Eu voto Kamala Harris. Tão óbvio, como escolher entre o mal e o bem, à maneira dos filmes americanos de super-heróis?
O problema é que este filme deixou de ser já americano e nenhum deles é super-herói. Um deles é mesmo o anti-herói. Trump será um filme distópico, daqueles apocalípticos, em que os viewers desejam a chegada de uma brigada americana à antiga para resgatar o poder das mãos de um tirano louco! Só que nada disso será ficção. E a realidade, toda a gente sabe, pode ultrapassar a ficção com requinte, quando o ódio dos homens em matilha é manipulado por um mentecapto obcecado com o poder. Biden, porque perdeu o filtro, disse a verdade. São lixo humano. Não é um pensamento antidemocrático, é tão somente a verdade, que não é a pós-moderna. É a verdade antiga, extrínseca, axiológica! Estamos a testemunhar o fim de um ciclo na história do mundo e, daqui em diante, a democracia só será preservada se vencer a sua ética naquilo que tem de mais essencial. Isto é, a democracia tem de traçar limites à tolerância pela intolerância, sob pena de a liberdade se devorar a si própria. Os extremos radicalizaram-se sob a égide generosa da sua face, mas já todos percebemos que esta poderá significar a sua trágica morte. A humanidade não se aperfeiçou, não evoluiu e, portanto, não pôde acompanhar um universo em expansão como só a democracia pode oferecer. Acabaremos, pois, por expiar a nossa culpa num buraco negro. O pior é que já vimos este filme e ninguém aprendeu. Diz a experiência que as vítimas tendem a perpetuar os seus traumas noutras vítimas. Talvez explique o que tenho verificado e que me entristece muito. Alguns dos nossos emigrantes vão atrás do sopro da flauta do Hamelin trumpista, replicando aos que procuram a terra – que já foi prometida – o mesmo que lhes gritavam nos anos 70 e 80, “Greenhorn, go back to your home!”. Incultura de quem não consegue pensar para além do quotidiano, quero acreditar que seja.
O mesmo efeito de trauma explicará o genocídio dos palestinianos por Israel… Harris também é cúmplice!
Portanto, either way, o futuro é pouco menos do que medonho. Na terça-feira, os americanos poderão ter de escolher entre uma guerra civil, promovida por uma seita de fanáticos armados, se Kamala Harris ganhar, ou uma Gilead, à maneira de Atwood, se Trump vencer, um totalitarismo sem precedentes, com um Musk à cabeça!
Até “This is not America” de David Bowie é uma pomba branca, com um ramo de oliveira no bico, a rasar os céus americanos neste cenário.
Segurem-se às cadeiras. This is not a drill.