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  • língua portuguesa em timor-leste XIMENES BELO

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    A Língua Portuguesa em Timor-Leste

    Por D. Carlos Ximenes Belo, SDB*

    O contacto dos Portugueses com os Timorenses data de 1512, quando depois da Conquista de Malaca os navegadores lusos sulcavam os mares da Insulíndia, em demanda de especiarias, cravo, noz moscada, canela e sândalo. Na altura, a língua do comércio naquelas paragens era Malaio. Porém ao longo do século XVI e XVII, a língua franca era o Português. O ensino da língua Portuguesa em Solar, Flores, Timor e Ilhas circunvizinhas, foi implementado, sobretudo, pelo missionários dominicanos. Pois nos finais do século XVI fundaram um seminário menor em Solor para ensinar os meninos da Ilha a ler, contar. Nos princípios do século XVI, com a perda de Solar para os Holandeses, abriram outro seminário em Larantuca. Na Ilha de Timor, onde a presença dos dominicanos se fez sentir com maior intensidade, abriram-se escolas rudimentares nos reinos, junto das capelas e igrejas, que não eram senão barracões coberto com colmos de palmeiras ou coqueiros ou de capim. Na segunda metade do século XVIII, fundou-se o primeiro seminário em Oe-cusse, durante o governo do Bispo do Bispo Frei António de Castro (1738-42). Em 1747, abria-se um segundo seminário em Manatuto. Não dispomos de relatórios dos Frades, sobre o funcionamento, o programa de estudos, nem o número de alunos, e muito menos de sacerdotes formados, fruto daquelas duas instituições. Em 1769, por causa do cerco dos Topasses e da ameaça dos holandês, a Praça de Lifau foi incendiada, e mudou-se a capital para Dili. Presume-se que em Dili, os dominicanos residentes na Praça de Dili, tivessem fundados escolas. O certo é que em 1772, o comandante de um navio francês François Etienne Rosely depois de ter visitado Lifau, Dili e outras povoações costeiras, fazia este comentário: “Quase todos os chefes falam Português e nos reinos vizinhos dos Portugueses é a língua geral (…). Conheci alguns muito sensatos, espirituais, engenhosos, sinceros e de boa fé, entre os quais um, muito versado na História da Europa”.Ao longo do século IX, verificou-se a diminuição de missionários dominicanos. E isso teve consequência na acção missionária e naturalmente do ensino do Português. Entre os anos 1830 a1856, o primeiro padre Timorense, Frei Gregorio Maria Barreto dirigia uma escola rudimentar nos reinos de Oe-Cuuse, Ambeno e Dili. Em 1863, o governador Afonso de Castro fundou ma escola régia em Dilui, destinada aos filhos dos Chefes e de outros principais. A direcção dessa escola foi entregue ao segundo padre Timorese, Jacob dos Reis e Cunha. O grande desenvolvimento das escolas das missões deu-se em 1878, quando o padre António Joaquim de Medeiros, mais tarde Bispo de Macau, estabeleceu o programa da educação da juventude timorense com a abertura de escolas rurais em Manatuto, Lacló, Lacluta, Samoro, Oe-Cusse, Maubara, Baucau, etc. A instrução, a certa altura era tão absorvente que os padres, dedicavam-se mais às escolas do eu à missionação. Essa situação mudou tempestivamente com o governo do Bispo Dom José da Costa Nunes. Em 1924, fundou-se a escola de Preparação de Professores-catequistas. Os timorenses que tinham sido aprovados nessa escola, e depois de serem nomeados professores, foram colocados em diversas estações missionárias, tornado-se agentes principais do ensino da Língua Portuguesa nas aldeias e no sucos. Em 1935, o Governo da Colónia de Timor decidiu entregar o “ensino primário, agrícola, profissional às Missões Católicas, sob a superintendência do Governo da Colónia” (Portaria Oficial, n.º 14). Em 1936, fundou-se o Seminário Menor em Soibada, pelo padre Superior daquela Missão, Jaime Garcia Goulart. E em 1938, funda-se o primeiro liceu. Pode-se afirmar que em 1940, 4 % dos Timorenses falavam o Português, isto é os funcionários, os professores e os catequistas, os “liurais” e chefes, aqueles que tinha tirado a 3 ª e a 4ª classe em Dili e no Colégio de Soibada.

    Até á invasão das tropas estrangeiras, Australianos e Holandeses num primeiro momento, e depois, os Japoneses, o ensino ficou paralisado. Depois do Armistício de 1945, e da retomada da soberania em Timor, retomou-se o ensino, reabrindo-se colégios e escolas. Em 1960, com o major da Engenharia Themudo Barata, como Governador da Província, assiste-se a um surto de escolas municipais. E em 1963, o Exército começa a dedicar-se ao ensino, nas escolas dos sucos., escolas essas situadas nos lugares de mais difícil acesso. Até 1970, havia no Timor Português um Liceu (de Dili), um Seminário Menor, onde se ministrava o ensino secundário. Uma Escola de Enfermagem, Uma Escola de Professores do Posto, Uma Escola Técnica, em Dili, e em Fatumaca, uma Escola Elementar de Agricultura. Nesse havia em Timor 311 escolas primárias, com 637 professores e 34.000 alunos. Até 1975, data da invasão da Indonésia do território de Timor, apenas 20% dos Timorenses falavam correcta e correntemente o Português. Como se explica esta situação? Vários factores: a distância (20 mil quilómetros da Metrópole); reduzido orçamento destinado ao ensino e instrução; reduzido número de professores; a falta de interesse da maioria de famílias (agricultores); só dois semanários ( A Voz de Timor e a Província de Timor), um quinzenário, a Seara (propriedade da Diocese de Dili); apenas 2 emissoras. Tudo isso pouco contribuiu para a difusão da Língua. A existência de 21 línguas ou dialectos, o que permitias aos falantes, usarem o Português, só no âmbito da escola ou nos actos oficiais.

    O Período da Ocupação indonésia (1976-1999). O ensino da Língua portuguesa foi banida e proibida em todo o Território, excepção feita ao Externato de São José. A Diocese de Dilui, contudo, publicava os seus documentos (quer da Câmara Eclesiástica ou do paço episcopal) em Português. A guerrilha comunicava-se em Português. Nalgumas repartições do Estado, poucos timorenses, informalmente comunicam-se em Português. Houve casos em que um outro jovem foi esbofeteado por saudar o missionário com um “Bom-dia, senhor padre!”.

    Hoje, embora o Português seja considerado a Língua oficial de Timor, a par do Tetum, (art. 13 da Constituição de RDTL), a sua implementação depara-se com grandes obstáculos. Há sectores da sociedade timorense que são contra o uso da Língua Portuguesa; as línguas nacionais(21) e línguas estrangeiras (O Bahasa e Indonesia e o Inglês) são fortes concorrentes do Português. O timorense, às vezes, recorre-se ao uso do idioma mais fácil para a comunicação (Tetum, Bahasa, Inglês). Existência de insuficiente número de professores, de livros, de jornais e de rádios e da televisão. Ainda não está generalizado o costume de leitura entre os já “alfabetizados”, sobretudo, leitura de livros, especialmente os da Literatura.

    Desafios: continuar a apostar no ensino e na prática da Língua Portuguesa. Para isso, exige-se maior empenhamento dos governantes; na maior distribuição de livros e de outro material, maior implantação da rádio e da televisão nos Distritos e Su-distritos. Daqui, a necessidade cooperação de todos os Países da CPLP.

    Num mundo globalizado, o actual panorama da existência de 4 Línguas em Timor (Tetum, Português, Inglês e Bahasa Indonésia), é enriquecedor e vantajoso. Pois cada Língua é uma janela aberta para o Mundo. Por outro lado está o orgulho da preservação da própria identidade nacional. E aqui vale a mensagem do Poeta: “A minha Pátria é a minha língua” (Fernando Pessoa).

    *Dom Carlos Filipe Ximenes BeloAntigo Bispo de Dili e Premio Nobel da Paz de 1996.

  • O galego, a orquídea da língua portuguesa

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    Diego Bernal

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    O galego, a orquídea da língua portuguesa

    Diego BernalPublicado em Domingo, 10 Junho 2012 17:05
    “Eu sou filho dumha Pátria desconhecida”, deste jeito exprime Castelao, no segundo livro de Sempre em Galiza, a orfandade que magoa galegos e galegas quando, no estrangeiro, nos perguntam pola nossa origem.

    Pessoa, num formoso verso, grudou pátria e língua poetizando como ninguém o amor que muitos habitantes da Galiza sentimos polo idioma de Camões e Rosália de Castro, “a minha pátria é a língua portuguesa”.
    E, com certeza, o poeta luso deu no alvo porque quando mais abalados ficamos os galegos e galegas é ao comprovarmos que os nossos parceiros de idioma ignoram a unidade lingüística galego-portuguesa.
    Numha recente entrevista, o comunista Miguel Urbano Rodrigues lembrava como José Velo Mosqueira, celanovês participante da afouta tomada por antifascistas luso-galaicos do navio Santa Maria, ficou comovido no Brasil ao ver todo escrito em língua galega.
    Essa maravilhosa sensaçom que tantos de nós temos experimentado ao chegar a Portugal ou ao Brasil logo some ao reparar que o que é evidência para nós nom o é para portugueses e brasileiros.
    Mas se galego e português som a mesma língua, por que o povo brasileiro e português nom reconhece as falas galegas como parte do seu idioma?
    Para entendermos isto é preciso vasculhar outras realidades lingüísticas.
    Numha aula de língua galega que dei na Universidade de São Paulo, mostrando a diversidade linguística peninsular, fiquei espantado ao ver que alguns alunos identificavam a língua basca e catalá com a castelhana.
    De outro lado, quem ouvir falar cidadaos de Baiona ou Perpinhá nestes idiomas perceberá como quem nom tiver nengumha noçom de francês os associará com a língua francesa.
    No Brasil é comum que falantes de brasileiro identifiquem o galego com espanhol e, ao mesmo tempo, falantes de espanhol o confundam com português.
    No entanto, ainda que menos habitual, isto pode acontecer mesmo com outras variedades do nosso idioma.
    O professor da Universidade Federal Fluminense, o corunhês Xoán Carlos Lagares, contou-me como uma pesquisadora lisboeta no Brasil, ao requerer o acesso a um arquivo militar, nom foi identificada polo praça como falante de português e o soldado perguntou ao seu superior se umha mulher que devia ser estrangeira porque falava um português “errado” podia consultar o acervo.
    A que se devem estas confusons?
    As línguas som um conjunto de falas coesionadas por um padrom impulsionado por umha elite. Toda língua padrom é umha construçom artificial que responde aos interesses de umha classe social.
    O português padrom, como o espanhol ou o de qualquer língua, é um “invento” construído ao longo da história.
    Na escrita, portugueses e brasileiros identificam sem hesitaçom o seu idioma como um só. Porém, na oralidade, ao existirem milhares de falares diferentes, nom sempre um falante identifica todos eles com o seu idioma.
    Isto acontece porque os meios de comunicaçom silenciam muitas das variedades e empobrecem a língua portuguesa reduzindo as suas possibilidades de pronúncia.
    A múltipla diversidade dá lugar, aliás, à inevitável tensom, maior ou menor, que todas as línguas tenhem entre fala e escrita.
    No Brasil as falas cariocas e paulistanas e em Portugal as lisboetas chegam a todos os lares através da televisom, a rádio e a internet.
    Porém, quantas vezes umha mineira ouve umha portuguesa de Chaves, umha galega de Burela ou umha indiana de Goa?
    Mas as falas galegas, para além de estarem isoladas do resto da lusofonia padecem umha forte pressom do espanhol.
    A delicada situaçom que atravessa o português da Galiza deve-se a que desde o século XV sofre um processo de marginalizaçom que derivou no conflito lingüístico atual em que o castelhano está a se impor ao norte do Minho.
    O galego, entendido como as falas lusófonas faladas na Galiza, é umha variedade da língua portuguesa que como toda língua num contexto de conflito lingüístico sobrevive sob a coaçom da língua teito. A língua galega é, portanto, de um ponto de vista estritamente lingüístico, umha variedade de português enfraquecida polo espanhol.
    É a vontade coletiva demonstrada na história polo povo galego de revitalizar o idioma o que fai que as falas galegas nom sejam umha variedade de “fronteira”, um portunhol ou um castrapo. Eis a recuperaçom de léxico histórico (Deus, povo, século), de sufixos (-vel) ou a luita que desde o primeiro terço do século XX trava o nosso povo pola recuperaçom de usos da língua autóctone em contextos de que tinha sido banida polo espanhol.
    A estabilidade das formas lusitana e brasileira do idioma galego contrasta com a descaracterizaçom da variedade galega. Esta deturpaçom também afeta, como é lógico, à prosódia da língua.
    O desconhecimento das variedades do português e a situaçom de conflito lingüístico em que se acham as falas galegas é o que explica disparatadas atitudes como quando os portugueses tentam falar castelhano a galego-falantes. Atitudes que, pedagogicamente, devemos tentar corrigir reivindicando o reconhecimento da nossa peculiar forma de falar como parte da língua portuguesa.
    Identificar o galego com o português é vital para reverter a perda de falantes. As falas galegas, como as orquídeas, precisam dessa rija árvore -a língua portuguesa- para florescer e continuar a enfeitar a viçosa fraga da diversidade lingüística planetária, para alegrar e enriquecer, com as cores do seu sotaque, a língua de Portugal e do Brasil que, nunca o esqueçamos, foi falada antes na Corunha do que em Lisboa e Brasília.
  • diving in East Timor o meu primeiro paraíso ()

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    http://www.youtube.com/watch?v=Tu2OKCw3AY8&feature=youtu.be

     

    Um dos Paraisos de Timor Leste….

    Diving in East Timor (Timor Leste)

    www.youtube.com

    One of the world’s most spectacular and undiscovered diving destinations, Timor Leste boasts pristine coral reefs and an abundance of
  • Pedra de Santana, o monumento megalítico brasileiro

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    in diálogos lusófonos

    carnac

    Patrimônio Lusófono

    Pedra de Santana, o monumento megalítico brasileiro

    5/06/2011 02:23:00 PM Ufo arqueologia e Mistérios

    pedra-de-santana-1
    Monumentos de pedras, erguidas há muitos milhares de anos, são encontrados aos montes na Europa, sendo Stonehenge o mais conhecido de todos, embora não o mais comum. Menires e Dolmens são encontrados também na França, Portugal e Itália. Curiosamente, o Brasil também possui um raro dólmen, localizado na Bahia, conhecido como Pedra de Santana.

    Os Megálitos (do grego mega, megalos = grande, e lithos = pedra) são monumentos erigidos por sociedades neolíticas europeias, produzidos entre o V e o III milênios A.E.C. São geralmente de cunho ritualístico, funerário ou astronômico, cuja tecnologia para construção muitas vezes é desconhecida e gera controvérsias entre especialistas.

    carnac Monumento Megalítico de Carnac, França

    O Brasil também possui um inusitado monumento megalítico, talvez o único de toda a América do Sul, localizado no povoado de Santana, no município de Paramirim, interior da Bahia. Trata-se de um dólmen (nome derivado do bretão dol = mesa; e men = pedra) constituído por uma câmara formada por uma grande laje pousada sobre pedras verticais que a sustentam, provavelmente de cunho ritualístico. Não se sabe exatamente quem o construiu, usando que tipo de técnica. Provavelmente tenham lançado mão do uso de alavancas para suspender o enorme bloco enquanto encaixavam as pedras menores de sustentação, o que seria um feito colossal para a época, devido ao enorme peso do monumento.

    pedra-de-santana-1
    pedra-de-santana-2
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    Este é um dos mais curiosos sítios arqueológicos brasileiros. Um monumento ritualístico de pedras totalmente singular, já que não existe nenhum outro dólmen no continente, somente na distante Europa. Não fazia parte da tradição de nossos indígenas erigir monumentos deste tipo, o que torna a construção ainda mais enigmática.

    http://ramanavimana.blogspot.pt/2011/05/pedra-de-santana-o-monumento-megalitico.html

  • novo livro sobre Timor-Leste AS GUERRAS TRIBAIS, A HISTÓRIA REPETE-SE (1894-2006)

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    acabo de disponibilizar gratuitamente em linha o 3º volume para a história de Timor
    TIMOR LESTE VOL. 3, AS GUERRAS TRIBAIS, A HISTÓRIA REPETE-SE (1894-2006) QUE CONSTAVA COMO CAPÍTULO DE OUTRO LIVRO CHRÓNICAÇORES: UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO
    BOA LEITURA

    http://www.scribd.com/doc/94984898/TIMOR-LESTE-VOL-3-AS-GUERRAS-TRIBAIS-A-HISTORIA-REPETE-SE-1894-2006

  • a história de timor TRILOGIA por chrys chrystello

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    volume um em inglês

    http://www.scribd.com/doc/94793340/East-Timor-1973-1975-the-Secret-Files em inglês

    volume um em português

    volume dois

  • a criação da ACAIT TIMOR LESTE

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    Património de influência portuguesa no mundo…
    Mil Movimento Internacional Lusófono 23 May 00:19
    Património de influência portuguesa no mundo
    Edifício da Associação Comercial Industrial e Agrícola de Timor (ACAIT)
    Díli, Díli, Timor

    A década de 1950 correspondeu ao início de um longo período de crescimento económico em toda a Europa, renascida das cinzas do pós‐Guerra, que teve reflexos em Portugal. A economia portuguesa internacionalizou-se, nos limites impostos pelo seu relativo atraso e pelas opções políticas condicionadoras da liberdade económica estabelecidas pelo regime, crescimento esse que se reflete, de forma mais ou menos sensível, nos territórios ultramarinos.
    Apesar da sua posição periférica e da pobreza da sua economia, baseada na exportação de produtos primários e caracterizada por baixos níveis de produtividade, Timor conheceu algum desenvolvimento neste período. Tal ficou também a dever‐se ao esforço de reconstrução levado a cabo pelo governo português, que empreendeu um plano de obras públicas de forma a dotar a província de infraestruturas básicas, destruídas na sequência da invasão japonesa.
    Entretanto, a política de desenvolvimento plas‐ mada nos Planos de Fomento, que definem as grandes linhas do investimento público e de facilitação do acesso ao crédito, foi propiciada pela instalação em Timor, já no início da década de 1960, de várias instituições financeiras, que criaram um ambiente propício à iniciativa empresarial.
    Foi, pois, neste contexto que foi criada a Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Timor (ACAIT), cujos estatutos seriam aprovados pela portaria 1869, de 3 de janeiro de 1953. Era uma associação de classe que reunia sócios individuais e coletivos que exercessem funções nos setores agro‐pecuário, industrial, comercial e financeiro e cuja ampla gama de objetivos incluía o fomento económico de Timor, a defesa dos interessses dos associados junto das autoridades, assistência jurídica, formação profissional ou a concessão de bolsas de estudo para os filhos dos associados. Entre os objetivos definidos pela ACAIT nos seus estatutos figura a construção de uma sede cuja primeira fase seria inaugurada em abril de 1964, na presença do governador, o tenente‐coronel José Alberty Correia.
    Todavia, o projeto do edifício teve origem num órgão do poder central, mais precisamente no Ministério do Ultramar e na Direção‐Geral de Obras Públicas e Comunicações, tendo sido executado pela Direção de Serviços de Urbanismo e Habitação e subscrito em 1960 pelo arquiteto António Sousa Mendes.
    Tal como aconteceu com a sede do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Díli, neste caso o Estado português assumiu a rutura com a estética que habitualmente seguia, adotando os preceitos arquitetónicos do modernismo – no fundo, ao modo do que acontecia com a encomenda dos organismos privados em Angola e em Moçambique, territórios com os melhores conjuntos de edifícios do modernismo. Com efeito, também assim davam curso a desígnios de protagonismo, ou seja, através da afirmação da diferença.
    Com o edifício da ACAIT e a sede do BNU em Díli o movimento moderno entra naquela antiga colónia portuguesa, introduzindo o tema da edificação total ou parcialmente solta do solo e assente sobre pilotis, da cobertura plana e das palas e grelhas de ensombramento que, abundantemente, caracterizam os planos das fachadas de maior incidência e exposição solar.
    Esta circunstância é tanto mais interessante, sob o ponto de vista da história da cidade de Díli e da própria situação colonial portuguesa, quanto o edifício está localizado à ilharga do Palácio das Repartições, que constitui, no plano simbólico, o facto arquitetónico e urbano mais representativo da presença e do poder da potência colonial. Aliás, o edifício dá continuidade ao plano da fachada do palácio numa extensão muito significativa, destacando‐se ainda por um ligeiro acréscimo de altura em relação à cércea do palácio e retirando todo o benefício da ocupação do gaveto para exprimir um valor arquitetónico mais volumétrico e espacial. Isso, enquanto o palácio se esgota na composição bidimensional de uma fachada clássica. Atualmente é ocupado pela Embaixada de Portugal.

    Edmundo Alves, Fernando Bagulho
    HPIP
    www.hpip.org

  • como vivi e escrevi sobre o 25 de abril (em Timor-Leste)

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    in ChrónicAçores volume um

    Por mais que o tentassem convencer que o 25 de Abril fora um erro, jamais esqueceria a Ditadura Nacional e os anos que se seguiram e preencheram a primeira parte da sua vida. Chegava já a admitir que a sociedade no tempo da ditadura era menos corrupta, a justiça funcionava melhor, e a educação (se bem que elitista) proporcionava muitos mais conhecimentos do que hoje em dia. Mas a falta de liberdade, a opressão política, a cegueira colonial e a falta de visão para o futuro, eram zonas negras dos anos de obscurantismo salazarista. A sua mãe bem se podia orgulhar de ter apertado a mão ao ditador (o seu pai costumava ironizar dizendo que ela andara dias sem a lavar) mas todos esses anos foram apenas de obscurantismo e repressão. Uma minoria de pessoas, que se julgavam importantes, bajulavam o velho ditador em troca dumas pequenas benesses e lugares de proeminência, enquanto a polícia política, silenciosa e matreiramente, se encarregava de punir todos os que queriam pensar pela sua própria cabeça. Cuidando do país como se de uma mercearia se tratasse e escorreitas as contas, o ditador começara a amealhar uma valiosa fortuna para o país, para a geração pós 25 de Abril perdulariamente esbanjar. Tal como o ditador fazia com ele mesmo, na sua espartana e sovina maneira de ser, incorrupto, acabaria por nunca investir nem gastar essa fortuna. Nem para melhorar o país, nem para uso pessoal (honra lhe seja feita) pois o país não precisava de progresso que esse só traz a devassidão e maus costumes. Era conhecido por “botas” por jamais usar outro calçado que não botas. De igual forma imaginava um país, vestindo uniforme e cinzento, como ele mesmo. Queria uma massa de seguidores fiéis que nunca o questionassem, e uma população ignorante para poder continuar a dirigi-la sem que ela se inquietasse com o rumo seguido, numa visão paternalista e autocrática. Um bom dono de mercearia mas sem ideias para o país, para além dos seus ideais sempre próximos do Eixo da 2ª Grande Guerra, por quem nunca escondeu a sua simpatia apesar de ter mantido Portugal “oficialmente” neutro na guerra (exceção feita à ocupação de Timor pelos japoneses e australianos). Emulava o seu vizinho da Espanha que vencera a guerra civil espanhola contra os comunistas e outros vermelhos, inimigos dos católicos e da pátria, mas jamais poria os pés fora do torrão continental do velho e decadente Império Colonial Português. Nunca se apercebera de que deveria ter melhorado a situação de pobreza extrema e de miséria da maioria da população.
    Lembra-se de ter escrito um artigo sardonicamente crítico das eleições para a famigerada Assembleia Nacional. A sua sátira mordaz fora entendida pelos apaniguados do regime (como o secretário do governador, José Joaquim Espiga Tomás Gomes) como sendo exemplificativa do apoio que as novas gerações davam ao velho regime. Só lamentava não ter recuperado esse número de A Voz de Timor e não ter guardado esse manuscrito. Logo a seguir dá-se o abortado Golpe das Caldas (da Rainha) a 16 de Março e logo a seguir o 25 de Abril que só chegaria a Timor a 18 de Novembro desse ano. A onze de Março, e sem qualquer pré-aviso, o Governador Alves Aldeia deixa o território rumo a Portugal para “expor os problemas de maior impacto [ao Governo de Lisboa] na promoção socioeconómica do povo timorense, considerada prioritária em relação a todos os demais.”
    A dezasseis de Março, na pequena vila das Caldas da Rainha em Portugal, um grupo de oficiais do exército tenta, sem sucesso, arrebatar o poder ao Dr. Marcello Caetano, então Primeiro-ministro, que sucedera a Salazar, como perpetuador da ditadura, sob um manto de pseudo-abertura política designada como “primavera política”. Sobre o abortado ‘Golpe das Caldas‘ nada transpira em Timor até mais tarde. Em 26 de Março, o governo australiano apresenta um protesto formal ao governo português pela concessão por Lisboa dos direitos de prospeção de petróleo à companhia norte americana “Oceanic.” A área em contencioso tinha cerca de 23 mil milhas quadradas (59,565 km²) e, de acordo com a reivindicação australiana, continha partes já sob a concessão dada à companhia australiana Woodside-Burmah Oil. Para além disso, de acordo com a Nota Oficial de Protesto, do governo de Camberra, outras áreas da zona de concessão da Oceanic faziam parte de uma área que estava a ser negociada entre a Indonésia e a Austrália para perfurações de prospeção. De facto, um terço da área concedida à Oceanic era um enclave entre plataformas offshore já projetadas, e cedidas por concessão à australiana Woodside-Burmah. Entretanto, em Camberra, o embaixador português, Dr. Mello Gouveia apresentava ao Governo Australiano uma Nota Oficial [de Protesto] onde o Governo declarava “não poder reconhecer a reclamação australiana, por não haver legislação suplementar entre os dois países, ambos signatários do Tratado de 1954 (Convenção Internacional sobre Fronteiras Marítimas).” Gough Whitlam, primeiro-ministro australiano reagiu energicamente a esta Nota, numa Conferência de Imprensa, em que afirmava, que: “O Governo Australiano tem o direito de defender os recursos naturais do país que estão a ser postos em questão no Mar de Timor.”
    Esta confrontação sobre o dossier petróleo vai, em breve, passar a segundo lugar face às gravíssimas crises constitucionais em ambos os países. Uma controvérsia sobre educação abalava por esses dias Timor, com o Dr. Félix Silva Correia, (então representante da ANP em Timor e Chefe da Repartição dos Serviços Provinciais de Educação), reagindo iradamente contra observações críticas às estruturas da educação e alegados aumentos de alfabetização. O jornal local “A Voz de Timor” publicara, em 19 de Março, um suplemento especial dedicado à educação e, nele incluía uma entrevista auto elegíaca do Dr. Félix Correia. Os editoriais denunciam as falsas estatísticas e apresentam propostas para melhorar o nível de ensino e de alfabetização. Em vez de aceitar os dados estatísticos oficiais de 80% de alfabetização JC avançava com o mesmo número mas representando o analfabetismo. De imediato, a máquina política manipulada pelo Dr. Correia inicia um coro de protestos de apoio à educação, na sua maioria assinados em cartas à Redação pelos mais representativos líderes locais e funcionários públicos. JC é sujeito a um inquérito oficial liderado pelo Governador interino. Alguns professores, irritados pelas acusações, que consideram difamatórias, exigem uma reparação.
    Timor vive os últimos dias do decrépito Estado Novo e nem sequer se dá conta disso. No mesmo número, publicava-se um artigo ‘Educação e Autonomia’, já com algumas décadas, do autor português proscrito, António Sérgio. Recorde-se que este autor era tabu (antes do 25 de Abril), mas o artigo não motivou comentários, se bem que devesse ter sido banido de publicação. Incoerência dos censores ou mera e flagrante ignorância?
    Curiosamente (ou talvez não), Ramos Horta escreve editoriais a apoiar Félix Correia. Como Editor-Chefe do jornal e autor de “Educação – Um Suplemento Especial” JC é suspenso. Sendo oficial miliciano está sujeito aos regulamentos e normas militares, devendo enfrentar a justiça militar pelo seu crime. A repressão das hierarquias militares suscita uma greve simbólica (de braços caídos) dos Serviços da Imprensa Nacional, liderados por Cristóvão Santos, onde o jornal era impresso. O Governador interino impõe profundos controlos no jornal depois daquele danoso desaire. O autor, silenciado com a mordaça do RDM (Regulamento de Disciplina Militar) fica impedido de se expressar publicamente ou de apresentar defesa. Esta controvérsia arrasta-se até Abril 1974.
    Entretanto, como Chefe Interino do Batalhão de Serviços de Intendência, responsável por víveres e combustíveis em todas as unidades militares do território, JC consegue aprovar um novo sistema de utilização de gasolina. Pela primeira vez, os soldados e os cabos (os mais desfavorecidos economicamente) passam a ter direito a obter artigos de consumo para uso pessoal, tal como já acontecia com as elites hierarquicamente superiores. Crê-se que o Comandante Militar Interino, Tenente-coronel Mário Dente, assinara o despacho para o novo sistema, sem lobrigar a sua perigosa latitude. Nesse mesmo dia, 5 de Abril, como resultado da ação do novo sistema, outra controvérsia surgia: as autoridades civis exigem que o governo intervenha e cancele o sistema. Convém referir que os civis estavam sujeitos a restritas medidas de racionamento de gasolina desde Dezembro 1973. Os militares tinham estoques à sua disposição para um consumo máximo até dezoito meses, fruto da gestão cuidada dos Serviços de Intendência. A situação entre civis e militares é tensa. As chefias militares temerosas. Evitam agir em vésperas da chegada do Governador e Comandante em Chefe. O próprio Governador, Coronel Aldeia, nomeara JC para tomar conta do jornal, pouco depois de o trazer de Bobonaro para Dili.
    Ainda na célebre edição de 19 de Março, JC publicara uma colagem com alusões à falhada rebelião das Caldas da Rainha. Incluíra-se também uma menção ao controverso livro “Portugal e o Futuro” pelo, então General Spínola (em breve, novo Presidente de Portugal), e o apoio que tal livro recebera nas Nações Unidas.
    Outros editoriais naquele número histórico abordavam os problemas que poderiam ter provocado o Golpe das Caldas, seus precedentes e possíveis implicações futuras. Nada disto fora censurado. O sucesso foi tal que obrigou, pela primeira vez na história do jornal, a que se fizesse uma re-edição…Enquanto isto acontecia, reorganizara o jornal e passara-o a diário, lentamente aumentara a tiragem e o tamanho da edição especial de sábado. Começara com 8, passara a 12, 16 e finalmente 24 páginas, com a ajuda do Chefe da Imprensa Nacional, Cristóvão Santos e com o (futuramente celebrado prémio Nobel da Paz) José Ramos-Horta a trabalhar como seu secretário no jornal. Era uma tarefa difícil num sítio onde não chegavam notícias, a não ser por onda curta, as revistas e jornais da metrópole eram velhas quando chegavam…Fizera colagens bem interessantes, retiradas de várias revistas para ilustrar as principais notícias, dado que tinham grandes dificuldades técnicas em imprimir imagens, e as que podiam eram pequenas. O equipamento era bem antigo. A composição era manual e morosa pois não havia grande variedade de tipos de letra.
    O Governador Aldeia retorna a Timor a 19 de Abril. Logo após a sua chegada ao aeroporto profere o seu mais virulento discurso, para espanto dos locais.
    Negando qualquer representatividade ao denominado “Movimento dos Capitães,” Aldeia salienta que “o abortado Movimento das Caldas foi severamente reprimido, e não encontrou qualquer eco ou apoio em todas as camadas, inclusive as militares.” Classificando de ‘traidores‘ os capitães envolvidos, Aldeia, neste discurso, diz ainda da alegria que sentia (em nome dos timorenses), ao ver satisfeitas todas as propostas apresentadas ao Governo Central, abrindo caminho a uma nova era de prosperidade para Timor: “Falando em nome de todos os Timorenses, tenho o prazer e a alegria de vos dizer que o Governo de Lisboa está satisfeito por poder ajudar o fiel povo de Timor, que durante tantos séculos tem sido tão fortemente Português.” Este discurso, o mais político de todos os que Aldeia fez marcou uma viragem do seu estilo habitual, de sobriedade política. Houve quem especulasse que estaria a aproveitar-se dos últimos acontecimentos durante a sua estadia em Portugal. Pouco tempo demoraria a que Aldeia e o seu discurso fossem votados ao esquecimento total, lá no cemitério da política donde raramente se regressa.
    De facto, o seu melhor discurso marcou o princípio e o fim das suas aspirações políticas.
    Em 27 de Abril, por sua ordem direta, executada pelo seu Secretário pessoal, Dr. J. J. Thomás Gomes, a composição deste seu discurso era retirada da Imprensa Nacional e a gravação do mesmo era retirada da estação local de radiodifusão ERT (Emissora de Radiodifusão de Timor.) O discurso quer no seu registo magnético, quer na sua transcrição escrita são, deveras, comprometedores, em termos do 25 de Abril em Portugal. Assim começou o que alguns denominaram, como “Aldeiagate.”
    Embora Timor não dispusesse de telex, desde o ano anterior dispunha já de contactos radiotelefónicos com o mundo exterior. Assim, quando a Revolução dos Cravos aconteceu em 25 de Abril houve quem recebesse a notícia via telefone. Depois disso, era só uma questão de perder algum tempo agarrado aos rádios de ondas curtas…Era hora de jantar e JC estava de Oficial (Ajudante) de Dia no Quartel-general. O idoso Oficial de Dia já estava há muito a olhar para o seu umbigo, depois da sua rodada habitual de vinho “Periquita” ou outro qualquer. O operador da Telecom local, a Rádio Marconi, ligou a dizer a JC que ia ter uma chamada telefónica uma hora depois. Chamou o condutor de serviço, mandou-o ligar o Jeep e passados quinze minutos estava em Díli, ansiosamente esperando ‘a chamada’. Pressentia tratar-se de algo muito importante. Anteriormente, acordara com a família que só haveria telefonemas em caso de emergência. Há muito que confirmara que toda a sua correspondência era sujeita a censura prévia e as suas chamadas telefónicas gravadas. Sem perder tempo, pede ao condutor para passar por casa nos apartamentos da SOTA, no Largo de Lecidere, onde comunica aos colegas de habitação (o cirurgião Prata Dias e o engenheiro Proença de Oliveira, subchefe da Repartição dos Serviços de Agricultura) o que ouvira. Era a REVOLUÇÃO. Pede-lhes o máximo sigilo, liga o rádio em ondas curtas e regressa ao Q.G. (Quartel-General) onde anota no relatório que nada havia a assinalar da ‘ronda’ pela cidade. Durante o resto da noite, escuta avidamente os noticiários da BBC, Rádio Austrália e toda uma série de emissoras (até ouvira a Rádio Paquistão, pela primeira vez). Na manhã seguinte, o camarada Freitas, que ia render o autor, pergunta se havia novidades de Portugal. Sem confiar em ninguém, depois do que se passara com a controvérsia no jornal no mês anterior, responde-lhe: “Nada, que esperavas?”
    Os dias que se seguem são caóticos, com toda a espécie de rumores a circular e um generalizado sentimento de incredulidade pelos acontecimentos. Quando as novas de que o governador tinha mandado apreender a gravação e a versão impressa do seu discurso, a maior parte das pessoas convenceu-se de que a ‘Revolução dos Cravos’ não era já fruto da imaginação. Os dias passam, e o oportunismo camaleónico é avassalador. Do dia para a noite todos são revolucionários. A necessária e esperada demissão do Governador Alves Aldeia começa a demorar mais do que as pessoas haviam esperado. Torna-se necessário que ele entregue a sua carta de demissão depois do já famoso discurso em que, de forma obstinada, se opunha àquilo que era já o novo regime político.
    Começam a tomar vulto os rumores de que o capitão tenente Leiria Pinto, Comandante da Defesa Naval, é o nomeado pela Junta para agir localmente. Estes boatos confundem muita gente, pois Leiria Pinto era considerado como tendo ideias de direita extremamente conservadoras. Ao mesmo tempo, há quem afirme que o Chefe de Estado-maior, Major Arnao Metello, um sombrio oficial de carreira, do exército, vindo de boas famílias, é o homem de confiança da Junta de Salvação Nacional. O major Metello é um oficial conservador conhecido pela sua falta de decisão e pela falta de garra em tudo o que se reportava à ação colonial de Portugal. A oposição à continuação do coronel Aldeia no poder cresce de dia para dia. Ameaça tornar-se numa bola de neve, com os militares definitivamente divididos entre os progressistas – na sua maioria oficiais milicianos, furriéis e sargentos – e a velha guarda dos oficiais de carreira.
    Entretanto em Portugal, os soldados usam os cravos encarnados nos canos das suas espingardas. O povo anda excitado com a liberdade acabada de aprender. Sobem os barómetros da esperança depois de 48 anos de obscurantismo. A situação começa a clarificar-se em Maio, embora nem todos os decretos aprovados em Lisboa se tornem extensivos a Díli. Quase nem um tiro fora disparado em Portugal. O regime caiu porque estava tão podre que estava incapacitado de suster qualquer ataque frontal. A celebrada vitória vem estampada em todos os jornais e revistas que chegam a Timor, mas de uma certa forma, parece estar a anos-luz de Timor.

    Depois do 25 de Abril (data da Revolução dos Cravos em Portugal) JC começara a publicar artigos que o Comando Militar e, em especial o CEM (Chefe do Estado-Maior Arnao Metello) queriam evitar. Começara a ser chamado todas as manhãs ao CEM que simpaticamente mandava o seu motorista no velho Volkswagen do Estado-Maior buscá-lo a casa. Nessa rotina lá tinha de explicar porque publicara artigos censurados e considerados material proibido. Esta rotina prolongou-se por bastante tempo e trouxe consequências ao seu serviço militar. Uma verdadeira caça ou o jogo do gato e do rato. Em Julho desse ano morreu o seu avô materno por quem nutria um amor muito especial e de forma profunda por essa pessoa doce, carinhosa e com um enorme coração. Só saberia dessa morte em Setembro

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    J. CHRYS CHRYSTELLO, 
    
  • >25 de abril precisa-se (opinião a título pessoal)

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    25 de abril precisa-se (opinião a título pessoal)

     

    Viva o 24 de abril que este sim deveria ser feriado, ainda não se lê nos jornais todos, mas ouve-se nas esquinas das ruas e nas mesas do café. Depois da censura económica, da autocensura e de todas as formas dissimuladas de censura, vão-se fazendo inquéritos, elege-se Salazar como a personalidade do século passado, mandam-se emigrar os jovens, promove-se o cinzentismo salazarista e tentam calar-se as vozes diferentes. Mais ano menos ano acaba-se com o feriado de 25 de abril que nada tem a ver já com o clima que se vive.
    A revolução continua por fazer, a liberdade de expressão corre sérios riscos, agora que as outras liberdades se foram por causa da crise, o respeito pela diferença esbateu-se mais ainda, vamos tornar as massas ainda mais acinzentadas, uniformes e carneirenta por entre saudosismos (dantes era o sebastianismo, agora será o salazarismo salazarento. Por entre uma telenovela, Fátima e futebol o povo nem dá conta de como o levam para novo redil.
    Há 38 anos deram a liberdade a Portugal e hoje no-la tiram. Eu continuarei (quase sozinho) um homem do 25 de abril até que me calem mas somos já muito poucos e menos ainda podem usar a voz. Hoje ainda me deixam escrever isto mas por quanto tempo mais?
    Há seis anos publiquei no ChrónicAçores umas linhas em que prevenia e previa este status quo:
    Sem questionar o feminismo ou outros ismos: antisionismo, antialentejanismo, antilourismo (das loiras) todas as piadas são objecionáveis por se basearem em estereótipos da sociedade, sejam eles humanos, animais ou até mesmo políticos, que não são uma nem outra coisa. Assim, depois de todas as pessoas defensoras desses “ismos” terem colocado as suas objeções porque são a favor do Obama ou do Bush, ou do Sócrates, porque se baseiam em estereótipos de mulher, de louras e louros, de alentejanos, de políticos e políticas (mas destas ainda há poucas), de judeus (e outras religiões como o cristianismo ou islamismo por ex.), de nacionalidades ou continentes de origem como com os africanos, os pobres, os ricos, os estudantes e os professores, os animais (mesmo aqueles que estão nas malas dos carros junto com a esposa ou esposo), verão o que fica: NADA. Acaba-se o humor.
    Ao reproduzir, a seguir, Maiakovski e Brecht, pretendo alertar que me sinto muito mais incomodado com a violência, gratuita ou não, com as imagens cheias de “innuendo” (insinuações) da TV, desde os telejornais às séries, pois essas são as armas de estupidificação globalizante que a todos corroem.
    O humor, usa a linguagem dos estereótipos que hão de ser substituídos com o tempo assim como a frase bota-de-elástico foi substituída por “cota”. Desde a década de 1980 vira surgir a censura dissimulada em fundamentos razoáveis e aceitáveis, pretendendo sanitizar as mentes. Já o vira na Austrália quando o politicamente correto foi introduzido na linguagem em meados daquela década. Como tradutor profissional tivera de o seguir mas como ser humano, inteligente (no sentido de pensante) recusava-o tanto hoje como ontem. Com o politicamente correto acabava-se o humor. Esse o cerne da questão que ninguém queria ver. Deve lutar-se contra a discriminação, em todas as suas formas, contra o assédio sexual, político e outros, lute-se contras as proposta novas normas europeias, lute-se contra o salário mínimo de miséria e de exploração (reminiscente do início da Revolução Industrial), contra as quotas ou falta delas nos elencos femininos do governo, contra a falta de acesso a pessoas com deficiências de qualquer tipo. Lute-se contra isso tudo mas deixem o humor de lado, a menos que seja difamatório (mas sem ser pelas normas norte-americanas), grosseiro, imoral, amoral. Quando se definira politicamente incorreto, é porque o politicamente correto é a forma mais fascista de sanitizar a língua, o pensamento e a vida em geral, criando uma sociedade assética e inócua. Todos iguais e cinzentos de acordo com a norma. Ninguém precisa de pensar nisto pois o futuro provará a sua veracidade melhor do que o Orwell alguma vez podia prever no 1984 ou outros ensaios semelhantes: a realidade já ultrapassou a ficção há muito.
    Quem primeiro o antecipou foi Maiakovski – poeta russo “suicidado” após a revolução de Lenine que escreveu ainda no início do século XX:
    Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
    Como não sou judeu, não me incomodei.
    No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
    Como não sou comunista, não me incomodei .
    No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
    Como não sou católico, não me incomodei.
    No quarto dia, vieram e me levaram;
    já não havia mais ninguém para reclamar…”
    Martin Niemöller, 1933 , símbolo da resistência aos nazistas.
    Parodiando o pastor protestante Martin Niemöller, símbolo da resistência nazi:
    “Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
    Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
    Depois fecharam ruas, onde não moro;
    Fecharam então o portão da favela, que não habito;
    Em seguida arrastaram até a morte uma criança,
    que não era meu filho…”
    Cláudio Humberto, 09 Fev. 2007
    Primeiro levaram os negros
    Mas não me importei com isso
    Eu não era negro
    Em seguida levaram alguns operários
    Mas não me importei com isso
    Eu também não era operário
    Depois prenderam os miseráveis
    Mas não me importei com isso
    Porque eu não sou miserável
    Depois agarraram uns desempregados
    Mas como tenho meu emprego
    Também não me importei
    Agora estão me levando
    Mas já é tarde.
    Como eu não me importei com ninguém
    Ninguém se importa comigo.
    É PRECISO AGIR
    Bertold Brecht (1898-1956)
    Um passeio com Maiakovski
    Na primeira noite
    eles se aproximam
    e colhem uma flor
    de nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite,
    já não se escondem :
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles,
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a lua, e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz
    da garganta.
    E porque não dissemos nada,
    já não podemos dizer nada.
    Tudo que os outros disseram fizeram-no depois de ler Maiakovski.
    Incrível é que após mais de cem anos dessa lição, ainda nos encontremos tão desamparados, inermes e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil! Agora, o politicamente correto ameaça o humor.
    ——-
    A crise fará o resto e aí – sim – estarei definitivamente calado se não morrer antes. Só tivemos 38 anos de liberdade comparados com 48 de ditadura obscurantista mas pouco temos a celebrar neste ano de 2012 em que nos querem fazer recuar aos anos 50 ou 60 do século passado, a História em marcha à ré. Este ano vou gritar que o 25 de abril devolveu um direito fundamental: o direito à livre expressão e esse é o último que ainda posso celebrar nesta data. Chrys