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TRESANDA A BANHA DA COBRA – E IMPACTA, SENHORAS E SENHORES!

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TREZANDA A BANHA DA COBRA – E IMPACTA, SENHORAS E SENHORES!
Vivemos num país tão deslumbrado consigo próprio que já nem precisa de espelhos, basta-lhe o ecrã da televisão e a caixinha mágica do telemóvel. E no entanto, o que fazia mesmo falta era que estas figuras públicas, algumas públicas demais, outras públicas por engano, se vissem a si próprias em modo replay, com direito a pausa, rebobinar e até poder ter comentários do VAR, para se aperceberem do ridículo que protagonizam diariamente. Uma espécie de terapia audiovisual: “Veja-se a si mesmo a dizer o disparate que acabou de proferir em directo”. Terapia de choque, se quiserem.
Mas não, temos uma república de comentadores que não se enxergam, uma terra de faladores profissionais onde todos opinam, poucos sabem, e quase ninguém se cala. É curioso. Porque não é que eles vêm sempre apresentados como “especialistas em relações internacionais”? Especialistas ! É que nem se dão ao luxo de ser só “licenciados”, ou “pessoas com interesse”. Não! São especialistas. Em tudo. Em todos os países, todos os conflitos, todas as eleições do mundo. E depois vêm explicar-nos o que é a Palestina, como se estivessem a dar uma aula do nono ano e nós fôssemos todos semianalfabetos com acesso à CNN por engano. Até já houve “entendidos” que vieram junto de Capitães de Abril explicar-lhes o que foi, como foi feito e o que aconteceu no 25 de Abril. A sério!
Ora, isto vem de longe. Há vinte e cinco, trinta anos, começou a dar-se um fenómeno curioso: a democratização do ensino superior. Os pais começaram a ver ao longe, mas com fé, a possibilidade de terem um filho “doutor” ou, melhor ainda, uma filha “doutora”, que isso sempre dava estatuto na família. Até aí, ser doutor era coisa reservada aos meninos da cidade, filhos de famílias com escadote social incorporado. Mas a coisa alargou-se às vilas, às aldeias, às zonas onde ainda se dizia “lá pra baixo é que é Lisboa”.
Os jovens, claro, agarraram essa oportunidade com força e bem, alguns com unhas, outros com os dentes, muitos com ambos, e muitos, mesmo, com o cartão de crédito dos pais. E assim se fez a festa. O problema é que, de repente, entrou em cena o grande esquema de ilusionismo europeu: o Processo de Bolonha. Sim, essa fraude com nome de molho italiano, que transformou cursos de cinco anos — duros, sérios e recheados de matéria — em licenciaturas de três anos que mal davam para aprender o nome da cadeira antes do exame. E o que fazer com todo este tempo livre académico? Inventaram-se os mestrados. Dois anos para continuar a festa, beber uns copos, fazer uns powerpoints, e sair de lá com mais um título e a ideia peregrina de que agora sim, o mundo lhes devia alguma coisa.
Ponto prévio e importante: muita gente e com muito valor, se formou nestes anos, aprendeu e dá cartas pelo mundo fora. Verdade, é para ser dita.
E o mundo devia, é certo — pelo menos aos pais, que hipotecaram a casa, venderam o carro ou passaram meses a comer arroz com atum para pagarem propinas, livros, cafés e “Erasmus”. Tudo com a esperança, coitados, de verem os filhos bem colocados. E viram-nos sim, colocados, na caixa do hipermercado, no call-center de voz monocórdica, ou como estagiários perpétuos a troco de almoço e vale de transporte, quando o há.
Hoje em dia, as coisas estão um pouco melhores. Talvez porque muitos dos melhores escaparam a tempo, passaram a fronteira e foram mostrar lá fora que sabiam pensar, e bem. Talvez porque o mercado saturou. Ou talvez porque o português é resiliente e habituou-se à ideia de que a meritocracia, por cá, é como o Pai Natal: simpática, popular, mas só existe para quem acredita.
Mas voltemos ao ponto inicial: os comentadores. Essa espécie de novo clero televisivo, com tempo de antena e vocabulário decorado. E aqui tenho de ser honesto, perdoem-me as feministas militantes, mas as senhoras, sobretudo as senhoras, têm uma enorme “pancada” com a palavra “impactar” que me faz querer fugir para o Tibete. É de uma obsessão quase poética: “o impacto que impacta no impacto do impacto do que foi impactado por um impacto anterior, é deveras impactante!”. Uma sinfonia dissonante de impactos. E tudo isto dito com aquele ar de gravidade estudada, como se estivessem a revelar uma profecia geopolítica. Não se ouve uma frase que não leve com um “impacto” algures no meio, às vezes dois ou três de seguida, como se estivessem a jogar bingo com palavras da moda.
E claro, continuam todos “especialistas em relações internacionais”. Porque dizer que se é especialista em “relações internas” soaria mal. Ou daria ares de problema conjugal. E depois há a história de sempre: antigamente, quando um jovem não conseguia entrar em Direito, Engenharia, ou Medicina, havia sempre um Plano B. Ia para “Relações Internacionais”. E os pais, coitados, quando perguntavam “em que curso está o Joãozinho?”, respondiam num tom hesitante, como quem confessa que o filho anda metido em coisas: “Está em… relações internacionais…”.
Não estou com isto a tentar impactar ninguém. Nem quero ser impactante. A mim basta-me desabafar, dizer o que penso, e apontar o dedo, com algum humor, vá, aos ridículos tão nossos, tão lusitanos, e tão teimosos como os santos populares.
E se isto não agradar, paciência. Pior é ter de ouvir mais um painel de “especialistas” a debitar impactos em horário nobre, como se o país estivesse a ser gerido por uma assembleia de gurus da treta com mestrado em banha da cobra.
E tresanda, meus amigos. Tresanda mesmo.
Carlos Pereira Martins (e muito desinfetante verbal)
Abraços, dos Rijos! Viva Viseu!
(Manuel Dias Antunes)

somos todos sobreviventes

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É um verdadeiro tesourinho. Realmente sou uma sobrevivente. ….
“De acordo com a maioria dos analistas de hoje em dia, os nossos pais tentam matar-nos desde que nascemos.
Chegamos a adultos por pouco, pois, considerando que o glúten é mau, lactose é má, cereais e pão branco são veneno, açúcar é o mesmo que cianeto, a frutose dos sumos rebenta por dentro e que as gorduras são como resina para selar as artérias, nós não devíamos estar vivos.
Olhando para trás, vejo os meus pais.
Agora, vejo o seu plano magistral para me eliminar.
Aqueles bifes com batatas fritas e o azeite da frigideira por cima eram por alguma razão. Depois, quando me viam levantar vivo de manhã, tentavam de novo um bom Colacao com uma torre de bolachas Maria unidas por uma camada de manteiga ou margarina.
Como aquela fórmula não funcionava, eles reforçaram com um lanche à base de pão branco com chocolate, chouriço foie gras! (Então não havia patê). Às vezes, eles tentavam com mais força regar uma fatia de pão com leite e adicionando nada menos do que açúcar branco.
Você pode ser mais assassino?
Aos fins de semana entravam os extras e já iam com tudo: ao pequeno-almoço umas torradas carregadas de manteiga ou uns churros e, como tinham mais tempo para cozinhar… uma fabada com chouriço, com a sua camada de gordura flutuante e mais pão para “molhar”.
Para sobremesa, para terminar com algo doce, um leite creme, um pão de ló ou uma mousse generosa.
Ao jantar podia sair um frango assado com molho para poder tomar banho e um pudim de ovos (muitos) para a sobremesa.
Claramente eram uns psicopatas sem sentimentos.
Eles fizeram tudo o que puderam, mas eu consegui aguentar.
O mais surpreendente é que com essa alimentação, sem traumas ou comida proibida cheguei a medir 172 cm.
Eu certamente não vou entrar em modas de me alimentar apenas com alfaces criadas em liberdade e colhidas sob a lua minguante do quinto ciclo de Júpiter em rotação com Saturno.
Obs: Sobre as avós nem falo. Aquilo eram verdadeiras casas de tortura. Nunca comeste o suficiente”
Texto de autor desconhecido

UMA TASCA DEVE TER

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UMA TASCA DEVE TER
1. Toalha de papel. Ponto extra se o empregado a usar no final da refeição para fazer a conta
2. Vitrine com uma travessa com ovos cozidos repousando em cima de um monte de sal
3. Folhas de louro penduradas
4. Fotografia aérea do próprio restaurante emoldurada
5. Azulejo a explicar as condições de fiado do estabelecimento
6. Picantes e aguardentes descritas como “caseiras”
7. Sobremesas caseiras. A mousse pode ser instantânea desde que nos digam que foi feita dentro de casa
8. Azulejo enquanto elemento decorativo dominante
9. Vinho da casa descrito pelo empregado como “muito bom”
10. “Uma dose chega para dois” e se for preciso mais arroz a gente traz
11. Um empregado que resmunga se não limpamos o prato. “O quê? Não gostou? Não estava bom?”
12. Decoração à base de alfaias agrícolas e cabaças; motivos tauromáquicos ou vitivinícolas
13. Cozido à Portuguesa uma vez por semana
14. Couvert composto por azeitonas, pacotinhos de manteiga, patê de sardinha e queijo Quero
15. “Petiscos” e nunca “Tapas”
16. O guardanapo está dentro do copo
17. Um excelente arroz doce
18. Pratos do dia escritos à mão numa toalha de papel
19. Um galhardete do clube local, um cachecol de um dos “três grandes” e uma foto do dono junto a um cliente famoso
20. Um ou vários familiares do dono entre o staff
(copiado com a devida vénia do “Time Out”)