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Como a China está a treinar uma “marinha-sombra” para uma possível invasão a Taiwan

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Escala e detalhe das movimentações observadas têm vindo a fazer crescer preocupações em Taiwan e entre analistas norte-americanos, que veem nestas operações uma aceleração nos preparativos chineses para um possível ataque à ilha que Pequim considera território seu

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NewTour/MS Aviation deixa aviso aos tripulantes de cabine: Sem entendimento não há proposta de aquisição | Antena 1 Açores

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…da Azores Airlines.

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escravatura nos açores

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Apontamentos sobre a escravatura nos Açores
O tema da escravatura nos Açores, ou mesmo no todo nacional, é quase tabu. Na sociedade quase não se fala no assunto e ainda não foi devidamente tratado nas nossas escolas. Com efeito ao longo de 11 anos de escolaridade, primária, segundo ciclo, terceiro ciclo e ensino secundário, nunca ouvi falar no assunto e este ano tendo perguntado aos meus alunos do 9º ano de escolaridade da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, a resposta foi a de que não tinham conhecimento da existência de escravos nos Açores.
Pelos vistos, o silêncio mantinha-se apesar da legislação que proibia que se falasse em escravos, referida por Ana Barradas, no seu livro “Ministros da noite- Livro negro da Expansão Portuguesa”, que abaixo se transcreve, ser muito antiga e não estar em vigor:
“Todo o português como todo o indivíduo de outra nacionalidade residente no território português que intencionalmente, por discursos pronunciados em reuniões públicas ou por manifestos, brochuras, livros, jornais, ou outras publicações destinadas a ser vendidas ou distribuídas gratuitamente ao público, difundam falsas informações a fim de demonstrar a existência da escravatura ou do tráfico de escravos nas colónias portuguesas, será punido com multa de 2 000$ a 20 000$ ou com prisão maior até dois anos, e poderá ainda se expulso do território português. (Código de Trabalho dos Indígenas das Colónias Portuguesas da África, 6 de dezembro de 1928)”
Na qualidade de professor da disciplina referida, onde um dos temas a abordar é o dos direitos humanos, comecei a pesquisar sobre o assunto, tendo no passado mês de dezembro assistido à gravação do 7º Encontro com História, promovido pela Históriasábias-Associação Cultural, sobre a “Escravatura nos Açores (séculos XV-XIX).
Ao ouvir a Professora Doutora Margarida Vaz do Rego Machado falar sobre o testamento de um dos maiores negociantes dos Açores do seu tempo, NMRA-Nicolau Maria Raposo do Amaral (1737-1816), onde este pedia que uma sua escrava fosse mantida e bem tratada pelos seus filhos nas suas enfermidades, lembrei-me que possuía alguns documentos que me foram cedidos para consulta por um descendente daquele homem de negócios.
Todos os exemplos referidos abaixo, foram extraídos da documentação referida.
Em carta de 7 de fevereiro de 1777, dirigida a Manuel Correia Branco, NMRA lamenta não poder ser útil porque não existe na ilha uma mulata como a pretendida, mas que fará as diligências para “comprar alguma que não eceda (?) de 14 anos, e que não seja feia, e se a puder comprar a mandarei ensinar nesta sua Casa de forma que fosse servir a Fidalga Minha Senhora.”
Num documento intitulado “Do 4º Copiador de NICOLAU MARIA RAPOSO DO AMARAL (PAI) cópia em 25 de Julho de 1782) a propósito das instalações do “Colégio que foi dos denominados Jesuítas da ilha de São Miguel”, aquele homem de negócios queixava-se de que “vem a ficar dos sobreditos 18 cubículos, 12 para acomodação da minha família”.
E para ele o que era a família?
Aqui fica a resposta: “minha mulher, cinco filhas, quatro filhos, uma ama, duas criadas, quatro escravas, e criados e três escravos…”
A 12 de maio de 1784, em carta dirigida a João Filipe da Fonseca, NMRA escreve que poderá mandar um navio de Angola para o Rio de Janeiro com escravos.
No dia 6 de agosto de 1785 NMRA, em carta dirigida ao mesmo destinatário, depois de escrever que sentia “que o espírito da lei deve ser conservado nestas Ilhas para a liberdade dos Negros conduzidos da nossa América” acrescenta o seguinte: “É incomparável o incómodo que aqui se padece com a falta dos Escravos: a minha casa não pode servir-se doutro modo, e visto que V.M. me diz, parece que estou na rigorosa obrigação de dar a liberdade a uns poucos que me acompanharam do Brasil há anos debaixo da boa fé.”
Numa carta datada de 6 de agosto de 1785, dirigida a João Filipe da Fonseca, NMRA volta a referir-se à escravatura na ilha de São Miguel, do seguinte modo:
“Sinto a notícia que V.M. me deu, que o espírito da Lei deve ser conservado nestas Ilhas para a liberdade dos Negros conduzidos da nossa América.
É incomparável o incómodo que aqui se padece com a falta dos Escravos: a minha casa não pode servir-se doutro modo, e visto que V.M. me diz, parece que estou na rigorosa obrigação de dar liberdade a uns poucos que me acompanharam do Brasil há 17 anos debaixo de boa fé.”
Numa carta datada de 20 de março de 1796, dirigida a José Inácio de Sousa Melo, da ilha da Madeira, a dado passo pode-se ler o seguinte:
“Remeto mais a V.M. uma Negra minha escrava, por nome Rosa, que se criou de pequena nesta Casa donde aprendeu todo o serviço, cuja Negra comprei a uma filha de Dionísio da Costa o Marchante, como consta da Escritura que remeto a V.M. com a certidão da sua idade, e Procuração para que faça esta Venda, ou na Praça, ou por ajuste particular o mais breve que V.M. puder, e logo que ela chegar.
Esta escrava não teve vício algum até agora: mas eu a mando vender porque me consta que ela se desonestou com um escravo desta Casa de que penso vai pejada, e a não lhe acontecer esta desgraça, eu a não venderia por todo o dinheiro que, por ela me oferecessem, e seria forra por minha morte, e de minha Mulher.
O que eu digo a V.M. é a mesma verdade, e estimarei que ela ache uma boa Casa que a compre.
O seu líquido rendimento empregará V.M. na receita que peço, podendo mandar-me tudo por este Navio, ou por outro que fique a partir para esta Ilha: aliás: o remeterá V.M. em letras para Lisboa como lhe recomendo. Se V.M. quiser ficar com esta Escrava, o pode fazer por menos dez mil reis do maior preço que por ela lhe oferecerem: isto é, no caso que ela lhe agrade.”
A 6 de outubro de 1797, em carta dirigida a Jerónimo José Carvalho, menciona que possui três escravos. Caso contrário seria ele obrigado a varrer a cavalariça e a carregar água para a sua casa.
A 8 de março de 1800, em carta dirigida a João Filipe, NMRA menciona a libertação de escravos “pelo indulto da Lei não obstante algumas Sentenças do Tribunal da Relação que os obriga à escravidão, fundadas em que a Lei se não estende para estas ilhas, mas só sim para o reino” e prossegue afirmando que ninguém se arrisca a mandar vir negros do Brasil pois correm o risco de os perder.
Em 1802, em carta de 8 de agosto, dirigida a Manuel Tomás, escreve que “pensa mandar a Lisboa um escravo pardo para aprender a boleeiro.”
Em carta enviada para João do Rego Falcão, de Pernambuco, escreve sobre dois escravos que comprou na Ribeira Grande pedindo que os venda, porque “degeneraram no vício de amancebados com diversas concubinas” e porque passaram a querer revoltar-se contra ele.
Em carta dirigida ao já referido João do Rego Falcão, datada de 14 de novembro de 1804, faz uma série de encomendas, como mel, algodão, paus de jacarandá, etc. e “um escravo Molecão bem feito de pé, e perna , e que possa carregar já um barril de água: sendo de boa Nação, que não seja Cabondá, Moxecongo ou Mujólo e outras Nações reprovadas, mas sim das melhores Nações, bem como “três negras moleconas de boa cara, raparigas de doze a quinze anos de idade pouco mais ou menos, para que possam amassar pão, e servir bem uma casa, sendo de boas Nações como levo recomendado, e nada das raças reprovadas.”
A 6 de outubro de 1805, NMRA escreve a João do Rego Falcão acusando a receção dos escravos pedidos. Assim, segundo ele “o Moleque, e Negrinhas chegaram vivos. O Moleque não se sabe da sua pátria, e só sim que é da Costa da Malagueta ou Cafraria. Uma Negrinha Cabondá, sendo das mais péssimas nações, e duas com efeito Benguelas”.
Em 1807, continuava o tráfico de escravos. Com efeito, NMRA em carta dirigida a Joaquim José da Fonseca, escreve que “quer vender uma escrava negra porque desatendeu a uma neta”. Não quer que a mesma fique na ilha e pede que aquele “a venda para casa caridosa ainda que seja por menos do seu valor”.
Quando se aborda a questão da abolição da escravatura, o primeiro passo terá sido dado em Portugal, em 1761, através de um alvará que ordenava a libertação de todos os escravos negros que chegassem à metrópole. A abolição completa, em todo o território controlado por Portugal, pelo menos no papel, só ocorreria a 25 de fevereiro de 1869.
Apesar da legislação aprovada, na prática a exploração extrema da força de trabalho humana continuou de tal modo que num livro publicado em 1944, Norton de Matos que foi governador de Angola, escreveu o seguinte: “Manteve-se (…) a escravatura em Angola e noutras colónias africanas, quase até aos presentes dias. Encoberta, camuflada, sofismada, ela continuava a existir, e por certo, desmereceria se não afirmasse que a fui encontrar sob diversos nomes ou disfarces na província do Ultramar português que, em 1912 e anos seguintes, governei”.
A história não pode ser apagada, nem julgada com os olhos de hoje, tanto mais que a escravatura continua existindo, havendo nos nossos dias mais pessoas em situação de escravidão do que no passado. De acordo com a associação ACEGIS-Associação para a Cidadania, Empreendedorismo, Género e Inovação Social, no mundo existem 40,3 milhões de pessoas vítimas da escravatura moderna, sendo um quarto delas crianças.
Se não podemos corrigir os erros do passado, podemos agir de modo a impedir que os mesmos se perpetuem no presente e evitar que continuem no futuro, o primeiro passo a dar é estudar a história, não esconder nada às novas gerações e denunciar todas as situações de escravidão mais ou menos camufladas.
Para saber mais:
Barradas, A. (1991). Ministros da noite-Livro Negro da Expensão Portuguesa. Lisboa: Antígona.
Casas, B. (1990). Brevíssima Relação da Destruição das Índias. Lisboa: Antígona.
Mendes, L. (1977). Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa d´África e o Brasil. Porto: Publicações Escorpião.
Teófilo Braga

José Cirne

As datas de 1761, para a Metrópole, e a de 1866 para os restantes territórios ultramarinos portugueses estão corretas, pelo que o assunto já não é de novo. Atente-se porém que no Brasil, entretanto independente, a escravatura prolongou-se muito para al…

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Lusa Ponte

José Cirne Vejo que sabe deste assunto. Aconselha-me algum livro em português? Estive muitos anos em Toulouse e regressei agora; aos poucos vou-me reintegrando na sociedade portuguesa; e estes temas interessam-me.
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AÇORES PRECISAM DA RYANAIR

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Ainda sobre este drama da Ryanair e o anúncio de que encerrará todos os voos para os Açores a partir de março de 2026, alegando como razões as taxas aeroportuárias elevadas e uma falta de intervenção governamental na redução de custos operacionais, vale a pena determo-nos sobre alguns detalhes.
A decisão, obviamente, provocou uma preocupação generalizada entre entidades regionais, operadores turísticos e autoridades económicas, algumas mesmo utilizando termos como “choque”, “golpe” e “pânico” para caracterizar este anúncio. Embora, da parte do Presidente do Governo Regional tenha havido uma alegação de, pelo menos aparente, tranquilidade. Alguém que me arranje o mesmo calmante, sff.
A Ryanair alega transportar cerca de 400 mil passageiros por ano, grande parte deles turistas em viagem de lazer ou negócios, o nosso mercado interno é pequeno e pouco abonado, portanto podemos acreditar que pelo menos mais de 60% a 70% destes 400 mil são efetivamente turistas. Ora a retirada da única oferta low-cost entre o continente e o arquipélago reduz significativamente a conectividade aérea do arquipélago e aumenta a dependência de outras companhias, como TAP e SATA, sabendo nós, também, como está, infeliz e fatidicamente, esta última.
Segundo estimativas por alto, baseadas no gasto médio por visitante (€276 por viagem segundo dados do INE), a perda direta de receitas turísticas provocadas pela retirada da Ryanair do destino Açores pode variar entre €27,7 milhões e €110 milhões anuais, dependendo do número de passageiros não residentes afetados. Se juntarmos a isto os efeitos indiretos na economia regional, esse impacto pode atingir entre €40 milhões e €166 milhões. E o Presidente do Governo diz-se tranquilo?!?!
Outro dos impactos a curto/médio prazo é a subida dos preços médios dos bilhetes, para além da redução do número de turistas sensíveis ao preço e impactos negativos em atividades complementares, incluindo restauração, transportes e animação turística. Já para não falar noutros impactos indiretos no consumo, retalho, produtos locais, etc. É que se os turistas produzem lixo, como todos nós, aliás, também gastam dinheiro, a tomar café, beber água, ou a meter gasolina nos carros de rent-a-car. Estimativas simples indicam que a perda de emprego direto pode variar entre 700 e 2 800 postos de trabalho, podendo superar 4 000 empregos se contabilizados os efeitos indiretos. Pensem por exemplo no consumo de lacticínios, carne, peixe, pão ou outros produtos.
Por outro lado temos os elevadíssimos custos reputacionais para a imagem do destino que esta novela provoca. A Ryanair aponta como causas da sua saída as taxas aeroportuárias praticadas pela ANA e a alegada inação do Governo, enquanto as autoridades regionais e nacionais defendem que os Açores têm algumas das taxas mais baixas da Europa.
Esta divergência reforça a perceção de que a decisão também poderá ter motivações estratégicas de negociação, mas ao mesmo tempo revela as fragilidades do destino em assegurar um crescimento sustentado e sustentável do sector turístico fazendo perigar não só investimentos como a própria perceção dos mercados sobre o valor intrínseco do destino. Já dizia a minha avó, leva uma vida a fazer um nome, mas basta um dia para o perder…
Face a este cenário, seria imprescindível que os sectores público e privado estudassem medidas de mitigação, incluindo negociações urgentes, e musculadas se necessário, com a ANA/VINCI, incentivos a operadores alternativos, reforço da promoção turística internacional e avaliação do impacto económico real através de estudos detalhados.
A Ryanair é a maior companhia aérea europeia em termos de número de passageiros transportados e alcance operacional voando para mais de 240 destinos, o que para nós significa uma conetividade com o mesmo número de potencias mercados. Não compreender este facto é não perceber como funciona a indústria do turismo, principalmente nas novas tendências de independent travelers e last minute, elementos essências por exemplo para combater a sazonalidade. Já para não falar no rombo comunicacional que representa sair desta máquina de promoção e comunicação que são 200 milhões de passageiros transportados anualmente.
Não quero defender o Sr O’leary que obviamente não precisa, mas reduzir isto tudo a uma birra ou a uma manobra negocial é não perceber ou não querer assumir como a distância da região dos aeroportos emissores, o sobrevoo do atlântico e tudo que isso implica em termos de consumos de combustível, seguros, especificações técnicas das tripulações e dos aparelhos, bem como outras incidências no preço, como capacidade de encher aviões, influem efetivamente na rentabilidade da rota e da operação. E, principalmente a responsabilidade que o destino têm em ser parceiro e não obstáculo…
A saída da Ryanair representa um abalo sísmico para a economia açoriana e coloca em evidência a vulnerabilidade do arquipélago face a alterações de conectividade aérea, sublinhando a importância de políticas estratégicas para assegurar acessibilidade e sustentabilidade do turismo regional. Tudo coisas que por mais que o espectador atento tente perscrutar não se vislumbram nem no imediato nem no horizonte mais longínquo.
Mais uma vez, estamos não só à mercê dos mercados, o que desde logo vai resultar num aumento lógico e imediato da tarifa média, com impactos diretos no tipo de cliente e perceção da oferta, como estamos também à mercê dos maus políticos, o que infelizmente, resulta no aumento direto da nossa desgraça coletiva…

̧̃SALAZARISMO E CORRUPÇÃO

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Salazar não era honesto, nunca foi, e se fechava a porta do quarto para comer sopa de legumes, se dormia numa cama estreita que parecia de hospital, se escrevia discursos de contabilidade seca em folhas de papel almaço, isso não significava honestidade nenhuma, significava apenas método e disciplina, o mesmo método com que organizou a mais eficaz rede de favores e corrupção que Portugal conheceu. Um padre laico que rezava com a mão direita e com a esquerda assinava decretos que davam fortunas a uns e arruinavam outros, um sacerdote do poder que se alimentava de cartas, milhares de cartas, cartas que lhe chegavam a São Bento como se chegassem ao confessionário, cartas de ministros a pedir-lhe indulgência, cartas de empresários a pedir-lhe monopólios, cartas de militares a pedirem promoções, cartas de bispos a pedir silêncio para escândalos de alcova, cartas de amigos, de conhecidos, de gente anónima, todos a mendigar, todos de joelhos, todos convencidos de que o ditador não roubava porque não exibia, e no entanto o verdadeiro roubo estava ali, na transformação da cidadania em súplica, na substituição da lei pela cunha, no apodrecimento lento e organizado de um país reduzido à mendicidade moral.
E por trás do silêncio a máquina: a Constituição de 1933 que concentrava tudo num só homem, o Parlamento transformado em marioneta, juízes que recebiam sentenças já escritas, a censura com o lápis azul a cortar notícias, a PIDE a cortar gargantas, o país inteiro de boca fechada, e atrás dessa boca fechada a gargalhada abafada das famílias que enriqueciam à sombra, os Mello com a CUF, uma teia de químicos, bancos, tabacos, seguros, os Espírito Santo com a SACOR, petróleo transformado em monopólio, Champalimaud, o menino de província que casou com Cristina de Mello e de repente, por obra e graça de um despacho, recebeu de Salazar o monopólio dos minérios e outro despacho que o isentava de impostos sobre cimento exportado para Angola, fortunas em duas folhas assinadas com a serenidade de quem abençoa, Cupertino de Miranda no Banco Português do Atlântico, os Borges no Banco Borges & Irmão, os Burnay no Banco Fonsecas & Burnay, sete grupos a controlarem três quartos da economia e um país inteiro a obedecer-lhes como servos, porque era disso que se tratava, Portugal convertido em feudo com decretos de Lisboa como cartas de foral, cada monopólio um presente, cada fortuna uma recompensa, cada recompensa um prego no caixão da concorrência, da inovação, do mérito.
Os escândalos ferviam como água em panela tapada. O Banco Nacional Ultramarino, salvo em 1931, o primeiro resgate financeiro, os prejuízos privados atirados para cima do povo, o “BES de Salazar” antes de haver BES. Em 1943, Caetano, o sucessor, escreveu-lhe aflito, denunciando o escândalo Sain, comissões ilegais nos negócios de petroleiros, denunciando o escândalo Meira, o Banco de Portugal manipulado. Não era propaganda da oposição, não eram comunistas, era o próprio herdeiro a dizer que o regime apodrecia, que a corrupção lhe minava as bases, e Salazar respondia com silêncio, sempre o silêncio, porque o silêncio era a melhor forma de governar. A Ponte Salazar, inaugurada em 1966, custou 2,2 milhões de contos, um país pobre endividado até ao pescoço, e matou homens, muitos homens, quatro admitidos, onze provados, talvez mais, talvez corpos engolidos pelo betão dos pilares, e o regime a apagar nomes para que a inauguração fosse limpa, para que a fotografia tivesse apenas ministros, engenheiros e bandeiras, nenhuma mancha de sangue a estragar a propaganda, a corrupção também é isto: não apenas dinheiro, mas mentira, manipulação, cadáveres escondidos.
E no entanto, quando se fala do regime anterior, há sempre quem repita que ali não havia corrupção, que não se falava dela, como se o silêncio fosse prova de honestidade. Não se falava porque estava proibido falar, não se denunciava porque denunciar era crime, não se investigava porque investigar significava prisão. A corrupção estava lá, fazia parte da engrenagem, era o sangue que fazia o motor girar. Compare-se com o presente: hoje fala-se, expõe-se, há jornais, há televisões, há redes sociais, e o que se descobre não é pouco, mas só não se vai mais longe porque a justiça emperra, arrasta-se, bloqueada por processos intermináveis, por códigos e por interesses cruzados. Porra, até um primeiro-ministro foi acusado e está a ser julgado. A diferença é esta: antes abafava-se e fingia-se que não existia, agora mostra-se, ainda que com freios. O mal, porém, continua a ser o mesmo: uma cultura que aprendeu a viver da cunha e do compadrio.
E depois o Ultramar, o território onde o roubo deixava de fingir. A Diamang em Angola, cinquenta e dois mil quilómetros quadrados de concessão privada, exército próprio, polícia própria, tribunais próprios, a vida de dezenas de milhares de africanos controlada por uma empresa estrangeira com selo português, e a riqueza arrancada à força, homens recrutados como gado, mulheres e crianças usadas como peças descartáveis, trabalho forçado disfarçado de contrato, os brancos no conforto do Dundo, piscinas, clubes, luxos de colónia, os negros em barracões miseráveis, segregação como se fosse lei natural, a corrupção elevada a regime político, soberania entregue a uma companhia de diamantes, lucros que sustentavam a metrópole, diamantes trocados por silêncio, silêncio comprado com sangue. Em Moçambique, Jorge Jardim, engenheiro agrónomo, administrador de empresas do grupo Champalimaud, agente diplomático paralelo, espião, mercenário, senhor feudal com telefone directo a Salazar, enriquecia enquanto organizava milícias, enquanto tratava de alianças com Rodésia e Malawi, enquanto misturava negócios privados com política colonial, um homem só que simbolizava toda a podridão: a fusão absoluta de interesse público e privado, Estado e fortuna, ditadura e negócio.
E como se não bastasse, havia ainda o cortejo grotesco dos ex-ministros reciclados em administradores de bancos, companhias de seguros, empresas coloniais e industriais. Ortins de Bettencourt, Rafael Duque, Mário de Figueiredo, J. Soares da Fonseca, Albino dos Reis, Martinho Nobre de Melo, J. Pires Cardoso, Francisco Leite Pinto, Teixeira Pinto, Daniel Vieira Barbosa, Pedro Teotónio Pereira, Castro Fernandes, Manuel Cavaleiro de Ferreira, Pinto Barbosa, Ulisses Cortês, Ulisses Vaz, Arantes e Oliveira, Frederico Ulrich, Sarmento Rodrigues, Raul Ventura, Lopes Alves, Manuel Lopes de Almeida, Arnaldo Schulz, Correia de Oliveira, Alexandre de Sousa Pinto, Alfredo dos Santos Júnior, José do Canto Moniz, Joaquim da Luz Cunha, Almeida Fernandes, Francisco Neto de Carvalho, Pedro Soares Martinez, Francisco Vieira Machado, Antunes Varela, Supico Pinto, Santos Costa, Gomes de Araújo, Henrique Martins de Carvalho, João Pinto da Costa Leite, Sebastião Garcia Ramires, Vitório Pires, J. de Araújo Correia, Marcelo Matias, Franco Nogueira, uma procissão de nomes que enchia páginas inteiras de conselhos de administração. Cada ministério um degrau, cada decreto um trampolim, cada carreira pública a antecâmara de um banco, de uma companhia de seguros, de uma petrolífera, de uma empresa colonial. O livro de Raul Rego, “Os Políticos e o Poder Económico”, não lista, denuncia: mostra que o poder político foi sempre a antecâmara do poder económico, e que os mesmos homens que governavam eram depois pagos para administrar os monopólios que ajudaram a criar. Que esses mesmo homens, muitos deles listados acima, faziam negócios escusos e promoviam corrupção.
E esta lista, interminável e sufocante, mais parece uma ladainha de corrupção dita em missa negra, um inventário de vícios onde cada nome traz consigo o retrato de um país capturado. Nenhum deles saiu do poder para descansar: todos foram premiados. Era a porta giratória antes do nome, a promiscuidade antes da teoria. A ditadura foi isto: ministros que se tornavam banqueiros, banqueiros que se tornavam ministros, generais que entravam em conselhos de empresas, académicos que trocavam cátedras por lugares em seguradoras. O Estado era apenas a antecâmara do saque, e o saque apenas a continuação natural do Estado. Um círculo fechado, um círculo vicioso, uma engrenagem perfeita para se manterem eternamente os mesmos a mandar e os mesmos a enriquecer.
Chegou Caetano e prometeu Primavera. Mas a Primavera foi apenas mais uma estação de sombras. Liberalizou-se a economia, abriram-se as portas, e o que se seguiu foi a guerra entre plutocratas. Champalimaud, já foragido, a conspirar, Miguel Quina, Jorge de Brito, Cupertino de Miranda a disputarem bancos, jornais, fábricas, cada um a usar o governo como arma contra o outro, a política reduzida a ringue de magnatas. Os tecnocratas, jovens, formados fora, falavam de Europa, de modernidade, mas saltavam entre ministérios e conselhos de administração como se fosse a mesma coisa, confundiam cargos com propriedade, confundiam Estado com carreira pessoal. A corrupção deixou de ser pacto gerido por um árbitro único e tornou-se guerra aberta, mas sempre a mesma guerra: quem fica com o país, quem come a carne e quem rói os ossos.
E se hoje assim somos, é porque a herança ficou, não se limpa uma infecção destas de um dia para o outro. A cunha, o compadrio, a opacidade continuaram entranhados. E o mito do ditador honesto sobreviveu, porque Salazar não exibia, não tinha palácios nem iates, porque a sua cama era estreita e o prato frugal, mas a verdade é outra: Salazar roubava para o regime, não para si, e isso é pior, porque fez da corrupção uma instituição, uma doutrina, uma herança envenenada.
Inventou a corrupção moderna portuguesa, ensinou-a às famílias que ainda hoje a praticam, fez do Estado um balcão de favores, fez do país um quintal, e deixou-nos esta crença resignada de que a corrupção é inevitável, de que só muda de mãos, de que nunca desaparece. Salazar, o homem que alguns ainda chamam honesto, foi apenas o mais frio arquitecto de uma cleptocracia organizada, e o resto, o resto é saudade mal curada, é memória torta, é a incapacidade de olhar de frente o país que fomos e o país que ainda somos.
Outubro/Novembro 2025
Nuno Morna

45,000 holiday rental (AL) licences expected to be cancelled

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The registration process for civil liability insurance for local accommodations should be completed by the summer of 2026 and result in the cancellation of approximately 45,000 spaces, estimates the president of the Local Accommodation Association in Portugal.

Source: 45,000 holiday rental (AL) licences expected to be cancelled

 Eu também voltei de África nasci em… – Luis Almeida Pinto | Facebook

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Source: (15) Eu também voltei de África. 

Eu nasci em… – Luis Almeida Pinto | Facebook

‘Casino-satélite’ com mais de mil trabalhadores fecha portas em Macau

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A concessionária de jogo em Macau SJM Resorts anunciou hoje que o casino-satélite Ponte 16, com mais de mil funcionários, irá encerrar em 28 de novembro, após a empresa desistir da compra da propriedade.

Source: ‘Casino-satélite’ com mais de mil trabalhadores fecha portas em Macau

Abandoned Macao Hotel Reveals Dozens of Luxury Cars Left Behind After 2016 Shutdown

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A closed Macao hotel hides a surprising fleet of abandoned Rolls-Royces, limousines and shuttles, untouched since the property was shuttered in 2016.

Source: Abandoned Macao Hotel Reveals Dozens of Luxury Cars Left Behind After 2016 Shutdown

Governo “surpreendido” com a Ryanair lembra que taxa nos Açores “é a mais baixa da Europa” – CNN Portugal

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Ministério das Infraestruturas diz que “a taxa de rota aplicada aos Açores é a mais baixa da Europa e que a taxa de terminal se situa entre as mais reduzidas”

Source: Governo “surpreendido” com a Ryanair lembra que taxa nos Açores “é a mais baixa da Europa” – CNN Portugal