O avião que saiu de Santa Maria e nunca mais foi visto – O caso “Star Tiger”
(Artigo Original publicado no Açoriano Oriental em 17-10-2010)
Foi a 30 de Janeiro de 1948 que um avião descolou do aeroporto de Vila do Porto, em Santa Maria, num voo de 12 horas com destino às Bermudas, no que era então a maior rota transoceânica de então, e desapareceu sem deixar rasto.
Entre as vítimas encontrava-se o ilustre Marechal britânico Sir Arthur Coningham, herói da II Guerra Mundial e um dos arquitetos do “Dia D”, tendo o acidente nos Açores feito a primeira página do New York Times do dia seguinte, dividindo a manchete com o assassínio de Mahatma Gandhi.
Nas décadas seguintes, a misteriosa perda do Avro Tudor “Star Tiger” acabou por tornar-se um dos maiores mistérios da aviação pós-guerra e um dos eventos que ajudou a construir o mito do Triângulo das Bermudas, suposta zona de atividade paranormal onde navios e aviões desaparecem sem razão aparente.
Contudo, novas investigações pelo jornalista Tom Mangold apontam para que um simples incêndio tenha causado a perda do “Star Tiger”, avançou o freelancer à BBC.
A aeronave era operada pela British South American Airways (BSAA) e partiu de Santa Maria em direção às Bermudas pelas 14h22 do dia 29 de janeiro, a última etapa na rota Inglaterra-Bermuda, com 41 pessoas a bordo.
O último contacto por rádio foi recebido a 340 milhas do destino, às 03h00. Em cinco dias de buscas nenhum destroço ou corpo foi encontrado e a investigação oficial deixou em aberto a causa do desastre. No entanto Mangold encontrou algumas indicações que podem explicar o incidente.
De acordo com Gordon Store, ex-diretor de operações da BSAA, a mecânica do Tudor não era fiável. “Os componentes eram extremamente inseguros: os hidráulicos, ar condicionado e geradores ficavam todos encafuados por debaixo da cabine. Os aquecedores nunca funcionavam”, apontou.
Provavelmente para manter o avião mais quente, o piloto decidiu voar toda a rota a baixa altitude, a 600 metros. “Voar naquela altitude deixa pouco espaço para manobra”, indicou Eric Newton, um dos mais antigos investigadores de acidentes do Governo Inglês. “Em caso de emergência grave, poderiam ter perdido altitude e caído no mar em segundos”.
“O que quer que tenha acontecido ao avião, foi rápido e catastrófico. Não houve tempo sequer de pedir socorro”, concluiu Newton. “Se o aquecedor se incendiasse debaixo da cabine, causaria um fogo de grandes proporções antes que a tripulação desse por isso”.
O Comandante Peter Duffey, ex-piloto da BSAA, crê que o vapor do ar condicionado escapou por uma fuga na tubagem até ao aquecedor e causou um incêndio, teoria também partilhada pelo colega Don Mackintosh. “Na altura não havia extintores automáticos, alarmes, ou nada do género. Ninguém poderia saber o que se passava até ser demasiado tarde”.
Recorde-se ainda que nos três anos sem que operou a rota, a BSAA teve 11 acidentes e perdeu cinco aviões, causando a morte a 73 passageiros e 22 tripulantes, entre os quais o desaparecimento do Tudor “Star Ariel” na mesma rota do “Star Tiger” em 1949.
A investigação de Mangold foca um ponto que pode explicar as inúmeras conspirações por detrás do mistério do Star Tiger.Perante a ausência de provas de falha mecânica, uma tripulação experiente a voar em bom tempo, os investigadores de então especularam no relatório de que “alguma causa externa pode ter subjugado homem e máquina”, deixando a porta aberta durante décadas a teorias envolvendo OVNIS, paranormal e até sabotagem comunista, tendo como suposto alvo o ilustre Marechal Coningham.