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Crónica 393 25 de abril sempre 2021
Nesta bela casa, hoje dilapidada e desabitada à espera do camartelo municipal para nela se construir uma qualquer gaiola de cimento sem vida nem alma, nela habitaram famílias (felizes ou não)m, ali nasceram jovens, cresceram, foram à guerra colonial e voltaram ou não, para casar e arranjar emprego, terem filhos e seguirem o curso considerado normal naqueles tempos. Naquela casa houve festas, aniversários, dançaricos e outras celebrações, ouviram-se risos e choros, alegrias e tristezas, em tempos até havia criadas fardadas de preto e branco a servirem à mesa na sua escravatura de só poderem sair domingo de tarde para namorarem um qualquer magala do quartel mais próximo. Houve tempos difíceis depois da primeira grande guerra e durante a segunda grande guerra em que havia racionamento e faltavam bens essenciais que nenhum dinheiro podia comprar, mas depois veio o tempo da esperança e da reconstrução, novas tecnologias surgiram a partir de 1950. Foi nessa altura que o mundo calmo e salazarento se desmoronou com a ocupação de Goa, Damão, Diu, a que se seguiram as chacinas em África que deram início a 14 anos de guerra colonial sangrenta, estúpida, sem senso, perdida antes de ter começado, segundo a teoria de dominó de Henri Kissinger. Portugal nunca teve hipóteses nenhumas face ao xadrez dos EUA e Rússia naquela parte de África.
Mais de uma dezena de milhar de mortos e incontáveis feridos e estropiados que ainda hoje penam com stresse pós-traumático deixou macas na velha casa com um jovem revolucionário que embandeirou em arco com o 25 de abril ameaçando as fundações da família. Velhos e irrelevantes os donos da casa foram-se consumindo com o tempo sem nunca se ajustarem aos ventos democráticos cuja voragem aniquilou os rendimentos escassos amealhados em gerações. Quando se finaram a casa se finava com eles sem ninguém interessado em manter e preservar o velho casarão que, há muito necessitava de obras custosas, para manter a sua aparência senhorial
E que me acontecia entretanto? Nessa época qualquer jovem vivia com dois dilemas fundamentais, um: era a espada de Dâmocles da malfadada tropa (o exército colonial português que decepava vidas e esperança dos jovens ao enviá-los para a guerra colonial que ninguém queria nem entendia), a outra era o facto de não pertencermos à Europa nem ao mundo na política do “orgulhosamente sós” a que a ditadura salazarenta se agarrava. Mas havia esperança, a guerra colonial acabaria, tal como a Guerra do Vietname e a democracia haveria de chegar a Portugal como chegou à Europa após a segunda grande guerra. Não sabíamos quando… estive como aspirante a oficial miliciano, no RAL-4 em Leiria, e nos passeios longos de tertúlia com o (major) Melo Antunes nas margens do rio Lis entre março e setembro 1973 ele me dizer que se estava a preparar algo para daí a dois ou três anos (no pior cenário, cinco anos).
Falava-se de vida, de filosofia, de aspirações e sonhos e felizmente vivi o suficiente para ver a maior parte desses sonhos concretizados. Mas jamais esquecerei o que era viver sem liberdade (especialmente de expressão e pensamento). Antes do 25 de abril em Portugal havia uma coisa chamada lápis azul, ou censura, que em 1972 me cortou 70 páginas a um livrinho de poemas adolescentes que publiquei com cerca de trinta páginas…
O resto é já história, o 25 de abril trouxe a liberdade de pensamento e de expressão e muita água correu sob as pontes: sou confrontado por uma sociedade mais desigual do que nunca, de falsa fluência consumista.
No que conseguíamos ler e ouvir queríamos a liberdade de um Woodstock americano, das manifs de estudantes de Paris em 68-69 e subsequentes, em vez de viver sob “brandos costumes” que me obrigaram a uma multa de 2$50 (dois escudos e cinquenta avos) por andar descalço no acesso à praia …ou a uma multa (creio que 250$00) por não ter licença de porte de “arma” (neste caso, um isqueiro). Alguns colegas eram “bufos” não só da PIDE mas ao denunciarem o meu uso de isqueiro sem licença ganhavam 50% da receita…
Depois, veio o dia de todas as esperanças, 25 de abril (quase sem mortes e com cravos na ponta das espingardas) e eu, em Timor, esperei, tardava a chegar (teria ido de barco?) e jamais arribou.
A Europa cresceu, o sonho da europa unida medrou e cresceu descontroladamente, até ter mais olhos que barriga e ficar desesperadamente obesa na palhaçada que hoje é. Por toda a parte, uma após outra, as ditaduras iam sendo aniquiladas e substituídas por modelos de democracia onde alegadamente o povo e a sua vontade eram representados em parlamentos. Com a queda do Muro de Berlim e a glasnost a dar lugar a uma nova Rússia todos acreditamos que sonhar era isto, quando se tornavam realidade até na América Latina e América do Sul. Já o neoliberalismo da nova ordem mundial tinha disseminado sementes com a Thatcher e o Ronald Reagan, mas não sabíamos que isso iria perverter todo o ocidente.
Há algo que sempre afirmei e reitero, mesmo que já não sirva para grande coisa, o 25 de abril trouxe-me o bem mais precioso: a liberdade de expressão, a mim que sou um individualista nato e jamais conseguiria viver numa autocracia. Dantes, os países democráticos tinham eleições os outros não (nem mesmo as mascaradas eleições do partido único em Portugal o ocultavam).
Hoje assistimos a um novo e preocupante paradigma, a semi-democracia onde existe a aparência de uma verdadeira democracia com eleições e tudo o mais, mas onde a realidade não está representada, com resultados viciados, roubo descarado de votos e tanta manipulação que o resultado é a via autocrática travestidas de democracia oca. O que temos assistido nas últimas décadas é um ataque à democracia, e são as próprias instituições europeias quem mais tem atrofiado o funcionamento dos sistemas democráticos. E até mesmo eu, que sempre me considerei um otimista nato, tenho demasiadas dúvidas, rodeado como estou por autómatos não-pensantes, obcecados com os pequenos ecrãs dos smartphones e impérvios aos atropelos à dignidade, equidade e justiça que acontecem em volta. Quando essa liberdade se perder, de facto só terei de me conformar e aceitar que me implantem um ”chip” para o meu próprio bem, como nem George Orwell (1984 e o Triunfo dos Porcos) nem Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) conseguiram imaginar.
Estava em Timor em 25.4.1974… Depois do 25 de abril (data da Revolução em Portugal) comecei a publicar artigos que o Comando Militar e, em especial o CEM (Chefe do Estado-Maior Arnao Metello) queriam evitar. Era chamado quase todas as manhãs e simpaticamente mandava o motorista no velho Volkswagen do Estado-Maior buscar-me a casa. Nessa rotina (prolongou-se por bastante tempo e trouxe consequências ao meu serviço militar) lá tinha de explicar porque publicara artigos censurados e considerado material proibido. Uma verdadeira caça ou o jogo do gato e do rato. Ramos Horta viu assim o 25 de abril (entrevista dada ao Expresso em 28.11.2015).
Este ano como em todos os anteriores 47 usarei um cravo simbólico do dia em que a liberdade chegou a Portugal e por mais que me desgoste (hoje) este país injusto onde vivo ainda sou livre para o afirmar.
Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713[Australian Journalists’ Association MEEA]Diário dos Açores (desde 2018)Diário de Trás-os-Montes (desde 2005)Tribuna das Ilhas (desde 2019)Jornal LusoPress Québec, Canadá (desde 2020) |
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AS BESTAS QUADRADAS DA IA DO FACEBOOK RETIRARAM O NOSSO VÍDEO DO 25 ABRIL EM MONTALEGRE
Video: 25º montalegre 2016 recordar 25 de abril sempre abril 25
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eu canto do maio as mortes inúteis
os deportados para timor
o sangue derramado
tudo o que se pedia eram 8 horas
de trabalho, 8 de descanso e 8 de recreação
eu canto do maio a memória de 1886
do degredo, do cárcere, das torturas
das manifes proibidas, das bandeiras
vermelhas do sangue inocente
sem olhar a partidos nem a pessoas
apenas o direito inalienável
ao trabalho, ao descanso, à recreação
para que os novos fascistas de hoje
não roubem essas memórias
esses direitos, essas lutas
eu canto do maio o dia do trabalhador
hoje desempregado, sem-abrigo, doente
nos novos gulags e campos de concentração
sem grades nem gás mortal
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Para celebrarmos o #25deabrilsempre. #Coronavídeo8 A chamada de manhã fazia-se antigamente ao convocar as pessoas para algum trabalho coletivo. O nosso trabalho coletivo hoje pode ser passar um dia de confinamento na consciência da nossa cultura que quebra fronteiras estatais e mentais.
A família Valladares entesourou um fundo de partituras e instrumentos musicais desde os finais do s. XVIII e ao longo do XIX. Perto de 700 obras para diferentes instrumentos, das quais 130 são…
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NINHOS DE VÍBORAS
por Carlos Matos Gomes
Os ninhos de víboras.
Antes do 25 de Abril de 1974, o regime do Estado Novo era um ninho de víboras.
O general Kaúlza, demitido por Marcelo Caetano do comando de Moçambique, conspirava com Américo Tomaz, Presidente da República para demitir Caetano, Américo Tomaz conspirava com os ministros militares e comandante da Legião, contra Caetano e Spínola. Spínola conspirava com liberais do regime, velhos republicanos, maçons e com capitães, Costa Gomes conspirava com Spínola e os capitães, a PIDE da Guiné conspirava com Spinola, a de Angola com Costa Gomes, a de Lisboa com os dois e com os serviços secretos franceses, pelo menos. Marcelo Caetano conspirava com Santos e Castro, governador-geral de Angola para uma independência branca de Angola, e dava corda ao engenheiro Jardim para negociar em Lusaka, com Kaunda, um acordo com a Frelimo e ao mesmo tempo negociava em Londres com o PAIGC e em Pretória com os sul-africanos uma aliança política e militar – Alcora. Os capitães conspiravam entre si e com os generais Spinola e Costa Gomes, Os deputados da ANP discutiam o emparcelamento rural e o plantio da vinha, parte da Igreja Católica conspirava contra o regime e contra a parte que o apoiava. A guerra na Guiné estava à mercê dos misseis Strela do PAIGC, em Moçambique a Frelimo atacava o centro, a ligação entre Tete e a Beira, cortando o território, em Angola o comandante chefe, Luz Cunha, pedia auxílio à força Aérea da África do Sul para fazer frente a uma ameaça credível de ataque de forças convencionais do Congo e da Nigéria, o que trouxe aviões Mirage para Luanda…a capital do tal teatro onde reinava a paz e o progresso!
O regime era, desde o Verão de 1973, um ninho de víboras.
Já agora, o que oficialmente parece ainda ser um governo no Brasil está na mesma situação do Estado Novo em Lisboa há 46 anos – de cada um aos seus e de facas nos dentes, mas sem guerra, apenas punhaladas. Coisa de jagunços.
Os ninhos de víboras.
Antes do 25 de Abril de 1974, o regime do Estado Novo era um ninho de víboras.
O general Kaúlza, demitido por Marcelo Caetano do comando de Moçambique, conspirava com Américo Tomaz, Presidente da República para demitir Caetano, Américo Tomaz conspirava com os ministros militares e comandante da Legião, contra Caetano e Spínola. Spínola conspirava com liberais do regime, velhos republicanos, maçons e com capitães, Costa Gomes conspirava com Spínola e os capitães, a PIDE da Guiné conspirava com Spinola, a de Angola com Costa Gomes, a de Lisboa com os dois e com os serviços secretos franceses, pelo menos. Marcelo Caetano conspirava com Santos e Castro, governador-geral de Angola para uma independência branca de Angola, e dava corda ao engenheiro Jardim para negociar em Lusaka, com Kaunda, um acordo com a Frelimo e ao mesmo tempo negociava em Londres com o PAIGC e em Pretória com os sul-africanos uma aliança política e militar – Alcora. Os capitães conspiravam entre si e com os generais Spinola e Costa Gomes, Os deputados da ANP discutiam o emparcelamento rural e o plantio da vinha, parte da Igreja Católica conspirava contra o regime e contra a parte que o apoiava. A guerra na Guiné estava à mercê dos misseis Strela do PAIGC, em Moçambique a Frelimo atacava o centro, a ligação entre Tete e a Beira, cortando o território, em Angola o comandante chefe, Luz Cunha, pedia auxílio à força Aérea da África do Sul para fazer frente a uma ameaça credível de ataque de forças convencionais do Congo e da Nigéria, o que trouxe aviões Mirage para Luanda…a capital do tal teatro onde reinava a paz e o progresso!
O regime era, desde o Verão de 1973, um ninho de víboras.
Já agora, o que oficialmente parece ainda ser um governo no Brasil está na mesma situação do Estado Novo em Lisboa há 46 anos – de cada um aos seus e de facas nos dentes, mas sem guerra, apenas punhaladas. Coisa de jagunços.
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Viva o 24 de abril que este sim deveria ser feriado, ainda não se lê nos jornais todos, mas ouve-se nas esquinas das ruas e nas mesas do café. Depois da censura económica, da autocensura e de todas as formas dissimuladas de censura, vão-se fazendo inquéritos, elege-se Salazar como a personalidade do século passado, mandam-se emigrar os jovens, promove-se o cinzentismo salazarista e tentam calar-se as vozes diferentes. Mais ano menos ano acaba-se com o feriado de 25 de abril que nada tem a ver já com o clima que se vive.
A revolução continua por fazer, a liberdade de expressão corre sérios riscos, agora que as outras liberdades se foram por causa da crise, o respeito pela diferença esbateu-se mais ainda, vamos tornar as massas ainda mais acinzentadas, uniformes e carneirenta por entre saudosismos (dantes era o sebastianismo, agora será o salazarismo salazarento.
Por entre uma telenovela, Fátima e futebol o povo nem dá conta de como o levam para novo redil. Há 38 anos deram a liberdade a Portugal e hoje no-la tiram.
Eu continuarei (quase sozinho) um homem do 25 de abril até que me calem, mas somos já muito poucos e menos ainda podem usar a voz. Hoje ainda me deixam escrever isto, mas por quanto tempo mais? Há seis anos publiquei no ChrónicAçores umas linhas em que prevenia e previa este status quo (ler crónica 87) Incrível é que após mais de cem anos dessa lição, ainda nos encontremos tão desamparados, inermes e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil!
Agora, o politicamente correto ameaça o humor. A crise fará o resto e aí – sim – estarei definitivamente calado se não morrer antes. Só tivemos 38 anos de liberdade comparados com 48 de ditadura obscurantista, mas pouco temos a celebrar neste ano de 2012 em que nos querem fazer recuar aos anos 50 ou 60 do século passado, a História em marcha à ré. Este ano vou gritar que o 25 de abril devolveu um direito fundamental: o direito à livre expressão e esse é o último que ainda posso celebrar nesta data.