comida portuguesa em macau

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“Há um carinho muito grande pela cozinha portuguesa em Macau”.
O projecto nasceu em 2013 com um ADN próprio “mais emocional” que os diferenciasse do resto.
Em entrevista ao PONTO FINAL, o chef Luís Américo sublinha que a missão do Fado é exactamente não adaptar os pratos ao paladar local.
O profissional português considera ainda que se vivem tempos positivos para a gastronomia portuguesa em Macau e a chegada dos melhores executantes prova isso mesmo.
“Há uma procura de talentos no âmbito das cozinhas em Macau.
Estou seguro que nos próximos 10 anos teremos uma extraordinária representação em Macau”, ressalta.
Nos últimos 10 anos, o restaurante Fado, cuja cozinha lidera sozinho depois do ex-sócio Marco Gomes ter abandonado o projecto, está para durar e, claro, fiel aos seus princípios.
“Não tenho nada contra as fusões, aliás é uma grande tendência mundial que faz todo o sentido nos dias de hoje, mas o ADN do Fado é muito resistente às fusões”, explicou.
Luís Américo, que um dia chegou a afirmar que “há coisas mais importantes num restaurante do que a comida”, é natural do Porto, tendo estudado na Gestão Hoteleira em Escola de Hotelaria e Turismo da Cidade Invicta.
Na conversa que teve com o nosso jornal, o cozinheiro admitiu que chegou a sonhar e a trabalhar para uma estrela Michelin, mas que, neste momento, quer é sopas e descanso.
“Num futuro próximo vejo-me no campo a desenvolver permacultura e a cozinhar à lareira”.
– É um dos chefs mais conhecidos em Portugal a assinar um restaurante em Macau e um dos mais antigos a estabelecer-se no território. Vamos retroceder um pouco no tempo, até 2013. Como surgiu esse convite para dar a cara pelo Fado?
Tudo começou em 2010, num convite feito ao meu ex-sócio Marco Gomes pelo Coronel Manuel Geraldes, seu conterrâneo, para participar no Festival de Gastronomia e Vinhos de Portugal que o Clube Militar realiza todos os anos.
Na altura fizemos uma dupla que teve bastante sucesso e curiosamente coincidiu com o momento em que o Hotel Royal estava a reformular o espaço do restaurante onde hoje é o Fado e que na altura se chamava Vasco da Gama.
Foi muito interessante pois os proprietários do hotel estavam à procura de um conceito de cozinha portuguesa com genuinidade e modernidade, que era exactamente aquilo que nós apresentámos no festival.
Eles foram lá jantar e, no dia seguinte, fomos contactados por um amigo deles português que nos explicou a situação e coordenou uma reunião nos dias seguintes.
Assim foi.
Reunimos e,mesmo antes de deixar Macau, elaborámos uma proposta.
Passadas algumas semanas de estarmos em Portugal, já tínhamos um e-mail a perguntar quando poderíamos voltar e começar o projecto.
Na altura foi surpreendente, não contávamos com tanto entusiasmo.
Passado pouco tempo o Marco Gomes saiu do projecto e fiquei à frente até hoje.
– Que balanço faz destes 10 anos de presença em Macau?
Macau é um local especial ou, pelo menos, era até há pouco tempo.
Os grandes casinos e hotéis tinham capacidade para desenvolver restaurantes ao mais alto nível, sem necessidade que o restaurante em si fosse um negócio lucrativo.
Por outro lado, temos todo um universo de restaurantes que dependem muito do turismo para sobreviver, assim como os seus proprietários.
Há por isso uma concorrência desproporcional e muito diferente do que estamos habituados a viver em Portugal.
Foi por isso necessário desenvolver um ADN próprio para o Fado que passou por criar algo mais emocional que nos diferenciasse do resto.
Estive em Macau no final do mês de Abril e fiquei extremamente feliz por ver a dinâmica do restaurante com casa cheia ao almoço e ao jantar.
Julgo que, ao fim de 10 anos, o balanço é muito positivo.
Trata-se de um projecto vencedor, uma mais-valia para o Hotel Royal como negócio, como imagem e como reconhecimento.
Por isso, não podia estar mais feliz.
– Quais são os ingredientes ou pratos tradicionais portugueses que acredita serem especialmente populares em Macau e como tem vindo a adaptá-los ao paladar local?
A nossa missão no Fado é exactamente não adaptar os pratos ao paladar local.
Foi da adaptação da cozinha portuguesa ao paladar local que nasceu a cozinha macaense ou parte dela.
Pratos de bacalhau, ameijoas à Bulhão Pato, bifanas, serradura, pastéis de nata.
Enfim, há um carinho muito grande pela cozinha portuguesa em Macau.
– Alguma vez se arrependeu de abraçar este projecto?
Nunca.
O Fado foi pensado com muita emoção e carinho, é quase um “filho” do qual me orgulho profundamente.
– A pandemia de Covid-19 fez mossa no Fado? E nos outros espaços que possui?
A pandemia foi terrível.
O Fado deixou de ter clientes.
Foram tempos muito difíceis, mas conseguimos manter a nossa equipa e garantir que todos ficavam bem.
Foi um grande esforço financeiro por parte do hotel que mostrou um lado humano surpreendente.
Já no Porto foi muito mais curto, mas ainda assim devastador, principalmente para as nossas equipas.
Implantei com sucesso uma política de prémios face a objectivos de facturação.
As gratificações pesavam muito ao final do mês para os nossos colaboradores.
Foi muito difícil, nós temos cerca de 90 colaboradores e vemos cada um como um ser individual e não um número.
No fundo, para além da questão financeira, o mais difícil foi garantir que todos estavam bem.
– Quais são, neste momento, os grandes desafios em ter um restaurante num contexto pós-Covid-19 e num lugar com uma cultura e gastronomia tão diferentes como as de Portugal?
Em Portugal, a recuperação foi mais rápida do que o previsto.
O momento actual da procura turística é enorme, com a guerra na Ucrânia, ainda se tornou mais forte.
Os restaurantes estão a trabalhar com números superiores a 2019.
Acho que a grande lição que podemos retirar da pandemia é que nada está seguro e nada é previsível.
Em Macau, foi muito mais complicado.
Foi mais um ano de confinamento e tudo mais rigoroso.
No fundo, há que acreditar que algo assim não voltará a acontecer e se acontecer logo se vê.
– Macau é conhecido pela sua rica herança cultural e influências gastronómicas diversas. Como é que pode explorar esta diversidade?
A base do Fado, principalmente a oferta “a-la-carte”, é muito genuína e inspirada no património gastronómico português.
Por vezes podemos alargar um pouco à cozinha mediterrânica europeia, mas não queremos no Fado fazer qualquer fusão.
Não tenho nada contra as fusões, aliás é uma grande tendência mundial que faz todo o sentido nos dias de hoje, mas o ADN do Fado é muito resistente às fusões.
– Como é que vê o papel da gastronomia na recuperação pós-Covid-19 em destinos turísticos como Macau?
Três anos de “prisão domiciliária” criaram uma grande vontade de “viver”, de viajar e, consequentemente, de ir aos restaurantes.
Para além de muitas outras atracções, a gastronomia é sem dúvida um dos grandes factores que transformam Macau num destino turístico de excelência.
– Macau foi escolhido pela UNESCO como uma das cidades criativas em gastronomia. Essa nomeação tem beneficiado o seu estabelecimento?
Honestamente não sei, mas o que sei é que distinções como esta têm grade impacto a médio prazo.
Temos vários exemplos em Portugal.
Veja-se a importância que as distinções da UNESCO tiveram no Porto e no Douro.
Foram ponto de partida para o momento que estamos a viver hoje.
Em 1996, a zona histórica do Porto passou a Património Mundial da Humanidade e foi de facto o momento de viragem.
Temos que esperar, pois ainda é cedo para poder avaliar.
Certo é que Macau recebeu merecidamente a distinção em 2018, mas depois tivemos três anos de Covid–19.
– Como é que vê a importância da sustentabilidade na gastronomia nos dias que correm?
Esta pergunta daria outra entrevista [risos].
Hoje em dia há uma grande atracção por conceitos ligados ao tema da sustentabilidade, mas, e mais uma vez na minha opinião, há um acenar de bandeiras ligadas a grandes chavões que promovem uma imagem positiva.
“PlasticFree”; “Farm-to-table”; “Organic”; “Local”; “Green”.
É importante uma atitude consciente e um acção responsável perante a realidade actual, com inteligência e, ao mesmo tempo, com coração, caso contrário não passam de intenções pouco credíveis.
– Luís Américo, Fausto Airoldi, Henrique Sá Pessoa, José Avillez. Pensa que a aposta em Macau por parte dos melhores executantes portugueses terá continuidade para outros chefs?
Já está a acontecer.
Há grandes chefs portugueses a trabalhar em Macau.
Há uma procura de talentos no âmbito das cozinhas em Macau.
Estou seguro que nos próximos 10 anos teremos uma extraordinária representação em Macau.
Fui o primeiro dos mencionados a chegar a Macau, depois chegou o Fausto e só recentemente o Henrique e o Zé.
É curioso e importante perceber que embora tenhamos todos percursos de sucesso, somos chefs com características muito diferentes.
O Fausto é um profissional ímpar que foi para Macau com reconhecimento mundial pelas suas capacidades de liderança, profissionalismo e competência.
Eu talvez porque sempre fui um grade defensor de uma cozinha portuguesa moderna com muito respeito pela tradição e cultura.
Já o Zé e o Henrique por terem conseguido duas estrelas Michelin em Portugal, com uma cozinha altamente criativa com bases na cozinha tradicional portuguesa.
É muito interessante olhar para isto assim.
– O chef Fausto Airoldi, que viveu em Macau por mais de 10 anos, revelou recentemente, em entrevista, que “a gastronomia de Macau é uma das primeiras cozinhas de fusão do mundo” e que “a modernização vai chegar às cozinhas macaenses muito em breve, respeitando a tradição” para combater uma certa estagnação que ele considera haver na gastronomia macaense. Ele fala em boa cozinha macaense, mas “mal apresentada, menos profissional”. Do que conhece da realidade local, concorda?
A cozinha macaense é muito peculiar.
Resulta essencialmente de fusões e de reinterpretação de pratos de outras culturas.
Como Macau não tem ‘terroir’ derivado à sua localização e dimensão, a cozinha macaense é um misto de adaptação da cozinha portuguesa ao gosto chinês e da cozinha chinesa ao gosto português.
Por exemplo, a “Portuguese egg tart” é uma adaptação do nosso pastel de nata pelas mãos da empresa Lord Stow ao gosto asiático,assim como o “Portuguese fried rice” foi uma adaptação da cozinha asiática à portuguesa, no fundo um arroz frito com ovo chouriço e azeitonas.
Na minha leitura, o que o Fausto quer dizer é que a cozinha macaense parou no tempo e não se modernizou em termos visuais como aconteceu à cozinha portuguesa a partir do final dos anos de 1990 com o Vítor Sobral, o Joaquim Figueiredo – que foi responsável pela modernização da cozinha do Club Militar – e o próprio Fausto, entre outros.
Voltando à questão das influências, temos por exemplo na cozinha brasileira de Minas Gerais um exemplo de uma cozinha de grande valor fortemente influenciada pela gastronomia portuguesa e com grade identidade.
A cozinha macaense é muito recente e ainda está a ser construída.
É um grande momento de evolução a acontecer e em que nós estamos a participar activamente, provavelmente sem nos darmos conta.
– Tem sido feito um bom trabalho na promoção da gastronomia portuguesa em Macau, principalmente depois da transferência de Administração em 1999?
O facto de os grandes hotéis terem sido “obrigados” a ter um restaurante português/macaense foi determinante para o crescimento da gastronomia portuguesa/macaense.
Em 2016, o Governo português criou o programa “Rede de Restaurantes Portugueses no Mundo” sendo Macau e o Brasil os locais escolhidos para o lançamento do mesmo.
No fundo, o programa consistia num “selo de garantia” atribuído aos restaurantes reconhecidos por teremuma gastronomia portuguesa comprovadamente original.
Infelizmente este projecto não avançou.
O Fado chegou a ser eleito durante dois anos, mas nada passou de intensões.
É pena, podia ser uma boa forma de separar “o trigo do joio” e ser um grande veículo de promoção.
Há 30 anos que Itália criou o selo da “Ospitalita Italiana” para distinguir os restaurantes que pelo mundo respeitam as tradições, e com muito sucesso.
– Continua a haver espaço para a cozinha de memória preconizada pelo Santos, António, Fernando, Xiolas, o Castiço, Manuel, entre outros, ao mesmo tempo que cada vez mais se aposta na cozinha contemporânea de autor em Macau?
Há restaurantes que são instituições e que o seu âmbito ultrapassa em muito a questão gastronómica.
Há uma alma e um sentimento que caracterizam este tipo de espaços.
É muito importante que estes restaurantes se mantenham fiéis à sua essência para que se possam experienciar as origens num cenário evolutivo.
Podem aparecer novos projectos, mais modernos e com uma visão de autor contemporânea, mas não se pode perder a origem.
– Nunca procurou por uma estrela Michelin, tanto aqui como em Portugal?
Já.
Numa fase inicial da minha carreira era um sonho conseguir uma estrela Michelin, mas isso tem custos enormes e implica uma grande disponibilidade financeira.
A primeira estrela Michelin é uma fórmula que se atinge tendo alguma capacidade financeira.
Há muitos casos que provam o que digo em Portugal e então em Macau nem se fala.
Rapidamente percebi que dada a minha necessidade de viver do meu trabalho, esse não era seguramente o caminho para a minha felicidade.
Desenvolvi conceitos descontraídos de conforto com valores acessíveis, rotatividade e acima de tudo sustentáveis financeiramente.
– Há uns anos, era impensável termos restaurantes com estrela Michelin em Guimarães, Bragança, Viseu, Vila Nova de Cacela ou Reguengos de Monsaraz. Como vê o crescimento da cozinha contemporânea de autor em Portugal com diversas estrelas Michelin e outros prémios internacionais?
É uma questão interessante.
Vou divagar um pouco para que se perceba como aqui chegámos.
No início do séc. XX, o famoso chefe de cozinha Manuel Ferreira escreveu o livro “Tratado completo de Cozinha e Copa”.
Este livro, que durante muitos anos foi a grande orientação para muitos chefs, foi fortemente influenciado pela cozinha francesa e pelas linhas de [Auguste] Escoffier, dando origem a uma cozinha francesa “aportuguesada” que é aquilo a que mais tarde nós baptizámos de “comida de hotel” – conotada com uma cozinha com aspecto bonito, mas plástico e com muito pouco sabor.
É evidente que há excepções, e a esse nível o Mestre João Ribeiro, que embora tenha feito parte da equipa de Manuel Ferreira, seguiu a sua própria linha de cozinha – bastante avançada para a época diga-se -, tendo mesmo conseguido vitórias em concursos realizados em França como é o caso do famoso prato de tripas.
Quanto a mim o melhor chef de cozinha português e o único a que chamaram mestre.
Mais tarde surgiu aquela que quanto a mim foi a grande revolução: a primeira edição do livro “Cozinha Tradicional Portuguesa” de Maria de Lourdes Modesto que é a grande bíblia da nossa cozinha e até hoje a única.
Foi dado o acesso a todos os profissionais de conhecer, estudar e entender as verdadeiras raízes e receitas da nossa cozinha genuína.
A manteiga deu lugar ao azeite, a chalota deu lugar à cebola, o haricot-vert às vagens e por aí fora.
Ao mesmo tempo aparecem alguns programas de televisão com o chef António Silva, a revista Teleculinária, entre outras.
Vivem-se momentos de grande confusão e falta de identidade.
A mousse de chocolate e o pudim flan entram de rompante pelos restaurantes nacionais – e ainda hoje perduram – o arroz-doce e a aletria passam para segundo plano.
Mais tarde, no início dos anos de 1970, há mais uma revolução na cozinha francesa que influencia novamente o rumo da nossa cozinha: a nouvelle cuisine.
Na sua forma original a nouvelle cuisine é caracterizada por refeições constituídas por 10 ou mais pratos todos eles servidos no próprio prato – o que hoje chamamos de serviço à americana e não sei porquê.
Em Portugal a interpretação foi mais uma vez negativa pois os restaurantes denominados “de luxo” passaram a servir pequenas doses em pratos grandes sem terem em conta a quantidade de pratos servidos levando esta cozinha a ser associada a uma cozinha de “passa-fome”.
Foi terrível.
Com o aparecimento do Vítor Sobral, Fausto Airoldi, Miguel Castro e Silva, António Bóia, Jerónimo Ferreira e outros, a cozinha portuguesa tem um momento de viragem.
Voltámos a olhar para o nosso património culinário com orgulho e isso foi ponto de partida para a criatividade.
Apareceu uma publicação – a InterMagazine – Edições do gosto – que lançou um concurso nacional para eleger o “Chefe Cozinheiro do Ano” muito focado na valorização da gastronomia nacional e regional.
O director das Edições do Gosto, Paulo Amado ajudou, e continua a ajudar, a criar um novo ADN.
Foi conseguida uma identidade e não uma cópia de outras modas e tendências.
Os chefs viajaram e aprenderam a “fórmula”.
O resto é o resultado de uma nova geração consciente, informada, inteligente, brilhante e capaz.
– É apreciador da cozinha asiática?
Cada vez mais.
É uma descoberta permanente que contrasta com algumas ideias pré-concebidas.
A forma como cozinham é muito diferente, inteligente e altamente eficaz.
– Quem são os seus gurus culinários?
Não sei se poderei responder na perspectiva de gurus.
Tenho uma admiração por muitos chefs por diferentes razões.
A importância de Auguste Escoffier é inquestionável, assim como a de Maria de Lourdes Modesto para Portugal.
Aprecio muito alguns chefes tais como Heston Blumental, Frédy Girardet, Paul Bocuse, Thomas Keller, Feran Adrià, David Chang, entre muitos outros.
Não os considero gurus, apenas seres que nasceram com capacidades extraordinárias para a gastronomia.
É importante conhecer o seu trabalho.
– Como é que vê aquela geração, que surgia na televisão a deixar receitas culinárias nos anos 70 e 80, em Portugal, com a Maria de Lourdes Modesto, a Filipa Vacondeus, o Michel da Costa ou o Manuel Luís Goucha, entre outros?
Reconheço um valor extraordinário a Maria de Lourdes Modesto e ao chef António Silva.
Os outros, pelo contrário,não trouxeram nada de bom, mas é apenas a minha opinião.
– Para terminar. Além dos seus projectos em Portugal e Macau, tem algum projecto futuro em mente noutro lugar?
Não.
Estou numa fase muito estável e feliz da minha vida com a minha mulher, a Susana, e os meus cinco filhos: Gustavo, Filipa, Vasco, Luís e José, estes últimos gémeos verdadeiros.
Abri mais de 30 restaurantes com muito sucesso e fiz mais de 500 eventos com a minha empresa de catering.
Gosto de me manter com o suficiente para ser feliz e não falhar com a minha família, já que a nossa sociedade se rege por dinheiro e sem ele não se vive.
Num futuro próximo vejo-me no campo a desenvolver permacultura e a cozinhar à lareira.
Até esse dia chegar, vou estando entre Portugal e Macau com muita alegria e boa disposição.
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Pedro Coimbra

Foi colega de curso da minha cunhada. E o Fado é um dos meus favoritos.
Luis Almeida Pinto

Eu também gosto muito do Fado, Pedro Coimbra! 🥰

Nova lei eleitoral de Macau prevê exclusão de “antipatriotas” sem direito a recurso – Observador

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O secretário para a Administração e Justiça justificou as alterações como uma resposta “às novas exigências e desafios” de forma a “implementar plenamente o princípio ‘Macau governado por patriotas'”.

Source: Nova lei eleitoral de Macau prevê exclusão de “antipatriotas” sem direito a recurso – Observador

Politécnica de Macau aposta em investigação conjunta com universidades lusófonas – Observatório da Língua Portuguesa

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Constituído em Junho de 2008, o OLP – Observatório da Língua Portuguesa é uma associação sem fins lucrativos que tem por objectivos contribuir para: o conhecimento e divulgação do estatuto e projecção no Mundo da Língua Portuguesa; o estabelecimento de redes de parcerias visando a afirmação, defesa e promoção da Língua Portuguesa; a formulação de políticas e decisões que concorram relevantemente para a afirmação da Língua Portuguesa como língua estratégica de comunicação internacional.

Source: Politécnica de Macau aposta em investigação conjunta com universidades lusófonas – Observatório da Língua Portuguesa

CARLOS MORAIS SOBRE STANLEY HO

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Opinião de Carlos Morais José, no jornal Hoje Macau de 27 de Maio de 2020.
Nós que apertámos a mão a Stanley Ho.
Quando cheguei à cidade do Nome de Deus em 1990, muito pouco tempo depois de ter realmente aterrado, ouvi pela primeira vez a frase, encantatória como um rifão:
“O que é bom para a STDM, é bom para Macau”.
Por isso, não se lhe discutiam os desejos, as ambições ou mesmo os caprichos.
A empresa de Stanley Ho, concessionária do Jogo, senhora de casinos, era a fonte, era o rio, era o mar, onde tudo e todos se banhavam.
Era dali que vinha o dinheiro que a todos nós proporcionava a boa, a média e, sobretudo, a má vida.
E ele, o rei de Macau, por trás de tudo pairava, tudo e todos inspirava e muito raramente se encontrava alguém que por ele não nutrisse admiração ou mesmo gratidão.
Fôra Stanley Ho que transformara a aldeia adormecida, gasta pela guerra e as intrigas esquineiras, as invejas e as tácticas traiçoeiras, naquela que era já nessa altura a capital do Jogo na Ásia e, nesse movimento, trouxera até este porto os traços do cosmopolitismo e de alguma modernidade.
Trouxera o dinheiro, que jorrava a rodos, mas trouxera também as beldades.
Quanto aos portugueses, de índole sempre sombria, achei-os passivos e conformados.
“É assim Macau, meu filho. Vai-te habituando”.
E eu ia.
E era bom.
Eu diria: mesmo muito bom.
Chegara como jornalista e como tal recebi o meu convite para a festa anual da STDM que, mais que uma festa, era uma gesta.
E foi aí que pela primeira vez o vi ao vivo e lhe apertei a mão.
Olhou-me como se tivesse realmente curiosidade em conhecer-me.
Devia fazer o mesmo a toda a gente, mas ter, ainda que por breves segundos, a atenção de tão augusto personagem, apreciar a sua candura e simpatia, fez-me sonhar que talvez, afinal de contas e bem vistas as coisas, aqui tivesse um lugar.
Para ficar, para viver, quiçá morrer.
Afinal, parecia ter adquirido o seu assentimento, a sua real autorização.
Eu apertara a mão a Stanley Ho.
Depois veio a realidade, a informação.
Soube que tudo, das dragas à televisão, se encontrava nas suas mãos.
Mãos que, aliás, eram benévolas e abertas pois havia sempre alguém que o representava, em quem ele delegava e esse era um dos problemas, pois nem sempre seria o tipo certo, o mais competente, o mais ladino, o mais sagaz.
Stanley Ho parecia confiar mais por dever, mais por graça, do que por isso lhe proporcionar lucros maiores ou vida mais faustosa.
Tinha quatro mulheres, diziam-me, mas isso era natural.
Naturalmente, pensava eu com os botões desabotoados da camisa, enquanto o suor me escorria da testa como uma cascata se despenha da colina.
E filhos, filhos às dezenas, às centenas e a todos dava provimento.
Mesmo aos cadilhos que, ao que dizem, prosperavam como o vento sopra por ruelas apertadas, como as que povoam este Macau que eu já, mesmo sem saber, sem me dar conta, por contágio, amava.
E lá o fui encontrando.
Cerimónias oficiais e outras coisas que mais.
E perguntava-me: ele tem paciência para isto?
Chiça, nem Cristo descido da cruz aguentaria estes discursos, estes jantares, esta trepidação de nada, uma curva sem estrada.
Mas ele lá estava, sempre de bom humor e, sobretudo, a falar com os portugueses.
Era o Lisboa, o maior casino da Ásia com o nome da minha cidade, o Sintra, o Estoril, o Metrópole, as saunas das vidas quentes, a loucura de uma cidade sem igual.
Anos 90, “the Casablanca of the nineties”, rosnava a revista TIME e ele por todo o lado, a providenciar ainda que fosse o que não lhe fôra pedido.
Se queres fazer alguma coisa, pede ao Stanley Ho, dizia-se, sussurrava-se, num murmúrio.
E era assim, devia ser assim.
E se algo era como era, era porque ele queria que fosse assim e doutra maneira não dava jeito.
Fez-se o Centro, a fundação, o aeroporto, as avenidas, as malas, os contentores, as guitarras e as bailarinas, tudo a preceito.
Se ele soubesse o quanto em seu nome foi feito…
Mas assim procede um rei que há muito perdera as ilusões.
E Macau recitava baixinho: enquanto for do Stanley temos pão para o caminho.
E assim era e assim foi.
Tarde houve em que perguntei ao cozinheiro, ao chefe mais famoso do mundo: o que fazes aqui nesta cidade perdida, neste mundo sem lugar?
E o Robuchon respondeu: “Foi o dr. Stanley Ho quem me convenceu. Vim por ele. Um homem fino como poucos”.
É certo que torcia o sensível nariz francês ao corrupio de armas e miúdas assinaladas, que já na altura trotavam no rés-do-chão.
Mas, por ele, ficava, cozinhava e não largava.
Não, não era por dinheiro, pela aventura ou para conhecer o Oriente.
Os olhos azuis não mentiam: era por ele e só por ele, a quem não queria deixar sem face e partir de malas aviadas para a sua Paris ou para Tóquio ou mesmo para Hong Kong onde se limitou a montar o seu atelier.
O rei agora morreu.
A sua cidade morrera um pouco antes.
Não podemos dizer que nada será como dantes.
Edmundo mudou a face deste sítio.
Vieram os americanos a julgar que o afectavam com o calor da sua cozinha mal parida.
Mas nada disso.
A todos acolheu com calma, lealdade e sem sobranceria.
Nada tinha a ganhar e, com certeza não perdia.
Não perdeu.
Dividiu e agora os vindouros que se amanhem.
Com ele partimos nós também.
Parte um mundo de todos desconhecido.
Que dançava, que beijava, que se irava e se entregava em noites de delíquios rosa, em quartos bordados de fórmica e peluches.
E disso sabemos nós: os que apertámos a mão a Stanley Ho.
Até sempre, meu rei.
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Vicente Monteiro

Revejo-me na estória do CMJ!
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MACAU STANLEY HO

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Luis Almeida Pinto
Gaming mogul Stanley Ho passes away at 98.
Stanley Ho: Mitos, perseguições e piratas. Histórias do “padrinho do jogo” de Macau. 🇲🇴🥰
Stanley Ho é um nome para a História.
Não só de Macau, não só da China, mas do mundo quando se falar de jogo e de casinos.
Ele fez com que uma pequena cidade do sul da China, com poucas centenas de milhares de habitantes, passasse a ser a capital mundial para jogadores da sorte e do azar.
Um homem com muito poder visível e invisível que desenhou o Macau moderno.
Uma vida longa e uma vida plena.
Stanley Honasceu rico, no seio de uma família abastada de Hong Kong, e morreu ainda mais rico.
Chamam-lhe, e bem, magnata.
Pelo meio, ao longo de 98 anos construiu um império que começou em Macau, mas tem várias ramificações pelo mundo.
Viveu com quatro mulheres das quais teve 17 filhos.
Uma fortuna desta dimensão dificilmente se constrói sem mitos, histórias mal contadas, e outras dignas de filme.
Stanley foi perseguido, perseguiu, teve de lidar com forças antagónicas, com o crime organizado, a China e o Japão.
Soube sempre adaptar-se.
E reinou de forma a lhe colocarem epítetos como o “Padrinho do Jogo”.
O jornalista Ricardo Pinto, proprietário do jornal Ponto Final e da revista Macau Closer, foi dos últimos a entrevistar Stanley Ho.
A conversa ocorreu em 2007, para o n.º 1 da então recém-criada revista, e Ho, claro, teve honras de capa.
Vivia-se um momento particularmente sensível na história dos negócios do “Rei do Jogo”.
Quatro anos depois da liberalização dos casinos em Macau, a Sands, detida pelo arquirrival Sheldon Adelson, construía o icónico Venitian que punha em risco a hegemonia da atual Sociedade de Jogos de Macau, detida pela família Ho.
Mas se a atualidade da época ocupou parte da conversa, Ricardo Pinto quis também saber a versão de Ho sobre muitas das lendas que preenchiam o imaginário dos que se dedicavam a ler sobre a vida do empresário.
Uma delas foi a de que Pequim se teria oposto, em 1962, à sua entrada na concessão dos casinos em Macau.
Stanley recordou, nessa entrevista, que durante a guerra da Coreia, a China se aliou ao Norte, contra o Sul apoiado pelos Estados Unidos e pelas Nações Unidas.
Nessa época houve um embargo de produtos fundamentais para Pequim, como o petróleo e armas, e Hong Kong e Macau, como noutras alturas da história, serviram a porta de entrada de mercadorias para a China.
Ho e Henry Fok, que viria a ser seu sócio no império do jogo, foram “os empresários patrióticos” que ajudaram a manter as ligações com o resto do Mundo.
“Ele referiu o episódio da guerra da Coreia para afirmar que esteve do lado de Pequim para ultrapassar a fase de isolamento e embargo”, conta Ricardo Pinto, afirmando que Ho usava este argumento para desmentir que o Governo central tivesse feito oposição aos seus negócios.
Contrabando e tentativas de rapto
Em 1943, Stanley tinha-se refugiado em Macau, depois da invasão japonesa de Hong Kong.
Foi através do contrabando de bens de luxo, para uma empresa oriunda do Japão, que fez crescer a fortuna que lhe permitiu depois entrar no negócio dos casinos.
A missão que lhe estava destinada era de compra e venda de bens essenciais para uma cidade que então estava isolada do resto do mundo.
Por causa desta atividade, não foram poucas as vezes em que se teve de meter num barco para atravessar o rio das Pérolas.
Numa dessas situações foi assaltado por piratas.
Começa aí o mito.
O dono do jornal Ponto Final e da Macau Closer relata que, naquela altura, a zona estava em guerra e se tratava de um local onde a pirataria foi frequentíssima ao logo de séculos.
“Os riscos eram muitos durante estas viagens e a embarcação em que seguia tomada por piratas”, começa por avançar Ricardo Pinto.
O facto levou a muitas teorias sobre o que se passou realmente.
“A ideia que se vendia na Internet era que o Stanley Ho tinha pegado numa pistola e morto grande parte dos piratas”, identifica.
O jornalista afirma que, naquela entrevista há 14 anos, Ho lhe contou a sua versão.
A fazer fé nas palavras do empresário, eis o que se passou:
“Disse que entregou o dinheiro que tinha para fazer as compras, e o mais que conseguiu foi fugir.
Depois teve de explicar aos japoneses e às autoridades portuguesas porque voltava de mãos vazias e sem bens”.
A vida agitada do homem que ainda há poucos anos era o 68.º mais rico do mundo – fortuna foi estimada em 3,1 biliões de dólares pela revista Forbes -, tem mais episódios.
A sua entrada no jogo em Macau foi tudo menos pacífica.
Envolveu perseguições e tentativas de rapto.
Estávamos em 1961, e as anteriores concessões lideradas pelos locais Fu Tak Iam e Kou Hou Neng estavam em perda, os casinos estavam desatualizados.
Era preciso sangue novo e novos investimentos.
Do seu lado, estes dois empresários, tinham Y.C. Liang, outro patrão do comércio do jogo.
O trio não via com bons olhos a vinda de um novo “player” porque isso significava a perda do negócio.
Houve ameaças muito violentas contra a vida do Stanley Ho e dos colaboradores.
O episódio mais rocambolesco dá-se quando um grupo de homens o persegue em plena avenida Almeida Ribeiro, no centro de Macau, até à sede do Banco Nacional Ultramarino, e procuram raptá-lo a poucos dias da abertura da nova concessionária.
Ho lembra na entrevista à Macau Closer que enfrentou os quatro homens, recusou-se a segui-los, chamou a polícia e não cedeu à chantagem.
“Ele via essa sua atitude sobre o que era justo como algo de inegociável, mesmo em situações críticas como a ameaça à sua vida”, recorda Pinto.
“Era implacável neste tipo de situações, quando era ameaçado não se ficava”, explica, acrescentando que em 1962 ficava a impressão de que se houvesse uma ação violenta sobre as suas concessões as mesmas não ficariam sem resposta.
Ricardo Pinto privou em inúmeras situações com o magnata, quando ainda era jornalista da Televisão de Macau (TDM), e em todas elas encontrou um homem “afável e de uma simpatia extrema”, “muito inteligente e muito educado”.
“Muito respeitador com as pessoas que o rodeavam, e com os jornalistas a quem prestava uma atenção muito séria, muito profissional”.
Diz que a Stanley assenta bem a marca de “visionário”.
Há várias situações que o demonstram, umas mais longínquas do que outras.
Em 1966-67, em plena revolução cultural liderada por Mao Tsé-Tung, e num período em que poucos acreditavam que Macau continuaria a ser governada por Portugal, Ho viaja para Lisboa para tentar aprovar o projeto do hipódromo.
“Acreditava que os problemas seriam resolvidos, em breve, e que valia a pena continuar a investir no futuro”, explica o jornalista.
Sobre o legado do homem que pôs o pequeno território do sul da China no mapa, Ricardo Pinto diz que apesar de este não ter inventado o jogo na cidade, que existe desde o século XIX, conseguiu olhar para Macau nos anos 60 do século passado, e ver uma oportunidade.
“Criou, primeiro, a capital do jogo asiática e depois a capital do jogo mundial”, relembra.
O mesmo acrescenta que Stanley percebeu ainda que Macau se podia desenvolver muito mais “se as receitas do jogo pudessem crescer de uma maneira exponencial”.
“Percebe como fazer isso, ligando Macau a Hong Kong e depois fazendo a defesa da abertura à China.
Não quis que a abertura internacional acontecesse, depois tentou que fosse apenas mais uma concessão, mas a verdade é que acabaram por ser três, e hoje são seis pelo advento das subconcessões”, relata.
Um homem excecional que não se fechou ao mundo
Amigo pessoal de Stanley Ho, o presidente da Associação de Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, não hesita em dizer que se tratava de “um homem excecional”.
Acrescenta às qualidades de Ho o facto de ser “um homem muito inteligente, um homem multifacetado, um homem muito culto, um homem generoso, um homem simpático, um homem que criava empatia com as pessoas com que interagia”.
Neto Valente diz que foi acima de tudo um empreendedor.
O que se fez e desfez em Macau, durante décadas, teve a sua impressão digital.
“Não houve nenhum projeto em que não estivesse envolvido.
Não era um homem que criasse riqueza apenas para si próprio.
Ele queria transformar a sociedade e tinha visão.
Tinha-o porque era culto e falava várias línguas.
Não tinha uma visão estreita da realidade, ou só da sua cultura chinesa”, explica.
“Tinha os valores ocidentais e era um homem que conhecia Portugal, onde investiu”, soma.
O advogado, há várias décadas no território que até 1999 foi administrado por Portugal, não tem dúvidas em catalogar o dono do casino Grande Lisboa como “um patriota em relação à China”, com quem “sempre teve boas relações”.
“Foi muitas vezes ponte entre os interesses portugueses e chineses designadamente na política”, explica.
Era um homem ouvido por todos os governadores portugueses, que o auscultavam para saber a sua opinião.
A ideia vigente era de que nada acontecia, na cidade do sul da China em que agora vivem quase 700 mil habitantes, sem a sua aprovação.
Mas Stanley não sofria de soberba e não fazia gala desse poder que tanto era visível como invisível.
“Era alguém a quem as pessoas recorriam e ouviam a opinião, mas ele não se gabava disso, nem das conversas nem dos conselhos que dava aos governadores”, explica o presidente da AAM.
Além de uma vida de sucesso empresarial, e apesar de nunca ter querido assumir lugares políticos em Macau, participou na elaboração da Lei Básica do território (a sua mini-Constituição), e era delegado à Conferência Consultiva Política do Povo Chinês em Pequim.
“Tinha a capacidade de apreender a realidade com muita rapidez.
Tinha muita intuição”, conta Valente.
“Ele inspirava respeito e era respeitado.
Era uma pessoa que tinha amigos, e eu sou um deles, que hoje está muito triste com o seu desaparecimento”, lamenta.
Em relação ao futuro da SJM, e sobre as disputas no seio do universo de descendentes que tem marcado os últimos anos, Jorge Neto Valente crê que o património há “muito tempo que foi distribuído pelos herdeiros, mas claro que há uma parte importante a ser discutida e dividida”.
Ainda assim, não crê que a morte seja um momento marcante, porque, depois do acidente em que teve um traumatismo craniano há 10 anos, que Stanley “não tem influência, a presença dele era mais simbólica”.
Falta massa? Chama o Stanley
Albano Martins está há quatro décadas em Macau.
O economista foi presidente da Autoridade Monetária de Macau, mas foi quando esteve como diretor da Companhia de Desenvolvimento Nam Van que mais contatou com o dono do jogo de Macau.
Na altura, década de 1990, estava em causa a criação dos grandes aterros que fizeram ganhar espaço à água, e “que hoje marcam e definem a cidade”, onde foi construída a icónica Torre de Macau.
Martins lembra “um grande empreendedor, um individuo que galgou, subiu na vida à custa de grandes empreendimentos onde ele liderava e levava-os em frente”.
Sobre o enorme poder que o empresário detinha, Albano Martins define-o assim:
“Sabia-se que quando havia falta de dinheiro, por exemplo para acabar o terminal marítimo do Porto Interior, o Stanley entrava com a massa”.
“A imagem que tenho é do homem que fez crescer Macau, amigo dos portugueses, afável e de bom trato”, lembra.
A simpatia chegava ao ponto de, às vezes, em reuniões e assembleias gerais em que estavam chineses e portugueses “até se dar ao cuidado de traduzir do chinês para o inglês para nós percebermos”.
“Morreu um amigo de Portugal”
Por esta e outras atitudes de Stanley Ho, e por todo histórico nas relações com os portugueses, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse à Renascença que “morreu um amigo de Portugal”.
“Hoje, que morreu, curvamo-nos perante a sua memória e lembramo-lo com saudade”.
Santos Silva destaca o papel que Ho desempenhou ao longo de muitas décadas, tendo “contribuído quer para a economia de Macau como para a economia de Portugal, visto que também fez vários investimentos importantes” no nosso país como os casinos de Lisboa, do Estoril e da Póvoa do Varzim.
Também o general Garcia Leandro, que foi governador de Macau de 1974 a 1979, recorda os tempos em que negociou com Stanley Ho a difícil revisão do contrato de jogo, assinado em 1976.
“Tínhamos posições muitos diferentes, à partida.
Ele queria pagar o mínimo, eu queria que pagasse muito mais.
Chegámos a um resultado muito bom e que foi muito importante para a recuperação de Macau, que estava naquela época com alguma falta de confiança no futuro”, recorda Garcia Leandro.
Na altura, a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), detida por Stanley Ho, passou a pagar a renda anual de 30 milhões em dólares de Hong Kong (3,5 milhões de euros ao câmbio atual), sendo que as obrigações anuais passariam a mais de 80 milhões em dólares de Hong Kong (9,5 milhões de euros ao câmbio atual) contra os 9 milhões do contrato que terminava (um milhão de euros ao câmbio atual).
Apesar desse período difícil, manteve-se a amizade ao longo dos anos.
“Nós tivemos uma relação bastante agradável.
E depois de ter acabado esse período complicado, ficámos amigos e com uma relação muito boa.
Sempre que ia a Macau estava com ele, ou em Macau ou na sua casa, em Hong Kong”.
Para o antigo governador daquele território, “a marca de Stanley Ho em Macau é uma marca que nunca irá ser apagada”.
João Carlos Malta com João Cunha.
Rádio Renascença, 26 de Maio de 2020.
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Mesa-redonda celebra 100 anos de Henrique de Senna Fernandes – PONTO FINAL

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Criada no âmbito da Escola de Verão, que está a decorrer na Universidade Politécnica de Macau, o painel abordou a vida e obra do escritor macaense nascido em 1923, debatendo os conflitos interétnicos da sua obra, bem como o estado da arte e as suas evocações. Houve lugar à análise do conto “Os bons fantasmas”, […]

Source: Mesa-redonda celebra 100 anos de Henrique de Senna Fernandes – PONTO FINAL

 

Quase duas semanas a comemorar o estudo em Português na UPM – Escola de Verão do Doutoramento em Português, centenário do nascimento de Henrique de Senna Fernandes e muito mais…

o melhor restaurante macaense do mundo

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Macau Kitchen recebe uma roseta do guia AA por excelência culinária. 🏴󠁧󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿🇲🇴
A distinção é similar às estrelas Michelin, mas apenas são dadas a restaurantes situados no Reino Unido.
Os inspectores do AA consideram o Macau Kitchen “uma experiência gastronómica única no coração de Edimburgo”.
Ao PONTO FINAL, o chef Kei de Freitas, proprietário do espaço, considera que as expectativas sobre a experiência gastronómica no restaurante “vão aumentar” e, por conta disso, “vamos ter que estar preparados para tal”.
O mais premiado restaurante de comida macaense no mundo voltou a fazer das suas.
Desta vez, o Macau Kitchen acaba de ser agraciado com uma roseta pelo guia AA, o equivalente ao guia Michelin, mas apenas no Reino Unido.
“Acabámos de entrar no maior guia de restaurantes do Reino Unidos.
O Macau Kitchen recebeu uma roseta no AA, o que faz com que passemos a ser o primeiro restaurante de cozinha de fusão a ganhar este distinto prémio”, começou por dizer ao PONTO FINAL o chef Kei de Freitas, que juntamente com a mulher Hoeyyn Ngu são os proprietários do espaço.
Os inspectores do guia AA são peremptórios: “o Macau Kitchen é uma experiência gastronómica única no coração de Edimburgo”.
“Este restaurante centra-se na herança gastronómica de 500 anos da cozinha macaense e malaca da Eurásia, seguindo a rota das especiarias portuguesas na Ásia.
O menu inclui os favoritos da cozinha macaense e malaca, e eles também têm um menu que muda diariamente com um menu criativo do chef baseado nos princípios do estilo de cozinha e a sua jornada pessoal em Macau e Malaca”, acrescentam.
O estilo de cozinha de fusão luso-asiática é igualmente destacado pelos inspectores do guia AA.
“Luso-asiática refere-se à sua herança culinária que se origina dos assentamentos portugueses e casamentos em Goa, Malaca e Macau.
Todas essas regiões são abençoadas com um clima tropical e uma incrível diversidade de temperos, técnicas culinárias e produtos.
Essa diversidade forma a base dos sabores com os quais o chef cresceu.
A presença portuguesa em Goa criou a cozinha luso-asiática goesa, que por sua vez influenciou a cozinha luso-asiática encontrada em Malaca.
Esta evolução multifacetada também moldou a cozinha de fusão luso-asiática de Macau, sendo a influência comum a todos influenciada pelo comércio de especiarias portuguesas na Ásia e o casamento com mulheres locais em Goa, Malaca e Macau”, concluiu o guia na sua apreciação ao Macau Kitchen.
Para Kei de Freitas o mais recente galardão traz ainda mais responsabilidades a um conceito que tem vindo a ser um sucesso desde a primeira hora.
“É um orgulho ser o primeiro restaurante a ganhar um rosette AA com cozinha de fusão e com a tradição macaense e a ligação a Portugal.
Só existem 1403 restaurantes com rosettes no guia AA em todo o Reino Unido e ser o primeiro português a confeccionar cozinha macaense e a entrar no guia com uma rosette é fantástico paramim e para toda a equipa que trabalha, diariamente, muito seriamente”.
Daqui para a frente, os planos são muito claros.
“Écontinuar a trabalhar e a melhorar o que jáfazemos.
Certamente, as espectativas sobre a experiência gastronómica no Macau Kitchen vão aumentar e nós vamos ter que estar preparados para tal”, referiu ainda o cozinheiro moçambicano criado na cidade do Porto.
O restaurante Macau Kitchen abriu portas em 2019 e foi fortemente impactado pela pandemia de Covid-19.
Recorde-se que, desde a sua abertura, o Macau Kitchen já foi laureado por diversas vezes de onde se destacam o prémio de Melhor Restaurante de “World Food”, em 2022, pelo jornal Edinburgh Evening News, um dos mais prestigiados na Escócia.
Também no ano passado, foi nomeado finalista na edição deste ano do The Scottish Asian Food Awards na categoria de Asian Fusion Restaurant of the Year, que venceu.
O prémio roseta do guia AA, concedido pela primeira vez em 1956, foi a primeira plataforma britânica de avaliação da qualidade da alimentação servida por restaurantes e hotéis.
A equipa de inspectores tem uma experiência na avaliação da qualidade em todo o Reino Unido, portanto, conforme se pode ler no site na Internet dos prémios, “receber o prémio é uma grande conquista que não deve ser subestimada”.
“A roseta é um prémio e não uma classificação, sendo que as rosetas são concedidas anualmente em escala crescente com base numa visita de um ou mais dos nossos inspectores”.
Macau foi designada como Cidade Criativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) na área da gastronomia, em 2017, reconhecendo-se que a cozinha macaense contribui para o desenvolvimento sustentável do território, sendo considerada uma das mais antigas de fusão.
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Manuela Silva

Parabéns 👏👏👏
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