EDITORIAL
O grito de uma mãe para ser ouvido
1- O “Correio dos Açores”, na sua edição de ontem, publicou um trabalho que relata o trauma de um aluno menor que foi vítima de abuso sexual de por uma pessoa mais velha. A mãe admite nunca ter imaginado a amplitude do problema e da revelação que iria escutar do filho, que lhe deu força para ir denunciar à Judiciária o crime. Descreve depois o comportamento dos colegas de escola ao terem conhecimento dos factos, e a alteração comportamental da vítima, até ao dia em que soube da decisão do Tribunal em aplicar uma pena de vários anos de prisão ao “violador”, o que lhe aliviou o fardo que ele carregava, embora a vítima ainda vá conviver com os resquícios do trauma durante muito tempo.
2- Com esse trabalho, procurámos chamar a atenção para os cuidados que são precisos ter com os jovens, quer no seio familiar, no convívio com os amigos e, sobretudo, na escola, onde os professores têm uma responsabilidade como mestres, olheiros atentos ao comportamento dos alunos, tal como a relação entre eles, porque os traumas que se adquirem nessa idade condicionam os jovens para a vida inteira, por mais tratamentos que façam.
3- O grito de revolta daquela mãe quando soube do abuso sexual de que o filho havia sido vítima, deve ser replicado quando se sinta que as crianças estão a ser levadas para maus caminhos que conduzem depois ao uso de substâncias tóxicas que os marcarão de outra forma para o futuro.
4- Estamos a atravessar um período complexo da história onde se confrontam os comportamentos das pessoas com os direitos e deveres que moldam as sociedades neste mundo global, enlaçado em inúmeros perigos tal como disse o Presidente do Tribunal Constitucional, que vão desde a “normalização da devassa da privacidade dos cidadãos”, onde impera a denúncia anónima que renasceu na Democracia como sendo a nova Inquisição onde as pessoas são denunciadas e julgadas depois na praça pública, em nome do combate ao terrorismo e aos negócios fraudulentos fruto da globalização descontrolada e levando a “pulsões securitárias” que ganham força e como diz o Juiz conselheiro João Pedro Caupers, depois “não há liberdade que resista”, e há “um futuro ameaçador que já nos bate à porta”.
5- O Presidente do Tribunal Constitucional lembrou a lei dos metadados que está em aperfeiçoamento na Assembleia da República depois de ter sido chumbada no Tribunal Constitucional porque, segundo diz, “A acumulação de dados pessoais sobre os cidadãos, com alegado fundamento na defesa destes, dramatizou o respectivo acesso, situação que se encontra reflectida na controvérsia que grassa na Europa e nas suas instituições sobre os chamados metadados.”
6- A implantação da Democracia criou como bem supremo a defesa das liberdades, mas o que se vem assistindo a grande velocidade e em nome da segurança ao crime internacional é a uma alteração da “hierarquia de valores” em nome da segurança, e do branqueamento de capitais, quando se sabe que o tráfico de armas e de droga continuam a circular pelo mundo, e o dinheiro a ser movimentado pela rede financeira que dispõe, enquanto os cidadãos e as empresas sérias são obrigadas ao cumprimento de vários requisitos e a preencher inúmeros questionários para provar que não são bandidos nem negociantes de obras de arte.
7- A União Europeia está entretida com a sua agenda de mudança quanto à energia, à digitalização e ao meio ambiente. Mas, pelos vistos, a Alemanha não vai em cantigas, e o Governo alemão anunciou Terça-feira passada que não vai apoiar a proibição da venda de carros novos com motores de combustão a partir de 2035 preparada pela União Europeia (UE), após não obter garantias para uma isenção dos combustíveis sintéticos. Interesses cruzados que sabemos como começam mas não se sabe como acabarão.
8- No meio de todas as incertezas, é de esperar que na República continuem as acções de controlo do preço dos bens alimentares e que a Região siga o mesmo princípio, para evitar que a fome que se faz sentir já, não cresça de tal forma que o povo faminto se levante em nome da justiça. in, Correio dos Açores, 05 de Março / 2023