Categoria: Politica Politicos

  • ROSALIA DE CASTRO, GALIZA Adeus, rios; adeus, fontes

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    Adeus, rios; adeus, fontes

    adeus, rios; adeus, fontes;
    adeus, regatos pequenos;
    adeus, vista dos meus olhos;
    não sei quando nos veremos.

    minha terra, minha terra,
    terra onde me eu criei,
    hortinha que quero tanto,
    figueirinhas que plantei,

    prados, rios, arvoredos,
    pinhares que move o vento,
    passarinhos piadores,
    casinha do meu contento,

    moinho dos castanhais,
    noites claras de luar,
    campainhas timbradoras
    da igrejinha do lugar,

    amorinhas das silveiras
    que eu lhe dava ao meu amor,
    caminhinhos entre o milho,
    adeus para sempre a vós!

    adeus, glória! adeus, contento!
    deixo a casa onde nasci,
    deixo a aldeia que conheço
    por um mundo que não vi!

    deixo amigos por estranhos,
    deixo a veiga pelo mar,
    deixo, enfim, quanto bem quero…
    quem pudera o não deixar!…

    mas sou pobre e, malpecado!
    a minha terra n’é minha,
    que até lhe dão prestado
    a beira por que caminha
    ao que nasceu desditado.

    tenho-vos, pois, que deixar,
    hortinha que tanto amei,
    fogueirinha do meu lar,
    arvorinhas que plantei,
    fontinha do cabanal.

    adeus, adeus, que me vou,
    ervinhas do campo-santo,
    onde meu pai se enterrou,
    ervinhas que biquei tanto,
    terrinha que nos criou.

    adeus, Virgem da Assunção,
    branca como um serafim;
    levo-vos no coração;
    vós pedi-lhe a Deus por mim,
    minha Virgem da Assunção.

    já se ouvem longe, mui longe,
    as campanas do Pomar;
    para mim, ai!, coitadinho,
    nunca mais hão de tocar.

    já se ouvem longe, mais longe…
    cada bad’lada uma dor;
    vou-me só e sem arrimo…
    minha terra, adeus me vou!

    adeus também, queridinha…
    adeus por sempre quiçá!…
    digo-che este adeus chorando
    desde a beirinha do mar.

    não me olvides, queridinha,
    se morro de solidão…
    tantas léguas mar adentro…
    minha casinha!, meu lar!

    (Rosalia de Castro, poeta galega 1837-1885)

    Edições da Galiza/AGLP, pelo ilustre filólogo galego, Professor Dr. Higino Martins Esteves, segundo o Acordo Ortográfico da LP de 1990.

  • poema de Gabriela Carrascalão

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    Este poema faz parte do curriculo do 12 ano da Escolas Portuguesas de TL. Foram escolhidos tres poemas sobre Timor : este, um de Rui Cinatty e um do Padre Barros Duarte. …

    Poema :
    Titulo : Menino Abandonado
    autora; MGabriela Carrascalao

    01-12-2006

    Menino…. Abandonado,
    rejeitado!
    chorando!…
    nas ruas de Dili!…
    Secas! Poeirentas!
    Menino magoado!
    Perdido…
    Angustiado!
    Geme!
    Garoto inocente!
    triste, mal amado!
    Menino esfomeado!
    inocência violada !
    criança usada!
    rosto massacrado,
    lágrimas !
    de sangue jorrando!
    nas ruas de Dili!…
    Secas! Poeirentas!
    Criança chorando!
    Meu Menino,
    garoto magoado!
    Triste !…
    abandonado!…

    MGabriela Carrascalão
    1-12-2006

    MGabriela

  • morreu o padre Lancelote Rodrigues

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    Última notícia:

    Morreu Lancelote Rodrigues, o padre em Macau que era conhecido como o padre dos refugiados, começou o seu trabalho comunitário em prol de gente que chegava a Macau à procura de um porto de abrigo em 1950.

    Leia mais em:
    http://noticias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/16285235.html

    Última notícia:Morreu Lancelote Rodrigues, o padre dos refugiados em Macau que era conhecido como o padre dos refugiados, começou o seu trabalho comunitário em prol de gente que chegava a Macau à procura de um porto de abrigo em 1950.Leia mais em:http://noticias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/16285235.html

     

    Faleceu Padre Lancelote Rodrigues em Macau,

    Manifesta a Korsang di Melaka a perda física do padre Lancelote, transcrevendo a publicação a 08 julho 2008, Macau, China (Lusa) – A entrada de Malaca para a lista de tesouros da Humanidade da UNESCO é uma “honra para todos os malaqueiros”, disse à agência Lusa em Macau o padre Lancelote Rodrigues, natural de Malaca.

    Também o presidente do instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, manifestou a dor profunda com a noticia. “Quem o conheceu de perto sabe que a vida em Macau nunca mais será a mesma para com quem ele convivia e partilhava a alegria de viver e a vontade de servir e abraçar causas nobres”.

    O padre Lancelote Rodrigues, natural de Malaca e a residir em Macau desde 1935, onde chegou com 12 anos, morreu hoje 17 de Junho no Hospital Kiang Wu, noticiou a Rádio Macau.
    Filho de pai português, Lancelote Rodrigues nasceu a 21 de dezembro de 1923, morreu aos 89 anos e deixa um trabalho em prol dos refugiados – chegou a ser representante em Macau do Alto Comissariado dos Refugiados – que lhe valeu ser nomeado por Hong Kong para o prémio Nansen 2012 e uma condecoração da rainha de Inglaterra.
    Depois de concluir os estudos em filosofia e teologia, Lancelote Rodrigues decidiu, aos 22 anos, ser padre, e acabou ordenado em 1949.
    Conhecido como o padre dos refugiados, começou o seu trabalho comunitário em prol de gente que chegava a Macau à procura de um porto de abrigo em 1950, quando o então bispo de Macau o mandou acudir à vaga de portugueses que chegava de Xangai.
    Numa entrevista à agência Lusa em junho de 2012, Lancelote Rodrigues recordou que chegaram a existir três centros de refugiados com pessoas de várias condições como no caso dos portugueses de Xangai o que, para alguns, era uma humilhação, problema que se foi esbatendo com convívios entre todos.
    Realojados os portugueses de Xangai, em 1977 surge uma nova vaga de refugiados, os vietnamitas, situação que se prolongou até 1991 e que trouxe a Macau cerca de 30.000 pessoas.
    Com a transição à porta – realizou-se a 20 de dezembro de 1999 – Lancelote Rodrigues recordou também que foi necessário ir procurando países de acolhimento para as pessoas que passaram por Macau e para as 441 crianças que nasceram no então território administrado por Portugal.
    Em declarações à agência Lusa, o cônsul-geral de Portugal em Macau, Vitor Sereno, lamentou a morte de Lancelote Rodrigues e destacou o trabalho do padre ao longo de várias décadas junto da população de Macau, mas sobretudo junto dos refugiados.
    “Foi um exemplo no passado e será sempre um exemplo para todos no futuro”, assinalou.
    JCS // VM
    Lusa/Fim

  • e agora josé (drummond de andrade)

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    Carlos Drummond de Andrade – E Agora Jose

    Drummond na voz de Drummond

    poema “José” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado originalmente em 1942, na coletâneaPoesias. Ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.

    José

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?

    E agora, José?
    Sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio — e agora?

    Com a chave na mão
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?

    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse…
    Mas você não morre,
    você é duro, José!

    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    Análise e interpretação do poema

    Na composição, o poeta assume influências modernistas, como verso livre, ausência de um padrão métrico nos versos e uso de linguagem popular e cenários cotidianos.

    Primeira estrofe

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

    Começa por colocar uma questão que se repete ao longo de todo o poema, se tornando uma espécie de refrão e assumindo cada vez mais força: “E agora, José?”. Agora, que os bons momentos terminaram, que “a festa acabou”, “a luz apagou”, “o povo sumiu”, o que resta? O que fazer?

    Esta indagação é o mote e o motor do poema, a procura de um caminho, de um sentido possível. José, um nome muito comum na língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito coletivo, metonímia de um povo. Quando o autor repete a questão, e logo depois substitui “José” por “você”, podemos assumir que está se dirigindo ao leitor, como se todos nós fossemos também o interlocutor.

    É um homem banal, “que é sem nome”, mas “faz versos”, “ama, protesta”, existe e resiste na sua vida trivial. Ao mencionar que este homem é também um poeta, Drummond abre a possibilidade de identificarmos José com o próprio autor. Coloca também um questionamento muito em voga na época: para que serve a poesia ou a palavra escrita num tempo de guerra, miséria e destruição?

    Segunda estrofe

    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?

    Reforça a ideia de vazio, de ausência e carência de tudo: está sem “mulher”, “discurso” e “carinho”. Também refere que já não pode “beber”, “fumar” e “cuspir”, como se seus instintos e comportamentos estivessem sendo vigiados e tolhidos, como se não tivesse liberdade para fazer aquilo que tem vontade.

    Repete que “a noite esfriou”, numa nota disfórica, e acrescenta que “o dia não veio”, como também não veio “o bonde”, “o riso” e “a utopia”. Todos os eventuais escapes, todas as possibilidades de contornar o desespero e a realidade não chegaram, nem mesmo o sonho, nem mesmo a esperança de um recomeço. Tudo “acabou”, “fugiu”, “mofou”, como se o tempo deteriorasse todas as coisas boas.

    Terceira estrofe

    E agora, José?
    Sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio — e agora?

    Lista aquilo que é imaterial, próprio do sujeito (“sua doce palavra”, “seu instante de febre”, “sua gula e jejum”, “sua incoerência”, “seu ódio”) e, em oposição direta, aquilo que é material e palpável (“sua biblioteca”, “sua lavra de ouro”, “seu terno de vidro”). Nada permaneceu, nada restou, sobrou apenas a pergunta incansável: “E agora, José?”.

    Quarta estrofe

    Com a chave na mão
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?

    O sujeito lírico não sabe como agir, não encontra solução face ao desencantamento com a vida, como se torna visível nos versos “Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe porta”. José não tem propósito, saída, lugar no mundo.

    Não existe nem mesmo a possibilidade da morte como último recurso – “quer morrer no mar, / mas o mar secou” – ideia que é reforçada mais adiante. José é obrigado a viver.

    Com os versos “quer ir para Minas, / Minas não há mais”, o autor cria outro indício da possível identificação entre José e Drummond, pois Minas é a sua cidade natal. Já não é possível voltar ao local de origem, Minas da sua infância já não é igual, não existe mais. Nem o passado é um refúgio.

    Quinta estrofe

    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse…
    Mas você não morre,
    você é duro, José!

    Coloca hipóteses, através de formas verbais no pretérito imperfeito do subjuntivo, de possíveis escapatórias ou distrações ( “gritasse”, “gemesse”, “tocasse a valsa vienense”, “morresse”) que nunca se concretizam, são interrompidas, ficam em suspenso, o que é marcado pelo uso das reticências.

    Mais uma vez, é destacada a ideia de que nem mesmo a morte é uma resolução plausível, nos versos: “Mas você não morre / Você é duro, José!”. O reconhecimento da própria força, a resiliência e a capacidade de sobreviver parecem fazer parte da natureza deste sujeito, para quem desistir da vida não pode ser opção.

    Sexta estrofe

    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    É evidente o seu isolamento total (“Sozinho no escuro / Qual bicho-do-mato”), ” sem teogonia” (não há Deus, não existe fé nem auxílio divino), “sem parede nua / para se encostar” (sem o apoio de nada nem de ninguém), “sem cavalo preto / que fuja a galope” (sem nenhum meio de fugir da situação em que se encontra).

    Ainda assim, “você marcha, José!”. O poema termina com uma nova questão: “José, para onde?”. O autor explicita a noção de que este indivíduo segue em frente, mesmo sem saber com que objetivo ou em que direção, apenas podendo contar consigo mesmo, com o seu próprio corpo.

    O verbo “marchar”, uma das últimas imagens que Drummond imprime no poema, parece ser muito significativo na própria composição, pelo movimento repetitivo, quase automático. José é um homem preso à sua rotina, às suas obrigações, afogado em questões existenciais que o angustiam. Faz parte da máquina, das engrenagens do sistema, tem que continuar suas ações cotidianas, como um soldado nas suas batalhas diárias.

    Mesmo assim, e perante uma mundividência pessimista, de vazio existencial, os versos finais do poema podem surgir como um vestígio de luz, uma réstia de esperança ou, pelo menos, de força: José não sabe para onde vai, qual o seu destino ou lugar no mundo, mas “marcha”, segue, sobrevive, resiste.

    Leia também a análise do poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade.

    Contexto histórico: Segunda Guerra Mundial e Estado Novo

    Para compreender o poema na sua plenitude é essencial termos em vista o contexto histórico no qual Drummond viveu e escreveu. Em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o Brasil também tinha entrado num regime ditatorial, o Estado Novo de Getúlio Vargas.

    O clima era de medo, repressão política, incerteza perante o futuro. O espírito da época transparece, conferindo preocupações políticas ao poema e expressando as inquietações cotidianas do povo brasileiro. Também as condições de trabalho precárias, a modernização das indústrias e a necessidade de migrar para as metrópoles tornavam a vida do brasileiro comum numa luta constante.

    Carlos Drummond de Andrade e o Modernismo brasileiro

    O Modernismo brasileiro, que surgiu durante a Semana de Arte Moderna de 1922, foi um movimento cultural que pretendia quebrar os padrões e modelos clássicos e eurocêntricos, heranças do colonialismo. Na poesia, queria abolir as normas que restringiam a liberdade criativa do autor: as formas poéticas mais convencionais, o uso de rimas, o sistema métrico dos versos ou os temas considerados, até então, líricos.

    A proposta era abandonar o pedantismo e os artifícios poéticos da época, adotando uma linguagem mais corrente e abordando temas da realidade brasileira, como modo de valorizar a cultura e a identidade nacional.

    Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Autor de obras literárias de vários gêneros (conto, crônica, história infantil e poesia), é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

    Integrou a segunda geração modernista (1930 – 1945) que abraçou as influências dos poetas anteriores, e se focou largamente nos problemas sociopolíticos do país e do mundo: desigualdades, guerras, ditaduras, surgimento da bomba atômica. A poética do autor também revela um forte questionamento existencial, pensando no propósito da vida humana e no lugar do homem no mundo, como podemos ver no poema em análise.

    Em 1942, data de publicação do poema, Drummond estava de acordo com o espírito da época, produzindo uma poesia política que expressava as dificuldades diárias do brasileiro comum e as suas dúvidas e angústias, assim como a solidão do homem do interior perdido na cidade grande.

    Drummond morreu no Rio de Janeiro, dia 17 de agosto de 1987, na sequência de um infarto do miocárdio, deixando um vasto legado literário.

  • da Galiza (Pessoa, Inutilidades) por Isabel Rei

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    Da Galiza mensagem

    Inutilidades

    Pessoa no Livro do Desassossego: “Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções.”, era Bernardo Soares quem falava. Imaginemos Bernardo Soares, tristeiro apaixonado, enfastiado do capitalismo embrionário europeu, onde a primeira máquina já programava: fazer para algo.

    [É certo que o Livro do Desassossego não foi publicado até ao 1982
    mas a sua redação aconteceu nos começos do s. XX,
    sendo a morte do autor em 1935]

    Também Oscar Wilde no Retrato de Dorian Gray: “A Arte é completamente inútil”. O livro saiu do prelo em 1890, justamente quando a Era das Máquinas começava a invadir Europa. O escândalo foi maiúsculo e o autor redigiu várias cartas públicas na sua defesa.

    [Para os meus botões:
    O nosso dandy preferido deveu divertir-se como nunca!]

    Pela mesma época de industrialização massiva, António Machado (1875-1939), andaluz de ascendência galega, fiava uns versos que diziam:

    Sabe esperar, aguarda que la marea fluya
    —así en la costa un barco— sin que el partir te inquiete.
    Todo el que aguarda sabe que la victoria es suya;
    porque la vida es larga y el arte es un juguete.

    Y si la vida es corta
    y no llega la mar a tu galera,
    aguarda sin partir y siempre espera,
    que el arte es largo y, además, no importa.

    No começo do poder das máquinas “valer para algo” significava que a arte, a poesia, tinha o seu lugar prático numa cadeia de produção. Que a fariam encaixar no seu posto e fichar todos os dias. Que estaria desse modo realizando um labor proveitoso para a abstrata sociedade. Não consigo imaginar as páginas dum livro aprontando como um robô as tripas dum automóvel.

    Porém hoje a lógica das máquinas, do poder, nos possui. Tomamos a nossa pílula diária em chips, objeto essência do fazer para algo. Assumimos como natural a utilidade de tudo e quase não entendemos por que é necessária a beleza do inútil, do concibido para nada. A estética do artifício, do ilusionismo, da fantasia, a arte como uma prática em si mesma. Pela contra, aventuramos uns objetivos práticos para as artes

    [abrimos galerias visuais, tecemos fio musical, vemos produtos da marca Disney,
    contratamos empresas de marketing, organizamos concursos, outorgamos prémios,
    ingressamos nas enciclopédias, vendemos discos e livros
    e até imagens em duas, três, quatro dimensões]

    e disfarçamos de seriedade o brinquedo da invenção artística, o escutar por escutar, o ler por ler, qual o viver por viver. Esquecemos a noção da arte como artifício porque sim, máquina sem objetivo. Esquecemos que Arte é parte de Natura sem mais alvos do que existir a existência, essa colossal, poética e exemplar fantasia.

    Eugénio Granell (1912-2001)

    Eugénio Granell (1912-2001)

  • os Açores e o sul do Brasil

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    Documentário retrata relação entre os Açores e o sul do Brasil (Vídeo)

    www.rtp.pt

    http://www.rtp.pt/acores/?article=32410&visual=3&layout=10&tm=6

    “10 ilhas e um mundo” é o título do documentário que narra a história do povoamento açoriano no Sul do Brasil e retrata as semelhanças culturais entre o arquipélago e a ilha de Santa Catarina. </div>
  • uma utopia chamada Corvo

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    http://parquesnaturais.azores.gov.pt/pt/corvo/noticias/locais/1889-uma-utopia-chamada-corvo
    http://parquesnaturais.azores.gov.pt/pt/corvo/noticias/locais/1889-uma-utopia-chamada-corvo

    Uma utopia chamada Corvo

    parquesnaturais.azores.gov.pt

    Desde a minha adolescência que as Ilhas dos Açores faziam parte do meu imaginário, cada artigo que lia sobre as maravilhas da sua vida marinha tornava uma visita a estas ilhas, uma necessidade. As baleias, os golfinhos, os grandes cardumes de pelágicos, as jamantas e tubarões, os meros… a ideia de u…
  • rota dos corsários em santa maria

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    SANTA MARIA INAUGUROU A “ROTA DOS CORSÁRIOS”
    NB este é o desenvolvimento de várias ideias sobre roteiros do turismo surgidas e constantes das conclusões do 16º colóquio da lusofonia em outubro 2011 na vila do porto, sta maria…
    Trata-se de uma iniciativa histórico-cultural que junta Câmara Municipal de Vila do Porto e Associação Juvenil da Ilha de Santa Maria.
    O antropólogo Paulo Ramalho é o responsável pela investigação temática que coloca em painéis, e em zonas estratégicas da ilha uma história que cativa miudos e graúdos.
    Este percurso interpretativo começa no Forte de São Brás onde serão colocados dois painéis; o terceiro painel informativo vai residir junto ao edificio da Câmara Municipal de Vila do Porto; o quarto painel envolve os Anjos; a quinta estrutura do género será instalada no lugar das Covas, e termina este percurso interpretativo no Forte São João Batista, na Praia Formosa.
    A inauguração teve lugar ontem, dia 18 de Maio.

    NB este é o desenvolvimento de várias ideias sobre roteiros do turismo surgidas e constantes das conclusões do 16º colóquio da lusofonia em outubro 2011 na vila do porto, sta maria…
    -- 
    Chrys Chrystello, An Aussie in the Azores /Um Australiano nos Açores,
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    Rota dos Corsários
    • Rota dos Corsários
  • o papel dos galegos Angelo Cristóvão

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    O papel dos galegos na lusofonia como elo de ligação entre África, Portugal e o Brasil

    Ângelo Cristóvão, da Associação Galega da Língua Portuguesa, escreve para uma amiga galega.

    Sim, há gente à nossa espera, sempre estiveram mais ou menos à nossa espera, só que talvez os reintegracionistas não acertávamos com a apresentação e o discurso adequados. Também poderia dizer-se que todos os passos anteriores foram necessários. E deve assinalar-se como data significativa o 7 de abril de 2008. A partir desse dia há uma mudança importante na perceção da língua, especialmente em Portugal. Aquela Conferência Internacional sobre o Acordo Ortográfico foi uma espécie de parlamento da língua, em que falaram representantes mais ou menos autorizados de toda a geografia da língua, mesmo os galegos, convidados pela Assembleia da República. O Acordo Ortográfico cria o contexto, a oportunidade ou a escusa para a integração do português da Galiza. Isto já o tenho dito em muitos lugares. O maior valor do AO’90 não é a ortografia unificada, é a mudança de paradigma, algo que os velhos do restelo não conseguem perceber. O nosso acerto é vermos isto com antecedência, em 1986 e 1990. Vê-lo agora, depois de feito, já não tem tanto mérito.

    A AGLP é um grupo de pessoas que decidem assumir uma responsabilidade que ninguém lhes atribuiu. A legitimação está a produzir-se a posteriori, em função das ações, do resultado. Simplesmente fazemos o que nunca iriam fazer as “autoridades competentes”.

    O primeiro que insinuou publicamente (e depois disse claramente em reunião privada) o papel que os galegos podíamos ter na lusofonia, como elo de ligação privilegiado entre África, Portugal e o Brasil, foi João Craveirinha, sobrinho do conhecido escritor moçambicano, durante a sua presença em Santiago, na altura da sessão inaugural da AGLP (outubro de 2008). Ele dizia aproximadamente isso, que os galegos temos a vantagem de sermos um país pequeno (=não podemos ser ameaça para ninguém), onde nasceu a língua portuguesa (=pode atribuir-se-lhe a origem e legitimidade histórica da língua), que não tem passado colonialista (=isto facilita um diálogo fluído e em igualdade), que se situa na Europa (=associado a prestígio e margem de manobra), mas dependente politicamente da Espanha (= logo é percebido pelos africanos e facilita a empatia e a solidariedade). Tudo isto são chaves que nós, sócios da Pró e da Academia, guardamos e nunca devemos dizer em público. Percebermos os discursos não implica a necessidade de torná-los explícitos. Mais bem, sabê-lo, obriga-nos a mantermos a humildade que se nos pressupõe. O que nunca nos perdoariam é irmos com a “chulería” castelhana de “sabermos mais que ninguém”.

    Por outro lado acho que Portugal tem de fazer as contas com o seu passado. Ainda hoje resulta impensável para o governo português uma política de promoção do português em África, em termos normais. E ainda uma parte das classes dirigentes de Angola e Moçambique anda à procura de retaliação pelas feridas da guerra colonial, que acabou em 1974. Tenho observado isto ocasionalmente em declarações sobre a língua portuguesa. Para exemplo só uma anedota: Contaram-nos que houve uma reunião o ano passado, convocada pela CPLP em Lisboa, da que não se produziu notícia pública, em que a maior discussão e esforço foi dedicado à procura de perífrases (eufemismos) para contentarem a certo país africano, cujos representantes não aceitavam num texto comum a todos os países da CPLP a palavra “lusofonia”. Fique entre nós.

    Finalmente, o facto de a Galiza não ser um país soberano significa para mim que é preciso um esforço suplementar; que temos de abrir o caminho por que outros irão vindo depois; que a AGLP só pode ter sucesso trabalhando muito e fazendo tudo bem à primeira vez; que se falharmos ninguém nos dará uma segunda oportunidade; que não há garantia de que, finalmente, sejam outros os que tirem proveito do nosso esforço.

    Fico por aqui. Grande abraço.

    Ângelo Cristóvão

  • OS ANTIGOS REINOS DE TIMOR-LESTE LIVRO DE DOM XIMENES BELO

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    Copiado do livro «OS ANTIGOS REINOS DE TIMOR-LESTE» da autoria de Dom Ximenes Belo.

    «2º Reino de Hum (Home)

    Em 1703, já havia um rei, a quem o Governador mandou presentes (cfr. MATOS, Artur Teodoro de, ob.cit, p. 338). Nesse ano, o reino de Hum estava com o partido real, isto é, reconhecia a soberania portuguesa. O rei assinou uma petição ao Rei de Portugal, apoiando a continuação do Governador António Coelho Guerreiro por mais seis anos no governo das Ilhas de Solor e Timor (LEITÃO, Humberto, ob.cit.,p.44,nota 2).
    Na segunda metade do século XX, era liurai de Home, Lourenço Monteiro (Asu-Txai). Era escrivão ou escriturário. E porque sabia lere e escrever foi eleito chefe, ficando no lugar do tio que era “verdadeiro chefe” de Home, e que era analfabeto. O filho de Lourenço, José Monteiro foi chefe do Posto em Fatuberliu, Fatumean e Ossú.»

    NB. Penso que houve um lapso. “Lourenço Monteiro (Asu-Txai) está errado. Asu-Txai foi o antecessor de liurai Lourenço Monteiro. Vê-se na foto Helena Fernandes, uma das filhas de liurai Asu-Txai. Para mais detalhes partilho também o que escrevi há tempos no facebook. Obrigado.

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=467924029920321&set=a.324506470928745.74651.100001081850467&type=3&theater — with Guido Hideo Junior.

    Copiado do livro «OS ANTIGOS REINOS DE TIMOR-LESTE» da autoria de Dom Ximenes Belo. «2º Reino de Hum (Home) Em 1703, já havia um rei, a quem o Governador mandou presentes (cfr. MATOS, Artur Teodoro de, ob.cit, p. 338). Nesse ano, o reino de Hum estava com o partido real, isto é, reconhecia a soberania portuguesa. O rei assinou uma petição ao Rei de Portugal, apoiando a continuação do Governador António Coelho Guerreiro por mais seis anos no governo das Ilhas de Solor e Timor (LEITÃO, Humberto, ob.cit.,p.44,nota 2). Na segunda metade do século XX, era liurai de Home, Lourenço Monteiro (Asu-Txai). Era escrivão ou escriturário. E porque sabia lere e escrever foi eleito chefe, ficando no lugar do tio que era “verdadeiro chefe” de Home, e que era analfabeto. O filho de Lourenço, José Monteiro foi chefe do Posto em Fatuberliu, Fatumean e Ossú.» NB. Penso que houve um lapso. “Lourenço Monteiro (Asu-Txai) está errado. Asu-Txai foi o antecessor de liurai Lourenço Monteiro. Vê-se na foto Helena Fernandes, uma das filhas de liurai Asu-Txai. Para mais detalhes partilho também o que escrevi há tempos no facebook. Obrigado. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=467924029920321&set=a.324506470928745.74651.100001081850467&type=3&theater