Lula da Silva recusa incómodo no 25 de Abril. “Não vim com nenhum problema na agenda”.
Depois da polémica causada pela sua presença na Assembleia a 25 de abril, o presidente brasileiro recusa qualquer polémica.
Em conferência de imprensa conjunta com Marcelo, Lula da Silva voltou ainda a frisar que a posição do Brasil em relação à guerra na Ucrânia é clara: do lado da paz.
O presidente brasileiro, Lula da Silva, disse este sábado que é necessário “constituir um grupo de países que se sentem à mesa para discutir a paz na Ucrânia.
Além disso, afirmou que a Rússia começou “uma guerra contra a Ucrânia”, aludindo a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Em conferência de imprensa conjunta depois de uma reunião à porta fechada, com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, Lula da Silva referiu que “o Brasil quer encontrar um caminho para estabelecer a paz”.
E, reforçou, “é melhor encontrar uma saída à mesa de negociações do que uma saída no campo de batalha”.
“A guerra só destrói, não constrói nada”, frisou, revelando que não vai “nem à Rússia, nem à Ucrânia” até que haja conversas e condições no sentido de estabelecer a paz.
No entanto, Lula da Silva voltou a criticar o envolvimento da União Europeia no conflito.
“Se você não faz paz, contribui para a guerra”, afirmou.
Referindo que Olaf Scholz pediu mísseis ao Brasil, Lula da Silva disse que não acedeu ao pedido porque “se o míssil matasse alguém”, o país faria parte da guerra.
No entanto, o presidente brasileiro voltou a referir que o Brasil condena a invasão, e aponta para “os votos da ONU” que, defende, mostram o posicionamento do país em relação ao conflito.
“Não vou à Rússia,não irei à Ucrânia. Só irei quando houver, efetivamente, um clima de construção de paz”, frisou ainda.
“A Rússia errou. Todos nós achamos que a Rússia errou. Não devia ter invadido, mas invadiu. O Brasil não quer escolher um lado. Quer um grupo de países para conversar”, disse.
E qual a posição de Marcelo Rebelo de Sousa?
Segundo o Presidente da República, na conversa que teve à porta fechada com Lula da Silva, voltou a “frisar a posição de Portugal: de condenação contra a violação da integridade territorial da Ucrânia e de solidariedade com o povo” do país.
Na intervenção que fez antes da conferência de imprensa, o presidente português teceu rasgados elogios a Lula da Silva, dizendo que “não diria melhor” do que aquilo que Cavaco Silva disse, aquando da última visita oficial de Lula a Portugal, há 12 anos:
“Grandes líderes distinguem-se pela sua capacidade de traduzir ideais em realizações concretas e mobilizadoras de esperança.”
Na sua intervenção, o chefe de Estado relembrou que, no contexto do Conselho de Segurança do ONU, Portugal e Brasil tinham posições “consistentemente iguais”.
No entanto, fez questão de marcar diferenças: enquanto o Brasil (e Lula da Silva) preferem uma via negocial para paz, Portugal condena a invasão “e entende que o caminho para a paz supõe o direita da Ucrânia de reagir à invasão” por uma questão de princípio.
Além disso, referiu o Presidente, é preciso “deixar claro que situações da ordem internacional não variam” de acordo com o poder do país que invade ou ataca inicialmente.
Marcelo: convite a Lula para o 25 de Abril foi “inteligente e feliz”
A visita de Lula da Silva fica, também, marcada por acontecer em datas duplamente históricas: 22 e 25 de abril.
A primeira diz respeito à chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, que aconteceu há exatamente 523 anos, marcando o primeiro contacto de portugueses com a população indígena brasileira.
E depois, 25 de Abril que, segundo o Presidente da República marcou o “fim do império”, do qual o Brasil foi, precisamente, “o primeiro exemplo de descolonização” (em 1822, com a independência).
Esse processo continuou depois da Revolução dos Cravos, de onde “nasceram outros Estados de Língua Portuguesa”, como Angola ou Moçambique, por exemplo.
Por isso, disse Marcelo Rebelo de Sousa, o convite de Augusto Santos Silva ao presidente brasileiro, para estar presente na Assembleia da República no dia 25 de Abril (discursando antes da sessão solene), foi uma “forma inteligente e feliz” de acolher Lula da Silva numa data que celebra o processo de descolonização do qual o Brasil foi precursor.
No entanto, a presença de Lula no Parlamento nesta data em concreto tem estado envolto em polémica, com promessas de protestos dos partidos de direita.
Certo é que, assim que a sua sessão de boas vindas terminar (acontece antes da sessão solene comemorativa), o presidente brasileiro vai rumar a Espanha, onde almoçará com o rei Felipe VI.
A viagem, anunciada há poucos dias, foi vista por alguns como uma forma de evitar alimentar polémicas.
No entanto, o próprio Lula da Silva rejeita qualquer incómodo.
“A agenda não é feita na semana, tem alguma antecedência. Não vim a Portugal com nenhum problema na agenda”, garantiu, antes de expressar “muita alegria” por estar na Assembleia da República numa data especial.