480 anos depois, por um Portugal moderno e competitivo no Japão.
Em 2023 assinalam-se os 480 anos da chegada dos primeiros portugueses ao Japão.
No imaginário coletivo ficaram diversos episódios desse encontro, desde a tormenta que levou três mercadores lusos a aportarem em Tanegashima em 1543, à introdução da espingarda no arquipélago, à missionação da Companhia de Jesus, ou ainda à abertura do porto de Nagasáqui.
A nossa primeira presença no Japão prolongou-se por quase um século, terminando em 1639 com o último édito de expulsão dos portugueses do território nipónico.
Esse período assistiu a um intenso e singular intercâmbio entre os dois países, como também entre o Ocidente e o Oriente, que deixou marcas indeléveis nos nossos povos.
Mas uma vez interrompido, foi necessário esperar até 1860 para estabelecermos as relações diplomáticas que constituem a base do segundo encontro luso-nipónico, que se prolonga até ao presente.
Esta efeméride está a ser aproveitada na prossecução de uma estratégia mais abrangente de modernização do relacionamento com o Japão, de olhos postos no futuro e em todas as áreas.
Quer ao nível das autoridades governamentais, quer do setor privado e da sociedade civil, tenho assistido a um crescente interesse de Portugal em reintroduzir o dinamismo e inovação que historicamente pautaram as nossas ligações ao País do Sol Nascente.
Cabe-nos, pois, articular esta procura e desenvolvê-la para tirarmos o máximo proveito das oportunidades que se nos deparam.
O primeiro e mais evidente símbolo dessa estratégia foi a mudança da Embaixada de Portugal em Tóquio para um novo edifício, mais amplo e funcional, que permitirá relançar diversas atividades nas áreas diplomática, económica, cultural e turística.
Embora já operacional, a embaixada será formalmente inaugurada com representantes dos Estados português e japonês, no dia 2 de março, e culminará no desvelar de uma icónica obra original alusiva à amizade luso-nipónica de um dos mais renomados artistas nacionais contemporâneos.
O segundo momento desta nova dinâmica foi o lançamento de um logótipo conjunto entre as Embaixadas do Japão em Lisboa, e de Portugal em Tóquio, alusivo aos 480 anos de amizade entre os nossos países.
Em colaboração estreita com o meu homólogo, Embaixador Ota Makoto, a quem estendo um sentido agradecimento, cumprimos assim um tributo à longa história que nos une e abrimos portas para uma parceria assente em valores e interesses partilhados.
Se a nova embaixada será a plataforma para projetar o Portugal moderno e competitivo no Japão, cumpre definir a estratégia de jogo para atingirmos os objetivos.
Esta assentará primordialmente na dimensão económica.
Para este desiderato, a Embaixada e a delegação da AICEP em Tóquio têm estreitado o relacionamento com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Japonesa (CCILJ) e aprofundado os trabalhos de prospeção, consulta e acompanhamento junto de empresas japonesas.
Importa, e muito, atrairmos mais investimento nipónico para o nosso país, que tem tido um assinalável sucesso, contribuindo para gerar emprego e inovar o tecido tecnológico das empresas portuguesas.
De igual modo, continuaremos apostados em aumentar o volume e valor das exportações nacionais, subindo paulatinamente a cadeia de produção para bens de valor acrescentado, incluindo em setores tradicionais como os vinhos, têxteis e alimentar.
Ao mesmo tempo, temos intensificado o diálogo para explorarmos projetos de cooperação na área das energias renováveis (v.g., hidrogénio, solar e eólica offshore) para abastecer as nossas redes, e preparado o caminho para dinamizar o ecossistema das empresas start-ups.
A dimensão cultural assume também lugar de destaque na nossa estratégia.
Ela constitui um alicerce fundamental (e histórico) da nossa afirmação e pretende ir ao encontro do interesse que o povo japonês mantém pelas artes e língua portuguesas.
Durante toda uma semana, em finais de maio e início de junho, a Embaixada e o Centro Cultural Português irão organizar a primeira Festa de Portugal no Japão, um evento-bandeira para inserir o nosso país no calendário cultural de Tóquio.
Nesta versão inaugural, o evento será organizado em torno da exposição “My Plan for Japan”, da aclamada artista Ana Aragão, que trará uma perspetiva única sobre a paisagem urbana japonesa, inspirada nos grandes mestres arquitetónicos.
Contaremos igualmente com os apoios da Direção-Geral das Artes, que em boa-hora inseriu os 480 anos da chegada dos portugueses ao Japão como uma das suas três orientações estratégicas do Programa de apoio a Projetos – Internacionalizar, cujas candidaturas estiveram abertas até 10 de fevereiro.
Estes apoios destinam-se a iniciativas culturais a realizar no Japão até outubro de 2024 e permitirão reforçar a internacionalização dos nossos artistas.
Recordo ainda um dos principais eventos internacionais no horizonte, no qual teremos presença garantida e começamos, desde já, a trabalhar: a Expo 2025.
Durante seis meses, de abril a outubro de 2025, Osaka acolherá a sua terceira Expo (após 1970 e 1990), sob o tema “Designing Future Society for Our Lives”.
Portugal não pode, nem deve, perder a oportunidade de se assumir como um parceiro importante, de exibir as valências tecnológicas, económicas e culturais de que dispomos diante dos pavilhões do resto do mundo.
Cumpre também referir que, nesta recuperação pós-pandémica, a Embaixada e o escritório do Turismo de Portugal em Tóquio têm procurado acelerar a retoma dos fluxos turísticos provenientes do Japão.
As novas tendências de viagens e consumo permitem antecipar uma maior diversificação da procura, o que favorecerá as regiões do interior, estadias de maior receita, e uma experiência mais alargada do nosso país.
Por fim, estão sob consideração diversas visitas de membros do Governo e outras altas entidades ao Japão para continuarmos a expandir o número de instrumentos de cooperação bilateral.
Estes permitirão concretizar o ensejo recíproco de estreitarmos as nossas relações de amizade e de aproximarmos o que os oceanos separam.
Esta é uma oportunidade única para afirmarmos o Portugal moderno e competitivo que rege todo o nosso trabalho no Japão.
Quatrocentos e oitenta anos depois, estamos bem lançados para consolidar a parceria estratégica em setores-chave das nossas economias e sociedades.
(Embaixador de Portugal no Japão).
Jornal Diário de Notícias, 16 de Fevereiro de 2023.