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INSULARIDADE E RYANAIR

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Os Açores estão a ser governados como se fossem uma mercearia de bairro, não como uma região que precisa de visão de longo prazo.
A saída da Ryanair dos Açores é um desastre anunciado e completamente evitável.
E não me venham com explicações técnicas sobre taxas. A realidade é simples: é muito mais barato abdicar de alguma receita aeroportuária do que perder uma companhia que traz centenas de milhares de pessoas por ano. Toda a gente sabe que a Ryanair faz chantagem. Sim, faz. Mas qualquer região inteligente cede quando isso protege o futuro. Ceder um hoje pode valer cinquenta amanhã.
Nos Açores, esta lógica básica parece não existir.
Enquanto o Governo Regional continua a proteger uma SATA falida, que respeito pelo papel inter-ilhas mas que é um buraco financeiro permanente, fecha na prática a porta às low-cost que verdadeiramente ligam os Açores ao mundo.
Eu vivo em Londres. Tenho uma filha menor. Sempre que chega uma janela de férias escolares, tentar ir aos Açores é um tormento. Os preços são absurdos e, se for pela SATA, então é simplesmente impossível para uma família. Isto não é acessibilidade, não é estratégia e não serve os açorianos.
E depois querem que acreditemos que há visão estratégica. Não há. Isto é incompetência pura.
Os Açores precisam de decisões sérias, visão a longo prazo e abertura ao mundo. Não podem continuar a ser geridos como um balcão onde se fazem contas do dia a dia enquanto o futuro se perde à porta.
Perder a Ryanair não é perder uma rota. É perder mobilidade, turismo, competitividade e oportunidades para quem vive nas ilhas.
Está na altura de acordar. Porque isto só se resolve com coragem e competência, não com discursos.

O affair Ryanair

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O affair Ryanair tem reacendido um debate que, na verdade, nunca deixou de existir, sobre que turismo queremos para os Açores e que modelo de desenvolvimento estamos dispostos a assumir? É o eterno confronto entre vantagens e desvantagens, riscos e receitas, “turismo de qualidade” versus “turismo low-cost”, seja lá o que isso for. De um lado, e eu incluo-me nesse lado, há aqueles que veem no turismo um dos pilares fundamentais do desenvolvimento económico do arquipélago. Do outro, há quem encontre no turismo a origem de todos os males contemporâneos, da inflação à gentrificação, da pressão sobre a capacidade de carga do território à massificação do destino.
O mais curioso é que os estudos de opinião feitos nos últimos anos mostram que a grande maioria dos açorianos, afinal, tendem a ter uma visão globalmente positiva do turismo. De forma consistente, os residentes reconhecem o contributo do setor para o emprego, para a economia, para o rendimento disponível e para o investimento. E vão mais longe, valorizam o impacto do turismo na oferta cultural, no artesanato e no património. Naturalmente, também identificam riscos, subida de preços, escassez de habitação acessível e pressão sobre a paisagem e os recursos naturais. Mas, em geral, a percepção pública sobre o turismo é ela mesma equilibrada e informada.
Ainda mais interessante é que muitos inquiridos apontam o planeamento, ou a falta dele, como o fator determinante para o sucesso ou insucesso do turismo. Ou seja, os açorianos reconhecem que a sustentabilidade turística está diretamente ligada à capacidade de planear, regular e antecipar. E é precisamente aqui que entra o episódio Ryanair.
Para se compreender onde chegamos e como aqui chegamos, convém recuar a 2015, ao momento em que se iniciou a liberalização, ou, mais precisamente, a “semi-liberalização” das rotas Lisboa/Porto–Ponta Delgada/Terceira. Eu lembro-me bem desse período porque era então Coordenador de Promoção da ATA/VisitAzores e acompanhava, mesmo que a partir da margem, as discussões entre dois polos que pareciam irreconciliáveis. De um lado, o Governo ultra-liberal pós-troika de Passos Coelho, com o inesquecível Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro. Do outro, o primeiro Governo de Vasco Cordeiro, com Vítor Fraga na tutela do Turismo e Transportes.
A República defendia a abertura total do mercado, numa lógica puramente ideológica, e totalmente desconhecedora da realidade local, que via na liberalização a chave para aumentar fluxos e dinamizar a economia. A Região, por seu lado, temia os impactos na mobilidade dos residentes, horários, serviços mínimos, tarifas, e, claro, a sobrevivência da SATA, já então numa posição difícil e débil. Mas, para nós, os técnicos que estavam no terreno, havia ainda outra preocupação, a capacidade real do destino para absorver um aumento súbito da procura. Teríamos oferta suficiente? Recursos humanos? Estruturas? Legislação adequada? Ou seja, estaria o arquipélago preparado para um choque liberalizador como aquele que o Ministro Pires de Lima propunha com a sua arrogância anarco-capitalista?
E é aqui que chegamos ao presente e à anunciada, ou ameaçada, não importa, saída da Ryanair dos Açores. Em 2015, as nove ilhas somavam cerca de 12 500 camas. Hoje, são mais de 40 000, e continuam a crescer. Um aumento de 220% em apenas dez anos. As ligações aéreas passaram de 8 companhias para 14 (+ 75%), mas as rotas do continente pouco mudaram, entraram Ryanair e EasyJet, que saiu logo de seguida, e agora a Ryanair ameaça sair. No mesmo período, o número de hóspedes passou de 400 mil e 1,2 milhões de dormidas, para 1,2 milhões de hóspedes e 4 milhões de dormidas. Crescimentos de 200% e 230%, respetivamente. Entretanto, a ATA, hoje apenas VisitAzores, viu descer o seu orçamento de 60 milhões para cerca de 15 milhões, uma quebra de 75%.
Estes números, que podem parecer áridos, mostram duas coisas: primeiro que crescemos rápido demais e segundo que investimos mal. E a preocupação que tínhamos em 2015 confirmou-se, o destino tornou-se estruturalmente frágil, altamente dependente de poucos players e excessivamente exposto a flutuações externas.
Ser um destino sustentável, num arquipélago, depende primeiro de aviões. Sem aviões não há turistas; sem turistas não há destino. Mas depende também da qualificação da oferta, da preservação dos recursos, da diversificação dos mercados, e da qualidade de vida dos residentes. Não se trata de demonizar o turismo, eu próprio vivo dele. Trata-se de reconhecer que crescemos de forma desequilibrada, movidos por ambição, em alguns casos por pura cobiça, e sem um plano para o “dia seguinte”.
Em economia existe um conceito interessante chamado de “ilusão do crescimento”. Basicamente, os números a subir mascaram deteriorações profundas. Crescer não significa, por si só, desenvolver. Por exemplo, aumentar camas não é o mesmo que aumentar valor. Multiplicar dormidas não é garantir riqueza, nem a sua redistribuição, nem o bem-estar das comunidades residentes no destino. Quando o crescimento estatístico se sobrepõe ao desenvolvimento real, abre-se caminho para perigosas regressões económicas. Como todos bem sabemos…
E foi exatamente isso que nos aconteceu. Como este episódio atual demonstra à exaustão. A proliferação de alojamento, mais de metade dele em Alojamento Local, não veio acompanhada por ligações aéreas estáveis, mercados diversificados ou promoção consistente. Criou-se um ecossistema turístico em que a oferta depende de um fio finíssimo e vulnerável. E bastou um espirro do Sr. O’Leary para constipar a região inteira.
Recentemente, mão amiga fez-me chegar um artigo de opinião do Dinheiro Vivo defendendo que a saída da Ryanair poderia ser positiva, permitindo transformar os Açores num destino exclusivo, orientado para turismo “de qualidade”. Em abstrato, todos concordamos com esta ambição. Na prática, esse barco já zarpou quando, em 2015, se optou por um modelo de crescimento assente exclusivamente na quantidade. Foi uma escolha política e ideológica, liderada por Pires de Lima e Sérgio Monteiro coadjuvados, do lado turístico, por Adolfo Mesquita Nunes, de boa memória, diga-se, e João Cotrim de Figueiredo, pasme-se. O resultado foi a consolidação de um modelo que não se inverte com um estalar de dedos ou por mera narrativa de opinião.
Hoje, com o número de camas, restaurantes e serviços existentes, e com uma sazonalidade cada vez mais marcada, não temos margem para perdas abruptas de procura sem provocar danos profundos no tecido económico local, um tecido que ainda não recuperou totalmente das sequelas da pandemia do Covid-19.
Convém também desfazer um mito. O passageiro low-cost não é sinónimo de passageiro “pé-rapado”. Tratam-se, muitas vezes, de viajantes informados, que preferem pagar menos pela viagem para gastar mais no destino. As low-cost equilibram os preços, combatem a sazonalidade, ampliam mercados e garantem fluxo suficiente para sustentar toda a cadeia turística, desde o hostel urbano ao boutique hotel temático.
A ideia de transformar os Açores numa “Riviera do Atlântico” é uma utopia simpática, mas irrealista a curto prazo. Não temos o clima, não temos ainda a oferta, e ninguém está disposto a investir durante uma década para que esse ideal aconteça enquanto, no imediato, restaurantes, hotéis e empresas de animação fecham portas lançando dezenas, se não centenas, de pessoas no desemprego. O único caminho possível é a diversificação. Vários mercados, vários perfis de turistas, e várias ligações aéreas sendo que necessariamente algumas delas, e de preferência mais do que uma, low-cost.
O futuro do turismo nos Açores não se faz com romantismos ideológicos, mas com pragmatismo. Com os pés na terra, as mangas arregaçadas e uma estratégia clara. Não é uma low-cost que nos desvaloriza; é a nossa incapacidade de criar um destino tão sólido que nenhuma low-cost se sinta confortável em nos abandonar.

Açores assustados com saída da Ryanair.

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Açores assustados com saída da Ryanair.
Vou partilhar a minha visão sobre este assunto do momento.
Não precisamos entrar em pânico; este é um momento para pensar em soluções inteligentes e práticas que beneficiem tanto os residentes quanto os visitantes, além de toda a economia regional.
Historicamente, a Ryanair já utilizou situações semelhantes para pressionar governos e aeroportos a melhorar condições, pelo que esta pode não ser uma saída definitiva. Portanto, é importante negociar, mas com consciência de que se trata de uma tática de pressão da companhia.
Ao mesmo tempo, podemos aproveitar este momento para refletir sobre o tipo de turismo que queremos para os Açores. Talvez seja hora de apostar num turismo de maior qualidade, que atraia visitantes interessados em conhecer e gastar na ilha, sem depender exclusivamente de voos low-cost. Isso pode incluir, por exemplo, pacotes turísticos que promovam atividades culturais, contacto com a natureza e gastronomia local pago.
Um turismo de qualidade e sustentável pode valorizar a economia local e melhorar a vida de toda a comunidade, mantendo os Açores como um destino atrativo e vibrante.
Desde que as operadoras low-cost vieram, reconhecemos que ajudou imenso no crescimento da economia, mas, também tirou qualidade de vida para quem uma grande maioria. Pois as enchentes de turistas influenciam o lazer e bom descanso para quem quer sentir a natureza.
E temos de nos lembrar que vivemos numa ilha. Se não pudermos usufruir das nossas paisagens sem pagar valores elevados para o poder de compra da maioria dos residentes, ou estar a visitar os lugares sem tantas enchentes acabamos por ficar desapontados. Muitos podem dizer, que isto é normal com o turismo. Sim, até agora era “o normal”. Mas, como os Açores começaram a apostar no turismo mais tarde, ainda é possível aprender com outros destinos sobre o que não se deve fazer para preservar as paisagens, a qualidade de vida e o bem-estar da população. Temos o privilégio de morar ou estar num dos destinos mais belos do mundo, então, em vez de nós vendermos tão barato, que reconheçamos nosso real valor.

A Crise Aérea dos Açores: Quando o Governo Perde o Rumo – Diário da Lagoa

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«A decisão da Ryanair de cancelar todos os voos de e para os Açores a partir de 29 de março de 2026 não é apenas mais um episódio turbulento (…) É um sinal claro de que algo (…) falhou»

Source: A Crise Aérea dos Açores: Quando o Governo Perde o Rumo – Diário da Lagoa

NewTour/MS Aviation deixa aviso aos tripulantes de cabine: Sem entendimento não há proposta de aquisição | Antena 1 Açores

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…da Azores Airlines.

Source: NewTour/MS Aviation deixa aviso aos tripulantes de cabine: Sem entendimento não há proposta de aquisição | Antena 1 Açores

AÇORES PRECISAM DA RYANAIR

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Ainda sobre este drama da Ryanair e o anúncio de que encerrará todos os voos para os Açores a partir de março de 2026, alegando como razões as taxas aeroportuárias elevadas e uma falta de intervenção governamental na redução de custos operacionais, vale a pena determo-nos sobre alguns detalhes.
A decisão, obviamente, provocou uma preocupação generalizada entre entidades regionais, operadores turísticos e autoridades económicas, algumas mesmo utilizando termos como “choque”, “golpe” e “pânico” para caracterizar este anúncio. Embora, da parte do Presidente do Governo Regional tenha havido uma alegação de, pelo menos aparente, tranquilidade. Alguém que me arranje o mesmo calmante, sff.
A Ryanair alega transportar cerca de 400 mil passageiros por ano, grande parte deles turistas em viagem de lazer ou negócios, o nosso mercado interno é pequeno e pouco abonado, portanto podemos acreditar que pelo menos mais de 60% a 70% destes 400 mil são efetivamente turistas. Ora a retirada da única oferta low-cost entre o continente e o arquipélago reduz significativamente a conectividade aérea do arquipélago e aumenta a dependência de outras companhias, como TAP e SATA, sabendo nós, também, como está, infeliz e fatidicamente, esta última.
Segundo estimativas por alto, baseadas no gasto médio por visitante (€276 por viagem segundo dados do INE), a perda direta de receitas turísticas provocadas pela retirada da Ryanair do destino Açores pode variar entre €27,7 milhões e €110 milhões anuais, dependendo do número de passageiros não residentes afetados. Se juntarmos a isto os efeitos indiretos na economia regional, esse impacto pode atingir entre €40 milhões e €166 milhões. E o Presidente do Governo diz-se tranquilo?!?!
Outro dos impactos a curto/médio prazo é a subida dos preços médios dos bilhetes, para além da redução do número de turistas sensíveis ao preço e impactos negativos em atividades complementares, incluindo restauração, transportes e animação turística. Já para não falar noutros impactos indiretos no consumo, retalho, produtos locais, etc. É que se os turistas produzem lixo, como todos nós, aliás, também gastam dinheiro, a tomar café, beber água, ou a meter gasolina nos carros de rent-a-car. Estimativas simples indicam que a perda de emprego direto pode variar entre 700 e 2 800 postos de trabalho, podendo superar 4 000 empregos se contabilizados os efeitos indiretos. Pensem por exemplo no consumo de lacticínios, carne, peixe, pão ou outros produtos.
Por outro lado temos os elevadíssimos custos reputacionais para a imagem do destino que esta novela provoca. A Ryanair aponta como causas da sua saída as taxas aeroportuárias praticadas pela ANA e a alegada inação do Governo, enquanto as autoridades regionais e nacionais defendem que os Açores têm algumas das taxas mais baixas da Europa.
Esta divergência reforça a perceção de que a decisão também poderá ter motivações estratégicas de negociação, mas ao mesmo tempo revela as fragilidades do destino em assegurar um crescimento sustentado e sustentável do sector turístico fazendo perigar não só investimentos como a própria perceção dos mercados sobre o valor intrínseco do destino. Já dizia a minha avó, leva uma vida a fazer um nome, mas basta um dia para o perder…
Face a este cenário, seria imprescindível que os sectores público e privado estudassem medidas de mitigação, incluindo negociações urgentes, e musculadas se necessário, com a ANA/VINCI, incentivos a operadores alternativos, reforço da promoção turística internacional e avaliação do impacto económico real através de estudos detalhados.
A Ryanair é a maior companhia aérea europeia em termos de número de passageiros transportados e alcance operacional voando para mais de 240 destinos, o que para nós significa uma conetividade com o mesmo número de potencias mercados. Não compreender este facto é não perceber como funciona a indústria do turismo, principalmente nas novas tendências de independent travelers e last minute, elementos essências por exemplo para combater a sazonalidade. Já para não falar no rombo comunicacional que representa sair desta máquina de promoção e comunicação que são 200 milhões de passageiros transportados anualmente.
Não quero defender o Sr O’leary que obviamente não precisa, mas reduzir isto tudo a uma birra ou a uma manobra negocial é não perceber ou não querer assumir como a distância da região dos aeroportos emissores, o sobrevoo do atlântico e tudo que isso implica em termos de consumos de combustível, seguros, especificações técnicas das tripulações e dos aparelhos, bem como outras incidências no preço, como capacidade de encher aviões, influem efetivamente na rentabilidade da rota e da operação. E, principalmente a responsabilidade que o destino têm em ser parceiro e não obstáculo…
A saída da Ryanair representa um abalo sísmico para a economia açoriana e coloca em evidência a vulnerabilidade do arquipélago face a alterações de conectividade aérea, sublinhando a importância de políticas estratégicas para assegurar acessibilidade e sustentabilidade do turismo regional. Tudo coisas que por mais que o espectador atento tente perscrutar não se vislumbram nem no imediato nem no horizonte mais longínquo.
Mais uma vez, estamos não só à mercê dos mercados, o que desde logo vai resultar num aumento lógico e imediato da tarifa média, com impactos diretos no tipo de cliente e perceção da oferta, como estamos também à mercê dos maus políticos, o que infelizmente, resulta no aumento direto da nossa desgraça coletiva…

45,000 holiday rental (AL) licences expected to be cancelled

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The registration process for civil liability insurance for local accommodations should be completed by the summer of 2026 and result in the cancellation of approximately 45,000 spaces, estimates the president of the Local Accommodation Association in Portugal.

Source: 45,000 holiday rental (AL) licences expected to be cancelled

Governo “surpreendido” com a Ryanair lembra que taxa nos Açores “é a mais baixa da Europa” – CNN Portugal

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Ministério das Infraestruturas diz que “a taxa de rota aplicada aos Açores é a mais baixa da Europa e que a taxa de terminal se situa entre as mais reduzidas”

Source: Governo “surpreendido” com a Ryanair lembra que taxa nos Açores “é a mais baixa da Europa” – CNN Portugal