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Vai anexo a proclamação do Prémio Meendinho, abraço, alexandre banhos
O padroado da Fundaçom Meendinho, decidiu que a Comissão promotora da ILP Valentim Paz Andrade; e Os Colóquios da Lusofonia, na pessoa do seu Presidente e impulsionador Chrys Chrystello, foram os ganhadores do Prémio Meendinho 2014.
Aos promotores da ILP: Valentim Paz Andrade, hoje já convertida na Lei da Galiza 1/2014 para o aproveitamento do português e vínculos com a Lusofonia. Por demonstrarem como se faz um trabalho duro e cansativo dum jeito bem abrangente e integrador, e se faz que o esforço alcance sucesso.
Aos Colóquios da Lusofonia, dos que já se realizaram XXI edições, e que se devem à vontade, entusiasmo, e duro trabalho de Chrys Chrystello, do que é inseparável o apoio e contributo decisivo da sua esposa e companheira Helena. Recebem o prémio por muitas e diversas razões das que pomos em destaque as seguintes:
O Prémio Meendinho vai ser entregue à AICL de 25 a 29 de setembro no 22º colóquio da Lusofonia; da que se dará a correspondente publica difusão
Outros prémios Meendinho:
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Para quem não conheça, recomendo ler os artigos de Isabel Rei Samartim no blogue «A viagem dos argonautas»:
http://aviagemdosargonautas.net/tag/isabel-rei/
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Adeus, rios; adeus, fontes
adeus, rios; adeus, fontes;
adeus, regatos pequenos;
adeus, vista dos meus olhos;
não sei quando nos veremos.
minha terra, minha terra,
terra onde me eu criei,
hortinha que quero tanto,
figueirinhas que plantei,
prados, rios, arvoredos,
pinhares que move o vento,
passarinhos piadores,
casinha do meu contento,
moinho dos castanhais,
noites claras de luar,
campainhas timbradoras
da igrejinha do lugar,
amorinhas das silveiras
que eu lhe dava ao meu amor,
caminhinhos entre o milho,
adeus para sempre a vós!
adeus, glória! adeus, contento!
deixo a casa onde nasci,
deixo a aldeia que conheço
por um mundo que não vi!
deixo amigos por estranhos,
deixo a veiga pelo mar,
deixo, enfim, quanto bem quero…
quem pudera o não deixar!…
mas sou pobre e, malpecado!
a minha terra n’é minha,
que até lhe dão prestado
a beira por que caminha
ao que nasceu desditado.
tenho-vos, pois, que deixar,
hortinha que tanto amei,
fogueirinha do meu lar,
arvorinhas que plantei,
fontinha do cabanal.
adeus, adeus, que me vou,
ervinhas do campo-santo,
onde meu pai se enterrou,
ervinhas que biquei tanto,
terrinha que nos criou.
adeus, Virgem da Assunção,
branca como um serafim;
levo-vos no coração;
vós pedi-lhe a Deus por mim,
minha Virgem da Assunção.
já se ouvem longe, mui longe,
as campanas do Pomar;
para mim, ai!, coitadinho,
nunca mais hão de tocar.
já se ouvem longe, mais longe…
cada bad’lada uma dor;
vou-me só e sem arrimo…
minha terra, adeus me vou!
adeus também, queridinha…
adeus por sempre quiçá!…
digo-che este adeus chorando
desde a beirinha do mar.
não me olvides, queridinha,
se morro de solidão…
tantas léguas mar adentro…
minha casinha!, meu lar!
(Rosalia de Castro, poeta galega 1837-1885)
Edições da Galiza/AGLP, pelo ilustre filólogo galego, Professor Dr. Higino Martins Esteves, segundo o Acordo Ortográfico da LP de 1990.
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Pessoa no Livro do Desassossego: “Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções.”, era Bernardo Soares quem falava. Imaginemos Bernardo Soares, tristeiro apaixonado, enfastiado do capitalismo embrionário europeu, onde a primeira máquina já programava: fazer para algo.
[É certo que o Livro do Desassossego não foi publicado até ao 1982
mas a sua redação aconteceu nos começos do s. XX,
sendo a morte do autor em 1935]
Também Oscar Wilde no Retrato de Dorian Gray: “A Arte é completamente inútil”. O livro saiu do prelo em 1890, justamente quando a Era das Máquinas começava a invadir Europa. O escândalo foi maiúsculo e o autor redigiu várias cartas públicas na sua defesa.
[Para os meus botões:
O nosso dandy preferido deveu divertir-se como nunca!]
Pela mesma época de industrialização massiva, António Machado (1875-1939), andaluz de ascendência galega, fiava uns versos que diziam:
Sabe esperar, aguarda que la marea fluya
—así en la costa un barco— sin que el partir te inquiete.
Todo el que aguarda sabe que la victoria es suya;
porque la vida es larga y el arte es un juguete.
Y si la vida es corta
y no llega la mar a tu galera,
aguarda sin partir y siempre espera,
que el arte es largo y, además, no importa.
No começo do poder das máquinas “valer para algo” significava que a arte, a poesia, tinha o seu lugar prático numa cadeia de produção. Que a fariam encaixar no seu posto e fichar todos os dias. Que estaria desse modo realizando um labor proveitoso para a abstrata sociedade. Não consigo imaginar as páginas dum livro aprontando como um robô as tripas dum automóvel.
Porém hoje a lógica das máquinas, do poder, nos possui. Tomamos a nossa pílula diária em chips, objeto essência do fazer para algo. Assumimos como natural a utilidade de tudo e quase não entendemos por que é necessária a beleza do inútil, do concibido para nada. A estética do artifício, do ilusionismo, da fantasia, a arte como uma prática em si mesma. Pela contra, aventuramos uns objetivos práticos para as artes
[abrimos galerias visuais, tecemos fio musical, vemos produtos da marca Disney,
contratamos empresas de marketing, organizamos concursos, outorgamos prémios,
ingressamos nas enciclopédias, vendemos discos e livros
e até imagens em duas, três, quatro dimensões]
e disfarçamos de seriedade o brinquedo da invenção artística, o escutar por escutar, o ler por ler, qual o viver por viver. Esquecemos a noção da arte como artifício porque sim, máquina sem objetivo. Esquecemos que Arte é parte de Natura sem mais alvos do que existir a existência, essa colossal, poética e exemplar fantasia.
Eugénio Granell (1912-2001)
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O papel dos galegos na lusofonia como elo de ligação entre África, Portugal e o Brasil Ângelo Cristóvão, da Associação Galega da Língua Portuguesa, escreve para uma amiga galega.
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[Bruno Carvalho] Declaram ao mundo que se submetem à lei única dos que ousam sobreviver entre as agruras das serranias e dos penedos.
Para nove meses de Inverno e três de inferno, as gentes barrosãs inventaram uma forma muito própria de viver. De hábitos e tradições ancestrais, com aroma a fumeiro, a urze e a carqueija, repetem que para lá do Marão, mandam os que estão.
«Aqui, em Pitões, jamais alguém será encontrado sem vida mais do que dois dias. Aquilo que se vê nas cidades seria impossível». Enquanto arrasta duas sacas de batatas, Ana Moura traça a fronteira entre dois mundos. «Como alguém não dê sinais de vida, botamos a porta abaixo sem pedir autorização e que venha a guarda prender o povo inteiro». Enquanto conversamos, a lareira mergulha as chouriças e as alheiras no fumo e o calor queima-lhe o rosto. Admite que o apelo da cidade é forte mas que nunca abandonaria a sua terra. «Aqui, o dinheiro que temos é pouco. Não podemos ter o que têm lá. Mas nunca faltará trabalho e, a não ser quando é um mau ano de colheita, não passaremos fome.»
Às onze da noite, a temperatura queda-se pelos zero em Pitões das Junias, aldeia encravada no Gerês, a 1200 metros, no concelho de Montalegre. No primeiro dia do ano, recuperados da festa que teve a fogueira popular como protagonista, a população junta-se no mesmo largo para cantar as Janeiras. De tochas e versos nas mãos, caminham de porta em porta e reúnem as ofertas de quem lhes abre as casas. Chouriças, alheiras, vinho e queijo que vão encher a mesa do almoço comunitário que realizarão dias depois.
Entre as ruas de granito, misturam-se alguns turistas e filhos da terra que emigraram noutros tempos de miséria. Mas também migrantes destes novos tempos. Ana Paiva, proveniente de Gaia, não resistiu ao apelo de Pitões das Júnias e, de visita, rumou à aldeia com amigos durante anos sucessivos. Até que decidiu ficar e com o companheiro passou a gerir uma das tabernas mais agradáveis daquelas paragens. A Terra Celta conseguiu, num só ano, atrair galegos apaixonados pelo seu país e músicos que cultivam o gosto pela gaita-de-foles.
A Andorra galaico-portuguesa
A meia hora de carro, depois de Montalegre, entre o escarlate das árvores ainda vestidas, ergue-se a cabeça do Larouco. A montanha que recebeu o nome do milenar deus pagão alberga nas suas faldas meia dúzia de aldeias portuguesas e galegas. As suas populações foram protagonistas, durante séculos, de uma realidade tão própria que nem a definição de fronteiras pôde separar. Ainda que a sinalética rodoviária insista em indicar os caminhos para Espanha, em mais de metade das placas aparece a spray azul a palavra Galiza.
Contra a teimosia dos que julgam espanhóis quem vive na parte norte do Larouco, as semelhanças linguísticas entre os vizinhos de ambos lados da raia desmentem a tese espanholista de que a Galiza é e sempre foi Espanha. Ainda antes de Portugal conquistar a sua independência, fundava-se uma das experiências mais duradouras de comunhão entre os povos do Larouco. Até ao século XIX, existiu uma zona independente de qualquer Estado e que englobava três aldeias: Ruivães, Meãos e Santiago.
Com organização própria, o Couto Misto conferia aos seus habitantes o direito de optar por uma ou outra nacionalidade, ou mesmo por nenhuma. Ficavam isentos de qualquer imposto português ou espanhol, não eram obrigados a cumprir serviço militar e não precisavam de licença para porte de arma. Para além disso, tinha o privilégio de poder dar asilo aos foragidos da justiça de ambos Estados.
Larouco, o deus dos contrabandistas
Avessos às imposições estatais, esta parte da fronteira foi das mais violadas do país. As mulheres e homens que desafiaram as autoridades de ambos os lados da fronteira fizeram-no para alimentar as suas famílias. Mas os barrosões e galegos também rasgaram as convenções que pretendia barrar a convivência milenar. Fizeram do contrabando uma arte e nem a sintonia entre o regime de Salazar e os fascistas espanhóis, que se levantaram em 1936, comandados por Franco, conseguiram esmagar a solidariedade galaico-portuguesa.
Milhares de refugiados e resistentes anti-franquistas, pertencentes à parte democrata da guerra civil, procuraram abrigo na região do Barroso. Foram muitas as famílias transmontanas que deram abrigo às vítimas da barbárie fascista. Já depois de consolidada a vitória de Franco, as montanhas da zona foram visitadas por grupos guerrilheiros que se haviam recusado abandonar a luta armada.
Se houver um deus no mundo que seja rezado por foragidos, devia chamar-se Larouco. A divindade pagã que é também o mais alto dos montes da região não foi só refúgio dos que guiavam os seus rebanhos pelas encostas. Deu também esconderijo a guerrilheiros, protegeu a identidade de emigrantes e refugiados políticos. Mas, principalmente, serviu de caminho a contrabandistas.
Democracia avançada em tempos de crise
Imagine-se uma terra em que é uma roda a que mais ordena. Uma roda feita de casas e casas feitas de gente. Imagine-se que, desde tempos de que não fala a memória, é neste relógio de ruas lamacentas e habitações de granito que o sentido dos ponteiros decide, a cada semana, quem faz o pão. Imagine-se mulheres e homens que planificam as actividades económicas do seu dia-a-dia sob regras que aliviam o peso do indíviduo e fortalecem a comunidade.
Até há bem pouco tempo, era assim em boa parte das aldeias de Montalegre. Em algumas, ainda restam hábitos desse trabalho levantado pela força dos braços unidos. A quem tem dez cabeças de gado cabe-lhe o dobro de dias, vinte, nas encostas do Larouco a pastar todos os animais dos vizinhos. A regra é igual para todos e abre espaço para que cada um tenha tempo para cuidar de outras tarefas individuais ou comunitárias. Embora as terras estejam divididas e cada um tenha a sua colheita, em geral, a segada era feita em conjunto. Todos comiam. Independentemente da propriedade, o que definia o respeito por cada habitante era o trabalho. A quem não possuía animais ou terras cabia-lhe arranjar os caminhos e o património comum da aldeia como o Forno do Povo.
Para este mundo agreste, os transmontanos descobriram, à sua escala e com as devidas diferenças, o que a tanta gente custa entender. Se todas as praças e avenidas deste país fossem Rodas do Povo jamais governariam os que nos abrem feridas. Quem nos afundou as pescas, quem nos enterrou os campos, quem nos desmantelou as fábricas, quem nos encheu as aldeias de silêncios de cemitério fê-lo porque um rico faz-se sobre as sombras divididas de muitos pobres. Talvez devamos aprender mais com os que sujam as mãos de terra e menos com os que enchem os bolsos de dinheiro. A união dos que trabalham é o que ilumina um dos maiores valores universais da humanidade: a justiça social.
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PEDRO DA SILVEIRA, autor açoriano
, CASTELO DE VILA NOVA DE CERVEIRA, SETEMBRO 1959
INSCRITO SOBRE A ÁGUA D’UM RIO
(a Ernesto Guerra da Cal e também em memória de Rosalía de Castro e de João Verde)
Há um cais no outro lado;
Atrás do cais, árvores;
Além das árvores, uma casa.
Montes ao longe:
Mais perto, verdes,
Azulados os outros.
Com uma espingarda em cada olho
E nas mãos uma espingarda,
Um fantasma assombra o cais.
A água olha-o, calada.
Calada, foge.
Desgostosa.
Mas feliz.
Pedro Laureano Mendonça da Silveira (Fajã Grande, 5 de Setembro de 1922 — Lisboa, 2003), mais conhecido por Pedro da Silveira