesse ter sido feito para evitar Balibó e garante que o seu pessoal estava devidamente informado. Existem
ainda duas questões que o afligem:
SE as duas equipas de filmagem (uma do Canal 9 em Sidney, a outra do Canal 7 em Melbourne), operando em conjunto e competitivamente talvez não se tenham
pressionado uma à outra para ficarem mais tempo do que seria aconselhável.
SE a amizade inicial dos timorenses não terá encorajado as equipas de filmagem a “passarem das linhas” e tentarem obter a mesma espécie de resposta por parte da
UDT que tinham tido por parte da FRETILIN?
Para Shirley Shackleton, viúva do repórter do Canal 7, Greg Shackleton, a culpa de Balibó é inteiramente da responsabilidade do exército indonésio.
Afirma já não odiar a Indonésia mas a sua raiva é dirigida a vários departamentos [ministérios] australianos que, acredita, terem deliberadamente ocultado os factos
sobre Balibó.
Crê que os cinco jornalistas morreram apenas por serem jornalistas.
Eles eram testemunhas dum acontecimento que os governos da Austrália e da Indonésia asseguravam ao mundo não estar a acontecer – a intervenção armada em
Timor-Leste. O filme, parte do qual chegou à Austrália destrói essa ficção que eventualmente permitiria à Indonésia ocupar Timor-Leste sem a intervenção da ONU.
A Senhora Shackleton concorda que o medo de serem ”batidos” por uma reportagem do outro canal, pode ter levado as duas equipas de filmagem a ficarem em
Balibó depois de todos os outros terem partido, mas diz serem estúpidas as sugestões de que negligência poderá ter contribuído para as suas mortes.
Duma forma mais simples, afirma, não existe proteção contra o “assassinato a sangue frio”, que ela crê ter ocorrido.