Arquivo da Categoria: OBIT OBITUARIO

morreu um dos maiores portugueses de sempre

O PORTUGAL DOS HOMENS DIGNOS ESTÁ DE LUTO
– Paz à sua alma.
– Esperemos que haja a coragem de pelo menos 1 dia de luto nacional
Morreu o empresário Rui Nabeiro
NOTICIASAOMINUTO.COM
Morreu o empresário Rui Nabeiro
Almoço de Domingo por José Luis Peixoto

“Uma das características mais fortes de Rui Nabeiro é a sua generosidade”, José Luís Peixoto

3ª edição. Primeiro lugar no top de vendas desde que foi publicado. Direitos vendidos para @companhiadasletras (Brasil) e @penguinrandomhouse (países de língua castelhana). O Almoço de Domingo é um dos romances mais bem sucedidos de José Luís Peixoto. É sobre o empresário Rui Nabeiro. Sobre as memórias de um homem de 90 anos, que tem como uma das características mais fortes a generosidade
É sobre um homem rico, “muito diferente dos ricos mais comuns no Alentejo e, já agora, também no resto do país”, como nos descreve José Luís Peixoto, um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. Foi uma ótima junção. No Almoço de Domingo.

 

O comendador Rui Nabeiro propôs-lhe a escrita das suas memórias – que acabou por ser um romance biográfico.
Como recebeu este convite?

No exato momento em que foi feito, deixou-me muito surpreendido. Posteriormente, começou a fazer-me muito sentido, por sermos os dois do Alentejo, por termos mais algumas coisas em comum, como uma grande dedicação à nossa terra. Ainda assim, vi logo o grande potencial que estava presente nessa possibilidade. Rui Nabeiro nasceu em 1931 e, como se sabe, tem uma história muitíssimo preenchida. Ter a oportunidade de conhecê-la a partir da sua própria boca, com os detalhes que a sua memória guarda foi algo que, logo nesse momento, me pareceu ser um grande privilégio e uma extraordinária oportunidade de escrita.

Como foi preparar este livro? Como e com que regularidade comunicavam? Tinham uma lista de temas definidos ou seguiam ao sabor das memórias? E a oportunidade de partilhar de um património de alguém que tem uma história que se confunde com a do país?

Comecei a preparar este livro em setembro de 2019. Numa primeira fase, li vários materiais que encontrei sobre Rui Nabeiro. Ao longo dos anos, deu muitas entrevistas longas, foram feitos múltiplos trabalhos jornalísticos. Essa matéria foi muito importante para definir algumas ideias essenciais sobre os contornos da sua vida. Depois, quando nos começámos a encontrar, tentei sempre que conversássemos sobre aqueles assuntos, cujas respostas só ele me poderia dar. Foram momentos em que viajámos nas suas lembranças, muito precisas quase sempre. Aos poucos, com a convivência, fomos ganhando confiança para entrar em temas pessoais que, em grande medida, me pareciam fundamentais para contar a história deste homem. Como se sabe, houve um período em que tivemos de interromper os encontros ao vivo, esse foi o período mais rigoroso da quarentena. Nessa época, chegámos a ter um encontro virtual, à distância, mas não era a mesma coisa. Então, interrompi o trabalho neste livro, tendo-o retomado um par de meses depois. Para mim, foi muito impactante ouvir estas memórias de Rui Nabeiro. De certa forma, transformaram-se também em memórias minhas.

“Ainda hoje, Rui Nabeiro não gosta de ser tratado por ‘rico’”. O José Luís Peixoto fala dos mitos que existem em torno do Comendador e que este livro pode ajudar a desmistificar.
Mais algum bom exemplo?

São várias as histórias que se contam. A maioria delas, mesmo que não sejam literais, têm um fundo de verdade, surgem de características que, de facto, Rui Nabeiro cultiva e que o fazem ser diferente. Ao escrever este romance, uma das minhas principais intenções era dar conta da sua dimensão humana. Nesse sentido, todo o ser humano é contrário a mitos. Por um lado, é claro que Rui Nabeiro é um rico muito diferente dos ricos mais comuns no Alentejo e, já agora, também no resto do país. Por outro, as suas histórias do contrabando, para dar apenas um exemplo, são lendárias, embora falem de um tempo bem real.

“Temos todos de pensar uns nos outros”, Comendador Rui Nabeiro. Que “lições” aprendeu (e podemos todos aprender) com este Homem de 90 anos?
Que histórias mais o surpreenderam?

Creio que o exemplo de Rui Nabeiro é muito marcante e deixa-nos a todos a refletir sobre o nosso papel na sociedade, de que forma contribuímos para o coletivo a que pertencemos. Uma das características reconhecidamente mais fortes de Rui Nabeiro é a sua generosidade. Pela minha parte, sinto que há uma imensa sabedoria nessa generosidade. Acredito que os 90 anos que cumpriu recentemente contribuem bastante para essa visão do mundo, essa clareza no discernimento que faz daquilo que é importante. Ainda assim, pelo que li e pelo que apreendi da oportunidade que tive de privar com ele, tenho a sensação de que sempre teve essas qualidades. No fundo, parece-me, esse é o grande segredo da sua vitalidade, distingue de forma muito objetiva aquilo que considera importante, e é a esses valores que se dedica completamente.

 

Foto: facebook José Luís Peixoto

luto municipal pela morte do poeta António Salvad

Óbito/António Salvado: Câmara de Castelo Branco decreta dois dias de luto municipal
Castelo Branco, 06 mar 2023 (Lusa) – A Câmara Municipal de Castelo Branco decretou hoje dois dias de luto municipal pela morte do poeta António Salvado, que morreu no domingo aos 87 anos.
Numa nota enviada à agência Lusa, a Câmara de Castelo Branco informou que vai decretar “luto municipal, nos dias 7 e 8 de março de 2023 [terça-feira e quarta-feira] caracterizado no hastear da bandeira do município a meia haste no edifício dos Paços do Concelho”.
“O seu nome e a sua obra vão decerto permanecer na memória de todos albicastrenses, através do seu legado poético, em particular, e pelo acervo bibliográfico e documental que legou à cidade de Castelo Branco, o qual será património da futura Casa António Salvado”, referiu a autarquia.
O poeta albicastrense António Salvado morreu no domingo, aos 87 anos, no Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, onde se encontrava internado.
Autor de mais de 80 títulos, entre os quais “Poesia nos versos de António Salvado- Antologia”, o seu último livro, editado pelo Ensino Magazine em fevereiro, por ocasião do seu 87.º aniversário e que apresenta um conjunto significativo de poemas selecionado pelo próprio.
O presidente da Câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, “lamentou profundamente” a morte de António Salvado, considerando que “a cidade e toda a região está em consternação”.
António Forte Salvado nasceu em Castelo Branco no dia 20 de fevereiro de 1936, na zona histórica da cidade.
Poeta, ensaísta, crítico, antologiador, tradutor, diretor de publicações, tem colaboração poética em antologias, revistas e suplementos literários.
Obteve várias distinções de que se destaca a comenda da Ordem de Sant’Iago da Espada atribuída, em 2010, pelo conjunto da sua obra poética, assim como a medalha Fray Luis de León de Poesía Iberoamericana, em 2021.
Está traduzido em castelhano, francês, italiano, inglês e japonês. Verteu para português, entre outros, os poetas Claúdio Rodriguez, Ricardo Paseyro, Al.Perez Alencart e António Colinas.
Foi, durante vários anos, diretor do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, cidade onde também lecionou.
A Câmara Municipal de Castelo Branco apresenta à família enlutada “as mais sinceras e sentidas condolências”.
Em comunicado, a concelhia do PS de Castelo Branco “manifesta o mais profundo pesar perante a notícia do falecimento do Dr. António Salvado, um vulto maior da cultura albicastrense”.
Os socialistas realçam o poeta, “amplamente admirado e estimado” na comunidade, cuja obra deixou uma marca indelével na literatura em língua portuguesa e que “extravasa os limites do concelho e que o colocam igualmente num patamar cimeiro do panorama cultural nacional e internacional, especialmente na esfera iberoamericana”.
“O seu legado perdurará não apenas nos corredores das bibliotecas enriquecidos pelas suas obras, mas também no imaginário de todos aqueles foram e vierem a ser tocados pela luz das suas palavras”, salientam.
Os socialistas deixam ainda as suas “mais consternadas condolências” à família e amigos do poeta albicastrense.
António Salvado licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e foi doutor ‘honoris causa’ pela Universidade da Beira Interior, na Covilhã.
O corpo de António Salvado está em câmara ardente na Igreja de Nossa Senhora de Fátima (Fradinhos) até à manhã de terça-feira.
O cortejo fúnebre decorre a partir das 11:00 para o cemitério de Castelo Branco.
CCC // MAG
May be an image of 1 person
All reactions:

6

4
Like

Comment
View more comments
  • Like

Faleceu o Dr. Jaime Pereira Forjaz de Sampaio,

Faleceu o Dr. Jaime Pereira Forjaz de Sampaio, conhecido médico ginecologista e obstetra açoriano.
O Dr. Forjaz de Sampaio era natural da freguesia de Água de Pau, do concelho de Lagoa (Açores), e era casado com a Dra. Maria Teresa de Paiva Pereira da Silva Forjaz de Sampaio.
Era pai da Dra Isabel Forjaz Sampaio, da Arquitecta Maria Forjaz de Sampaio, e do Dr André Forjaz Sampaio, director clínico do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, em 2021-2022.
À esposa, filhos e netos a Administração do Açores Global endereça os seus sinceros pêsames.
[Foto da página do Facebook do Dr Jaime Forjaz de Sampaio]
May be an image of 1 person
All reactions:

Ana Galvao, Luis Monteiro and 69 others

50 comments
10 shares
Like

Comment
Share

50 comments

All comments

morreu Bassma Kodmani (1958-2023)

Bassma Kodmani (1958-2023)
A morte de Bassma Kdmani é uma enorme tristeza. Perco uma grande amiga, com quem muito colaborei ao longo de 40 anos. Ela gostava de lembrar que a sua primeira intervenção numa conferência tinha sido no início dos anos 80, num seminário do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI) sobre as relações euro-mediterrâneas, tema, aliás, que nos uniria nas décadas seguintes. Bassma era então jovem investigadora do Instituto Francês de Relações Internacionais, país que acolhera seus pais, exilados sírios. Nos anos seguintes, Bassma Kodmani afirmou-se como uma das mais brilhantes analistas do Médio Oriente e tive o privilégio de poder contar com o seu saber, quer no IEEI, quer no Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia. Em 2011, assumiu plenamente a sua origem síria, mobilizando-se no apoio à luta pela liberdade contra a repressão de Assad e veio a assumir o papel de porta-voz do Conselho Nacional Sírio. Vivi de perto as suas angústias, a sua recusa do sectarismo, as suas esperanças num futuro democrático para o país dos seus antepassados. Nesse período ela dirigia a Arab ReformIniciative (ARI), que tinha fundado. Eu era investigador associado, a seu convite.
Há poucos anos participou, com o brilho habitual, no ciclo Debates Cruzados, de que fui comissário, organizados pela Fundação Gulbenkian, em Paris. Nessa altura apelou à hospitalidade para os refugiados sírios e denunciou os crimes de guerra cometidos, na Síria, pelas tropas de Assad e Putin.
A melhor forma de homenagearmos Bassma é continuarmos a apoiar todos aqueles que nos países árabes lutam pela democracia e a exigir que a União Europeia abandone a política de apoio às ditaduras do Norte de África, em nome de uma suposta segurança que estas trariam. Como dizia Bassma, a Europa não devia ter medo da democracia, pois só ela pode trazer a estabilidade e o desenvolvendo sustentados, em liberdade.
May be an image of 1 person and standing
All reactions:

You and 44 others

4 comments
4 shares
Like

Comment
Share

ATÉ BREVE RUY CASTELAR

Um autêntico “Dinossauro” da comunicação… Saudades do “Fantástico” da Comercial. Ficava “madrugadas em claro” a ouvir este senhor… com quem tive o privilégio e orgulho de privar. Obrigado e… Até breve Ruy Castelar!
May be an image of 1 person and indoor
All reactions:

You, Ana Nogueira Santos Loura and 11 others

2
2
Like

Comment
Share
View more comments

MORREU galvão teles

Óbito/Galvão Teles: Presidente da República evoca “um grande democrata”
Lisboa, 02 de mar 2023 (Lusa) – O Presidente da República evocou o advogado José Manuel Galvão Teles, que morreu hoje aos 84 anos, classificando-o como “um grande democrata” e combatente contra a ditadura.
Numa nota colocada no sítio da Presidência da Repíblica na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que “José Manuel Galvão Telles foi um grande democrata, um grande advogado, um grande lutador, desde a sua juventude, pela liberdade contra a ditadura, pelo pluralismo contra a repressão, pela igualdade contra a discriminação, pela fraternidade contra a exclusão”.
“Militante pelos ideais socialistas e, depois, dirigente do Partido Socialista, esteve presente praticamente em todos os momentos essenciais da vida política portuguesa dos últimos 50 anos”, escreve Marcelo, lembrando que o tinha condecorado em novembro passado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
O chefe de Estado apresenta à sua família de Galvão teles “a expressão de uma antiga amizade e grata solidariedade pelo seu contributo a Portugal”.
José Manuel Galvão Teles morreu hoje, em Lisboa, aos 84 anos, vítima de doença prolongada, sendo o seu funeral realizado no sábado, anunciou a sociedade de advogados que fundou.
Era advogado há 60 anos, com inscrição na Ordem dos Advogados em 1963 e desde jovem que se destacou na luta ativa pela democracia, tendo ficado “reconhecido como um político convicto da importância dos direitos fundamentais e um homem de cultura”.
JPS (ARA) // JMR
May be an image of 1 person
All reactions:

2

Like

Comment

MORREU JULIETA NOBRE DE CARVALHO

Óbito | Julieta Nobre de Carvalho, a esposa do Governador que viveu numa Macau em tumulto.
Falecida no passado dia 1 de Fevereiro, em Lisboa, aos 103 anos de idade, Julieta Nobre de Carvalho esteve em Macau ao lado do marido, o Governador Nobre de Carvalho, numa altura de grande tensão, em virtude do movimento “1,2,3”, ocorrido em Dezembro de 1966.
Tendo presidido à Obra das Mães, Julieta Nobre de Carvalho é o exemplo da grande presença pública assumida pelas mulheres dos Governadores portugueses na altura.
Julieta Nobre de Carvalho, esposa do antigo Governador Nobre de Carvalho, viveu em Macau entre 1966 e 1974, vivenciando de perto um dos períodos mais conturbados da sua história.
Falecida no passado dia 1 de Fevereiro, aos 103 anos, Julieta, mais do que ser uma simples esposa do Governador, marcando presença em eventos sociais, teve de lidar de perto com os acontecimentos do “1,2,3”, a expressão da Revolução Cultural no território, que já se fazia notar quando o casal Nobre de Carvalho chegou a Hong Kong sem quaisquer directrizes de Lisboa sobre como lidar com o caso.
Julieta Nobre de Carvalho deixou vários testemunhos sobre estes meses de tensão que quase deitaram a perder a Administração portuguesa de Macau.
Em 1996 falou com o jornalista José Pedro Castanheira sobre o “1,2,3” para o livro “Os 58 dias que abalaram Macau”.
Nele se lê que o casal Nobre de Carvalho chegou a Hong Kong às 11h30 do dia 25 de Novembro de 1966, “vindo de Manila, num avião da Philippines Airlines”, tendo sido recebidos no aeroporto de Kai Tak pelo então cônsul de Portugal em Hong Kong, António Rodrigues Nunes, e pelo então Governador de Hong Kong, David Trench.
Num almoço de boas-vindas oferecido por David Trench, o casal Nobre de Carvalho depressa percebe que tem em mãos um caso bicudo, de ordem diplomática e política, para resolver, sem que dele tivesse prévio conhecimento.
David Trench, escreve Castanheira, “procura saber do colega português quais as instruções que traz de Lisboa para resolver o problema criado na ilha da Taipa”.
Nobre de Carvalho de nada sabia.
“Até então ninguém nos tinha falado nada da trapalhada.
Só no hydrofoil é que soubemos verdadeiramente que o caldo estava entornado.
Fomos apanhados completamente de surpresa”, contou Julieta Nobre de Carvalho ao jornalista.
O seu marido tomou posse como Governador de Macau a 11 de Outubro de 1966, sendo obrigado a lidar com o caso “1,2,3” logo no início de Dezembro.
Os tempos foram de grande tensão, com Nobre de Carvalho a ser obrigado a gerir os tumultos nas ruas, a dialogar com os líderes da comunidade chinesa, nomeadamente Ma Man Kei e Ho Yin, e a responder às reivindicações de parte da comunidade chinesa que levou para as ruas de Macau, e para os jornais, a ideologia de Mao Tse-tung.
No final, numa decisão quase solitária, Nobre de Carvalho cedeu nas exigências e soube manter a presença portuguesa no pequeno território.
De frisar que, à época, Portugal, governado pelo regime do Estado Novo, não tinha relações diplomáticas com a República Popular da China, comunista.
Fernando Lima, ex-jornalista e assessor, foi director do antigo Centro de Informação e Turismo entre 1974 e 1976, mas quando chegou a Macau para ocupar o cargo já o casal Nobre de Carvalho tinha deixado o território, no rescaldo do 25 de Abril de 1974 que atribui o cargo de Governador ao General Garcia Leandro.
Fernando Lima considera que Julieta Nobre de Carvalho foi “a confidente do marido” num momento tão difícil da sua carreira, tendo estado “sempre presente nos principais acontecimentos”.
“É um nome de referência em relação a um certo período de Macau, tendo vivido toda a angústia e ansiedade do marido, que se viu obrigado a resolver aquele assunto depois de ter ido para Macau sem instruções”, acrescentou.
Nobre de Carvalho soube resolver “uma situação que parecia de ruptura” e, “para muita gente, foi o homem que salvou Macau”, recorda Fernando Lima, que entende que o Governador “foi sempre respeitado pelos chineses” devido a esse facto.
Fernando Lima só conheceu, de forma breve, Julieta Nobre de Carvalho aquando da realização da série televisiva “Macau entre dois mundos”, transmitida em 1999 pela RTP e que deu, mais tarde, origem a um livro.
Num dos episódios, “Anos de Agitação – Parte II”, Julieta Nobre de Carvalho confessa que, na viagem de Hong Kong para Macau, à chegada, o marido lhe confidenciou que “ia ter problemas em Macau”.
Sobre o “1,2,3”, disse ainda: “No período em que houve o recolher obrigatório, estivemos no edifício militar, mas foi uma questão de três dias.”
Papel social
Na Macau de hoje são poucos os sinais que restam da passagem de Julieta Nobre de Carvalho pelo território.
O mais visível será o edifício de habitação pública que ganhou o seu nome, tendo sido inaugurado em meados da década de 70 na avenida Artur Tamagnini Barbosa, na zona norte da península.
Rita Santos, conselheira do Conselho das Comunidades Portuguesas, morava numa casa social do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), situada perto do novo complexo de habitação pública.
Ao HM, diz recordar-se “muito bem” da inauguração do edifício e de Julieta Nobre de Carvalho, “uma senhora muito simpática, que andava sempre bem vestida, com o cabelo bem arranjado e que conversava muito comigo nas actividades sociais”.
“Eu e as minhas irmãs, bem como os vizinhos, fomos ver a inauguração do edifício onde alguns colegas meus do liceu chegaram a viver.
A dona Julieta saiu de um carro grande de cor preta, do Governo, com um sorriso bonito, acenando para o público.
Como eu estava perto da porta principal, ela aproximou-se de mim e perguntou-me como eu estava.
Eu só lhe disse que ela estava muito bonita”, recordou.
Julieta Nobre de Carvalho marcava, assim, presença em diversos eventos sociais, com e sem o marido.
Exemplo disso foi a recepção oferecida pelo Consulado do Japão às autoridades portuguesas no restaurante “Portas do Sol”, no Hotel Lisboa, a 5 de Julho de 1973.
As imagens a preto e branco, sem som, hoje disponíveis online na plataforma RTP Arquivos, mostram a presença simpática e formal do casal Nobre de Carvalho.
Outro exemplo da actividade social de Julieta Nobre de Carvalho, faz-se com a sua presença, a 14 de Março de 1973, na inauguração da loja de antiguidades “Armazém Velho”, que à data funcionava nas arcadas do edifício do Hotel Lisboa.
A esposa do Governador esteve também, sozinha, na festa do Centro de Reabilitação de Cegos da Santa Casa da Misericórdia, a 21 de Janeiro de 1973, um evento dedicado aos utentes da instituição.
No blogue “Nenotavaiconta”, onde são partilhados diversos episódios da história de Macau, recorda-se o momento em que, a 9 de Dezembro de 1970, Julieta Nobre de Carvalho inaugurou uma exposição de trabalhos de ergoterapia feitos pelos pacientes do Centro Hospitalar Conde de São Januário.
Julieta Nobre de Carvalho esteve ainda presente na inauguração de “Uma Exposição de Pintura, Arte e Beneficência”, a 30 de Março de 1974, patente no átrio da então Escola Comercial, hoje Escola Portuguesa de Macau.
Julieta Nobre de Carvalho esteve presente “dados os fins assistenciais a que se destinava o produto da venda dos quadros que se viesse a realizar”, lê-se no blogue.
Mas a esposa do antigo Governador foi mais do que uma mera “corta-fitas”, tendo presidido à direcção da Obra das Mães.
Foi com esse trabalho que tentou “congregar as ‘senhoras’ da sociedade macaense para que pudessem contribuir mais para essa organização, de ajuda aos mais necessitados”, aponta Fernando Lima.
João Guedes, jornalista e autor de diversas publicações sobre a história de Macau, destaca o facto de a presidência da “Obra das Mães”, entidade fundada em 1959, estar, habitualmente, destinada às mulheres dos Governadores.
Era uma associação que “tinha como missão a promoção de actividades relacionadas com a educação familiar, a qualidade de vida, o apoio às mães e acções de caridade”, congregando “as elites femininas de Macau e assumindo, por vezes, a dinamização de alguns projectos do Governo, sempre que, para a sua realização, se mostrava necessário envolver a sociedade civil no seu pendor feminino.”
Rita Santos ia, no dia oito de cada mês, à Obra das Mães buscar bens essenciais com as irmãs mais velhas.
“Em alturas de celebração das quadras festivas, ela estava presente na Obra das Mães e entregava os bens a todas as famílias.
Quando chegava a minha vez ela dizia ‘Menina Rita, espero que os bens possam ajudar a sua família’.
Isto porque, na altura, éramos 12 pessoas”.
João Guedes fala ainda de outras actividades ligadas à Igreja católica desenvolvidas por Julieta Nobre de Carvalho, numa altura em que “a comunidade chinesa vivia, em grande medida, apartada da portuguesa”.
A esposa do Governador apresentava “uma imagem de simpatia”, mas que se “confinava praticamente à população lusófona”.
Questão de imagem
Acima de tudo, Julieta Nobre de Carvalho foi o exemplo de presença pública que as mulheres dos Governadores portugueses assumiam, não se limitando a ficar na sombra.
Postura bem diferente face às esposas dos Chefes do Executivo da era RAEM.
“Essa é uma característica da cultura chinesa.
As mulheres dos Governadores tiveram sempre um papel de apoio à acção social, com a preocupação de dar força às organizações locais viradas para esse apoio social e para o bem-estar da população.
Hoje mal conhecemos as mulheres dos Chefes do Executivo, que têm uma presença muito discreta.
Entende-se que a política é para ser feita pela pessoa que tem a autoridade.
Só aparece a mulher do Presidente Xi Jinping [Peng Liyuan] porque este tem uma presença internacional e ela própria é uma figura conhecida na China”, destacou Fernando Lima.
All reactions:

Miguel S Fernandes and 6 others

Like

Comment
Share