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  • Morreu vítima de cancro a mulher que casou com Stanley Ho aos 14 anos

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    Lucina Laam King-ying morreu no sábado, vítima de cancro. O casal conheceu-se num baile, nos anos de 1950, e Lucina casou com o magnata como concubina legal.

    Source: Morreu vítima de cancro a mulher que casou com Stanley Ho aos 14 anos

  • memorias-de-macau-chrys-c.pdf

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    https://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2022/05/

  • macau 2011

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    1. cultos não ocultos e cristãos, lomba da maia, mai. 6, 2011

     

    aqui não é a face oculta da lua

    nem marte planeta vermelho

    1627 marca a data

    no templo de kun iam tong

    um começo budista no delta

    do rio das pérolas

     

    aqui se celebrou em 1844

    o tratado sino americano de mong há

    à sombra da árvore dos amantes

    sob o testemunho dos 3 budas preciosos

    e a bênção do buda da longevidade e kun iam

    aqui acendi o meu incenso

    fiz preces em 1977

    repeti rezas em 2011

    na esperança fundada

    de os deuses estarem comigo

    há momentos espirituais mágicos

    este o partilhamos

    com lusófonos amadores de cultos orientais

    perambulando por entre crentes devotos

     

    atordoados pelo intenso aroma

    envoltos na mística exótica

    como camilo pessanha ou camões

    aprendizes da galiza, bulgária, alemanha,

    moçambique, açores, canadá e brasil

    e tantos outros países

    todos supersticiosamente crentes

    os cristãos partiram santamente

    com sacros sacos de incenso

    para acenderem em altar devoto

    a n. sra. de Fátima, à santa da ladeira

    ou em romagens ao santo cristo

     

    em coloane visitaram tin hau

    templo da deusa dos céus

    de kuan tai (deus da guerra e das riquezas),

    de lu ban (deus dos carpinteiros),

    de choi bak (deus da riqueza)

    de hua tuo (deus da medicina)

    todos guardados por leões

     

    passearam pela igreja

    de s. francisco xavier

    com a tradicional imagem

    uma deusa chinesa segurando um bebé

    sinoversão da virgem maria

    ponte intercultural do oriente e ocidente

     

    embevecidos na gruta de camões

    ouviram poemas ao vivo

    em fundo de dança tai-chi

    uníssono com a concha e o vasco

    dissonantes com o chrys e luciano

    fazia calor e estava húmido

    como já nem se lembravam

     

    depois, foram em preito

    a a-má, deusa do céu

    em templo miscigenado

    de tao, confúcio e buda

    a tian hou deusa dos navegantes

    preitearam no pavilhão das orações

    ou primeiro palácio da montanha sagrada

     

    não deitaram panchões

    não dançaram a dança do dragão

    receberam lai-si fora de época

    banquetes de nunca acabar

    comida de não perguntar

    debateram-se com fai chi

    até pedir faca e garfo

     

    para quem lá viveu e sonhou

    jamais sonhando regressar

    ver macau nova e pujante

    foi alegria insuspeitada

    dita por chineses em lusa voz

     

    aqui deixo a promessa

    perdoa-me

    quero voltar.

     

    1. ode ao ipm: a china e a lusofonia, macau 15 abr. 2011

     

    a cabeça de jade do dragão

    volitava promessas

    nós dançando em volta e cantando

    eram portuguesas as palavras

    chinesas as faces

    íamos falar de lusofonias

    aprendemos harmonias

    hospitaleiras gentes

    fazendo nossa a casa delas

    trataram-nos com honrarias

    lusófonos dignitários qing

    deram lições de progresso

    aprendemos seculares tradições

    partilhamos verbos e nomes

    comidas e sabores

    humildes aprendizes de feiticeiros

    pasmados

    deslumbrados

    fizemos vénias e sorrimos

    cativados

    fascinados.

    prometemos voltar.

     

     

  • Macau proíbe voos de passageiros de fora da China por duas semanas

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    Macau vai proibir a entrada, por via aérea, a partir de domingo e durante duas semanas, de pessoas oriundas de “regiões fora do interior da China” com destino ao território, anunciaram hoje as autoridades.

    https://www.rtp.pt/noticias/mundo/macau-proibe-voos-de-passageiros-de-fora-da-china-por-duas-semanas_n1374733

    Source: Macau proíbe voos de passageiros de fora da China por duas semanas

  • Paula viajou de Macau para Portugal. Para cá pagou 250 euros por uma noite num quarto sem janela, no regresso faz 28 dias de quarentena

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    Esta é a saga de uma cidadã portuguesa que vive em Macau há dez anos e precisou de vir este mês a Portugal. A agência onde comprou o bilhete de avião reserv

    Source: Paula viajou de Macau para Portugal. Para cá pagou 250 euros por uma noite num quarto sem janela, no regresso faz 28 dias de quarentena

  • MAcau e o controlo de identidade pela pandemia

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    Unregistered Macau Pass holders face paying full MOP 6 fare next month.
    New scheme, which comes into effect 11 December, steers passengers into using their real names and contact details.
    Unregistered Macau Pass holders will need to pay full bus fares, MOP 6 per ride, starting on 11 December, the Transport Bureau has announced.
    Aiming to trace close contacts of Covid-19 patients more efficiently, the government has liaised with Macau Pass and the two local bus companies to implement the “bus rider real name registration scheme”.
    Those who register their Macau Passes can continue to enjoy a discount starting on 11 December.
    The registration period for the Macau Pass starts on 27 November at 10 am.
    Residents need to first sign up online, then go to one of the card-tapping spots to activate their Macau Pass.
    When residents sign up to register their Macau Pass, they will need to provide their Macau Pass number, card holder’s name, and mobile phone number.
    After cardholders receive a confirmation message, they can activate their cards at one of the city’s 130 card-tapping spots which are located at the bureau’s service area, public car parks, Macau Pass customer service centres, public bus terminals, nucleic acid test stations, and the six gaming operators.
    Residents who hold a senior citizen pass, student pass, disability pass, auto-top-up card, third round of e-consumption smartcard (validity period until 31 December), and MPay bus pass will not need to be registered.
    Up to three Macau Passes can be registered with one mobile phone number.
    Starting at midnight on 11 December, all holders of unregistered or inactivated cards will be charged the full fare, which is MOP 6 instead of the MOP 3 subsidised normal fare on public buses and MOP 4 for express routes, until the card is fully registered and activated.
    In order to be able to track passengers who paid with cash or unregistered Macau Passes, the bureau will gradually implement a system to record their travel history.
    The bureau urged residents to register their Macau Pass as soon as possible, stressing that anyone who needs help can go with their mobile phone and Macau Pass to any of the Macau Pass customer service centres or one of the card-tapping spots for assistance.
    No photo description available.
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  • cem anos de DEOLINDA DA ENCARNAÇÃO, mulher, jornalista, escritora de Macau

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    A Mulher Coragem e a sua Liberdade na Escrita.
    É descrita com um misto de sentimento que caracteriza a determinação de uma mulher com um pensamento à frente para a sua época.
    É em si a liberdade e a libertação para as mulheres, quebrando a hipocrisia da sociedade.
    No domingo assinalam-se 100 anos (nota: este artigo é de 2013) do nascimento de Deolinda da Conceição que, por mérito profissional, se tornou na primeira jornalista de Macau, trabalhando num universo dominado pelo sexo masculino.
    Através da leitura dos seus contos é possível sentir a sensibilidade com que toca nos vários mundos que se cruzaram numa terra pequena.
    Um cais onde a mãe é desprezada pelo conflito interior do filho, nessa angústia de viver a incerteza de ser parte de dois mundos que se tocam em Macau ou os passos que afastaram Sam Lei do lar “quando a guerra veio lançar as suas garras sangrentas” e a levaram a descobrir a firmeza da mulher que encerrava em si.
    Nas páginas de Deolinda da Conceição cabe sobretudo a sensibilidade para o outro.
    Sem precisar de malabarismos, a primeira jornalista de Macau não escreveu apenas contos de amor, mas sobre a sua verdade, à medida que foi despindo a pele de uma sociedade hipócrita, que pecava num silêncio capaz de esconder a beleza dos que ousavam ser livres.
    Mas ela não conseguiu ficar indiferente à poesia do próximo, mesmo que os sons de cada verso às vezes fossem lágrimas ou gritos de superstição.
    Nascida a 7 de Julho de 1913, na freguesia de São Lourenço, – há quase 100 anos – Deolinda do Carmo Salvado, viria a enfrentar uma época pouco justa para as convicções da mulher independente que crescia no seu íntimo.
    E se nos seus contos o destino é um dos elementos dos enredos reais, ela escreveu o seu rumo abarcando o mundo.
    Aos 18 anos casa em Cantão com Luís Gaspar Alves, um dos primeiros sinais “do seu carácter determinado”.
    Partiu para Xangai já com um filho nos braços e depois do nascimento do segundo rebento teve a coragem de impor os seus sentimentos e divorciar-se.
    Nunca desistiu.
    Trilhou o caminho da guerra com uma doçura de mãe e as penas que sofreu viriam a transformar-se em felicidade quando entra no Jornal “Notícias de Macau”, onde é aceite por mérito, após ver castigada a coragem de se divorciar sendo-lhe retirados todos os cargos de docência que até então exercia.
    “Casamento de jornalistas”, anuncia o Notícias de Macau a 19 de Maio de 1948, publicação que recebeu a festa desta união, na sua redacção, abrindo uma janela para um final feliz.
    No conjunto de fotografias que recordam a sua mãe, António Conceição Júnior é ainda um menino que dá pela cintura dos pais.
    Nascido em 1951 fruto da união de Deolinda e um “homem bonito” – porque num tempo marcado pelo domínio masculino, também havia homens livres de preconceitos – passou pouco tempo com a mãe, mas suficiente para dela guardar a natureza.
    Dos cerca de seis anos de convivência as memórias não diria que são poucas, mas estão guardadas num recanto de saudade.
    “As lembranças que tenho de minha Mãe são escassas, pois há muitos hiatos que surgem naturalmente com o desaparecimento prematuro de uma Mãe, quando se tem seis anos de idade.
    Porém, todas as escassas memórias que tenho, são de uma infinita doçura”, revela-nos quando convidado a recordá-la.
    Embora seja difícil falar sobre um tempo distante as palavras “Mãe construtiva, encorajadora” jorram-lhe naturalmente.
    “São memórias que, sempre que as recordo, têm este sabor doce, de uma doçura temperada por uma inteligência capaz de entender um filho pequeno”, a quem soube estimular a sensibilidade “anunciando a liberdade que queria para ele”.
    Generosidade em tempo de guerra
    O universo desta mulher, descrita com a riqueza humana, foi-se construindo à volta do filho e da sociedade através das lembranças das pessoas que com ela conviveram e testemunharam o seu caminho.
    Foram muitas aliás as que ainda quiseram prestar homenagem a esta mulher pioneira, através de textos, durante alguns eventos públicos.
    Com “lágrimas dançando nos olhos” muitos falaram ao pequeno António de uma história de vida “que exemplifica bem que [sua mãe] era uma mulher de vontade férrea, mas igualmente Senhora em toda a sua extensão da palavra, que sempre assumiu sem grandes alardes todas as consequências de ser Mulher emancipada numa Macau demasiado pequena e paroquial”.
    Num texto escrito por José (Adé) Dos Santos Ferreira, e o qual foi inserido na Fotobiografia de Deolinda da Conceição comemorativa dos 30 anos do seu falecimento – publicada pelo Instituto Cultural -, é sublinhado o seu contributo para o próximo.
    “Com a chama do seu amor ainda a flamejar-lhe no coração, a inteligência a resplandecer-lhe no cérebro, a esposa e mãe carinhosa que sofreu porque amou com amor verdadeiro, a mulher instruída que marcou relevo no campo das letras, cedo se apartou de tudo e de todos, deixando angustiados não poucos corações”, escreveu o homem do patuá.
    Adé, que conviveu com Deolinda da Conceição, descreve ainda a colega de trabalho como “dedicada aos amigos” e que “sabia também abrir o coração para compreender o infortúnio alheio”.
    A viver numa altura em que a guerra deflagrou e se alastrou a Macau, Deolinda teve de enfrentar com dois filhos nos braços a vida num campo de refugiados em Hong Kong durante a invasão japonesa.
    É debaixo do fogo, fome e corpos prontos a subir a outra dimensão que prova a sua força.
    “Outra faceta desta personagem é ser uma pessoa trabalhadora e activa.
    Sai do espaço doméstico ao qual está circunscrito e é professora, directora de uma Escola Portuguesa de refugiados de Hong Kong.
    Fez parte da missão de protecção dos refugiados”, referiu ao JTM Helena Vale, conhecedora da obra de Deolinda da Conceição e que teve acesso à descrição desta mulher através das pessoas que com ela conviveram.
    Naquele período Deolinda, antes dos seus 35 anos, “testemunhou muitos dramas pessoais”.
    “Era muito atenta ao outro”, descreveu Helena Vale notando o seu percurso.
    “Uma rapariga que sai de um meio pequeno e vai para Xangai contactou com muitas pessoas nessas áreas cosmopolitas, gente de muitas paragens o que a ajuda a ser o que ela é: aberta ao mundo”.
    A vertente humana que a caracteriza acaba por transparecer, invariavelmente, para os inúmeros contos que escreveu e os quais foram publicados no “Notícias de Macau”, que funcionou nas instalações onde actualmente está a redacção do Jornal Tribuna de Macau.
    Notícias de Macau, Portugal e a felicidade
    É depois da crueza da sociedade lhe tirar tudo que Deolinda da Conceição acaba por conhecer uma nova fase da sua vida.
    A perda de todos os cargos de docência não vergaram esta mulher aos padrões de uma sociedade fechada num eco surdo de si.
    Continuou activa e o seu mérito acabaria por lhe garantir mais um acto pioneiro: tornar-se a primeira jornalista de Macau.
    “Seguramente um dos aspectos que mais orgulho tenho, ainda antes de ter nascido, é o de minha Mãe ter assumido frontalmente o seu divórcio numa sociedade obscurantista, onde tal era um acto impensável”, realça António Conceição Júnior.
    Mostrou que havia outro caminho e provou-o ficando desempregada e enfrentando os olhos de uma sociedade pacóvia, hipócrita e ignorante”, acrescenta.
    Numa das fotografias disponibilizadas ao JTM pelo filho, Deolinda e o marido, António da Conceição, surgem a trabalhar frente a frente em 1947.
    Teve nas suas mãos a direcção de um suplemento feminino e foi impondo a sua escrita através de pequenas histórias, escrevendo também as páginas da sua felicidade ao lado de um antigo colega de liceu, mas nunca conformada ou indiferente ao crescimento da sociedade.
    “É convidada devido ao seu mérito profissional, mas também porque havia homens bonitos como o director do jornal que a convidara para fazer parte da equipa.
    Era a única mulher.
    Trabalhava como secretária de redacção e depois deram-lhe o suplemento Feminino”, referiu Helena Vale.
    Nesta altura “desdobra-se”: fazia crónicas de moda, de social e “era bastante contundente a expressar o seu pensamento”.
    Era uma “mulher que ousava”.
    Tomando conhecimento do seu talento “o jornal começou a publicar os seus contos e dar liberdade à sua criatividade”.
    Quando “entra para o jornal há um reencontro com um antigo colega de liceu.
    Acabou por se casar com ele no jornal”, tendo a participação dos colegas de redacção e directores da publicação que apadrinharam a união.
    Num discurso que proferiu aquando de uma homenagem a Deolinda da Conceição, Patrício Guterres disse que ela em vida “acalentou dois grandes sonhos, que conseguiu ver concretizados antes de nos deixar para sempre: visitar Portugal e publicar um livro”.
    “Em 1956 há a oportunidade de conhecer Portugal e como macaense nunca negou a sua matriz portuguesa”, afirma Helena Vale.
    “Selecciona 27 contos e publica ‘A Cabaia’”.
    Embora sem grandes conhecimentos naquele país “essa desconhecida vê prontamente aceite o seu livro de contos”, editado pela Livraria Francisco Franco.
    Deolinda da Conceição, que se deslocou a Portugal na companhia do marido e do filho mais novo, dava mais um passo de determinação no seu percurso ao ver publicado o seu único livro.
    Quando regressou de Portugal em 1957 foi internada no St. Paul’s Hospital de onde não sairia com vida.
    Deixou uma obra e um exemplo de convicção.
    “A Cabaia” e a libertação da mulher
    Os seus contos “centram-se na mulher” e direcionam-se em “dois sentidos: no papel da mulher no fantástico chinês, com o peso da superstição e o realismo com a guerra, a loucura”, refere Helena Vale.
    “São textos de uma riqueza humana que não precisa de se socorrer de malabarismos estéticos para a retratar.
    É acima de tudo um livro ético”, expressa.
    Folheando a mais recente edição do livro, datada de 2007 e publicada pelo Instituto Internacional, depressa se encontra esse toque sensível para o mundo dos outros.
    Durante uma conversa com o JTM sobre a obra desta escritora considerada pioneira no estudo da condição da mulher, Helena Vale ilustra as características que lhe são atribuídas com alguns contos.
    “A Esmola” é um dos que ainda faz piscar os olhos de tristeza e interrogação.
    “(…) em altos brados, a mulher repetia em choro convulsivo: – ele deu-me uma esmola, ele deu-me uma esmola, em troca da vida que lhe dei!”, lê-se no final da história que tem como personagens uma mãe chinesa e o seu filho que resultou da união com um homem da cultura portuguesa.
    “Retrata um rapaz que está no cais para partir para estudar fora e tem um complexo de ser diferente, mas questiona-se.
    Há um casamento entre duas culturas e ele tem vergonha da mãe e quer fugir, mas no meio do cais, onde está a sociedade toda a despedir-se, a mãe grita-lhe [para lhe dizer adeus] e quando chega perto ele dá-lhe uma esmola para pensarem que ela era uma pedinte e não sua mãe”, relata Helena Vale.
    Nas páginas que deixou escritas Deolinda da Conceição vai ao íntimo da sua comunidade tocando nos vários polos.
    Além do drama que envolve a existência das pessoas, os contos evidenciam ainda os “dramas das mulheres chinesas que tinham uma capacidade surpreendente de suportar o sofrimento” e também da sua “capacidade de se libertarem”.
    Aliás elas libertam-se nas suas linhas, como n’O Romance de Sam Lei.
    Rapariga saída da terra dos pais conheceu um velho letrado que lhe pediu o coração ignorando que ele continuasse casado com outra mulher.
    “Sam Lei sabia agora responder-lhe com desembaraço e acertadamente.
    Os dois anos de vida na cidade tinham-lhe aberto os olhos, e não tardou a que a sua inteligência aprendesse aquilo que lhe tinha sido vedado quando vivia feliz e despreocupada em casa dos seus pais”, relata a autora.
    Já numa crítica publicada no “Notícias de Macau”, pelo ensaísta e crítico literário João Gaspar Simões eram evidenciadas a simplicidade de estilo e a grandeza das histórias.
    “Não há dúvida, porém, que os contos de Deolinda da Conceição, na simplicidade do seu estilo e na singeleza dos seus recursos narrativos – muitos deles são breves narrativas, sem diálogo nem acessórios de observação ou paisagem -, são qualquer coisa de invulgar no panorama da nossa literatura de ficção”, lê-se no texto disponibilizado online num site que a família lhe dedica.
    “Humanos, comovidos, entre poéticos e lendários, se em muitos deles somos postos em contacto com uma China trucidada pela guerra e com um povo calcado aos pés do invasor, em não poucos também se nos entremostra a pureza misteriosa de uma maneira de ser que dá às mulheres a palma de sacrifício e aos homens essa enigmática presença (…)”.
    Para o historiador Fernando Sales Lopes, a obra de Deolinda da Conceição “destruiu a barreira entre ‘nós e os outros’”.
    “Havia uma terra com várias etnias mas todas faziam parte da mesma terra”, disse ao JTM ao notar que Deolinda foi “um exemplo”.
    “Não foi um exemplo seguido em termos literários [porque houve poucas a escrever], mas foi-o para as mulheres de Macau que viram nela um símbolo de libertação”, acrescentou.
    Torna-se consensual a coragem desta mulher, mas naquela época a valentia também lhe valeu inimizades.
    “Não poderei contar este ou aquele episódio por testemunho directo porque não teria condições para isso, mas sei que por diversas vezes foi pressionada por pessoas ditas poderosas para escrever laudas a algo ou tratar de assunto mundano.
    Invariavelmente o ‘não’ era delicado mas firme”, referiu por sua vez o filho António Conceição Júnior.
    “A sua acção, que acabou por ser também parte de uma missão transformadora, era um veio da natureza.
    “Era uma mulher coragem, com carácter forte que desde cedo o revelou.
    Mesmo quando se fala que foi pioneira por ter trabalhado num meio reservado aos homens ela não colocava a questão do género.
    Era mulher e tinha a consciência que a mulher ainda não tinha direito ao que deveria ter”, afirmou Helena Vale, realçando que em causa estava, acima de tudo, a condição humana.
    Uma tese em que Deolinda se impôs
    Concluída, com distinção, a tese de doutoramento de Inácia Morais – “Feminino na Literatura Macaense” – integra o estudo do papel e da obra de Deolinda da Conceição, mulher que se foi impondo na escrita da professora do Instituto Politécnico de Macau, também pioneira num estudo desta natureza.
    Depois de ter como fonte principal os jornais em que Deolinda publicou os seus textos, Inácia Morais não tem dúvidas que “ela reinventou a linguagem no feminino”.
    “Estabeleceu um discurso cujo estatuto já não era definido pela falácia do significado feminino”, explicou.
    A professora de Literatura, que tem levado Deolinda até aos seus alunos, diz ter acesso a um universo enigmático através daquele escritora.
    “Deolinda faz-me entrar neste pensamento: a linguagem das mulheres, com que nós funcionamos umas com as outras torna-se extremamente enigmática para os homens: o que eles chamam o enigma do feminino”, explicita ao salientar que para falar sobre estes temas é necessário ter conhecimento de causa.
    “Os contos dela são obras de arqueologia.
    Ela vai desenterrar o íntimo, as tradições, os rituais e os sentimentos da vida privada das mulheres, que antes estavam no secretismo oral – passavam-se entre mulheres, mas não entre as comunidades”, referiu.
    “A nível literário as palavras dela tornam-se como um roteiro das mulheres de Macau (…)”, refere.
    O caminho das suas letras é também parte da sua semelhança.
    “Este percurso percorrido pelo olhar feminino é como ela: atento, sensual, feito de olhares, aromas, sabores, como a terra e como o rio, em que vários sentidos de Macau vão percorrendo o seu texto”, refere Inácia Morais sobre a literatura de Deolinda da Conceição, mulher que se foi impondo na tese e apaixonando a professora pela sua coragem numa sociedade marcada pelo machismo.
    “Foi-se impondo na minha escrita e senti que quando estava a escrever ela estava a tomar conta da minha escrita”, disse ao notar que durante o trabalho que desenvolveu teve ainda a sensação que estava predestinada a escrever sobre esta pioneira.
    Ao ser uma “mulher com uma definição de liberdade diferente para a sua época” teve a coragem de passar “lendas da tradição oral” para o escrito constituindo um importantíssimo recurso para “darmos conta de uma época que de outra maneira perderíamos” pelo menos através de uma voz que tocou numa sensibilidade que a sociedade oprimia.
    E mesmo 100 anos depois do seu nascimento, que se comemoram no próximo domingo, Deolinda da Conceição continua a desafiar-nos.
    “Deixou-nos a tarefa, como leitores, de descobriu através dos textos a sua vida, inexoravelmente silenciosa até que alguém lhe descubra o sentido”.
    Fátima Almeida
    Jornal Tribuna de Macau, 5 de Jukho de 2013.
    May be an image of 3 people and people standing
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  • TDM, LIBERDADE DE IMPRENSA E MAIS CHINA EM MACAU

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    As tensões “democratizantes” de Hong Kong espirraram para Macau e as consequências já fazem capa de jornais em Portugal.
    Acusa-se a administração da TDM – Teledifusão de Macau, empresa de televisão e rádio do território, que mantém canais em português financiados pelo Governo (chinês), de ter recomendado aos jornalistas da casa não transmitirem notícias “hostis” ao governo da República Popular da China.
    Como reacção, cinco jornalistas da TDM demitiram-se em nome da Liberdade de imprensa e da Liberdade de expressão e a polémica vai elevada, muito também em murais de facebook de vários amigos meus.
    Não por acaso, que vivi em Macau 4 anos, fiz lá muitos amigos e conhecidos, e muitos deles continuam meus amigos, mesmo que os nossos contactos se mantenham apenas por aqui, no Facebook, onde todos continuamos a recordar e a discutir Macau com paixão.
    E é natural que todos os que viveram ou vivem em Macau discutam Macau acaloradamente.
    Macau foi, é e será um território fascinante, um mistério, uma quase disfuncionalidade geopolítica e social com origens no Séc. XVI, mas que perdurará para sempre.
    Mas não são só os que viveram ou vivem em Macau que surgem nesta discussão sobre as singularidades da minúscula região, uma vez que ela extravasa para a discussão do gigante chinês, a nação mais próspera do mundo, a nova centralidade.
    O “dragão” que faz tremer a White House e todas as sedes ocidentais de poder.
    Tenho opinião sobre este assunto.
    Não definitiva, não melhor que as outras.
    Mas minha.
    Até porque, além de ter vivido em Macau, trabalhei alguns anos na… TDM, o actual epicentro da polémica.
    A primeira palavra vai, obviamente, para os jornalistas que se demitiram.
    Agiram em nome da sua consciência e da sua pessoal percepção da realidade em que se encontram inseridos.
    Agiram como pessoas livres e têm todo o meu respeito e reconhecimento por isso.
    Isto dito…
    Não conheço os chineses de Macau – e até da República Popular da China, que visitei várias vezes, e porque muitos dos residentes em Macau vinham da “motherland” – só por ter vivido em Macau.
    Há quem tenha vivido em Macau muito mais anos que eu e não conheça os chineses.
    Estudei e trabalhei com eles, foram meus colegas próximos.
    Fui convidado para as festas e casas de alguns deles.
    Comi e bebi com eles.
    Dormi com algumas delas.
    Ainda assim, não tenho a pretensão de os conhecer bem.
    Longe disso.
    O que acho que conheço bem é o povo português, genericamente falando.
    E o que nós fomos em Macau, enquanto governámos aquele território.
    Fomos tudo, menos democratas.
    Enquanto Macau foi português, nunca foi uma democracia.
    Existia um Governo português, nomeado pelo Presidente da República Portuguesa, que tudo podia e em tudo mandava, incluindo na nomeação dos quadros superiores da Administração Pública de Macau.
    Existia também uma paródia que pretendia conferir um ar “democrático” ao que se passava em Macau, uma Assembleia Legislativa em que 2/3 dos deputados eram também nomeados e apenas 1/3 eleito democraticamente pelos residentes de Macau.
    A comunicação social em língua portuguesa, nomeadamente a que era financiada pelos dinheiros públicos (toda, em bom rigor) raramente se atrevia a “mijar fora do penico”, porque aconteciam represálias, nomeadamente deixarem de poder contar com a inserção de publicidade de organismos públicos, a maior fonte de financiamento, praticamente a única (além das subvenções, também elas públicas, está bom de ver, ou dos financiamentos por “mecenas” anónimos que exerciam, também eles, o seu condicionamento).
    Mesmo a liberdade de expressão e de opinião acarretava por vezes consequências graves para quem se atrevesse ao exercício de criticar em público os poderes instituídos.
    Não foram um, nem dois, nem três, os portugueses que acabaram recambiados de volta para Portugal por deixarem de ter sido “simpáticos” às autoridades locais.
    Quando vejo, portanto, portugueses a “rasgar as vestes” pelo declínio da Democracia em Macau, não consigo deixar de sorrir.
    Mas a opinião que tenho vai um pouco além do diminuto perímetro da minúscula Macau.
    Defendo a Democracia Liberal, é esse o regime pelo qual pugno e no qual quero viver.
    Porque sou ocidental, cresci e fui educado nesses princípios e os meus quadros mentais são obviamente balizados pelas referências que partilho com quase todos os que nasceram na Europa e América do Norte.
    Coisa diferente é o que se passa na China e na cabeça dos chineses.
    A maioria deles está a borrifar-se para essa tal de Democracia.
    Ainda nos anos 70, boa parte dos (então) mais de 900 milhões de chineses vivia em meio rural, em condições muito duras e difíceis e a sua maior preocupação era saber se iam ter uma tijela de arroz para comer ao fim do dia.
    Se houvesse um pedaço de galinha ou um pouco de peixe seco a acompanhar, então, seria certamente um dia de festa.
    Continua a ser essa a maior preocupação dos chineses: prosperar.
    Estudar, trabalhar, trabalhar muito, concretizar, prosperar.
    Nos costumes, são livres.
    A maioria dos chineses faz o que bem lhe apetece.
    Na política, de facto, já não é bem assim.
    A população chinesa, desde os anos 70 até hoje, quase duplicou, é hoje de 1,5 mil milhões de pessoas.
    Com mão de ferro, planeamento central e estímulo ao empreendedorismo, o regime chinês conseguiu elevar uma nação que tinha índices de miséria terríveis ao ponto a que hoje chegou, prestes a tornar-se o país mais rico do mundo, com índices de bem-estar que se alargaram à grande maioria da sua população e, inequivocamente, uma nova superpotência mundial.
    É natural que isto assuste o Ocidente.
    Existem chineses que lutam por maior abertura e mais democracia?
    Existem, com certeza que sim.
    Em Hong Kong, em Macau, na “motherland”.
    Isso é um problema, uma preocupação, para a larguíssima maioria dos chineses?
    Não.
    Do que sei, do que conheço, que é muito pouco, ainda assim, a larga maioria dos chineses passa bem sem democracia e nem sequer pensa nisso.
    Os quadros mentais ocidentais, a ética judaico-cristã, as ideias de democracia liberal, não são “tomadas a peito” pelos chineses.
    Não são referência para eles.
    Era bom que tanta gente que fala sobre Macau e China percebesse ao menos esta coisa tão simples…
    (da página do Facebook de André Serpa Soares).
    May be an image of sky and skyscraper
    Vicente Domingos Pereira Coutinho and 18 others
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    • É isso, no essencial. É bom nunca esquecer que há uma Declaração Conjunta, assinada por dois Estados Soberanos, Portugal e República Popular da China, em que uma das pedras basilares, é a consagração em Macau, do modelo “um país, dois sistemas”. Para …

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        Exageras,

        Miguel Brandão

        , e tu sabes bem que a liberdade de expressão e informação é perfeitamente assegurada em Macau, seja nos órgãos de comunicação de língua chinesa, portuguesa ou inglesa.

        Todos esses órgãos de comunicação vivem, primacialmente, à …

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      • Luis Almeida Pinto

        É o seu ponto de vista, que no essencial vai ao encontro do meu, que é o de que cada vez mais temos menos segundo sistema. Ora quando à liberdade de expressão e de informação, exagera quando faz crer que eu disse que essas liberdade…

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        Estamos, sim, de acordo no essencial,

        Miguel Brandão

        .

        Muito mais teria que ser feito na consagração plena das Liberdades Fundamentais estabelecidas para esta Região Especial do segundo sistema da República Popular da China, e o que nós assistimos é um …

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