Categoria: Politica Politicos

  • Morreu Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde

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    Memória 
    
    quinta-feira, 22 de Setembro de 2011 | 10:13  Imprimir  Enviar por Email     
    
    Morreu Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde
    
    
    O primeiro Presidente da República de Cabo Verde Aristides Pereira morreu hoje nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), avançou à Lusa a ministra da Saúde daquele país, Cristina Fontes Lima. 
    Aristides Pereira, de 87 anos, estava em Portugal desde início de agosto, tendo sido operado em Coimbra na sequência de fractura no colo fémur agravada pela condição de diabético.
    
    Diário Digital / Lusa 
  • Como o falante galego é visto em Portugal?

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    Como o falante galego é visto em Portugal?
    
    A esta pergunta de um leitor , Carlos Rocha, responde no Ciberdúvidas da língua portuguesa assim:
     
    Há realmente um grande desconhecimento em Portugal acerca das afinidades linguísticas com a Galiza. Perante um falante de galego, é típico um português tentar falar castelhano, muitas vezes porque não reconhece o que ouve como língua ainda muito próxima da que fala a sul do rio Minho. Lembro-me, por exemplo, de que, durante a crise do Prestige no final de 2002, os noticiários portugueses normalmente legendavam as respostas das entrevistas feitas aos habitantes do litoral galego; muitos deles falavam um galego que, apesar da “geada” (troca do "g" por um som parecido com o "jota" castelhano), tinha uma entoação familiar para ouvidos portugueses. Este comportamento dos canais de televisão em Portugal parecia obedecer ao atavismo de considerar castelhano tudo o que se fala para lá da fronteira. Penso ainda que a identidade galega nem sempre é clara para o português médio ou popular. Assim, é curioso que, dialetalmente, nem sempre um
     galego é apenas um habitante da Galiza. Por exemplo, no Alentejo um galego pode ser um natural das Beiras (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). E suspeito que no Norte e no Centro de Portugal, em algumas regiões que não fazem fronteira com a Galiza, um zamorano, um salmantino ou até um estremenho de Cáceres – não sei se de Badajoz – sejam todos galegos (o que pode ter alguma verdade histórica em casos como os de San Martín de Trevejo, Valverde del Fresno e Eljas). É claro que também acontece que alguns (ou muitos?) portugueses ficam baralhados quando começam a ler o que se escreve a norte do Minho. É como se dissessem: «o que se passa, que os espanhóis andam a escrever num português estranho?» Recordo que há cerca de dez anos se dedicou um excelente número da revista Colóquio Letras (Fundação Calouste Gulbenkian) à cultura galega. Nele, a prof.ª Pilar Vázquez Cuesta abordava
     justamente o desconhecimento com que os portugueses (quase sempre não acadêmicos, mas também há acadêmicos) costumam “brindar” os galegos, quando se trata de falar dos laços comuns. Para esta situação contribui certamente o fato de a História ter dificultado desde muito cedo a descoberta ou o reforço desse elo: quando, com D. Dinis, os documentos notariais portugueses passaram a ser escritos na língua que se desenvolvera no Noroeste da Península e a que historicamente poderíamos chamar galego, o reino de Portugal já existia há mais de um século. Assim, ao querer dar nome ao “galego” que se falava do Minho ao Algarve, esse nome foi muito logicamente português, visto que se estava a designar o idioma do Reino de Portugal e do Algarve. Explica-se, deste modo, que se fale em português antigo, não porque se negue a relação ou mesmo a identificação com o galego, mas talvez porque se pensa que o Condado e, depois, Reino de
     Portugal é que deu consciência idiomática coletiva a uma parte dos dialetos galegos – os que eram falados pelos portugueses. Sobre este assunto, recomendaria uma obra que dedica alguns capítulos ao problema da designação da língua na faixa ocidental da Península: Ramón Mariño Paz, Historia da Lingua Galega, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco, 1998.
    
    Carlos Rocha :: 30/06/2006 
    
    http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=18099
  • TRAJETÓRIAS JUDAICAS

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    prof ª Jane Glasman * enviou:

    TRAJETÓRIAS JUDAICAS
    A história do povo judeu, com suas diferentes diásporas vividas – e revividas em muitas cerimônias religiosas – é bastante conhecida. Uma dentre essas distintas trajetórias me toca de forma bastante particular, por envolver o ramo paterno da minha própria família. Refiro-me aos judeus que saíram de Jerusalém após a destruição do Primeiro Templo, há aproximadamente vinte e seis séculos, radicando-se na Península Ibérica, a Sefarad dos relatos bíblicos. Juntamente com a fé no Deus único, os judeus que se fixaram no espaço que hoje abriga Portugal e Espanha levaram para a nova terra seus costumes e tradições, com destaque para a alegria de viver e um riquíssimo acervo musical, progressivamente enriquecido com o passar dos séculos. Por intermédio de muitas de suas melodias é possível acompanhar a trajetória percorrida pelas correntes migratórias judaicas a partir de Eretz, ao tempo da conquista de Jerusalém pelas tropas de Nabucodonosor, assim co mo os dois mil anos de permanência na Península Ibérica até à expulsão de 1492 na Espanha e a conversão forçada de 1497 em Portugal. E, também, a dicotomia ocorrida entre os que puderam sair e se fixar na França, Holanda e os territórios do Império Otomano onde continuaram praticando a fé ancestral e os que precisaram ocultá-la para sobreviver durante o longo período de trevas representado pela Inquisição na Espanha, Portugal e suas colônias.
    Diásporas Judaicas no Velho Mundo
    HAD GADIÁ
    Para ilustrar de forma sonora essa longa e tortuosa trajetória selecionamos para os leitores da Rua Judaica uma melodia do cancioneiro israelita que julgamos ser do conhecimento, se não de todos, certamente de uma expressiva maioria. Refiro-me à canção Had Gadiá, entoada durante a cerimônia familiar do Pessach, em suas versões em hebraico e ladino, assim como uma popular melodia do folclore brasileiro nela inspirada. A música começa contando o triste fim de um cabritinho que custou dois levanim, moeda corrente em algum dos diferentes períodos em que essa história, contada e cantada durante o Seder de Pessach, se passa. O cabritinho, coitado, acabou sendo devorado por um gato, apesar da desproporção de tamanho entre um e outro bicho, mas isso não vem ao caso. Gato esse que foi mordido por um cachorro que, por sua vez, foi afugentado por um pedaço de pau, que acabou queimado pelo fogo. O fogo foi apagado pela água, por sinal bebida por um boi q ue acabou sacrificado por um Sochet e assim sucessivamente, até o final que, dependendo da versão, pode ser bastante feliz ou extremamente triste. Já deu para perceber que é uma canção destinada ao entretenimento das crianças na longa celebração da Páscoa Judaica.
    Seder de Pessach na Idade Média
    Comecemos com a versão original, em hebraico, em um clipping que mostra um afinadíssimo coral feminino de Israel interpretar de forma magistral essa tradicional melodia. Quem assistiu ao filme Free Zone, do controvertido Diretor Amos Gitai, talvez lembre da trilha musical, cantada de forma monocórdica e intencionalmente enfadonha, que contava essa mesma história, enquanto um personagem feminino se desmanchava em lágrimas. Se fosse no Brasil poderíamos dizer que ela estava chorando a morte da bezerra. No caso do filme, o mais acertado seria afirmar que ela também chorava a morte, só que de um cabrito.
    O LADINO
    Após 1492 os judeus que preferiram deixar seus bens para trás a ter de abandonar a religião ancestral, foram mesclando, à medida que viajavam em busca de um porto seguro, os diferentes dialetos falados na Península Ibérica ao português, francês, italiano, grego e turco, formando o ladino, a primeira forma unificada do castelhano. Nas palavras de uma das maiores autoridade brasileira em ladino, Professora Cecilia Fonseca da Silva, os sefaradis podem ser considerados “A Espanha Itinerante”. E a canção Had Gadiá, agora conhecida como El Kavretiko, continuou a ser entoada em ladino nas cerimônias do Pessach das famílias sefaradis radicadas nos países que compunham o vasto território otomano, para deleite de adultos e crianças. A graça era ir aumentando a velocidade da interpretação, em uma espécie de desafio, para ver quem conseguia chegar até o final sem se confundir com as novas estrofes que íam sendo progressivamente agregadas às iniciais. Par a interpretar El Kavretiko ninguém melhor do que o cantor, ator e parlamentar israelense Yehoram Gaon, cuja primeira língua, o ladino, foi aprendida em casa, com os pais.
    A VELHA A FIAR
    Se prestarmos atenção à letra do Kavretiko é possível constatar que sete estrofes inteirinhas, sem mexer uma única vírgula nem omitir nenhum dos bichos e elementos, se encaixam como uma luva na brasileiríssima A Velha a Fiar. Pura coincidência? Claro que não. Prova inconteste de que a melodia do folclore nacional descende em linha direta do Had Gadiá – Kavretiko, com alguns pequenos e perceptíveis acréscimos, plenamente justificáveis nos tempos obscuros das perseguições religiosas. Trata-se da inclusão de animais não-kasher, como a aranha, a mosca e o rato, além da própria velha, seguramente para despistar os esbirros da inquisição. É interessante escutar atentamente a versão em português que selecionamos e constatar, pelos próprios ouvidos, a presença da milenar tradição judaica na formação da cultura popular brasileira.

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  • Como se fala em Moçambique…

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     Como se fala em Moçambique…

     Como se fala hoje em Moçambique…


    “São 6 da manhã. Moçambicano não dorme, ferra. O despertador toca. Ele não se levanta cedo, madruga. E não vai tomar duche, vai duchar. E não se arranja, grifa-se bem. Depois não toma pequeno-almoço, mata-bicha. E não bebe café solúvel e pão com doce, toma café batido e bread com jam. Não sai de casa para ir trabalhar, vai no serviço.

    E quando chega ao local de trabalho não pede desculpa por ter atrasado, diz sorry lá, que tive problema de transporte. E não trabalha até ao meio dia, djoba até àquela hora das 12. E aí não pede ementa, pede menu. E não come, tacha. Não come batata frita, come chips. Não come salsichas, come vorse.
    Não come costeleta, come t-bone. E não bebe uma laurentina preta, toma uma escura. E não fala com o amigo sobre a namorada, bate papo “brada, minha dama”. E não gosta muito, grama maningue. E na saída do restaurante não vê as mulheres que passam, aprecia as damas. E não seduz, paquera. E não faz convite, pede contacto. E não a segue, vai à sua trás. E não encontra um conhecido mais velho, apanha um jon cota. Na rua não compra cajú, compra castanha. E não tira fotografias, fota.

    No escritório, a empregada não despeja o lixo, no ofice trabalhadora vai deitar. E não traz o jornal, leva. E não põe insecticida, baygona. E não tem reuniões, tem meetings. E no computador ele não escreve, taipa. E depois não faz impressão, printa. E não trabalha as fotografias em Photoshop, fotoshopa. E para fazer um intervalo não vê o patrão, tcheka o boisse. E não sai para dar uma volta, dá um djiko. E não escreve sms para a amiga colorida, manda mensagem para a pita. E não mente dizendo que está ocupado, mafia que tá bizi. Moçambicano não trai, cornea. Não caminha, estila. Não se faz de difícil, jinga.

    Não acaba uma tarefa, ultima. E no fim do trabalho não vai, baza. E com os amigos não tem negócios, tem bizne com bro. E ao fim do dia não vai ao ginásio, djima. E não tem bicicleta, tem bikla. E não está musculoso, tá big. E não faz saudação batendo na mão do amigo, deketa. E não gosta de aproveitar a vida, enjoya laifa. De tarde não bebe chá e come pão com manteiga e queijos, toma chá. E não vai buscar a namorada que está num cabeleireiro distante, a arranjar as unhas e a fazer tranças no cabelo, vai apanhar dama que faz unha e entrança láaaaaaa no salão. E não bebem um refrigerante, tomam refresco. E a namorada não usa mini-saia e saltos altos e anda descapotável, põe sainha e uns saltos e tá descartável. E não lhe diz que é bonita, diz “tens boas”.

  • Macau Sâm Assi (This is Macau) – Dóci Papiaçám di Macau (HD)

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    quando estivemos em Macau assistimos a uma gravação disto….

  • a Galiza é uma naçom!

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    A Galiza é uma naçom

    A Galiza é uma naçom no noroeste da Península Ibérica.Aqui houve povoamentos
    desde as épocas pré-históricas (3 000 a.C.). Segundo o grego Estrabão (c. 63 a.C. – 24
    d.C.) os habitantes deste extremo da península chamavam-se Kallakoi (Calaico). Os
    Romanos integraram esta parcela no seu Império já em finais do século I a.C.,
    passando a designar-se Gallaecia durante o reinado do Imperador Diocleciano no
    século III. Os Kallakoi não devem ser confundidos com os Galos da antiga Gália
    1. Os pré-celtas e os celtas da Galiza
    O estudo e o ensino deste tema são algo muito complexo, devido sobretudo à opinião
    persistente, tão divulgada como errónea, de que esta região fora a mais celtizada da
    península Ibérica. Os arqueólogos, historiadores e investigadores de todas as épocas
    (os eruditos sérios, face aos achados arqueológicos e com a ajuda dos escritos de
    gregos e romanos contam como pode ter sido e em que consistiu a chegada de certos
    grupos célticos a esta região. Estes estudiosos da história foram directamente às
    poucas fontes que podem manejar, sem se conformarem com traduções anteriores,
    muitas vezes mal interpretadas e que puderam ver as numerosas pegadas deixadas
    pelos celtas, ao longo e ao largo da Galiza, como os castros.
    Parece que alguns grupos (do povo celta que chegara até ao sul península Ibérica), não
    se deram bem nestas terras e iniciaram outra viagem migratória, em fases distintas
    etapas já tardias, para o norte, através de terras lusitanas. Nesta situação de
    emigrantes celtas desde o sul, pelo oeste, rumo ao norte, não chegam a estabelecer-se
    na região galaica até ao século I a.C. É o grupo conhecido como sefes, que se move por
    volta do século III a.C. quando alguns se situam entre o rio Tejo e o rio Douro e outros,
    seguem para a Galicia.
    Ao mesmo tempo que isto ocorria, produzia-se nas costas galaicas o desembarque de
    gentes nórdicas procedentes da Bretanha. A arqueologia acredita nisto através dos
    achados de Punta Neixón na ria de Arousa na Província de Pontevedra.
    Os celtas sefes encontraram estas terras bastante povoadas. Estrabão assegura que
    havia umas 50 tribos de povos diferentes, enquanto Plínio diz que eram mais de 65. O
    professor (historiador, arqueólogo e escritor) Florentino López Cuevillas na sua obra A
    civilización céltica na Galiza, depois de expor um estudo exaustivo sobre o aspeto
    político e geográfico, assegura que todas estas tribos, na maior parte, não eram celtas.
    A lista de tribos pré-célticas é bastante extensa:
    – Estrimios (relacionados com os Lígures (e comuns a países bretões, ingleses e
    irlandeses), que permaneceram até à chegada dos romanos),
    – Albianos, seurros, tiburos, bibalos, caporos, zoelas, nobiagoi, abii, tirii, veasmini,
    salassi, rilenii, helenii, grovii, etc., todos estabelecidos desde a Idade de Bronze, antes
    de 600 a.C.
    Esta é a base da população pré-céltica, que é a mesma que a normanda, inglesa e
    irlandesa. Destes povoadores procedem as semelhanças étnicas entre estes povos e
    não chegada dos celtas. As analogias entre galegos e irlandeses atuais não provêm
    dum parentesco céltico, mas duma comunidade étnica anterior que remonta a 2.000
    anos atrás.
    As tribos celtas dos sefes recém-chegadas sobrepuseram-se a estas mais antigas e
    adaptaram-se bastante bem, crê-se que pelo seu caráter afim indo-europeu. Foram os
    celtas os que se acomodaram e a sua influência foi, na maioria dos casos, tardia e
    esporádica, segundo se pode saber pela confirmação do estudo da arquitetura e a
    metalurgia. A dita povoação autóctone mais antiga conservou a sua destacada
    personalidade linguística e cultural e também soube intercambiar aspetos culturais
    com a civilização céltica. Houve um verdadeiro intercâmbio de costumes e de
    conhecimentos.
    2. Romanos, suevos e visigodos
    Os romanos entraram no ano 137 a.C. encontrando séria resistência, mas acabariam
    por conquistar a região que denominariam Gallaecia.
    Os suevos, 30.000 pessoas que só tinham 8.000 homens com capacidade para lutar,
    concentram-se entre o Douro e o Minho, na zona de influência de Braga. Chegaram no
    ano de 409, nomeando rei a Hermérico (409-438), que celebra um pacto ou foedus
    com Roma no ano de 410 pelo qual os suevos estabelecem o seu reino na província
    romana de Gallaecia e aceitam o imperador de Roma como o seu superior. Depois da
    morte de Hermérico reina Requila (438-448), a quem sucederá Requiário (448-456).
    Este último adotará o catolicismo no ano de 449. No ano de 456 tem lugar a batalha de
    Órbigo, que oporá visigodos e suevos, com a derrota destes últimos e que terá como
    consequência o assassinato de Requiário.
    Depois da derrota frente aos visigodos, o reino suevo dividir-se-á e governarão
    simultaneamente Frantão e Aguiulfo, desde 456 até 457, ano em que Maldrás (457-
    459) reunificará o reino para acabar sendo assassinado depois duma conspiração
    romano-visigoda que finalmente fracassará. Apesar de a conspiração não ter alcançado
    os seus verdadeiros propósitos, o reino suevo viu-se novamente dividido entre dois
    reis: Frumário (459-463) e Remismundo (filho de Maldrás) (459-469) que reunificaria
    novamente o reino do seu pai no ano 463 e que se veria obrigado a adotar o
    arrianismo no ano de 465 devido à influência visigoda.
    Após a morte de Remismundo entra-se numa época escura, que durará até ao ano de
    550, durante a qual desaparecem praticamente todos os textos escritos. O pouco que
    se sabe desta época é que mui provavelmente Teodemundo governou a Suévia.
    A época obscura terminará com o reinado de Karriarico (550-559) que se converterá
    novamente ao catolicismo no 550. Suceder-lhe-á Teodomiro (559-570) (não se
    confunda com Teodomiro, rei dos visigodos) durante o reinado do qual terá lugar o Iº
    Concílio de Braga (561). Miro (570-583) será o seu sucessor. Durante o seu reinado
    celebrou-se o IIº Concilio de Braga (572). Aproximadamente no ano de 577 inicia-se a
    guerra civil visigoda na que intervirá Miro que no ano 583 organizará uma expedição
    de conquista a Sevilla a qual fracassará. Durante o regresso desta expedição o rei
    morre. No reino suevo começam a produzir-se muitas lutas internas. Éborico (também
    chamado Eurico) (583-584) é destronado por Andeca (584-585) que falha a sua
    intenção de evitar a invasão visigoda dirigida por Leovigildo que se tornará efetiva
    finalmente no ano de 585, convertendo assim o rico e fértil reino suevo em mais uma
    região do reino godo.
    3. Reino independente
    Afonso I das Astúrias (739 – 757) foi o primeiro príncipe que começou a expansão do
    Reino Cristão. Desta forma a integração do Reino da Galiza no Reino das Astúrias
    ocorre entre o seu reinado e o de Ramiro I que a estende até Tui (854).
    Em 813, Afonso II o Casto, rei das Astúrias e Galiza, é informado pelo bispo Teodomiro
    de Iria Flávia da aparição duma luz sobre uma antiga capela. O rei chega a Santiago de
    Compostela e manda edificar uma igreja. Começa a lenda do Caminho de Santiago e
    Santiago de Compostela converte-se num centro de peregrinação da Cristandade.
    No ano de 910 Ordonho II converte-se em rei da Galiza (ver também Reino da Galiza)
    No ano de 997 Almansor inicia uma expedição de saques em terras cristãs e chega até
    Santiago de Compostela
    No ano de 1035 Fernando I O Magno herdou o reino de Castela do seu pai Sancho III O
    Maior, rei de Navarra, e no 1037 a sua esposa Sancha herdou os reinos de Leão e
    Galiza do seu irmão Bermudo III. (ver também Reino de Leão). À sua morte em 1065
    repartiu as suas possessões entre os seus 3 filhos: entregou Castela ao seu filho
    Sancho, Leão a Afonso e Galiza a Garcia. Mas em 1072 Afonso VI de Leão matou
    Sancho II de Castela e aprisionou por toda a vida Garcia de Galiza governando assim
    sobre os reinos dos seus irmãos até à sua morte em 1109
    O Reino da Galiza surgiu após a retirada muçulmana da zona que pouco antes ocupara
    o reino dos suevos. Em muitos momentos da sua história viu-se unido ao Reino das
    Astúrias e/ou ao Reino de Castela sendo nalguns casos difícil diferenciá-los.
    Oficialmente manteve-se como reino até 1833 ano em que foi dividido em quatro
    províncias e desaparecendo assim dos mapas.
    3. Outra visão da Galiza e de Portugal por Alexandre Banhos (2009)
    PODEMOS OS GALEGOS RECLAMAR O NOME DE GALEGO PARA A LÍNGUA COMUM?
    Comunicação no IX Colóquio da Lusofonia, Bragança 2009, Alexandre Banhos Campo
    Galiza e o seu projeto ibérico
    Nos feitos históricos há sempre um fator de oportunidade e outro em não pequena
    medida de azar. Mas nos fatos históricos há uma lei de ferro, -o que não se produzir no
    momento em que as circunstâncias são ou eram favoráveis ou propícias, nesse
    momento no que as ondas da história sobem a favor, já não há de se fazer. É dizer, que
    aquilo que não se faz no seu momento, muito difícil será alguma vez voltá-lo a fazer;
    ademais passado o momento mudam sempre as circunstâncias e estas som muito
    difíceis de reconstruir, e já nunca serão as mesmas.
    A Galiza foi de sempre um poderoso elemento da história europeia, o principal ator
    político peninsular, foi o primeiro reino independente constituído dentro do império
    romano no ano 411, foi muito pronto um dos grandes impérios da cristandade, junto
    ao império Bizantino e ao sacro-império Romano-Germânico, foi quem guiou e liderou
    a luta da “reconquista” frente a Espanha.
    Os galegos da velha Galiza Árta bra e Astúrica do norte do Cordal, os que nunca foram
    subjugados pelos muçulmanos, tinham-se pelos primeiros entre todos os peninsulares
    e não se abaixavam ante ninguém; a Galiza o território peninsular mais densamente
    povoado, inçado de linhagens nobres com os seus castelos e com capacidade para
    terem as suas forças de homens de lança (exércitos privados nobres de entre 100 e
    1000 lanças) que se tinham a sim próprios como iguais ao rei, eram o ator mais
    poderoso no jogo peninsular. As numerosas forças galegas eram o fator mais temível
    da península ibérica e já desde muito cedo senhores muçulmanos acabaram pagando
    tributo e aceitando o seu domínio.
    Os reis da Galiza não eram simples reis, muito cedo usufruíram o nome de
    imperadores e para quem é tão grande a própria Galiza originária resultava pequena, e
    assim todos os dias estavam a alargar os seus domínios para o leste e para o sul e com
    eles avançava o domínio da cruz frente ao da meia-lua. E nas cabeças dos reis da Galiza
    desde cedo estava o coroarem-se com a península ibérica toda como projeto
    “nacional” galego.
    A capital histórica da Galiza sempre foi Braga (por algo segue a ser a cidade primaz de
    Portugal), e pelos séculos VII e VIII eram os de Braga os galegos por antonomásia. Ao
    princípio do avanço muçulmano a cabeça da Galiza é trasladada desde Braga, a capital
    da Galiza desde que a Galiza existir como entidade política, para a cidade ártabra de
    Lugo, e os bispos de Lugo passam a ser cabeça da Galiza por delegação da vero caput
    Braga.
    O quadro político no que se insere o nascimento do reino de Afonso Henriques.
    Desde muito cedo o separatismo castelão, é dizer do convento oriental da província
    romana da Gallaecia de Diocleciano, Clunia, é algo que informa a política do reino da
    Galiza.
    Os castelãos não aceitam muito pacificamente a dominação ocidental, a galega; e os
    castelãos com Sancho III rei de Navarra, chamado pelos historiadores castelhanoespanhóis
    Sancho I rei de Castela -o primeiro com esse nome, quem a médio de uma
    simples boda com a herdeira do Condado de Castela separou o território, o qual falanos
    do fraco controlo que o arredismo castelão impusera ao controlo galaico.
    Os castelãos com ele sentiram por primeira vez um seu desenvolvimento longe do
    controlo galaico. A geopolítica que os colocou no espaço central peninsular ajudou de
    seguida, não pouco, ao seu sucesso.
    À sua morte – de Sancho III – o seu filho Fernando herda o reino de Castela, porém o
    azar e a fortuna farão que venha a ter a posse tamém do reino da Galiza –do império-
    (Galiza-Leão). A inércia e superior domínio cultural galaico fazerem há não pouco, para
    trazer de novo o centro cultural para o ocidente.
    Fernando I segue a sua morte a doutrina do seu pai e reparte territórios e posses aos
    seus cinco filhos, três reinos aos filhos: Sancho mais velho Castela; Afonso Leão. E
    Garcia, o mais novo, à Galiza do aquém dos Montes de Leão. Para as suas duas filhas:
    Urraca e Elvira foram respetivamente as cidades de Zamora e Toro.
    Garcia como rei dessa Galiza cujo nome já não abrangia todo o espaço cristão norte –
    ocidental peninsular, e sim estava limitada ao leste pelos Montes de Leão adota no seu
    reino, várias medidas: a primeira restaurar Braga como centro do reino e levar a
    cabeça de Lugo a Braga como correspondia, já não existiam razões para Lugo agir por
    delegação de Braga.
    Nessa Galiza de Garcia, Compostela a urbe que respondia ao projeto cristianizador de
    Carlo Magno suplanta a Iria Flávia como cabeça do maior bispado da Galiza, e é essa
    Compostela, a quem o Apostolo está a encher de Ouro e de ambições, quem, digamolo
    suavemente, não gosta de Garcia e a sua política bracarense.
    O reino da Galiza não era já um pequeno espaço no norte, pelo sul há já tempo que
    tem incluída a região conimbricense, e tem já por zonas a sua extrema no rio Tejo.
    Cobra ademais tributo das poderosas taifas de Badalhouce e Sevilha.
    Afonso quem herdara o reino de Leão, com o seu centro curial, pronto se sente
    imperador, e num golpe de mão com engano e colaboração de Sancho desfam-se de
    Garcia encerra preso ao seu irmão Garcia e fai-se com a Galiza ocidental. O seu apoio a
    Compostela e o abandono da política bracarense do seu irmão, pronto lhe dá
    poderosos apoios na Galiza ártabra (e não é por casualidade que de Afonso VI o
    imperador, venham a repousar os seus restos em Compostela).
    Sancho o mais velho dos irmãos reis é não menos ambicioso que o seu irmão tamém
    ambiciona todo o de Afonso com o que de seguida não tudo é entendimento, mas as
    guerras constantes que o seu reino tem que levar contra Navarra e Aragão por
    determinar as extremas, facilitou o trabalho de Afonso, porém o feito de estar sempre
    em guerra preparou-o para se enfrentar a qualquer conquista, e acabou fazendo-se
    com todos os territórios do irmão, mas com eles não durou nem um ano. Assaltando
    Zamora, a fortaleça da sua irmã Urraca muito fidel de Afonso, faleceu, e Afonso
    acabou recuperando o velho império todo do seu pai já bastante alargado.
    Os Borgonhois
    Afonso VI tem vários matrimónios (5), concubinatos e relações com várias mulheres,
    do que ao final só vão resultar filhas sobreviventes. Do matrimónio-concubinato com a
    viúva do rei de Córdoba (a muçulmana Zaida – ainda que a historiografia cristianizou-a
    como Isabel) terá um filho e duas filhas. O primeiro Sancho a quem muito amava e era
    o seu olho e a quem queria de herdeiro, morre na batalha de Ucles (ano 1108) e isso
    dá-nos para conhecermos na crónica De Rerum Hispaniae do bispo de Toledo (cidade
    que Afonso conquistara), o pranto do rei pelo seu filho – o qual aparece inserido no
    texto latino na nossa língua galaico-portuguesa, o que nos vem a falar de qual era a
    língua do poder e da corte.
    Um dos matrimónios de Afonso VI, o segundo, foi com Constança de Borgonha (do que
    sobreviveu a filha Urraca), o que levará a ter certas relações com Borgonha e que de
    acolá venham ao reino nobres borgonhois como Raimundo e Henrique.
    O Rei Afonso casou a sua filha e herdeira Urraca, com Raimundo de Borgonha (ano
    1090), a quem se lhe garante o reino da Galiza, e a Teresa, uma rapazinha ainda muito
    nova, a quem tivera dumas relações com Jimena Nunes, com Henrique (ano 1095),
    quem é submetido a Raimundo com a obriga da guarda do limes sul da Galiza.
    Raimundo muito faz para gosto de Afonso, desde a fortificação da cidade de Castela
    conhecida por Ávila e nos textos antigos como A Vila, por ser território de fronteira, e
    alargando os territórios para o sul pola extrema do reino da Galiza (a Estremadura). Foi
    conquistando Santarém, assaltando as suas muralhas, que Raimundo de Borgonha
    faleceu.
    A Urraca viúva com o seu filho Afonso acha apoio protetor no poderoso bispo Gelmires
    de Compostela, e quando esta casa com Afonso o Batalhador rei de Aragão, pronto
    Gelmires -apoiando-se na vontade de Afonso VI faz rei da Galiza à criança (Afonso VII –
    Reimundes – no ano de 1111) filho de Raimundo e Urraca, pois nele tem Gelmires um
    instrumento das suas ambições políticas.
    Afonso Henriques
    Na Braga restaurada por Garcia não gostam da política imperial e desconsiderada da
    recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre as
    classes dominantes e o bispo de Braga.
    Henrique de Borgonha como conde de Portucale o condado ao sul da velha Galiza tem
    a inteligência política de passar despercebido, e ir construindo ali um governo local
    tranquilo, no que age e a vez não discute a autoridade real. O Bispo de Braga e desde
    muito cedo contrário a Compostela. A Compostela de Gelmires chegará a fazer uma
    expedição a Braga para roubar o espólio de santos ali depositado –Pio Latrocínio – e
    ganhar assim prestigio da vero caput para Compostela, frente a Braga, e ante o Papa.
    Henrique de Borgonha com Teresa (designada na historiografia como de Leão) tem um
    filho Afonso Henriques. E aceita-se que desde o ano do seu nascimento, 1109 até o
    1128 viveu em Guimarães.
    A mai estava muito ligada a nobreza do norte poderosa na corte de Leão e verdadeiros
    pares do rei.
    Porém a igreja de Braga e a nobreza local, que defendem os seus interesses empurram
    ao puto (14-15 anos) contra a mai para terem assim um maior controlo local,
    Em 1120, sob a direção do arcebispo de Braga, o puto Afonso tomou uma posição
    política oposta à da mãe, quem apoiava o partido dos Travas (poderosa família galega
    mui ligada a Gelmires nessa altura). O bispo, forçado a emigrar, levou consigo o infante
    que em 1122 se armou cavaleiro em Tui.
    Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a
    invasão do Condado Portucalense por Afonso Reimundes (VII) da Galiza, Leão e
    Castela, quem em 1127 cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques,
    sendo-lhe prometida a lealdade deste pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII desistiu de
    conquistar a cidade.
    Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de Teresa e Fernão Peres de Trava
    defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as
    tropas do nosso puto de 17 anos com a bênção do bispo de Braga saído vitoriosas – o
    que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o
    governo do condado.
    Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder concentrou os seus
    esforços em negociações junto da Santa Sé, Afonso Henriques sempre bem guiado
    pólo arcebispo de Braga Pedro (primaz da Galiza) com um duplo objetivo: alcançar a
    plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
    Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte
    contingente mouro, D. Afonso Henriques recebe a coroa e a consagração de Rei de
    Portugal do bispo de Braga João Peculiar.
    Afonso VIII da Galiza e Leão
    Em 1230 morre em Sárria Afonso VIII com 82 anos e trás mais de sessenta anos de
    reinado na Galiza -na parte norte ou Ártabra desse território histórico – e Leão. Afonso
    estava velho e canso, vinha de passar os últimos 16 anos da sua vida em guerra com o
    seu filho Fernando, pois foi contra o parecer do pai proclamado rei de Castela, e para o
    seu pai esse feito equivalia a renuncia de quaisquer direitos sobre as coroas de Galiza e
    Leão
    Afonso VIII casara com duas parentes de segundo grau, Teresa de Portugal. prima
    direta, com quem tem duas filhas Sancha e Dulce (e um filho Fernando que faleceria),
    matrimónio que a igreja rompe e obriga a novo casamento (por detrás está
    Compostela). Rutura a que muito se resistiu pois estava fundamente namorado da sua
    esposa e logo com Berenguela filha de Afonso VIII de Castela, tamém prima direta,
    com quem tem a Fernando, mas este matrimónio a igreja consente e apoia pois estava
    na linha do programa imperial peninsular da Galiza e Compostela.
    O seu testamento é claro, as herdeiras dos seus tronos são as filhas de Teresa: Sancha
    e Dulce (cada uma o seu); e como garantes, a sua mai, o Rei de Portugal e a Ordem de
    Santiago. Qualquer solução incluída a união com Portugal é valida mas em nenhum
    caso a unificação com Castela.
    Fernando reclama (e paga muito). A Igreja da Galiza e de Leão está muito dividida e na
    maioria e contrária a Fernando, mas a intervenção do bispo de Compostela e os de
    Castela são decisivos para que o Papa declare ilegítimo o testamento do bom rei.
    Compostela e certas camadas nobres galegas sentem que com Fernando III controlam
    o centro peninsular, que o seu projeto imperial vai avante.
    Portugal nunca aceita o ilegítimo acordo.
    Com Fernando III, rei muito abençoado pola Igreja, que acabou por fazê-lo santo, o
    projeto central castelhano avança, a reconquista avança até o estreito de Gibraltar, em
    Sevilha e Toledo vai estar a corte sob a capa duma corte de nobres galegos, de língua
    galaico-portuguesa, com galegos que se enriquecem neste processo, de filhos dos
    nobres cortesãos que enviam os filhos a educarem-se com aios na Galiza, como o filho
    do rei e futuro rei Afonso X.
    Afonso X que brilhou nas nossas letras, porém foi quem impulsionou o primeiro
    estatuto dominante para a escrita da chancelaria em castelhano. Sancho IV seu filho
    ainda vai continuar ligado a tradição cultural galaica. A chegada ao trono com 9 anos
    do seu filho Fernando apaga não pouco essa tradição, sob novos tutores e aios o
    predomínio e domínio galaico da corte esvai-se, A nobreza galega e a igreja de
    Compostela será firme no apoio a este rei como ainda um dos seus e assim como ao
    seu filho Afonso XI e neto Pedro I.
    Os interesses imperiais de Castela e a sua visão peninsular triunfam definitivamente
    sobre os galaicos com o assassinato de Pedro I pelo mercenário bretom Douglesclin, e
    com a chegada ao trono de uma dinastia limpidamente castelhana sob o nome galaico
    dos trastámaras. As tropas galegas que se batem a prol de Pedro saem coa sua
    nobreza dirigente muito diminuída em influência.
    É a dinastia castelã dos Trastámaras a que vai tentar se apoderar de Portugal, que
    renasceu logo triunfante em Aljubarrota frente a Juam I de Castela (trastámara).
    Que houvesse passado se Afonso Henriques não fosse quem de iniciar um reino.
    A monarquia portuguesa frente ao modelo imperial do norte, sempre com aspirações
    peninsulares, centrou-se sobre sim própria e em consolidar pouco a pouco o seu
    território, que ficava de costas a península, mas aberto ao mar. Sancho I, Afonso II,
    Sancho II, esforçam-se nessa linha de conduta.
    Se o puto Afonso Henriques e a sua cabeça pensante, o bispo de Braga, nom fossem
    quem de achar um destino para o sul da Galiza alongado de projetos imperiais
    peninsulares, hoje teríamos a Galiza unificada desde a extremadura ao norte, mas a
    sua vida cultural e linguística não seria sequer tão pobre como a da Galiza atual. Seria
    muito semelhante a que se vive no âmbito asturo-leonês-mirandês é dizer no velho
    galaico-oriental (galor em palavras de Cosériu).
    Essa visão que Portugal tinha de sim próprio é a que o levará a ser um centro dum
    império com as costas viradas a península.
    O português da Galiza
    O galego da Galiza até para o mais ferrenho isolacionismo foi muito vivificado pólo
    português universal e da corte de Lisboa. O português da Galiza tirado o muito que
    sugou e continua a sugar do português, estaria limitado a uns dialetos rurais bastante
    fraturados e os seus utentes só teriam para beber e encher os ocos criativos do mesmo
    o castelhano, como é o que se passa nos restos que ficam do asturo-leonês.
    O sucesso da nossa língua e cultura (ao norte e ao sul do Minho) deve-se ao projeto
    que encetou Afonso Henriques virado de costas ao projeto imperial e originário
    galaico. Não temos direito a reclamarmos nada sobre o nome internacional da língua,
    já que se não fosse por Portugal nada seriamos nem nada teríamos ao norte e ao sul
    do Minho
    Afonso Henriques, da Galiza do sul fiz um Portuscale, um reino, e o galaico ou galego
    desse reino acabou por ter por nome o do próprio reino, o galeguíssimo nome de
    Portugal – português-.
    O português da Galiza está na situação que está, por não sermos quem de assumirmos
    que as falas galegas só podem viver no português universal, e que falarmos de galego
    como contraposição ao português universal -o verdadeiro galego – e seguirmos
    pagando as portagens imperais de Castela-Espanha.
    Assumirmos a língua como português da Galiza é o melhor jeito galego de chamarmos
    ao galego da Galiza para que poda ser ele mesmo e libertarmo-nos do ferrete
    esmagador castelhano, pois o futuro do galego-castelhano é só um só – espanhol -.
    APONTAMENTO FINAL
    Faz bem Portugal em estar sempre à espreita e com receio do que vem do norte do
    Minho, pois muito matute espanhol e espanholista se vende sob presunto galeguismo
    e muito projeto imperial espanhol ainda paira em cabeças galaicas no avanço cara a
    nada e cara nengures.
    Bibliografia:
    Menendez-Valdés Golpe, E. – Separatismo y Unidad (una mitificación histórica).
    SEMINARIO Y EDICIONES 1970.
    Sergio, António. – Breve Interpretação da História de Portugal. CLASSICOS AS DA
    COSTA 1981
    Lopes Suevos, Ramón. – Portugal no Quadro Peninsular. AGAL 1987
    Zebral Lopes, Manuel. – Manual galego Português de História Edição do autor 1996
    De Oliveira marques, A.H. História de Portuga (3 TOMOS)l. PALAS EDITORES, Lisboa
    1973
    Lopes, Fernão. Crónica d’el Rei João I de Boas memória. LIVROS EUROPA-AMERICA
    1981
    Oliveira Martins. História da Civilização Ibérica, LIVROS EUROPA-AMERICA
    Calvet de Magalhães, José. Breve história diplomática de Portugal, LIVROS EUROPAAMERICA
    1990
    Hermano Saraiva, José. História Concisa de Portugal, LIVROS EUROPA-AMERICA 1984
    González López, Emílio. Grandeza e Decadência do Reino da Galiza. ED. GALAXIA 1978
    González López, Emílio. Siempre de negro. ED. GALAXIA 1970
    Ribeiro, Orlando. La Formation de Portugal, Bruxelas 1939
    López Carreira, Anselmo. Os Reis da Galiza. A NOSA TERRA 2005
    López Teixeira, José António, Arredor da conformación do Reino da Galiza (711-910).
    Ed. TOXOSOUTOS 2003
    Biggs, Gordon. Diego Xelmirez. XERAIS UNIVERSITÁRIA 1983
    Barros, Carlos. Mentalidad Justiciera de los Irmandinhos, Siglo XV. SIGLO XXI DE
    ESPAÑA EDITORES 1990
    Barbosa Alvares, José Manuel. Atlas Histórico da Galiza. Edições Galiza 2008
    Merecem especial menção por terem sido os seus trabalhos muito influentes na
    perspetiva destas reflexões historicistas, Os múltiplos artigos e eflexões de Ernesto
    Vasquez Souza, e alguns trabalhos divulgativos do presidente da Associação Fala Ceive
    do Berzo, Xavier Lago Mestre.
    (Traduzido para português europeu. In Wikipédia 12 Dezembro 2005)
    coloquioslusofonia@gmail.com /lusofonia@sapo.pt
    Rede: http://www.lusofonias.net

  • PRESENÇA JUDAICA NA LÍNGUA PORTUGUESA

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    PRESENÇA JUDAICA NA LÍNGUA PORTUGUESA
    EXPRESSÕES E DIZERES POPULARES EM PORTUGUÊS
    DE ORIGEM CRISTÃ-NOVA OU MARRANA

    Jane Bichmacher de Glasman (UERJ)

    O objetivo do presente trabalho é apresentar alguns exemplos de influência judaica na língua portuguesa, a partir de uma ampla pesquisa sócio-linguística que venho desenvolvendo há anos. A opção por judaica (e não hebraica) deve-se a uma perspectiva filológica e histórica mais abrangente, englobando dialetos e idiomas judaicos, como o ladino (judeu-espanhol) e o iídiche (alemão), entre os mais conhecidos, além de vocábulos judaicos e expressões hebraicas que passaram a integrar o vernáculo a partir de subterfúgios e/ ou corruptelas, cuja origem remonta à bagagem cultural de colonizadores judeus, cristãos-novos e marranos.

    Há uma significativa probabilidade estatística de brasileiros descendentes de ibéricos, principalmente portugueses, terem alguma ancestralidade judaica. A base histórica para tal é a imigração maciça de judeus expulsos da Espanha, em 1492, para Portugal, devido à contigüidade geográfica e às promessas (não cumpridas) do Rei D. Manuel I, que traziam esperança de sua sobrevivência judaica como tal. Mesmo com a expulsão de Portugal em 1497, os judeus (além dos cristãos-novos e dos cripto-judeus ou marranos) chegaram a constituir 20 a 25% da população local.

    Sefaradim (de Sefarad, Espanha, da Península Ibérica) procuraram refúgio em países próximos no Mediterrâneo, norte da África, Holanda e nas recém-descobertas terras de além-mar nas Américas, procurando escapar da Inquisição. Até hoje é controversa a origem judaica ou criptojudaica de descobridores e colonizadores do Brasil, para onde imigraram incontáveis cristãos-novos, alternando durante séculos uma vida como judeus assumidos e marranos, praticando o judaísmo secretamente (fora os que permaneceram efetivamente católicos), de acordo com os ventos políticos, sob o domínio holandês ou a atuação da Inquisição, variando de um clima de maior tolerância e liberdade à total intolerância e repressão.

    Comparando apenas sob o ponto de vista cronológico, nem sempre lembramos que, enquanto o Holocausto na Segunda Guerra Mundial foi tão devastador, especialmente nos quatro anos de extermínio maciço de judeus, a Inquisição durou séculos, pelo menos três dos cinco da história “oficial” do Brasil, isto é, após o descobrimento. Tantos séculos de medo, denúncias, processos e mortes, geraram, por um lado, um ambiente psicológico de terror para os judeus e cristãos novos no Brasil; por outro, um anti-semitismo evidente ou subliminar que permaneceu arraigado na população, inclusive como autodefesa e proteção.

    Uma característica do comportamento de cristãos-novos “suspeitos” foi procurar ser “mais católicos do que os católicos”, buscando sobreviver à intolerância e determinando práticas sócio-culturais e lingüísticas.

    A citada alternância entre vidas assumidamente judaicas e marranas, praticando judaísmo em segredo, com costumes variados, unificados pela “camuflagem” de seu teor judaico, gerou comportamentos e aspectos culturais (abrangendo rituais, superstições, ditados populares, etc.) que se arraigaram à cultura nacional. A maioria da população desconhece que muitos costumes e dizeres que fazem parte da cultura brasileira têm sua origem em práticas criptojudaicas. Apresentarei alguns exemplos bem como suas origens e explicações, a partir da origem judaica “marrana”.

    “Gente da nação” é uma das denominações para designar marranos, judeus, cristãos-novos e cripto-judeus, embora existam diferenças entre termos e personagens.

    Cristãos-novos foi denominação dada aos judeus que se converteram em massa na Península Ibérica nos séculos XIII e XIV; é preconceituosa devido à distinção feita entre os mesmos e os “cristãos-velhos”, concretizado nas leis espanholas discriminatórias de “Limpieza de Sangre” do século XV.

    Criptojudeus eram os cristãos-novos que mantiveram secretamente seu judaísmo. Gente da nação era a expressão mais utilizada pela Inquisição e Marranos, como ficaram mais conhecidos. Embora todos fossem descendentes de judeus, só poucos voltaram a sê-lo, e em países e épocas que o permitiram.

    O próprio termo “marrano” possui uma etimologia diversificada e antitética. Unterman (1992: 166), conceitua de forma tradicional, como “nome em espanhol para judeus convertidos ao cristianismo que se mantiveram secretamente ligados ao judaísmo. A palavra tem conotação pejorativa” geralmente aplicada a todos os cripto-judeus, particularmente aos de origem ibérica. Em 1391 houve uma maciça conversão forçada de judeus espanhóis, mas a maioria dos convertidos conservou sua fé. Já Cordeiro (1994), com base nas pesquisas de Maeso (1977), afirma que a tradução por “porco” em espanhol tornou-se secundária diante das várias interpretações existentes na histografia do marranismo.

    Para o historiador Cecil Roth (1967), marrano, velho termo espanhol que data do início da Idade Média que significa porco, aplicado aos recém-convertidos (a princípio ironicamente devido à aversão judaica à carne de porco), tornou-se um termo geral de repúdio que no século XVI se estendeu e passou a todas as línguas da Europa ocidental.

    A designação expressa a profundidade do ódio que o espanhol comum sentia pelos conversos com quem conviviam. Seu uso constante e cotidiano carregado de preconceito turvou o significado original do vocábulo. Em “Santa Inquisição: terror e linguagem”, Lipiner (1977) apresenta as definições: “Marranos: As derivações mais remotas e mais aceitáveis sugerem a origem hebraica ou aramaica do termo. Mumar: converso, apóstata. Da raiz hebraica mumar, acrescida do sufixo castelhano ano derivou a forma composta mumrrano, abreviado: Marrano. Tratar-se-ia, pois de um vocábulo hebraico acomodado às línguas ibéricas. Marit-áyin: aparência, ou seja, cristão apenas na aparência. Mar-anús: homem batizado à força. Mumar-anus: convertido à força. Contração dos dois termos hebraicos, mediante a eliminação da primeira sílaba”. Anus, em hebraico, significa forçado, violentado.

    Antes de exemplificar a contribuição lingüística marrana, convém ressaltar que a vinda dos portugueses para o Brasil trouxe consigo todos os empréstimos culturais e lingüísticos que já haviam sido incorporados ao cotidiano ibérico, desde uma época anterior à Inquisição, além de novos hábitos e características; muitas palavras e expressões de origem hebraica foram incorporadas ao léxico da língua portuguesa mesmo antes de os portugueses chegarem ao Brasil. Elas encontram-se tão arraigadas em nosso idioma que muitas vezes têm sua origem confundida como sendo árabe ou grega. Exemplo: a “azeite”, comumente atribuída uma origem árabe por se assemelhar a um grande número de palavras começadas por “al-” (como alface, alfarrábio, etc.), identificadas como sendo de origem árabe por esta partícula corresponder ao artigo nesta língua. O artigo definido hebraico é a partícula “a-” e “azeite” significa, literalmente, em hebraico “a azeitona” (ha-zait).

    Apesar da presença judaica por tantos séculos, em Portugal como no Brasil, as perseguições resultaram também em exclusões vocabulares. A maior parte dos hebraísmos chegou ao português por influência da linguagem religiosa, particularmente da Igreja Católica, fazendo escala no grego e no latim eclesiásticos, quase sempre relacionados a conceitos religiosos, exemplos: aleluia, amém, bálsamo, cabala, éden, fariseu, hosana, jubileu, maná, messias, satanás, páscoa, querubim, rabino, sábado, serafim e muitos outros.

    Algumas palavras adotaram outros significados, ainda que relacionados à idéia do texto bíblico. Exemplos: babel indicando bagunça; amém passando a qualquer concordância com desejos; aleluia usada como interjeição de alívio.

    O preconceito marca palavras originárias do hebraico usadas de forma depreciativa, como: desmazelo (de mazal – negligência, desleixo), malsim (de mashlin – delator, traidor), zote (de zot / subterrâneo, inferior, parte de baixo – pateta, idiota, parvo, tolo), ou tacanho (de katan – que tem pequena estatura, acanhado; pequeno; estúpido, avarento); além de palavras relacionadas a questões financeiras, como cacife, derivada de kessef = dinheiro.

    Dezenas de nomes próprios têm origem hebraica bíblica, como: Adão, Abraão, Benjamim, Daniel, Davi, Débora, Elias, Ester, Gabriel, Hiram, Israel, Ismael, Isaque, Jacó, Jeremias, Jesus, João, Joaquim, José, Judite, Josué, Miguel, Natã, Rafael, Raquel, Marta, Maria, Rute, Salomão, Sara, Saul, Simão e tantos outros. Alguns destes, na verdade, são nomes aramaicos, oriundos da Mesopotâmia, como Abraão (Avraham), que se incorporaram ao léxico hebraico no início da formação do povo hebreu.

    Podemos citar centenas de nomes e sobrenomes de judaizantes e números de seus dossiês, desde a instalação da Inquisição no Brasil, a partir dos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, e de livros como Wiznitzer (1966), Carvalho (1982), Falbel (1977), Novinsky (1983), Dines (1990), Cordeiro (1994), etc. Sobrenomes muito comuns, tanto no Brasil como em Portugal, podem ser atribuídos a uma origem sefardita, já que uma das características marcantes das conversões forçadas era a adoção de um novo nome. Muitos conversos adotaram nomes de plantas, animais, profissões, objetos, etc., e estes podem ser encontrados em famílias brasileiras, até hoje, em número tão grande que seria difícil enumerá-los. Exemplos: Alves, Carvalho, Duarte, Fernandes, Gonçalves, Lima, Silva, Silveira, Machado, Paiva, Miranda, Rocha, Santos, etc. Não devemos excluir a possibilidade da existência de outros sobrenomes portugueses de origem judaica.

    Porém é importante ressaltar que não se pode afirmar que todo brasileiro cujo sobrenome conste dos processos seja descendente direto de judeus portugueses; para se ter certeza é necessária uma pesquisa profunda da árvore genealógica das famílias.

    Há ainda algumas palavras e expressões oriundas do misticismo judaico, tão desenvolvido na idade média. O estudo do Talmud e da Cabalá trouxe também contribuições do aramaico, como a conhecida expressão “abracadabra”, que é tida pela nossa cultura como uma “palavra mágica” (num sentido fabuloso), mas que, na realidade pode ser traduzida como “criarei à medida que falo” (num sentido real e sólido para a cultura judaica).

    Algumas palavras também designam práticas judaicas ou formas de encobri-las, especialmente observável nos costumes alimentares. Por exemplo: os judeus são proibidos pela Torá de comer carne de porco, porque tem os cascos fendidos e não rumina, sendo, portanto, impuro. Para simular o abandono desse princípio e enganar espiões da Inquisição, os cristãos-novos inventaram as alheiras, embutidos à base de carne de vitelo, pato, galinha, peru – e nada de porco. Após algumas horas de defumação já podem ser consumidos. Da mesma forma, peixes “de couro” (sem escamas) não serviam para consumo.

    Passando às expressões, apresento alguns exemplos, sua origem e explicação:

    “Ficar a ver navios” – Em 1492 foi determinado que os judeus que não se convertessem teriam de deixar a Espanha até ao fim de julho. Centenas de milhares então se fixaram em Portugal. O casamento do rei D. Manuel com D. Isabel, filha dos Reis Católicos, levou-o a aceitar a exigência espanhola de expulsar todos os judeus residentes em Portugal que não se convertessem ao catolicismo, num prazo que ia de Janeiro a Outubro de 1497. O rei Dom Manuel precisava dos judeus portugueses, pois eram toda a classe média e toda a mão-de-obra, além da influência intelectual. Se Portugal os expulsasse logo como fez a Espanha, o país passaria por uma crise terrível. Na realidade D. Manuel não tinha qualquer interesse em expulsar esta comunidade, que então constituía um destacado elemento de progresso nos setores da economia e das profissões liberais. A sua esperança era que, retendo os judeus no país, os seus descendentes pudessem eventualmente, como cristãos, atingir um maior grau de aculturação. Para obter os seus fins lançou mão de medidas extremamente drásticas, como ter ordenado que os filhos menores de 14 anos fossem tirados aos pais a fim de serem convertidos. Então fingiu marcar uma data de expulsão na Páscoa. Quando chegou a data do embarque dos que se recusavam a aceitar o catolicismo, alegou que não havia navios suficientes para os levar e determinou um batismo em massa dos que se tinham concentrado em Lisboa à espera de transporte para outros países. No dia marcado, estavam todos os judeus no porto esperando os navios que não vieram. Todos foram convertidos e batizados à força, em pé. Daí a expressão: “ficaram a ver navios”. O rei então declarou: não há mais judeus em Portugal, são todos cristãos (cristãos-novos). Muitos foram arrastados até a pia batismal pelas barbas ou pelos cabelos.

    “Pensar na morte da bezerra”: frase tão comumente dita por sertanejos quando querem referir-se a alguém que está meditando com ares de preocupação: “está pensando na morte da bezerra”. Registram as denunciações e as confissões feitas ao Santo Oficio, a noção popular, naquele distante período, do que seria o livro fundamental do judaísmo: a Torá. De Torá veio Toura e depois, bezerra, havendo inclusive quem afirmasse ter visto em cara de alguns cristãos-novos, o citado objeto, com chifres e tudo.

    “Passar a mão na cabeça”, com o sentido de perdoar ou acobertar erro cometido por algum protegido, é memória da maneira judaica de abençoar de cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela face, enquanto pronunciava a bênção.

    – Seridó, região no Rio Grande do Norte, tem seu nome originário da forma hebraica contraída: Refúgio dele. Porém, não é o que escreve Luís da Câmara Cascudo, indicando uma origem indígena do nome da região, de “ceri-toh”. Em hebraico, a palavra Sarid significa sobrevivente. Acrescentando-se o sufixo ó, temos a tradução sobrevivente dele. A variação Serid, “o que escapou”, pode ser traduzido também por refúgio. Desse modo, a tradução para o nome seridó seria refúgio dele ou seus sobreviventes.

    – Passar mel na boca: quando da circuncisão, o rabino passa mel na boca da criança para evitar o choro. Daí a origem da expressão: “Passar mel na boca de fulano”.

    – Para o santo: o hábito sertanejo de, antes de beber, derramar uma parte do cálice, tem raízes no rito hebraico milenar de reservar, na festa de Pessach (Páscoa), um copo de vinho para o profeta Elias (representando o Messias que virá, anunciado pelo Profeta Elias).

    “Que massada!” –usada para se referir a uma tragédia ou contra-tempo, é uma alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio coletivo para não se renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.

    “Pagar siza” significando pagar imposto vem do hebraico e do aramaico (mas = imposto, em hebraico de misa, em aramaico).

    “Vestir a carapuça” ou “a carapuça serve para …” vem da Idade Média inquisitorial, quando judeus eram obrigados a usar chapéus pontudos (ou com três pontas) para serem identificados.

    “Fazer mesuras” origina-se na reverência à Mezuzá (pergaminho com versículos de DT.6, 4-9 e 11,13-21, afixado, dentro de caixas variadas, no batente direito das portas).

    “Deus te crie” após o espirro de alguém é uma herança judaica da frase Hayim Tovim, que pode ser traduzido como tenha uma boa vida.

    “Pedir a bênção” aos pais, ao sair e chegar em casa, é prática judaica que remonta à benção sacerdotal bíblica, com a qual pais abençoam os filhos, como no Shabat e no Ano Novo.

    “Entrar e sair pela mesma porta traz felicidade” bem como o costume de varrer a casa da porta para dentro, costume arraigado até os dias de hoje, para “não jogar a sorte fora” é uma camuflagem do respeito pela Mezuzá, afixada nos portais de entrada, bem como aos dias de faxina obrigatória religiosa judaica, como antes do Shabat (Sábado, dia santo de descanso semanal) e de Pessach.

    “Apontar estrelas faz crescer verrugas nos dedos” era a superstição que se contava às crianças para não serem vistas contando estrelas em público e denunciadas à Inquisição, pois o dia judaico começa no anoitecer do dia anterior, ao despontar das primeiras estrelas, dado necessário para identificar o início do Shabat e dos feriados judaicos.

    Para concluir, gostaria de mencionar um tema polêmico decorrente deste intercâmbio cultural-religioso: sua influência no português, em vocábulos que adquiriram uma conotação pejorativa e negativa. Os mais discutidos são: judeu, significando usurário, o verbo judiar (e o substantivo judiação) com o sentido de maltratar, torturar, atormentar. Seja sua origem a prática de “judaizar” (cristãos-novos mantendo judaísmo em segredo e/ ou divulgando-o a outros), seja como referência ao maltrato e às perseguições sofridas pelos judeus durante a Inquisição, o fato é que, sem dúvidas, sua conotação é negativa, e cabe a nós estudiosos do assunto e vítimas do preconceito, esclarecer a população e a mídia, alertando e visando à erradicação deste uso, não só pelo desgastado “politicamente correto”, que leva a certos exageros, mas para uma conscientização do eco subliminar de um longo passado recente, Pelo qual não basta o pedido de perdão, se não conduzir a uma mudança no comportamento social.

    Referências Bibliográficas

    CARVALHO, Flávio Mendes de. Raízes judaicas no Brasil. São Paulo: Arcádia, 1982.

    CORDEIRO, Hélio Daniel. Os marranos e a diáspora sefaradita. São Paulo: Israel, 1994.

    DINES, Alberto. Vínculos do fogo. São Paulo: Cia. das Letras. 1990.

    FALBEL, Nachman & GUINSBURG, Jacó. (org.) Os marranos. São Paulo: CEJ; USP, 1977.

    GONSALVES DE MELLO, José Antonio. Gente da Nação In: Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. 1979.

    HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

    HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

    LIPINER, Elias. Santa inquisição: Terror e linguagem. Rio de Janeiro. Documentário, 1977.

    MAESO, David Gonzalo. A respeito da etimologia do vocábulo ‘marrano’. São Paulo, CEJ, 1977.

    NOVINSKY, Anita. A inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1983.

    ROTH, Cecil (ed.) Enciclopédia judaica. Rio de Janeiro. Tradição, 1967.

    UNTERMAN, Alan. Dicionário judaico de lendas e tradições. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.

    WIZNITZER, Arnold. Os judeus no Brasil Colonial. São Paulo: Pioneira, 1966.
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  • brasil e xenofobia

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    A XENOFOBIA sempre apareceu mais ou menos em certos períodos da história dos povos, mas não acredito que tal sentimento tenha sido alguma vez geneneralizado. Em relação aos brasileiros e portugueses tal generalização nunca ocorreu. Eu pelo menos não acredito! Mas vamos ler o artigo abaixo, que nos fala de um tempo em que ocorreu uma certa xenofobia contra os portugueses em certos locais. Vamos compreender melhor este sentimento.

    Portugueses e brasileiros

    Relação teve períodos de xenofobia

    Vitor Amorim de Angelo*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

    A palavra xenofobia significa aversão ao que é estrangeiro. Ouvimos essa expressão com bastante frequência neste início de século 21, quando milhares de pessoas tentam migrar em direção, principalmente, aos Estados Unidos e à Europa. Nesses lugares, há movimentos xenófobos contra a população estrangeira, acusada, entre outras coisas, de disputar os já escassos postos de trabalho com a população local.

    Seja como for, xenofobismo não é um comportamento novo, nem tampouco diz respeito à história dos Estados Unidos e dos países da Europa, apenas. Durante o período imperial, sobretudo, havia no Brasil um forte sentimento xenófobo em relação aos portugueses. Compreender como se deu esse comportamento e analisar a posição assumida pelos cidadãos lusitanos no Novo Continente ajuda a entender melhor esse aspecto importante – porém, nem sempre ressaltado – da história brasileira.

    A Corte no Rio de Janeiro

    É verdade que, como colônia de Portugal, o Brasil sempre foi um dos destinos mais comuns para os portugueses. Contudo, foi com a transferência da Família Real para a América, em 1808, que essa situação se intensificou. Antes de mais nada, porque não foram apenas os membros da realeza lusitana que vieram para o Brasil, mas, sim, a Corte inteira.

    Para se ter a real dimensão do problema, com a transformação do Rio de Janeiro em sede da Corte, a cidade logo aumentou sua população em cerca de 50% – embora, é claro, nem todo esse percentual fosse de portugueses. Ainda assim, os lusitanos que chegaram junto com a Família Real passaram a ocupar postos de poder e privilégio, o que, de certa forma, era natural para quem integrava a Corte.

    Tal situação, de outro lado, contribuiu para alimentar um sentimento contrário aos portugueses. Ou seja, o xenofobismo em relação aos lusitanos. Junto com os membros da Corte, vieram para o Brasil, logo após a transferência da Família Real, muitos comerciantes e funcionários públicos (para preencher os cargos da burocracia estatal) portugueses, reforçando ainda mais a questão xenófoba.

    Posições políticas dos portugueses

    Naturalmente, como cidadãos de Portugal e beneficiários da ordem política estabelecida, os portugueses tendiam a querer manter seu status quo. Por isso, eram comuns as manifestações de apoio ao rei dom João 6° e mesmo a dom Pedro 1°. Este, embora tenha declarado a Independência do Brasil, era português e governou dialogando com seus compatriotas que aqui viviam.

    Em vários momentos da história brasileira, as posições políticas assumidas pelos portugueses os isolaram ainda mais dos brasileiros, acentuando o xenofobismo. Quando o governo de Pedro 1° já estava bastante desgastado, por exemplo, alguns lusitanos decidiram fazer uma manifestação de apoio ao imperador. Nas ruas do Rio de Janeiro, acabaram se enfrentando a pedras e garrafas com brasileiros, na chamada Noite da garrafadas.

    Em 1820, quando teve início em Portugal a Revolução Liberal do Porto, que, entre outras coisas, propôs a recolonização do Brasil (já bastante autônomo naquele momento), muitos portugueses (especialmente os que viviam nas províncias do Norte e Nordeste da colônia) apoiaram uma causa contrária às aspirações autônomas do Brasil.

    Difícil relação com os portugueses

    Em linhas gerais, a relação entre brasileiros e portugueses, ao contrário do que se possa pensar hoje em dia, nem sempre foi tão cordial. Pelo contrário. Em determinados momentos da nossa história, o sentimento xenófobo em relação aos lusitanos se intensificou bastante. Muitas vezes, em razão das posições políticas dos próprios portugueses.

    Exemplo significativo, nesse sentido, foi o apoio de portugueses à restauração – isso é, à volta de dom Pedro 1° ao Brasil, quando o imperador já havia abdicado ao trono.

    Evidentemente, esse é apenas um aspecto da relação entre brasileiros e portugueses e do comportamento destes diante dos interesses próprios do Brasil. Não pode, portanto, ser generalizado a todos os portugueses, sob o risco de desconsiderarmos a complexa rede de interesses que se formou na colônia, especialmente no século 19.

    O que é certo, contudo, é que em diversos momentos daquele período aflorou um xenofobismo bastante acentuado contra os portugueses. Ou pelo menos parte deles.

    *Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos.

    http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/portugueses-e-brasileiros-relacao-teve-periodos-de-xenofobia.jhtm

  • >A lenda e a história TIMOR LESTE

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    Timor-Leste
    Antes da história, a pré-história e, antes desta, a lenda. Do “avô lafaek” ao período colonial e à independência, numa presença humana com pelo menos 30 mil anos.
    Jun032011

    A lenda e a história

    Escrito por Manuel Rito
    Antes da história, a pré-história e, antes desta, a lenda.

    Lenda

    Em vez de lenda, podemos dizer que é um totemismo que circula nas tradições timorenses sobre as origens de Timor-leste.
    O “totemismo” é uma etiqueta colectiva tribal, que tem um carácter religioso. Um totem é um objecto, animal ou planta a que se presta culto por uma sociedade organizada em torno de um símbolo. Em relação a ele, as coisas são classificadas em sagradas ou profanas.
    É neste sentido que se pode orientar a lenda do “avô lafaek” que circula, entre as populações timorenses. Esta ilha, que tem o formato físico de um crocodilo, terá tido origem num antepassado crocodilo que, de terras distantes, aqui chegou. Transportava em seu dorso um menino que o tinha ajudado em momentos difíceis. Chegado a estas paragens, cansado e com fome, o crocodilo tentou devorar a criança que o tinha ajudado, mas aconselhado pelos outros animais, desistiu e por ali ficou. Quando pensava regressar às origens, sentiu que o corpo se ia imobilizando e se transformava em pedra e terra, crescendo, crescendo cada vez mais, mantendo a mesma forma, até ao tamanho actual.
    Quando foi isto?
    Ninguém pergunta pelo tempo. As pessoas apenas acreditam na mensagem que recebem de seus pais e a vão transmitindo aos descendentes.
    – Toda a gente acredita na mensagem e na veracidade desta lenda.
    a
    Pré-história
    As cavernas de Tutuala, na zona de Lospalos, atestam a existência de timorenses há cerca de 30.000 anos. Alguns vestígios arqueológicos ali encontrados dizem que a primitiva população era composta sobretudo por caçadores e agricultores.
    Está comprovada a existência de um comércio esporádico entre o Timor e a China a partir do século VII, na venda de escravos, cera de abelha e sândalo, que cobria praticamente toda a ilha. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam um imposto ao reino de Java.
    a

    História

    A história de Timor-Leste nasce com a chegada dos portugueses, que levaram, nos mesmos barcos, a Bíblia e os canhões, a fé e o império, a cruz e a espada. Terão chegado entre os anos 1512 e 1515. Solor, Flores e Timor foram provavelmente as primeiras ilhas a ser visitadas pelos portugueses, ao princípio à procura de cera e madeiras de sândalo.
    Trata-se de uma ilha dispersa no oceano de milhares de ilhas da insulíndia e do imenso império português de então.
    Camões fala de Timor: “Ali também Timor, que o lenho manda / Sândalo, salutífero e cheiroso” (X-134-1).
    Em 1595 aparecem na região os holandeses. Os portugueses refugiam-se em Cupão – hoje Kupang – ocidente da ilha, e depois em Lifau (Oe-kusi).
    Em 1651 os holandeses instalam-se definitivamente em Timor Ocidental em troca da soberania de Portugal sobre Solor e flores.
    Na prática, eram os dominicanos que governavam a ilha. Só em 1701 é formalmente criado o cargo de governador de Timor. As autoridades tradicionais são integradas na hierarquia militar portuguesa, atribuindo aos liurais a patente de coronel, aos chefes de suco a de major e aos chefes de aldeia a de capitão.
    No decorrer do século XVIII os holandeses vão empurrando os portugueses para a zona oriental e são obrigados a deslocar a capital de Lifau para Dili, zona da família dos Belos. Em 1702 chegou de Portugal o primeiro governador, e deu-se início à organização colonial do território. No século XIX Timor fica em estado de total abandonado, por falta de missionários e por constante acossamento da Holanda. Em 1859 Portugal entrega Solor e Flores e marcam-se os limites de Timor entre os dois países.
    Em 1912 acontece a mais célebre rebelião no interior da Ilha contra Portugal através do liurai Boaventura Munafahi.
    Só em 1914, a Sentença Arbitral assinada entre Portugal e os Países Baixos terminou com os conflitos entre os dois países, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha, tendo como base as duas grandes famílias, Bakenos (a oeste) e Belos (a leste).
    Em 1930 Salazar transforma Timor num local de degredo destinado os opositores do regime.
    Entretanto as forças japonesas entraram em Timor-Leste em Fevereiro de 1942 para expulsar as forças australianas que tinham ocupado o território em Dezembro de 1941. Os Aliados (australianos e holandeses) enfrentaram as forças japonesas, a fim de evitar que, a partir de Timor, pudessem passar à Austrália. Muitos timorenses deram a vida lutando ao lado dos Aliados, entre os quais se destacou um célebre régulo Dom Aleixo.
    Em 1945, a Administração Portuguesa foi restaurada em Timor. Seguiu-se um período de quase três décadas em que não se manifestaram movimentos rebeldes ou independentistas.
    As guerras (anos 1960) nas colónias africanas não encontraram eco na longínqua Timor. A razão para a ausência de sentimentos independentistas poderá residir no facto de o domínio português ter funcionado, ao longo de séculos, como defensor da identidade étnica, cultural e política da região face aos vários expansionismos em acção na Insulíndia; além disso, a presença portuguesa não assumiu um carácter de excessiva exploração económica, visto que a precária economia timorense era dominada por uma pequena burguesia de origem chinesa.
    Conhecido no passado como “Timor Português”, foi colónia portuguesa até 1975. A 28 de Novembro de 1975, depois de uma curta guerra civil, foi proclamada a independência da República Democrática de Timor-Leste. Imediatamente a 7 de Dezembro foi invadida pela Indonésia. Oficialmente, as Nações Unidas continuaram a considerar o território como português até 1999. Foi, porém, anexado pela Indonésia e contado como a sua 27.ª província com o nome de “Timor Timur”.
    Durante 24 anos Timor mergulhou na violência fratricida e o último governador português, Mário Lemos Pires, sem orientações de Lisboa e sem forças militares suficientes abandonou a capital e refugiou-se na ilha de Ataúro. A Indonésia justificou a invasão alegando a defesa contra o comunismo, o que lhe garantiu apoio do governo dos EUA e da Austrália, entre outros, mas que não impediu a sua condenação pela Comunidade Internacional.
    À invasão indonésia seguiu-se uma das maiores tragédias do pós II Guerra Mundial. Calculam-se em duzentas mil as vítimas de combates e chacinas. A população rural, nas áreas da guerrilha, era concentrada em “aldeias” indonésias.
    Simultaneamente, tentou-se integrar Timor na Indonésia tanto no plano cultural (proibição do ensino do português e a islamização), como no plano demográfico (javanização) quer ainda no plano político (integração de Timor na Indonésia como sua 27ª província). Acrescenta-se ainda a exploração das riquezas naturais através de um acordo com a Austrália para explorar o petróleo no Mar de Timor.
    No terreno, a guerrilha não se rendeu, embora com escassos recursos materiais, humanos e financeiros e apesar de ter sofrido pesados desaires, como a deserção de dirigentes e a perda de outros, pela morte em combate de Nicolau Lobato ou por detenção de Xanana Gusmão. Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e isolados, conseguiu, ultimamente, alargar a sua luta ao meio urbano e manter no exterior uma permanente luta diplomática, através de Ramos Horta e, em muitas circunstâncias, com o apoio da Igreja Católica local, liderada por D. Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli.
    – Devido à tragédia do cemitério de Santa Cruz, à crise económica da Indonésia e à atribuição do Prémio Nobel a dois timor’oan, em 30 de Agosto de 1999, os timorenses, na sequência de um referendo promovido pelas Nações Unidas, votaram por esmagadora maioria pela independência, pondo fim a 24 anos de ocupação indonésia.
    Em 20 de Maio de 2002 a independência foi restaurada e as Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste.