O galego, a orquídea da língua portuguesa

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Diego Bernal

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O galego, a orquídea da língua portuguesa

Diego BernalPublicado em Domingo, 10 Junho 2012 17:05
“Eu sou filho dumha Pátria desconhecida”, deste jeito exprime Castelao, no segundo livro de Sempre em Galiza, a orfandade que magoa galegos e galegas quando, no estrangeiro, nos perguntam pola nossa origem.

Pessoa, num formoso verso, grudou pátria e língua poetizando como ninguém o amor que muitos habitantes da Galiza sentimos polo idioma de Camões e Rosália de Castro, “a minha pátria é a língua portuguesa”.
E, com certeza, o poeta luso deu no alvo porque quando mais abalados ficamos os galegos e galegas é ao comprovarmos que os nossos parceiros de idioma ignoram a unidade lingüística galego-portuguesa.
Numha recente entrevista, o comunista Miguel Urbano Rodrigues lembrava como José Velo Mosqueira, celanovês participante da afouta tomada por antifascistas luso-galaicos do navio Santa Maria, ficou comovido no Brasil ao ver todo escrito em língua galega.
Essa maravilhosa sensaçom que tantos de nós temos experimentado ao chegar a Portugal ou ao Brasil logo some ao reparar que o que é evidência para nós nom o é para portugueses e brasileiros.
Mas se galego e português som a mesma língua, por que o povo brasileiro e português nom reconhece as falas galegas como parte do seu idioma?
Para entendermos isto é preciso vasculhar outras realidades lingüísticas.
Numha aula de língua galega que dei na Universidade de São Paulo, mostrando a diversidade linguística peninsular, fiquei espantado ao ver que alguns alunos identificavam a língua basca e catalá com a castelhana.
De outro lado, quem ouvir falar cidadaos de Baiona ou Perpinhá nestes idiomas perceberá como quem nom tiver nengumha noçom de francês os associará com a língua francesa.
No Brasil é comum que falantes de brasileiro identifiquem o galego com espanhol e, ao mesmo tempo, falantes de espanhol o confundam com português.
No entanto, ainda que menos habitual, isto pode acontecer mesmo com outras variedades do nosso idioma.
O professor da Universidade Federal Fluminense, o corunhês Xoán Carlos Lagares, contou-me como uma pesquisadora lisboeta no Brasil, ao requerer o acesso a um arquivo militar, nom foi identificada polo praça como falante de português e o soldado perguntou ao seu superior se umha mulher que devia ser estrangeira porque falava um português “errado” podia consultar o acervo.
A que se devem estas confusons?
As línguas som um conjunto de falas coesionadas por um padrom impulsionado por umha elite. Toda língua padrom é umha construçom artificial que responde aos interesses de umha classe social.
O português padrom, como o espanhol ou o de qualquer língua, é um “invento” construído ao longo da história.
Na escrita, portugueses e brasileiros identificam sem hesitaçom o seu idioma como um só. Porém, na oralidade, ao existirem milhares de falares diferentes, nom sempre um falante identifica todos eles com o seu idioma.
Isto acontece porque os meios de comunicaçom silenciam muitas das variedades e empobrecem a língua portuguesa reduzindo as suas possibilidades de pronúncia.
A múltipla diversidade dá lugar, aliás, à inevitável tensom, maior ou menor, que todas as línguas tenhem entre fala e escrita.
No Brasil as falas cariocas e paulistanas e em Portugal as lisboetas chegam a todos os lares através da televisom, a rádio e a internet.
Porém, quantas vezes umha mineira ouve umha portuguesa de Chaves, umha galega de Burela ou umha indiana de Goa?
Mas as falas galegas, para além de estarem isoladas do resto da lusofonia padecem umha forte pressom do espanhol.
A delicada situaçom que atravessa o português da Galiza deve-se a que desde o século XV sofre um processo de marginalizaçom que derivou no conflito lingüístico atual em que o castelhano está a se impor ao norte do Minho.
O galego, entendido como as falas lusófonas faladas na Galiza, é umha variedade da língua portuguesa que como toda língua num contexto de conflito lingüístico sobrevive sob a coaçom da língua teito. A língua galega é, portanto, de um ponto de vista estritamente lingüístico, umha variedade de português enfraquecida polo espanhol.
É a vontade coletiva demonstrada na história polo povo galego de revitalizar o idioma o que fai que as falas galegas nom sejam umha variedade de “fronteira”, um portunhol ou um castrapo. Eis a recuperaçom de léxico histórico (Deus, povo, século), de sufixos (-vel) ou a luita que desde o primeiro terço do século XX trava o nosso povo pola recuperaçom de usos da língua autóctone em contextos de que tinha sido banida polo espanhol.
A estabilidade das formas lusitana e brasileira do idioma galego contrasta com a descaracterizaçom da variedade galega. Esta deturpaçom também afeta, como é lógico, à prosódia da língua.
O desconhecimento das variedades do português e a situaçom de conflito lingüístico em que se acham as falas galegas é o que explica disparatadas atitudes como quando os portugueses tentam falar castelhano a galego-falantes. Atitudes que, pedagogicamente, devemos tentar corrigir reivindicando o reconhecimento da nossa peculiar forma de falar como parte da língua portuguesa.
Identificar o galego com o português é vital para reverter a perda de falantes. As falas galegas, como as orquídeas, precisam dessa rija árvore -a língua portuguesa- para florescer e continuar a enfeitar a viçosa fraga da diversidade lingüística planetária, para alegrar e enriquecer, com as cores do seu sotaque, a língua de Portugal e do Brasil que, nunca o esqueçamos, foi falada antes na Corunha do que em Lisboa e Brasília.

ALEXANDRE BANHOS “Os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro”

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“Os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro”

 

Intervenção de Alexandre Banhos na celebração em Montalegre dos aniversários do Gallaeciorum Regnum e de Afonso Henriques primeiro rei de Portugal

 

Segunda, 19 Dezembro 2011 00:00
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PGL – Os 1.600 anos do reino da Gallaecia e os 900 do nascimento de D. Afonso Henriques foram tema dedebate no Ecomuseu de Barroso – Espaço Padre Fontes que decorreu o passado 26 de novembro. Orlando Alves, vice presidente da Câmara Municipal de Montalegre, impulsor do ato, no que colaborava aFundaçom Meendinho, presidiu a cerimônia, acompanhado por Barroso da Fonte e Alexandre Banhos, oradores da noite.
Orlando Alves, também vereador de Cultura, formalizou a abertura da palestra justificando o ato por não terem os portugueses “a verdadeira noção da importância [de] Portugal” e porque só o conhecimento das fraquezas do passado possibilita “transformá-las em forças” de futuro.
1600 aniversário do nascimento do Gallaeciorum Regnum
Alexandre Banhos falou do 1600 aniversário do nascimento do Gallaeciorum Regnum em Braga, “capital histórica da Gallaecia”, no ano de 411, ponderando os factos de ser o primeiro reino que se constituiu como tal dentro das fronteiras do Império Romano, de acunhar moeda e de chamar-se com o nome do povo que morava no território (Reino dos galaicos).
Enquanto nos países da Europa se celebram solenemente os aniversários de acontecimentos de menor relevância relativa, na Galiza e Portugal não foi difundido como é devido um acontecimento que marcou o nascimento como pleno sujeito histórico da nacionalidade comum. O Banhos lembrou que “os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro, e para os que o seu passado lá fica esvaído nas trevas”. E encorajou aos assistentes a “[combater] o mal da desmemória no nosso povo com a única cura de rememorar, um bocado de abelência social e esclarecimento”.
O estabelecimento do reino suevo foi recebida pelos galaicos como uma bênção ”por os libertarem da escravidão das dívidas e do fisco imperial”. Na Galiza, os germanos “misturaram-se de seguida com o povo que os acolheu, adotaram a religião da maioria e deixaram a deles, integraram os galaico-romanos na suas empresas e governação, impulsionaram novos modos de governança.”
Os concílios, a organização do território no Parrochiale Suevum ou Divisio Teodomiri, o latim proto-galaico que viria dar na língua portuguesa, o arco de ferradura e igrejas como as de Bande e Viseu, a estabilidade dos limites fronteiriços, a rica toponímia, a antroponímia até há bem pouco ainda dominante e algumas palavras emblemáticas do nosso léxico foram alguns dos contributos do Reino dos Galaicos à nossa história e à civilização europeia que repassou o palestrador galego.
Após quase 200 anos de vida independente, o reino dos suevos seguiu condicionando a história da nação, pois “na Ibéria visigótica a Gallaecia foi sempre um reino distinto e inconfundível com a Espanha, que permaneceu e continuou distinto na sua governação”, como mostram os concílios e sua condição de principado autônomo dentro do reino visigodo. Essa primitiva articulação da nação, cuja antiga condição talvez obrigara aos romanos a reconhecerem uma província chamada Gallaecia séculos depois de sua incorporação ao Império, fez possível que a Galiza se safara da invasão e a dominação muçulmana: ”Salvou-se com um penhor, uma coima que não teve longa duração. As dioceses da Galiza, com a própria Braga, são as únicas dioceses peninsulares que tiveram continuidade no tempo e nunca ficaram vagas”. E conclui: “Frente ao muçulmano, é a Galiza, o poder que o vai enfrentar. Só a Galiza aparece nos textos muçulmanos e dos demais reinos cristãos da Europa, francos, lombardos, anglo-saxões, normandos… E essa Galiza era já verdadeiro Portugal.”
9º centenário do nascimento de Afonso Henriques
Barroso da Fonte, autor do livro Afonso Henriques 900 anos, a obra de mais pormenor nas circunstâncias do nascimento do reino de Portugal, que remonta ao nascimento no Porto no ano de 868 do condado Portucalense, falou do 9º centenário do nascimento do primeiro rei de Portugal em 1109, em Guimarães. O historiador transmontano assinalou os fatores e interesses que se desenvolveram nas elites no sul da Galiza, que era quem impulsionava a reconquista e os avanços para o sul, contrapostos com o norte.
Com o Rei Garcia desaparece o condado Portucalense ao deslocar a cabeça primaz do reino delegada em Lugo à restaurada Braga, que passa a ser o centro e cabeça do reino como em direito histórico correspondia. Isso foi contestado pela nova e ambiciosa sede compostelana, que pronto moverá todo para submeter a Braga a sua dependência. Deposto o rei galego, em Braga não gostam da política imperial e desconsiderada da recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre o bispo de Braga, verdadeiro fator do processo que virá, e as classes dominantes locais.
A divisão do reino da Galiza por Afonso VI entre Raimundo de Borgonha, esposo de sua primogênita Urraca, e Henrique de Borgonha, que desposou a Teresa, filha ilegítima, e com que se restaura o condado de Portucale; o controle por Gelmirez e os Traba do filho daqueles, Afonso Reimundes, proclamado rei em Compostela com oito anos; o Pio latrocínio das relíquias dos santos de Braga pelo bispo compostelano; a discreta consolidação da governação de Henrique; o nascimento de seu filho Afonso Henriquez; a residência em Guimarães, e a oposição, morto o pai, do menino Afonso, sob o auspício de Paio Mendes, o bispo de Braga, à política de sua mãe, aliada dos Trava; o exílio em Tui acompanhando ao bispo bracarense, que o armou cavaleiro; a coroação em Leão de Afonso Reimundes; a decisiva batalha de São Mamede, que consagra a autoridade de Afonso Henriques no território portucalense, são os momentos fundamentais cujo estudo apresenta o historiador português, e que concluem com as negociações do Bispo Paio junto da Santa Sé para alcançar a plena autonomia da Igreja de Braga e obter o reconhecimento do condado de Portucale como um reino.
Troca de ideias
Após das intervenções houve um longo e muito participativo debate em volta destas importantes referências históricas da Galiza e Portugal. Nele, Alexandre Banhos exprimiu a alegria que como galego sente por existir Portugal, e afirmou “que não acreditava em que se se mantiver o velho território unificado naquela altura, vier a existir algures a maravilha que foi, e é, Portugal, (ou Galiza) arredada de Castela”.
O sucesso de Afonso Henríquez e da Gallaecia bracarense, verdadeiro cerne da velha nação, que deu lugar a Portugal, graças ao maravilhoso milagre da sua separação e nascimento como Estado diferenciado, fez que a velha Gallaecia continuasse no mundo, –pois sendo tal já era sempre verdadeiro Portugal-, e que a nossa língua e cultura seja um referente internacional.
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Comentários

POEMAS À MINHA GALIZA LUSÓFONA

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ao celebrar 40 anos de vida literária criei um capítulo GALIZÓFONA

501 partir ii (a uma galiza lusófona)

partir!
cortar amarras
como se ficar fosse já um naufrágio
ficar
como quem parte nunca
partir
como quem fica nas asas do tempo
partir!
cortar grilhetas
como se viver fosse uma morte adiada
vencer ameias
cortar amarras
velas ao vento
olhar o mundo
descobrir liberdades
esta a mensagem
levar o desespero
ao limiar
até erguer a voz
sem medos
até rasgar as pedras
e o ventre úbere
semear desencanto
sorrir
à grande utopia
nascer
de novo
dar o salto
transpor a fronteira
entre o ter e o ser
imaginar
como só os loucos sabem
e então chegaste
com primaveras nos dedos
e liberdade por nome
loucas promessas insinuavas
despontaste
como quem acorda horizontes perdidos
demos as mãos
sabor de início do mundo
pendão das palavras por dizer
esta a revolução
minha bandeira por desfraldar
s. martinho do porto, setembro, 5, 1976/lomba da maia, açores fev 13, 2011

525. Galiza como Hiroshima mon amour

acordaste e ouviste o teu hino
bandeira desfraldada ao vento
ao intrépido som
das armas de breogán
amor da terra verde,
da verde terra nossa,
à nobre lusitânia
os braços estende amigos,
desperta do teu sono
pega nos irmãos
caminha pelas estradas
ergue bem alto a tua voz
diz a quem te ouvir quem és
orgulhosa, vetusta e altiva
indomada criatura
nenhum poder te subjugará
nenhum exército te conquistará
nenhuma lei te amiquilará
és a Galiza mon amour

528. ah como eu gostava 16/11/2011

portugal lembra o filho ingrato
que sai de casa levando as malas
cresce como um sem-abrigo
vivendo de expedientes
sujo, maltrapilho e destituído
mas orgulhosamente só e independente
altivo olha a galiza do tempo dos aguadeiros
da pobreza, fome e sofrimento
e sente-se superior
não reconhece pai ou mãe
nem partilha um cobertor
comporta-se como assaltante
aliado ao invasor
esqueceu a história e perdeu os genes
ah como eu gostava de ser galego

 

530. pesadelo zoológico 3 dezembro 2011 à concha rousia

s castelhano
onhei estar num circo
era um leão amestrado
o domador espanhol
senti-me galego
eles não sabem
que não há leões domados
vivem anestesiados
um dia acordam
sem ronronar em castrapo
vou esperar pelo chicote
desobediente
aguardo que ele erga a cadeira
estreleje o látego
e me mande falar
aí direi ao castelhano
já chega de circo
o palhaço és tu.
acordei e não vi bandeiras de castela

 

531. lendas da minha galiza 11 dez 2011

Galiza és tão especial
quando sorris
por que não sorris sempre?
és tão bela
quando ris com gargalhadas cristalinas
por que não ris sempre?
és tão amorosa
quando falas e cicias
por que não falas sempre?
no meu quintal tenho um poço
sempre cheio de palavras
onde vou buscar inspiração
é lá que busco amores
como se fora o monte das Ánimas
na era dos Templários
quando os cervos eram livres e não havia lobos
foi lá que aprendi a tua história
depois de Ith filho de Breogán
ir à Torre de Hércules
divisar Eirin a Verde
morto Ith, perdidas as Cassitérides
aprisionados os Ártabros
resta visitar Santo Andrés de Teixido
duas vezes de morto
que não o visitei uma de vivo
e esta história queda silente
nos livros e na memória dos velhos
por que não a aprendem os nenos?
agora que o rio Minho passa caladinho
para não despertar os meninos
hoje quando fui ao poço
encontrei-o seco e mirrado
sem um fio de água sequer
não havia pardais nas árvores
nem flores no jardim
senti o coração trespassado
as lágrimas secaram-me
aºao trespassado Castelaer
caladinho
fincado no chão
pios e polinia fadas ou sereias
atopei umas Meigas
a dançar com o Dianho
foi então que o vi, o Chupacabras
estandarte de Castela
não mais haveria fadas ou sereias
cronópios e polinópios
vou juntar ferraduras, alho e sal
colares de conchas e tesouras abertas
esconjuro-vos ó meigas castelhanas
que me salve o burro farinheiro
vou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)
hei de te encontrar minha moura encantada
não tenho medo de travessuras de Trasgos
nem Marimanta ou Dama de Castro
sem temor da Santa Companhatravessuras de Trasgos
a
a Santa Companha
nem do Nubeiro vagueando
entre tempestades e tormentas
hei de te encontrar minha moura encantada
e brotará áuga do meu poço
escreverei os versos e serão mágicos
erguerei a tua flâmula
no poste mais alto e cantarei
Galiza livre sempre

 

532. genevieve 13 dez 2011

genevieve era nome de mulher
um restaurante japonês
no meio de chinatown
sorrisos largos e astutos
mansos como o rio minho
olhos profundos amendoados
como o canon do sil
prometia ribeiras sacras
seios amplos acolhedores
como as rias baixas
genoveva da galiza
amazonaom saudades de arousamazona
s
amazonaaa em sidney
um pai na argentina
uma mãe em paris
com saudades de arousa
promovia sushi com saké
loucas bebedeiras em galego

 

533. concha é nome de guerra 13 dezembro 2011

para ti não há música nem dança
apenas as artes marciais
guerrilheira de montes e vales
urdidora de emboscadas
sob a copa das amplas árvores
brandes teu gládio de palavras suaves
não usas as falas do inimigo
vingas a dor de seres galega
a montanha que herdaste sozinha
prenhada de mar na ilha dos nossos
o povo desaparecido da Rousia aldeia
esse recanto insuspeito ao virar da raia
onde fui a férias em 2005 sem te saber
eu que nasci galego do sul
sendo galego de Celanova
apartado de meus irmãos e irmãs
séculos de história ao desbarato
distavam mares que nunca navegámos
montes que nunca escalámos
estrelas que jamais enxergámos
até um dia em que surgiste
vestias azul e branco orlada a ouro
estandarte do nosso reino
ciciavas liberdades por atingir
sonhos por realizar
brandias a tua utopia
numa mesma lusofonia

 

536. elegia à AGLP 16 dez 2011
viver numa ilha é prisão
sair dela é impossível
nem com a velocidade da chita
nem com a força do elefante
nem com o mergulho do cachalote
de nada servem passaportes
nem vistos consulares
só água nos rodeia
preciso saber nadar
viver na Galiza é prisão
sair dela é possível
mas não elimina os carcereiros
não abate as grades do cárcere
não liberta do cativeiro
mas nas árvores de NottinGaliza
há sempre uma Concha dos Bosques
ou um Ângelo Merlim
um Joám Pequeno Evans Pim
um frei Tuck Montero Santalha
e seu bando de lusofalantes
manejando o arco
invencível besta da lusofonia

MARCAS DA GALIZA NOS AÇORES

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Algumas marcas de Galiza nos Açores e Brasil
Desde 1475 o arquipélago dos Açores recebeu povoadores vindos inicialmente de Portugal
Continental que trouxeram consigo alguns escravos de África e depois, em menor quantidade,
de Flandres, Galiza, Inglaterra, França e Estados Unidos.
Naquela época em Castela ocorria uma disputa para a sucessão do trono entre D. Joana (a
Beltraneja) e Isabel, irmã do rei Henrique IV de Castela. D. Joana, filha de Joana de Portugal
e talvez do rei, era considerada ilegítima pelos nobres espanhóis, uma vez que Henrique IV
era considerado impotente. Mas Portugal e Galiza apoiavam-na. Os partidários de Joana,
perseguidos, abrigaram-se em Portugal. Quando a paz foi restabelecida esses refugiados
tornaram-se incômodos ao reino português, que não sabendo o que fazer deles, resolveu
encaminhá-los para as ilhas atlânticas recentemente descobertas e que precisavam ser
povoadas.
Nas ilhas açorianas do Faial e Pico instalaram-se as famílias galegas ABARCA, ANDRADE,
GARCIA, ORTIZ, PORRAS, LEDESMA, TROJILLO. Quando apareceram as dificuldades de
sobrevivência, trazidas pelos desastres naturais que acometiam o arquipélago de tempos em
tempos, a emigração para o Brasil surgiu como a solução. E assim muitos dessas famílias se
transferiram para o Brasil à procura de uma nova vida. Dizem que João Garcia Pereira deu
origem aos “Garcia” faialenses e João Luís Garcia aos picoenses.
A partir do século XVIII, consideráveis e repetidas levas de açorianos chegaram ao sul e
sudeste do Brasil. Alguns se deslocaram para as regiões auríferas e de criação de gado, onde
havia mais oportunidades de ganhar terras e riquezas. Destes oriundos dos Açores, de raízes
galegas, a história relata um tal de Antônio Garcia Rosa, que emigrou para o Brasil em 1741 e
que juntou forte cabedal em Minas Gerais, como vigário (Paróquia de Nossa Senhora da
Glória). Voltou para os Açores rico. É conhecido também um imigrante João Garcia que
chegou ao Rio de Janeiro em 1773, parece que se tornou fazendeiro. Outro faialense de
nascimento foi Diogo Garcia. Este casou em terras brasileiras com uma das três irmãs, que de
lá também vieram em 1723 e que eram conhecidas como as três ilhoas (Antónia da Graça,
Júlia Maria da Caridade, Helena Maria de Jesus). Eram as três filhas de Manuel Gonçalves
Correa e de Maria Nunes.
Antônia da Graça veio já casada com Manuel Gonçalves da Fonseca e com duas filhas
Catarina e Maria Tereza.
Júlia Maria da Caridade casou-se em São João del Rei com o conterrâneo Diogo Garcia.
Helena Maria de Jesus casou com o também açoriano, natural de Santa Maria, João Rezende
da Costa.
Essas três irmãs tiveram muitos filhos e deixaram larga descendência que se espalhou por
Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Mato Grosso, dando origem a grande parte das
famílias tradicionais desses estados brasileiros.
Ref. Bibliográfica
FAMILIAS FAIALENSES (Marcelino Lima)
As três Ilhoas ( pesquisa dos genealogistas Marta Amato e José Guimarães)
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 10/11/07

Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

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da AGAL SE TRANSCREVE

Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

 

«O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria»
«Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e mudemos para este: de que o galego é português e o português é galego»

 

Sexta, 21 Outubro 2011 08:18
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Jeanne defende o galego como língua «extensa e útil»

 

PGL – Jeanne Pereira, brasilega, achava estranho o galego se escrever com ortografia castelhana e pensa que temos que ter a ousadia de dizer a verdade sobre a língua da Galiza. É uma magnífica embaixadora do nosso país e da nossa língua.
PGL: Jeanne Pereira é baiana. Que te motivou a vires para a Galiza e como sentiste a integração no nosso país?
Jeanne Pereira: Por questões pessoais necessitava sair do Brasil. Eu já sabia que aqui havia um idioma que era parecido ao português. Por que era exatamente o que pensava por ter pesquisado algo em relação a Galiza, à sua historia, em sites de pesquisas que nada tinham a ver com a realidade do país. Lembro bem que procurei saber da realidade política, e porque esse idioma ‘parecido’ ao meu. O que me chamou a atenção foi a ortografia, achava estranho um idioma com uma escrita igual ao espanhol, principalmente porque diziam ser ‘parecido’ ao português. E pensei como é possível?
PGL: Falando em integração, como foi o teu contato primeiro com o reintegracionismo?
JP: Através de José Alvaredo, que foi um pessoa muito especial que no seu momento se dedicou a mostrar a verdade em relação a realidade da Galiza. Uma pessoa que foi importante para que eu pudesse chegar à realidade sociolinguística. Era interessante o que ele fazia, era uma preocupação diária, ja que colocava como página principal o site da AGAL e Vieiros. Quando eu abria o computador, estavam ali, então lia e tirava as dúvidas com ele, mesmo quando chegava em casa cansado do trabalho, nunca se negou a explicar-me e dedicar todo o tempo possível para dar-me esclarecimentos com uma paixão pela Galiza, pelo nosso idioma em comum, que me contagiava.
Foi a primeira pessoa que me disse que…o português nasceu na Galiza. As dúvidas eram tiradas e muito bem esclarecidas ao ponto de me deixar mais curiosa. Inclusive a realidade política veio a través dele. O meu primeiro comentário sobre a língua foi em Vieiros, que passei a difundir a realidade do país através deste jornal.
O primeiro dicionário consultado foi o Estraviz. Comecei a comentar artigos em Vieiros para chegar a outros brasileiros que não conheciam a realidade da Galiza. Aproveito para agradecer todo o apoio dado por esse grande mestre que no seu momento, como disse, foi extremamente importante para mim. Um muito obrigada Zé! Sigo adiante e com muita força valorizando tudo que aprendi.
PGL: Estás a estudar galego, versão ILG-RAG, na EOI. Este formato de galego pode funcionar bem na interação com pessoas do Brasil e de Portugal?
JP: Não, pela ortografia, que é espanhola, que nada tem a ver com português. É uma norma isolacionista que foi imposta pelo Estado espanhol, já que a Galiza pertence ao Estado e o governo autonômico, em vez de aproximar o galego ao português, pretende aproximá-lo ao espanhol, diluindo assim a identidade galega. É uma estratégia política do pequeno império, uma forma de colonizar a população galega, separando o nosso idioma em comum. Inclusive alguns brasileiros dizem que é um galego ‘feio’, ‘mal escrito’. É uma questão tanto da fala como da escrita. Existem vícios de linguagem que infelizmente são muito utilizados pelos/as galegos/as pela influência do espanhol, daí que os/as brasileiros/as se aproximem ao espanhol e não ao galego, já que o galego raguiano é um dialeto do espanhol, e vista como uma língua ‘misturada’ do espanhol.
PGL: Não sei se sabias que nas EOI existe a figura de língua ambiental, aquelas que a priori existem na sociedade onde está inserido o centro. Na Galiza são três, galego, português e castelhano. Isto facilitou o teu dia a dia, não é?
JP: Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e de que um galego pode aprender português por ser parecido, e mudemos para este: que o galego é português e o português é galego. A prova é que o galego já está no dicionário da Porto Editora desde 2008 no vocabulário comum e breve nos dicionários brasileiros.
A facilidade de entendimento é grande desde quando se abra a mente para isso. Para mim sempre tem sido fácil porque não importa se falam comigo em espanhol, eu falo em galego-português, estou na Galiza, e isso tenho claro. Já escutei muita gente falarem para mim “Não te entendo”. Eu respondo, “pois deveria, estamos na Galiza, a língua do meu país nasceu aqui, temos inclusive um vocabulário comum.
Palavras que foram levadas daqui para o Brasil, que surgiram aqui”. Infelizmente, por questões de imposição do estado espanhol, não podemos usar a nossa língua nas traduções juramentadas. Por exemplo, um título universitário do Brasil, tem que ser traduzido ao espanhol e não à língua própria do país.
PGL: No Brasil existe um desconhecimento da Galiza e da sua língua. Qual a reação média de uma pessoal do Brasil quando descobre?
JP: Muitos galegos que visitam o Brasil, de férias, para estudar, os emigrantes que vivem ali uma boa parte não são vistos como galegos e sim espanhóis. Inclusive Santiago de Compostela é destino para quem está a aprender espanhol. O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria. Escuto de muitos galegos como uma brasileira pode saber tanto da Galiza ao ponto de dizer que o português e o galego é o mesmo e que eles sendo galegos não sabem nada da realidade e alguns se aborrecem afirmando que tudo isso é uma mentira, que a história mostra claramente as diferenças nas duas línguas que é impossível serem um único idioma com variantes diferentes.
Sempre cito como exemplo muitos galegos que estiveram ali no Brasil e que muitos brasileiros perguntavam de que região faziam parte, ou até mesmo de que estado. Infelizmente a realidade da Galiza ainda é desconhecida no meu país, mas faço minhas as palavras do José Carlos da Silva, que diz: “Reclamo um maior conhecimento da realidade da Galiza no Brasil”.
Agora, o dia 6 de novembro estarei de volta a Salvador, mas levo comigo o compromisso de mostrar essa realidade, a de um país que possui um idioma em comum com o meu, e de que a sua língua nasceu aqui na Galiza. É com muito orgulho e muita gratidão por um país que aprendi a amar como sendo meu, um país que me acolheu, porque sempre deixo claro que fui acolhida pela Galiza e não pela Espanha, que lutarei para que esse conhecimento seja real no Brasil.
PGL: Achas que existem diferenças entre a cidadania galega na sua perceção do Brasil e da lusofonia em geral?
JP: Muitos galegos veem o Brasil como um destino turístico, não como um país com uma língua em comum. O Brasil ultimamente é visto por ser a sétima economia mundial e nos meios de comunicação aparece muito este facto, mais nada em relação questão da língua. O Brasil infelizmente não conhece essa realidade.
PGL: Certos círculos sociais em Santiago falam da figura do(a) brasilego(a), uma pessoa que vive na nossa língua cá na Galiza frente a atitude mais habitual de desenvolver-se em castelhano no dia a dia. É exportável esta forma de viver a outras cidades?
JP: Em Santiago sim, mais noutras cidades não porque a fala predominante é o espanhol. Em Santiago também depende do ambiente que frequente ou que esteja. Há lugares que inclusive falo o meu ‘baianês’ com uma rapidez como se estivesse em Salvador. Chego a mudar completamente o meu sotaque e falar com uma desenvoltura que as vezes não me dou conta que estou em Santiago.
PGL: Tu segues os passos da estratégia luso-brasileira para o galego. Que tipo de táticas achas mais produtivas e quais achas que se deveriam implementar para a cidadania galega viver o galego como sendo extenso e útil?
JP: Táticas temos muitas, inclusive as redes sociais, são meios de grande importância para divulgar a nossa realidade. Há que sensibilizar e ter muita valentia e ousadia no falar, na hora de dizer a verdade sobra a realidade o país, sobre o seu idioma próprio e cultura, afirmando com muita força que “Galiza não é Espanha”, e que isso fique bem claro, não tendo medo de falar a verdade em alto e bom som,para todo mundo ouvir.
O incentivo a leitura dos jornais na nossa língua, dando prioridade as publicações em galego-português, também nas redes sociais. Ao invés de estarmos publicando notícias de meios espanholistas, publicarmos noticias com o nosso idioma.
Aproveitar o momento político do Brasil pode ser algo importante, para mostrar que além de um país em crescimento com ofertas de emprego, para os galegos, há a vantagem de termos um idioma em comum, o que facilita muito no mercado de trabalho. A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza, é importante. Já passou da hora de vencer todo esse auto-ódio que nos contamina de forma negativa, tirando a coragem e a força de muitos em falar a realidade e de lutar pelo seu país, livrando-se da colonização mental imposta pelo ‘Reino de Espanha’, por um pequeno Império fracassado, prepotente e complexado, em que infelizmente a Galiza tem sofrido por estar sendo Desgovernada por um partido que em nada representa o país, levando a Galiza ao retraso.
PGL: Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
JP: A nossa língua é extensa e útil, a nossa língua é internacional, e a AGAL cumpre perfeitamente esse papel como representante do nosso idioma, com muita seriedade e responsabilidade divulgando de forma séria o seu trabalho em prol da nossa língua e da realidade sócio-linguística do país. Levando ao conhecimento inclusive a nível internacional. Parabenizo a associação pelo grande trabalho que vem sendo realizado nesses 30 anos de existência, mostrando a internacionalidade da nossa língua em comum. Espero sempre o melhor e que esse trabalho cresça e continue recebendo todo o apoio merecido para dar continuidade a divulgação da nossa língua.
PGL: Como vai ser o Brasil do futuro?
JP: Espero que seja um país com menos desigualdade social, investindo em políticas sociais, fortalecendo a saúde pública como direitos de todos, com qualidade. Que o presidente ou presidenta que ali esteja, chegue a ONU, um dia no seu discurso, reivindicando e reconhecendo a liberdade e soberania de muitas nações como a Galiza.

Conhecendo Jeanne Pereira

  • Um sítio web: são vários, principalmente os relacionados a política e escritos no nosso idioma em comum. Por exemplo, leio todos os dias a revista Carta Maior.
  • Um invento: o que traga beneficio à humanidade
  • Uma música: Apesar de Você (Chico Buarque)
  • Um livro: O Golpe de 64 e a Ditadura Militar, de Júlio José Chiavenato. Esse livro foi uma grande referência para mim, a nível político e um grande presente dado por meu pai, quando tinha apenas 15 anos de idade.
  • Um facto histórico: a independência da Galiza
  • Um prato na mesa: um caruru completo (comida baiana)
  • Um desporto: Fórmula 1
  • Um filme: O auto da compadecida, de Ariano Suassuna.
  • Uma maravilha: a descoberta da vacina contra o vírus da Sida
  • Além de brasileira: brasilega

 

Comentários

# Re: Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»Carlos Durão 21-10-2011 09:21

Mal posso conter as bágoas, cara Jeanne, mulher valente: sei muito bem que estas belas frases tuas:”Há que sensibilizar e ter muita valentia”, “A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza”, não são vazias, que és testemunha privilegiada da nossa situação precária, até tu própria pudeste comprovar em ti mesma essa prepotência, no fundo esse racismo do EE para quem não seja “como ele”; no teu imenso Brasil estaremos contigo, sempre, até pode ser que te visitemos alguns de nós; leva o meu forte, fundo, acarinhado abreço galego.

Carlos

 

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Como o falante galego é visto em Portugal?

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Como o falante galego é visto em Portugal?

A esta pergunta de um leitor , Carlos Rocha, responde no Ciberdúvidas da língua portuguesa assim:
 
Há realmente um grande desconhecimento em Portugal acerca das afinidades linguísticas com a Galiza. Perante um falante de galego, é típico um português tentar falar castelhano, muitas vezes porque não reconhece o que ouve como língua ainda muito próxima da que fala a sul do rio Minho. Lembro-me, por exemplo, de que, durante a crise do Prestige no final de 2002, os noticiários portugueses normalmente legendavam as respostas das entrevistas feitas aos habitantes do litoral galego; muitos deles falavam um galego que, apesar da “geada” (troca do "g" por um som parecido com o "jota" castelhano), tinha uma entoação familiar para ouvidos portugueses. Este comportamento dos canais de televisão em Portugal parecia obedecer ao atavismo de considerar castelhano tudo o que se fala para lá da fronteira. Penso ainda que a identidade galega nem sempre é clara para o português médio ou popular. Assim, é curioso que, dialetalmente, nem sempre um
 galego é apenas um habitante da Galiza. Por exemplo, no Alentejo um galego pode ser um natural das Beiras (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). E suspeito que no Norte e no Centro de Portugal, em algumas regiões que não fazem fronteira com a Galiza, um zamorano, um salmantino ou até um estremenho de Cáceres – não sei se de Badajoz – sejam todos galegos (o que pode ter alguma verdade histórica em casos como os de San Martín de Trevejo, Valverde del Fresno e Eljas). É claro que também acontece que alguns (ou muitos?) portugueses ficam baralhados quando começam a ler o que se escreve a norte do Minho. É como se dissessem: «o que se passa, que os espanhóis andam a escrever num português estranho?» Recordo que há cerca de dez anos se dedicou um excelente número da revista Colóquio Letras (Fundação Calouste Gulbenkian) à cultura galega. Nele, a prof.ª Pilar Vázquez Cuesta abordava
 justamente o desconhecimento com que os portugueses (quase sempre não acadêmicos, mas também há acadêmicos) costumam “brindar” os galegos, quando se trata de falar dos laços comuns. Para esta situação contribui certamente o fato de a História ter dificultado desde muito cedo a descoberta ou o reforço desse elo: quando, com D. Dinis, os documentos notariais portugueses passaram a ser escritos na língua que se desenvolvera no Noroeste da Península e a que historicamente poderíamos chamar galego, o reino de Portugal já existia há mais de um século. Assim, ao querer dar nome ao “galego” que se falava do Minho ao Algarve, esse nome foi muito logicamente português, visto que se estava a designar o idioma do Reino de Portugal e do Algarve. Explica-se, deste modo, que se fale em português antigo, não porque se negue a relação ou mesmo a identificação com o galego, mas talvez porque se pensa que o Condado e, depois, Reino de
 Portugal é que deu consciência idiomática coletiva a uma parte dos dialetos galegos – os que eram falados pelos portugueses. Sobre este assunto, recomendaria uma obra que dedica alguns capítulos ao problema da designação da língua na faixa ocidental da Península: Ramón Mariño Paz, Historia da Lingua Galega, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco, 1998.

Carlos Rocha :: 30/06/2006 

http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=18099

a Galiza é uma naçom!

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A Galiza é uma naçom

A Galiza é uma naçom no noroeste da Península Ibérica.Aqui houve povoamentos
desde as épocas pré-históricas (3 000 a.C.). Segundo o grego Estrabão (c. 63 a.C. – 24
d.C.) os habitantes deste extremo da península chamavam-se Kallakoi (Calaico). Os
Romanos integraram esta parcela no seu Império já em finais do século I a.C.,
passando a designar-se Gallaecia durante o reinado do Imperador Diocleciano no
século III. Os Kallakoi não devem ser confundidos com os Galos da antiga Gália
1. Os pré-celtas e os celtas da Galiza
O estudo e o ensino deste tema são algo muito complexo, devido sobretudo à opinião
persistente, tão divulgada como errónea, de que esta região fora a mais celtizada da
península Ibérica. Os arqueólogos, historiadores e investigadores de todas as épocas
(os eruditos sérios, face aos achados arqueológicos e com a ajuda dos escritos de
gregos e romanos contam como pode ter sido e em que consistiu a chegada de certos
grupos célticos a esta região. Estes estudiosos da história foram directamente às
poucas fontes que podem manejar, sem se conformarem com traduções anteriores,
muitas vezes mal interpretadas e que puderam ver as numerosas pegadas deixadas
pelos celtas, ao longo e ao largo da Galiza, como os castros.
Parece que alguns grupos (do povo celta que chegara até ao sul península Ibérica), não
se deram bem nestas terras e iniciaram outra viagem migratória, em fases distintas
etapas já tardias, para o norte, através de terras lusitanas. Nesta situação de
emigrantes celtas desde o sul, pelo oeste, rumo ao norte, não chegam a estabelecer-se
na região galaica até ao século I a.C. É o grupo conhecido como sefes, que se move por
volta do século III a.C. quando alguns se situam entre o rio Tejo e o rio Douro e outros,
seguem para a Galicia.
Ao mesmo tempo que isto ocorria, produzia-se nas costas galaicas o desembarque de
gentes nórdicas procedentes da Bretanha. A arqueologia acredita nisto através dos
achados de Punta Neixón na ria de Arousa na Província de Pontevedra.
Os celtas sefes encontraram estas terras bastante povoadas. Estrabão assegura que
havia umas 50 tribos de povos diferentes, enquanto Plínio diz que eram mais de 65. O
professor (historiador, arqueólogo e escritor) Florentino López Cuevillas na sua obra A
civilización céltica na Galiza, depois de expor um estudo exaustivo sobre o aspeto
político e geográfico, assegura que todas estas tribos, na maior parte, não eram celtas.
A lista de tribos pré-célticas é bastante extensa:
– Estrimios (relacionados com os Lígures (e comuns a países bretões, ingleses e
irlandeses), que permaneceram até à chegada dos romanos),
– Albianos, seurros, tiburos, bibalos, caporos, zoelas, nobiagoi, abii, tirii, veasmini,
salassi, rilenii, helenii, grovii, etc., todos estabelecidos desde a Idade de Bronze, antes
de 600 a.C.
Esta é a base da população pré-céltica, que é a mesma que a normanda, inglesa e
irlandesa. Destes povoadores procedem as semelhanças étnicas entre estes povos e
não chegada dos celtas. As analogias entre galegos e irlandeses atuais não provêm
dum parentesco céltico, mas duma comunidade étnica anterior que remonta a 2.000
anos atrás.
As tribos celtas dos sefes recém-chegadas sobrepuseram-se a estas mais antigas e
adaptaram-se bastante bem, crê-se que pelo seu caráter afim indo-europeu. Foram os
celtas os que se acomodaram e a sua influência foi, na maioria dos casos, tardia e
esporádica, segundo se pode saber pela confirmação do estudo da arquitetura e a
metalurgia. A dita povoação autóctone mais antiga conservou a sua destacada
personalidade linguística e cultural e também soube intercambiar aspetos culturais
com a civilização céltica. Houve um verdadeiro intercâmbio de costumes e de
conhecimentos.
2. Romanos, suevos e visigodos
Os romanos entraram no ano 137 a.C. encontrando séria resistência, mas acabariam
por conquistar a região que denominariam Gallaecia.
Os suevos, 30.000 pessoas que só tinham 8.000 homens com capacidade para lutar,
concentram-se entre o Douro e o Minho, na zona de influência de Braga. Chegaram no
ano de 409, nomeando rei a Hermérico (409-438), que celebra um pacto ou foedus
com Roma no ano de 410 pelo qual os suevos estabelecem o seu reino na província
romana de Gallaecia e aceitam o imperador de Roma como o seu superior. Depois da
morte de Hermérico reina Requila (438-448), a quem sucederá Requiário (448-456).
Este último adotará o catolicismo no ano de 449. No ano de 456 tem lugar a batalha de
Órbigo, que oporá visigodos e suevos, com a derrota destes últimos e que terá como
consequência o assassinato de Requiário.
Depois da derrota frente aos visigodos, o reino suevo dividir-se-á e governarão
simultaneamente Frantão e Aguiulfo, desde 456 até 457, ano em que Maldrás (457-
459) reunificará o reino para acabar sendo assassinado depois duma conspiração
romano-visigoda que finalmente fracassará. Apesar de a conspiração não ter alcançado
os seus verdadeiros propósitos, o reino suevo viu-se novamente dividido entre dois
reis: Frumário (459-463) e Remismundo (filho de Maldrás) (459-469) que reunificaria
novamente o reino do seu pai no ano 463 e que se veria obrigado a adotar o
arrianismo no ano de 465 devido à influência visigoda.
Após a morte de Remismundo entra-se numa época escura, que durará até ao ano de
550, durante a qual desaparecem praticamente todos os textos escritos. O pouco que
se sabe desta época é que mui provavelmente Teodemundo governou a Suévia.
A época obscura terminará com o reinado de Karriarico (550-559) que se converterá
novamente ao catolicismo no 550. Suceder-lhe-á Teodomiro (559-570) (não se
confunda com Teodomiro, rei dos visigodos) durante o reinado do qual terá lugar o Iº
Concílio de Braga (561). Miro (570-583) será o seu sucessor. Durante o seu reinado
celebrou-se o IIº Concilio de Braga (572). Aproximadamente no ano de 577 inicia-se a
guerra civil visigoda na que intervirá Miro que no ano 583 organizará uma expedição
de conquista a Sevilla a qual fracassará. Durante o regresso desta expedição o rei
morre. No reino suevo começam a produzir-se muitas lutas internas. Éborico (também
chamado Eurico) (583-584) é destronado por Andeca (584-585) que falha a sua
intenção de evitar a invasão visigoda dirigida por Leovigildo que se tornará efetiva
finalmente no ano de 585, convertendo assim o rico e fértil reino suevo em mais uma
região do reino godo.
3. Reino independente
Afonso I das Astúrias (739 – 757) foi o primeiro príncipe que começou a expansão do
Reino Cristão. Desta forma a integração do Reino da Galiza no Reino das Astúrias
ocorre entre o seu reinado e o de Ramiro I que a estende até Tui (854).
Em 813, Afonso II o Casto, rei das Astúrias e Galiza, é informado pelo bispo Teodomiro
de Iria Flávia da aparição duma luz sobre uma antiga capela. O rei chega a Santiago de
Compostela e manda edificar uma igreja. Começa a lenda do Caminho de Santiago e
Santiago de Compostela converte-se num centro de peregrinação da Cristandade.
No ano de 910 Ordonho II converte-se em rei da Galiza (ver também Reino da Galiza)
No ano de 997 Almansor inicia uma expedição de saques em terras cristãs e chega até
Santiago de Compostela
No ano de 1035 Fernando I O Magno herdou o reino de Castela do seu pai Sancho III O
Maior, rei de Navarra, e no 1037 a sua esposa Sancha herdou os reinos de Leão e
Galiza do seu irmão Bermudo III. (ver também Reino de Leão). À sua morte em 1065
repartiu as suas possessões entre os seus 3 filhos: entregou Castela ao seu filho
Sancho, Leão a Afonso e Galiza a Garcia. Mas em 1072 Afonso VI de Leão matou
Sancho II de Castela e aprisionou por toda a vida Garcia de Galiza governando assim
sobre os reinos dos seus irmãos até à sua morte em 1109
O Reino da Galiza surgiu após a retirada muçulmana da zona que pouco antes ocupara
o reino dos suevos. Em muitos momentos da sua história viu-se unido ao Reino das
Astúrias e/ou ao Reino de Castela sendo nalguns casos difícil diferenciá-los.
Oficialmente manteve-se como reino até 1833 ano em que foi dividido em quatro
províncias e desaparecendo assim dos mapas.
3. Outra visão da Galiza e de Portugal por Alexandre Banhos (2009)
PODEMOS OS GALEGOS RECLAMAR O NOME DE GALEGO PARA A LÍNGUA COMUM?
Comunicação no IX Colóquio da Lusofonia, Bragança 2009, Alexandre Banhos Campo
Galiza e o seu projeto ibérico
Nos feitos históricos há sempre um fator de oportunidade e outro em não pequena
medida de azar. Mas nos fatos históricos há uma lei de ferro, -o que não se produzir no
momento em que as circunstâncias são ou eram favoráveis ou propícias, nesse
momento no que as ondas da história sobem a favor, já não há de se fazer. É dizer, que
aquilo que não se faz no seu momento, muito difícil será alguma vez voltá-lo a fazer;
ademais passado o momento mudam sempre as circunstâncias e estas som muito
difíceis de reconstruir, e já nunca serão as mesmas.
A Galiza foi de sempre um poderoso elemento da história europeia, o principal ator
político peninsular, foi o primeiro reino independente constituído dentro do império
romano no ano 411, foi muito pronto um dos grandes impérios da cristandade, junto
ao império Bizantino e ao sacro-império Romano-Germânico, foi quem guiou e liderou
a luta da “reconquista” frente a Espanha.
Os galegos da velha Galiza Árta bra e Astúrica do norte do Cordal, os que nunca foram
subjugados pelos muçulmanos, tinham-se pelos primeiros entre todos os peninsulares
e não se abaixavam ante ninguém; a Galiza o território peninsular mais densamente
povoado, inçado de linhagens nobres com os seus castelos e com capacidade para
terem as suas forças de homens de lança (exércitos privados nobres de entre 100 e
1000 lanças) que se tinham a sim próprios como iguais ao rei, eram o ator mais
poderoso no jogo peninsular. As numerosas forças galegas eram o fator mais temível
da península ibérica e já desde muito cedo senhores muçulmanos acabaram pagando
tributo e aceitando o seu domínio.
Os reis da Galiza não eram simples reis, muito cedo usufruíram o nome de
imperadores e para quem é tão grande a própria Galiza originária resultava pequena, e
assim todos os dias estavam a alargar os seus domínios para o leste e para o sul e com
eles avançava o domínio da cruz frente ao da meia-lua. E nas cabeças dos reis da Galiza
desde cedo estava o coroarem-se com a península ibérica toda como projeto
“nacional” galego.
A capital histórica da Galiza sempre foi Braga (por algo segue a ser a cidade primaz de
Portugal), e pelos séculos VII e VIII eram os de Braga os galegos por antonomásia. Ao
princípio do avanço muçulmano a cabeça da Galiza é trasladada desde Braga, a capital
da Galiza desde que a Galiza existir como entidade política, para a cidade ártabra de
Lugo, e os bispos de Lugo passam a ser cabeça da Galiza por delegação da vero caput
Braga.
O quadro político no que se insere o nascimento do reino de Afonso Henriques.
Desde muito cedo o separatismo castelão, é dizer do convento oriental da província
romana da Gallaecia de Diocleciano, Clunia, é algo que informa a política do reino da
Galiza.
Os castelãos não aceitam muito pacificamente a dominação ocidental, a galega; e os
castelãos com Sancho III rei de Navarra, chamado pelos historiadores castelhanoespanhóis
Sancho I rei de Castela -o primeiro com esse nome, quem a médio de uma
simples boda com a herdeira do Condado de Castela separou o território, o qual falanos
do fraco controlo que o arredismo castelão impusera ao controlo galaico.
Os castelãos com ele sentiram por primeira vez um seu desenvolvimento longe do
controlo galaico. A geopolítica que os colocou no espaço central peninsular ajudou de
seguida, não pouco, ao seu sucesso.
À sua morte – de Sancho III – o seu filho Fernando herda o reino de Castela, porém o
azar e a fortuna farão que venha a ter a posse tamém do reino da Galiza –do império-
(Galiza-Leão). A inércia e superior domínio cultural galaico fazerem há não pouco, para
trazer de novo o centro cultural para o ocidente.
Fernando I segue a sua morte a doutrina do seu pai e reparte territórios e posses aos
seus cinco filhos, três reinos aos filhos: Sancho mais velho Castela; Afonso Leão. E
Garcia, o mais novo, à Galiza do aquém dos Montes de Leão. Para as suas duas filhas:
Urraca e Elvira foram respetivamente as cidades de Zamora e Toro.
Garcia como rei dessa Galiza cujo nome já não abrangia todo o espaço cristão norte –
ocidental peninsular, e sim estava limitada ao leste pelos Montes de Leão adota no seu
reino, várias medidas: a primeira restaurar Braga como centro do reino e levar a
cabeça de Lugo a Braga como correspondia, já não existiam razões para Lugo agir por
delegação de Braga.
Nessa Galiza de Garcia, Compostela a urbe que respondia ao projeto cristianizador de
Carlo Magno suplanta a Iria Flávia como cabeça do maior bispado da Galiza, e é essa
Compostela, a quem o Apostolo está a encher de Ouro e de ambições, quem, digamolo
suavemente, não gosta de Garcia e a sua política bracarense.
O reino da Galiza não era já um pequeno espaço no norte, pelo sul há já tempo que
tem incluída a região conimbricense, e tem já por zonas a sua extrema no rio Tejo.
Cobra ademais tributo das poderosas taifas de Badalhouce e Sevilha.
Afonso quem herdara o reino de Leão, com o seu centro curial, pronto se sente
imperador, e num golpe de mão com engano e colaboração de Sancho desfam-se de
Garcia encerra preso ao seu irmão Garcia e fai-se com a Galiza ocidental. O seu apoio a
Compostela e o abandono da política bracarense do seu irmão, pronto lhe dá
poderosos apoios na Galiza ártabra (e não é por casualidade que de Afonso VI o
imperador, venham a repousar os seus restos em Compostela).
Sancho o mais velho dos irmãos reis é não menos ambicioso que o seu irmão tamém
ambiciona todo o de Afonso com o que de seguida não tudo é entendimento, mas as
guerras constantes que o seu reino tem que levar contra Navarra e Aragão por
determinar as extremas, facilitou o trabalho de Afonso, porém o feito de estar sempre
em guerra preparou-o para se enfrentar a qualquer conquista, e acabou fazendo-se
com todos os territórios do irmão, mas com eles não durou nem um ano. Assaltando
Zamora, a fortaleça da sua irmã Urraca muito fidel de Afonso, faleceu, e Afonso
acabou recuperando o velho império todo do seu pai já bastante alargado.
Os Borgonhois
Afonso VI tem vários matrimónios (5), concubinatos e relações com várias mulheres,
do que ao final só vão resultar filhas sobreviventes. Do matrimónio-concubinato com a
viúva do rei de Córdoba (a muçulmana Zaida – ainda que a historiografia cristianizou-a
como Isabel) terá um filho e duas filhas. O primeiro Sancho a quem muito amava e era
o seu olho e a quem queria de herdeiro, morre na batalha de Ucles (ano 1108) e isso
dá-nos para conhecermos na crónica De Rerum Hispaniae do bispo de Toledo (cidade
que Afonso conquistara), o pranto do rei pelo seu filho – o qual aparece inserido no
texto latino na nossa língua galaico-portuguesa, o que nos vem a falar de qual era a
língua do poder e da corte.
Um dos matrimónios de Afonso VI, o segundo, foi com Constança de Borgonha (do que
sobreviveu a filha Urraca), o que levará a ter certas relações com Borgonha e que de
acolá venham ao reino nobres borgonhois como Raimundo e Henrique.
O Rei Afonso casou a sua filha e herdeira Urraca, com Raimundo de Borgonha (ano
1090), a quem se lhe garante o reino da Galiza, e a Teresa, uma rapazinha ainda muito
nova, a quem tivera dumas relações com Jimena Nunes, com Henrique (ano 1095),
quem é submetido a Raimundo com a obriga da guarda do limes sul da Galiza.
Raimundo muito faz para gosto de Afonso, desde a fortificação da cidade de Castela
conhecida por Ávila e nos textos antigos como A Vila, por ser território de fronteira, e
alargando os territórios para o sul pola extrema do reino da Galiza (a Estremadura). Foi
conquistando Santarém, assaltando as suas muralhas, que Raimundo de Borgonha
faleceu.
A Urraca viúva com o seu filho Afonso acha apoio protetor no poderoso bispo Gelmires
de Compostela, e quando esta casa com Afonso o Batalhador rei de Aragão, pronto
Gelmires -apoiando-se na vontade de Afonso VI faz rei da Galiza à criança (Afonso VII –
Reimundes – no ano de 1111) filho de Raimundo e Urraca, pois nele tem Gelmires um
instrumento das suas ambições políticas.
Afonso Henriques
Na Braga restaurada por Garcia não gostam da política imperial e desconsiderada da
recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre as
classes dominantes e o bispo de Braga.
Henrique de Borgonha como conde de Portucale o condado ao sul da velha Galiza tem
a inteligência política de passar despercebido, e ir construindo ali um governo local
tranquilo, no que age e a vez não discute a autoridade real. O Bispo de Braga e desde
muito cedo contrário a Compostela. A Compostela de Gelmires chegará a fazer uma
expedição a Braga para roubar o espólio de santos ali depositado –Pio Latrocínio – e
ganhar assim prestigio da vero caput para Compostela, frente a Braga, e ante o Papa.
Henrique de Borgonha com Teresa (designada na historiografia como de Leão) tem um
filho Afonso Henriques. E aceita-se que desde o ano do seu nascimento, 1109 até o
1128 viveu em Guimarães.
A mai estava muito ligada a nobreza do norte poderosa na corte de Leão e verdadeiros
pares do rei.
Porém a igreja de Braga e a nobreza local, que defendem os seus interesses empurram
ao puto (14-15 anos) contra a mai para terem assim um maior controlo local,
Em 1120, sob a direção do arcebispo de Braga, o puto Afonso tomou uma posição
política oposta à da mãe, quem apoiava o partido dos Travas (poderosa família galega
mui ligada a Gelmires nessa altura). O bispo, forçado a emigrar, levou consigo o infante
que em 1122 se armou cavaleiro em Tui.
Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a
invasão do Condado Portucalense por Afonso Reimundes (VII) da Galiza, Leão e
Castela, quem em 1127 cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques,
sendo-lhe prometida a lealdade deste pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII desistiu de
conquistar a cidade.
Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de Teresa e Fernão Peres de Trava
defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as
tropas do nosso puto de 17 anos com a bênção do bispo de Braga saído vitoriosas – o
que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o
governo do condado.
Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder concentrou os seus
esforços em negociações junto da Santa Sé, Afonso Henriques sempre bem guiado
pólo arcebispo de Braga Pedro (primaz da Galiza) com um duplo objetivo: alcançar a
plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte
contingente mouro, D. Afonso Henriques recebe a coroa e a consagração de Rei de
Portugal do bispo de Braga João Peculiar.
Afonso VIII da Galiza e Leão
Em 1230 morre em Sárria Afonso VIII com 82 anos e trás mais de sessenta anos de
reinado na Galiza -na parte norte ou Ártabra desse território histórico – e Leão. Afonso
estava velho e canso, vinha de passar os últimos 16 anos da sua vida em guerra com o
seu filho Fernando, pois foi contra o parecer do pai proclamado rei de Castela, e para o
seu pai esse feito equivalia a renuncia de quaisquer direitos sobre as coroas de Galiza e
Leão
Afonso VIII casara com duas parentes de segundo grau, Teresa de Portugal. prima
direta, com quem tem duas filhas Sancha e Dulce (e um filho Fernando que faleceria),
matrimónio que a igreja rompe e obriga a novo casamento (por detrás está
Compostela). Rutura a que muito se resistiu pois estava fundamente namorado da sua
esposa e logo com Berenguela filha de Afonso VIII de Castela, tamém prima direta,
com quem tem a Fernando, mas este matrimónio a igreja consente e apoia pois estava
na linha do programa imperial peninsular da Galiza e Compostela.
O seu testamento é claro, as herdeiras dos seus tronos são as filhas de Teresa: Sancha
e Dulce (cada uma o seu); e como garantes, a sua mai, o Rei de Portugal e a Ordem de
Santiago. Qualquer solução incluída a união com Portugal é valida mas em nenhum
caso a unificação com Castela.
Fernando reclama (e paga muito). A Igreja da Galiza e de Leão está muito dividida e na
maioria e contrária a Fernando, mas a intervenção do bispo de Compostela e os de
Castela são decisivos para que o Papa declare ilegítimo o testamento do bom rei.
Compostela e certas camadas nobres galegas sentem que com Fernando III controlam
o centro peninsular, que o seu projeto imperial vai avante.
Portugal nunca aceita o ilegítimo acordo.
Com Fernando III, rei muito abençoado pola Igreja, que acabou por fazê-lo santo, o
projeto central castelhano avança, a reconquista avança até o estreito de Gibraltar, em
Sevilha e Toledo vai estar a corte sob a capa duma corte de nobres galegos, de língua
galaico-portuguesa, com galegos que se enriquecem neste processo, de filhos dos
nobres cortesãos que enviam os filhos a educarem-se com aios na Galiza, como o filho
do rei e futuro rei Afonso X.
Afonso X que brilhou nas nossas letras, porém foi quem impulsionou o primeiro
estatuto dominante para a escrita da chancelaria em castelhano. Sancho IV seu filho
ainda vai continuar ligado a tradição cultural galaica. A chegada ao trono com 9 anos
do seu filho Fernando apaga não pouco essa tradição, sob novos tutores e aios o
predomínio e domínio galaico da corte esvai-se, A nobreza galega e a igreja de
Compostela será firme no apoio a este rei como ainda um dos seus e assim como ao
seu filho Afonso XI e neto Pedro I.
Os interesses imperiais de Castela e a sua visão peninsular triunfam definitivamente
sobre os galaicos com o assassinato de Pedro I pelo mercenário bretom Douglesclin, e
com a chegada ao trono de uma dinastia limpidamente castelhana sob o nome galaico
dos trastámaras. As tropas galegas que se batem a prol de Pedro saem coa sua
nobreza dirigente muito diminuída em influência.
É a dinastia castelã dos Trastámaras a que vai tentar se apoderar de Portugal, que
renasceu logo triunfante em Aljubarrota frente a Juam I de Castela (trastámara).
Que houvesse passado se Afonso Henriques não fosse quem de iniciar um reino.
A monarquia portuguesa frente ao modelo imperial do norte, sempre com aspirações
peninsulares, centrou-se sobre sim própria e em consolidar pouco a pouco o seu
território, que ficava de costas a península, mas aberto ao mar. Sancho I, Afonso II,
Sancho II, esforçam-se nessa linha de conduta.
Se o puto Afonso Henriques e a sua cabeça pensante, o bispo de Braga, nom fossem
quem de achar um destino para o sul da Galiza alongado de projetos imperiais
peninsulares, hoje teríamos a Galiza unificada desde a extremadura ao norte, mas a
sua vida cultural e linguística não seria sequer tão pobre como a da Galiza atual. Seria
muito semelhante a que se vive no âmbito asturo-leonês-mirandês é dizer no velho
galaico-oriental (galor em palavras de Cosériu).
Essa visão que Portugal tinha de sim próprio é a que o levará a ser um centro dum
império com as costas viradas a península.
O português da Galiza
O galego da Galiza até para o mais ferrenho isolacionismo foi muito vivificado pólo
português universal e da corte de Lisboa. O português da Galiza tirado o muito que
sugou e continua a sugar do português, estaria limitado a uns dialetos rurais bastante
fraturados e os seus utentes só teriam para beber e encher os ocos criativos do mesmo
o castelhano, como é o que se passa nos restos que ficam do asturo-leonês.
O sucesso da nossa língua e cultura (ao norte e ao sul do Minho) deve-se ao projeto
que encetou Afonso Henriques virado de costas ao projeto imperial e originário
galaico. Não temos direito a reclamarmos nada sobre o nome internacional da língua,
já que se não fosse por Portugal nada seriamos nem nada teríamos ao norte e ao sul
do Minho
Afonso Henriques, da Galiza do sul fiz um Portuscale, um reino, e o galaico ou galego
desse reino acabou por ter por nome o do próprio reino, o galeguíssimo nome de
Portugal – português-.
O português da Galiza está na situação que está, por não sermos quem de assumirmos
que as falas galegas só podem viver no português universal, e que falarmos de galego
como contraposição ao português universal -o verdadeiro galego – e seguirmos
pagando as portagens imperais de Castela-Espanha.
Assumirmos a língua como português da Galiza é o melhor jeito galego de chamarmos
ao galego da Galiza para que poda ser ele mesmo e libertarmo-nos do ferrete
esmagador castelhano, pois o futuro do galego-castelhano é só um só – espanhol -.
APONTAMENTO FINAL
Faz bem Portugal em estar sempre à espreita e com receio do que vem do norte do
Minho, pois muito matute espanhol e espanholista se vende sob presunto galeguismo
e muito projeto imperial espanhol ainda paira em cabeças galaicas no avanço cara a
nada e cara nengures.
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Barbosa Alvares, José Manuel. Atlas Histórico da Galiza. Edições Galiza 2008
Merecem especial menção por terem sido os seus trabalhos muito influentes na
perspetiva destas reflexões historicistas, Os múltiplos artigos e eflexões de Ernesto
Vasquez Souza, e alguns trabalhos divulgativos do presidente da Associação Fala Ceive
do Berzo, Xavier Lago Mestre.
(Traduzido para português europeu. In Wikipédia 12 Dezembro 2005)
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