Categoria: saude medicina droga

  • A FALTA DE MÉDICOS

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    Os Estados não colapsam por fatalidade. « (…) Durante anos a fio, a Ordem dos Médicos atribuiu-se o direito de estabelecer o número de médicos que o país deveria ter — necessariamente aquém das necessidades mas adequado a proteger os interesses dos já em exercício. Os estivadores, por exemplo, também funcionam assim, segundo este princípio corporativista de auto-regulação do mercado de trabalho.
    Para entrar nas Faculdades de Medicina, elas próprias limitadas, foram estabelecidas mé¬dias tão disparatadamente altas que miúdos com médias de 18 e 19 tiveram de renunciar à sua vocação ou de se ir formar no estrangeiro, ficando depois por lá, em muitos casos.
    Agora, um médico e ex-ministro da Saúde, Correia de Campos, penitenciando-se também a ele próprio, veio afirmar que a Ordem dos Médicos passou anos a enganar os governos dizendo que havia médicos suficientes no país. Mas, segundo ele, pela frente vamos ter cinco anos terríveis de falta de médicos, entre os que se vão reformar e o tempo que vai ser preciso até que novos cheguem ao serviço. Quem responde por isto?
    Também um estudo de Pedro Pita Barros e Eduardo Costa, agora divulgado, concluiu que todos os novos profissionais que António Costa se gaba de ter contratado para o SNS entre 2015 e 2018, bem como o milhão de horas extraordinárias pagas aos médicos nos hospitais públicos, serviram apenas para compensar o défice causado pela passagem do horário de trabalho na Função Pública de 40 para 35 horas semanais (e de que nem todos os médicos beneficiam). Não há milagres.
    A demagogia tem sempre um preço, e os Estados não colapsam por fatalidade. (…)»
    [Miguel Sousa Tavares, “Expresso”, 10/03/2023]
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  • A MADEIRA TEM O QUE PONTA DELGADA PRECISA

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    Novo bloco operatório do hospital do Funchal permite realizar mais 3.000 cirurgias por ano
    Funchal, Madeira, 08 mar 2023 (Lusa) – A requalificação do bloco operatório do Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, vai permitir realizar mais 3.000 cirurgias por ano, revelou hoje o diretor clínico do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (Sesaram), Júlio Nóbrega.
    “A partir de agora, temos um bloco operatório com instalações renovadas, com equipamento médico novo, instrumental cirúrgico renovado, temos uma área de cuidados pós-anestésicos com mais 50% de capacidade”, destacou Júlio Nóbrega, na cerimónia de inauguração daquele novo espaço.
    O diretor clínico do Sesaram indicou que atualmente são operados anualmente cerca de 13.500 doentes, apontando que, com as obras realizadas no bloco operatório, no valor de 2,8 milhões de euros, será possível operar cerca de 16.500 utentes.
    O hospital dispõe agora de 12 salas operatórias a funcionar, que permitem fazer “mais nove a 16 cirurgias por dia”, acrescentou.
    Júlio Nóbrega adiantou também que o novo bloco operatório será reforçado com mais 38 enfermeiros e 20 assistentes operacionais.
    “Hoje estamos muito mais capacitados para cumprir a nossa missão, prestar cuidados de saúde com qualidade e segurança a todos os cidadãos com equidade, independentemente da sua condição social, económica, município de residência ou qualquer outro tipo de discriminação”, afirmou o diretor clínico do Sesaram.
    O médico realçou ainda que, em 2022, ano em que foram realizadas as obras, o Serviço Regional de Saúde realizou “apenas menos 149 cirurgias relativamente a 2021”.
    Além da empreitada de requalificação do bloco operatório, que custou 2,8 milhões de euros, o Governo da Madeira (PSD/CDS-PP) gastou mais 1,2 milhões na aquisição de novos equipamentos médico-cirúrgicos.
    TFS // MLS
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  • açores nomeação surpresa

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    “SURREAL MESMO….
    DEPOIS DE TANTA POLÉMICA PARA DEMITIR, AGORA ESTA….”
    *Governo açoriano indica ex-presidente do HDES para estrutura de financiamento da Saúde*
    Horta, Açores, 07 mar 2023 (Lusa) – O Governo dos Açores anunciou hoje a criação de uma Estrutura de Missão para o Acompanhamento do Financiamento da Saúde (EMAFIS), que vai ser presidida pela anterior presidente do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), Cristina Fraga.
    “A EMAFIS tem como missão avaliar, estudar e desenvolver um modelo de gestão dos recursos disponíveis na área da saúde, através de análises sobre a oferta assistencial, da promoção de metodologias de planeamento, coordenação e controlo da resposta assistencial”, avançou o secretário das Finanças, Planeamento e Administração Pública (PSD/CDS-PP/PPM), durante a leitura do comunicado do Conselho de Governo.
    Duarte Freitas detalhou que aquela estrutura de missão, que vai funcionar da “direta dependência” da secretaria das Finanças, vai ser liderada por Cristina Fraga, anterior presidente do HDES, em Ponta Delgada.
    A 02 de dezembro, Cristina Fraga demitiu-se da presidência do HDES, na sequência da demissão de 21 dos 25 diretores de serviços.
    Cristina Fraga começou a liderar o hospital de Ponta Delgada no início de 2021, depois de o executivo liderado por Bolieiro ter exonerado o anterior conselho.
    A sua gestão foi criticada publicamente meses depois, quando o Sindicato Independente dos Médicos se manifestou preocupado com o clima de “mal-estar” na unidade hospitalar, devido à “falta de diálogo institucional do conselho de administração” com os clínicos.
    O Governo dos Açores aprovou também o novo conselho de administração do HDES, que vai ser liderado por Manuela Gomes de Menezes (tal como anunciado a 06 de fevereiro), sendo composto ainda por João Vasques de Carvalho como vogal e Maria Paz Ferreira como diretora clínica.
    O Conselho de Governo autorizou a “resolução que estabelece o modelo de governação do Programa Açores 2030” e define a “natureza e competência da autoridade de gestão do programa, bem como o seu enquadramento institucional”.
    “É o tiro de partida do Açores 2030”, assinalou Duarte Freitas.
    O executivo açoriano aprovou a “abertura do procedimento de formação do contrato de empreitada de obras públicas”, tento em vista a construção do matadouro da ilha de São Jorge, com um preço base de 10,9 milhões de euros (valor sem IVA).
    “Existe a necessidade de proceder à construção de uma nova unidade de abate em São Jorge que privilegie, para além do processo de abate, a preparação de carcaças e miudezas, contemple sala de desmancha, estação de tratamento de águas e uma unidade de preparação”, justificou o governante.
    O Governo Regional viabilizou a transferência de oito milhões de euros para o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, correspondente ao financiamento da região para o “prémio ao abate de bovinos”, previsto no POSEI (Programa de Opções Específicas para fazer face ao Afastamento e à Insularidade).
    O Conselho de Governo aprovou ainda a celebração de um contrato-programa, para vigorar no ano de 2023, com o Instituto de Ordenamento Agrário da região (IROA) no “montante máximo” de 4,25 milhões.
    RPYP (ROC/JME)// ACG
    Lusa/Fim
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  • 1400 dias espera de consulta

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  • AÇORES A DEMISSÃO NA SAÚDE MOSTRA AS FRAGILIDADES DUMA COLIGAÇÃO SEM NEXO

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    “Sucessivas ingerências” e “divergências insanáveis” foram as razões que levaram Clélio Menezes à sua demissão.
    São justificações de tal modo graves que afetam não só o Presidente e o Governo no seu todo, como a própria convergência política da coligação.
    Motivos mais do que suficientes para Bolieiro falar verdade e esclarecer os cidadãos açorianos sobre o significado das ingerências e divergências insanáveis.
    Será que a ingerência e as divergências vieram dos governantes do PSD? Não creio. Do CDS? Talvez e também duvido do PPM cujo lider, não sei por que razões, não não compareceu no Corvo na inauguração do Hospital de campanha.
    Dois anos na Saúde e sucessivas ingerências e divergências insanáveis?
    Assim, quem pode ser o “capelão/médico” de uma “irmandade” daquelas? Tudo tem limites e Clélio teve coragem de bater com a porta de uma “quinta” onde só alguns dão, permanentemente, sinais de serem os “maiores” e os “únicos donos do pedaço”.
    E chamam a isto estabilidade governativa???
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    You, Tomás Quental, Paulo Brilhante and 22 others

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    • Delia Goulart

      Já devia de ter andado !!!!!
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    • Sidonio Rocha Dias

      Não tem desculpa.
      Não conhecia as peças do Xadres?
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    • Chico Amorim

      Não creio ser possível explicar aquilo que não é explicável, salvo com demagogias e o velho clichê de “com anterior governo”. Também não é possível dizer-se que há desgoverno, porque para isso implica haver um governo, coisa que nunca existiu nesta legislatura. Há sim um desnorte total e infelizmente um desperdício total de uma oportunidade única de um manancial como seja o PRR.
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    • Tomás Quental

      O que está a acontecer na governação regional é grave demais e mau demais. Não foi isso que prometeram aos açorianos!

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    • Renato Ferreira

      Eleições antecipadas
      Ai o povo vai decidir se quer ligações ou se quer maiorias de novo.
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    • Roberto Rodrigues

      Desnorte de quem perde poder sem nunca realmente o ter.
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    • Isilda Medeiros

      Ausência concreta de um presidente que deixa tudo para o vice
      Onde está bolieiro. Na bolsa de turismo e não acho positivo que no dia em que sai ja está nomeado o outro. Ovice ainda ncompletou a administração do hdes
      . Bolieiro convidou pessoalmente apresidente e diretora clinica e o resto. Acorda presidente
  • Sindicato dos Enfermeiros espera que Saúde nos Açores não tenha retrocessos com novo governante – Açoriano Oriental

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    O Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) Açores destacou hoje o “genuíno interesse” do secretário regional da Saúde “em resolver os problemas” do setor, alertando que a mudança de titular no cargo não se pode traduzir “em retrocessos”.

    Source: Sindicato dos Enfermeiros espera que Saúde nos Açores não tenha retrocessos com novo governante – Açoriano Oriental

  • Ordem dos Enfermeiros nos Açores surpresa com saída de secretário da Saúde – Açoriano Oriental

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    A Ordem dos Enfermeiros nos Açores disse hoje ter recebido “com surpresa” o pedido de demissão do secretário regional da Saúde, esperando que a nova titular pela pasta “mantenha uma abertura no diálogo e no trabalho conjunto”.

    Source: Ordem dos Enfermeiros nos Açores surpresa com saída de secretário da Saúde – Açoriano Oriental

  • Demissão do Secretário da Saúde é uma mostra das fragilidades da coligaçao

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  • açores o paraíso das drogas sintéticas

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    Sintéticas estão a destruir jovens nos Açores

    • Chefe Guilhermina da Investigação Criminal em Ponta Delgada

    Com 54 anos de idade e há 30 anos na polícia, nos Açores, a Chefe Maria Guilhermina Reis é hoje Coordenadora da Investigação Criminal, com uma carreira que “dignifica e enobrece” a instituição policial. Quase 90% dos delinquentes de São Miguel já foram detidos pelo seu departamento e são muito poucos aqueles que lhe viram as costas. Pelo contrário, vão cumprimentá-la. Muitos deles, depois de saírem da cadeia, vão dizer-lhe: “já saí, vou ver se a minha vida vai melhorar”. Nesta entrevista de homenagem a uma mulher polícia – Em dia Internacional da Mulher – a chefe Guilhermina deixa, a propósito da droga que existe no mercado micaelense e açoriano, um alerta muito forte aos pais dos Açores e, sobretudo, aos de São Miguel: “Preocupem-se com os seus filhos. E mesmo as saídas à noite. É importante perceber se como é que os filhos chegam e se chegam a casa. Como tia, isso preocupa-me profundamente. E entendo que os pais se deviam preocupar”. E a chefe Maria Guilhermina Reis aponta o dedo, em particular, às drogas sintéticas que é “uma grande preocupação da polícia e devia ser também da sociedade”. Em Dia internacional da Mulher, esta é a homenagem a uma mulher polícia que já esteve em missão na República Democrática do Congo como segurança do embaixador português. Então, esteve como Chefe de Missão durante três meses e tal. E está na iminência de ir numa missão de Paz da ONU para o Mali para trabalhar com as polícias locais.

    ENTREVISTA
    Onde nasceu?
    Nasci em São José, Ponta Delgada. E vivi grande parte da minha vida na Ajuda Bretanha. Fiz o ensino primário na Ajuda pela telescola. Terminei aos 11 anos a escola e não continuei os estudos. Fiquei em casa a ajudar os meus pais, inclusive, na terra, em tudo o que era preciso. Éramos uma família de seis filhos. Meu pai tinha algumas condições económicas Mas, na altura (há 50 anos) a mulher era preparada para ser mãe e ser dona de casa.
    Meu pai era emigrante. Por volta dos 18 anos fui ao Canadá algum tempo, mas regressei para a Ajuda. Então, nunca quis levar a família porque achava que não era o sítio certo para criar os filhos. E só consegui continuar os estudos aos 20 anos, à noite, nas Capelas. E, aos 23 anos concorri à PSP. E foi então que começou a minha carreira policial.
    Como foi o seu primeiro dia na polícia?
    Eu estava maravilhada com tudo e muito apreensiva. Lembro-me que estava com um colega num carro patrulha. Ainda me lembro da primeira ocorrência a que fui. Foi a um café onde havia notícia de ser frequentado por menores.
    E havia mesmo menores neste café?
    Sim, havia.
    Era uma polícia temida no trânsito?
    Entrei para a Esquadra de Trânsito em Janeiro de 1992. Eu era respeitada. Não gosto da palavra temida. Era respeitada e sempre respeitei. E penso que a base de qualquer trabalho é o respeito.
    Naquela altura como era o trânsito?
    Actualmente há mais infra-estruturas que permitem aos condutores infringirem menos. Quando entrei para o trânsito a configuração de Ponta Delgada era completamente diferente. Agora existem os parques de estacionamento subterrâneo que permite que as pessoas estacionem sem infringirem. Há 30 anos havia muita infracção, muita mesmo. Já, actualmente, está melhor em termos de estacionamento.

    Esteve sete anos no Trânsito e depois…
    Entretanto, em 1996 tirei o curso de Segurança Pessoal que continua actualizado porque, todos os anos, fazemos actualizações. Ou seja, este é um curso que nos permite ingressar na Unidade Especial de Polícia. É um curso muito intensivo, muito exigente a nível físico e intelectual também.
    Este é um curso que, para se estar em vigor, tem que se estar sempre actualizado e em forma também.
    Em 1998-99 concorri ao curso de chefes, regressei e estive na Esquadra da Lagoa quase um ano e meio.

    Foi uma boa experiência a Lagoa?
    Muita boa. Gostei imenso de trabalhar lá. Se não trabalhasse no serviço que faço agora, investigação criminal, – que eu amo – seria talvez a Esquadra em que gostaria de trabalhar. Gostei muito de trabalhar naquela Esquadra, não só pelas pessoas que lá trabalham, mas até mesmo pelas vivências. É muito agradável e gostei imenso.
    A 2 de Janeiro de 2001 ingressei na Esquadra de Investigação Criminal, em Ponta Delgada. E em Setembro de 2011 fui fazer o curso de Investigação Criminal, que foi um curso muito interessante. A partir daí, sou coordenadora de uma Brigada de Investigação Criminal. A brigada que está no primeiro impacto directamente com os acontecimentos e na recolha da prova imediata.
    Como é que se define a nível profissional?
    Vejo a minha profissão como uma missão. Sinto a polícia como uma missão. E, sendo uma missão, acho que tenho dado muito à pessoal. E não sinto que seja um favor. Sinto-o como um dever. E é assim que eu vejo a polícia e é assim que me defino.
    A polícia é um bocadinho a minha vida. Não é um bocadinho, é tudo.
    Durante a sua carreira na Investigação Criminal houve situações que lhe ficaram na memória. Pode mencionar algumas?
    Uma das mais tristes que tive foi presenciar um suicídio mesmo à minha frente. Um jovem que se suicidou. E há outras situações, todas elas têm a sua relevância e a sua importância, todas elas nos marcam. Ser polícia também é isto: ser empática, sem levar os problemas das pessoas para casa. Temos de ser empáticos para conseguirmos perceber o que é que se passa do outro lado. Mas também esta forma de estar e, depois, ter a força de separar as coisas porque também somos pessoas e também temos família e também temos vida. A vida, também, não é só ser polícia, embora para mim seja muito isto.
    Na investigação criminal em Ponta Delgada tem crescido o número de apreensões de droga…
    Sim, a droga é uma grande preocupação e eu penso que a droga está na base de todos os problemas terminais que temos. Esta é uma observação muito pessoal. Não faço estudos, não faço estatísticas. Eu faço algumas observações ao que nos deparamos no dia-a-dia. E a droga, em São Miguel, é a base de todos ou quase todos os ilícitos criminais. Porque 90% dos ilícitos criminais que acontecem é para a droga: os furtos, os roubos, é para, depois, obterem matéria estupefaciente para consumirem.
    E estas drogas sintéticas, neste momento, são uma grande preocupação. Eu acho que é uma preocupação de todos e se não é, devia ser.
    A droga sintética é um problema…
    Sim, para nós, polícia, e devia ser para a sociedade também, a droga sintética é uma preocupação muito grande porque estas drogas sintéticas despertam surtos psicóticos nas pessoas que as consomem. E eles ficam completamente perturbados. Aliás, todas as drogas perturbam. Mas acredito que estas, naturalmente, têm um efeito imediato.
    Já me disse que a polícia é 90% da sua vida. E os outros 10%?
    Nos outros 10% faço as coisas que gosto. Gosto muito de correr. Gosto de pintar. Gosto de ir à praia. Gosto de estar com a minha família.
    É mãe?
    Não sou, mas adoro os meus sobrinhos. Amo-os como sendo meus filhos. E tenho uma preocupação com eles, com tudo, com a vida deles, com o que é que eles fazem ou deixam de fazer. Preocupo-me quando eles saem. Telefono-lhes a saber onde é que eles estão. Se for preciso, vou buscá-los para que eles não tomem boleias. Não sou mãe, mas tenho estas preocupações com os meus sobrinhos e sinto-me um bocadinho mãe deles. E eu penso que eles também sentem que eu sou um pouco mãe deles. Preocupa-me com eles por causa das drogas…
    E os pais dos Açores têm razões para se preocuparem?
    Têm. E entendo que os pais se deviam preocupar mais. Sinceramente, deviam preocupar-se mais. Há muita droga e é fácil aos miúdos, hoje em dia, embrulharem-se nisto. Porque, depois, eles não querem ficar mal. “Se o amigo experimenta porque é que não vou experimentar”. Percebe?
    E mesmo as saídas à noite. É importante perceber se como é que os filhos chegam e se chegam a casa. Como tia, isso preocupa-me profundamente. E entendo que os país se deviam preocupar.
    Obviamente, as pessoas têm que se divertir, os miúdos têm que sair. Mas é importante saber onde é que eles estão, com quem é que eles estão. O que é que estão fazendo?
    Porque eu penso que não é normal chegarmos a um bar e ver miúdos de 16 e 17 anos completamente embriagados. Isto faz-me confusão.
    Qual a sua opinião sobre a mulher na sociedade açoriana?
    A mulher tem um papel muito importante em todas as sociedades. E, nomeadamente, na polícia, onde a mulher faz toda a diferença. Em ocorrências policiais, por exemplo, complexas e de índole violento, na maioria das vezes ajudam e atenuam as contrariedades e repercussões que a acção possa ter.
    Nós, com a nossa maneira de ser, com a nossa maneira de estar, conseguimos resolver as coisas sem usarmos a força. Posso dizer-lhe que em 30 anos de polícia sempre fui operacional. Estive sempre no terreno em todas as circunstâncias que se proporcionavam, sempre lá estive. E foram poucas as vezes que precisei de usar a força para as resolver. Isto para dizer que a polícia e a acção policial não se circunscreve ao uso exclusivo da força.
    Entendo que a mulher já está na polícia há muitos anos, desde 1930 e, em 1972, foi quando os concursos abriram em pé de igualdade para todos os sexos. E acredito que foi esta visão que a polícia teve, foi esta perspectiva das coisas, da importância da mulher na polícia, que fez com que a PSP fosse a primeira instituição a abrir as suas portas às mulheres.
    Como é que era a polícia quando entrou na PSP e como é agora?
    Quando entrei há 30 anos na PSP não havia muitas mulheres na polícia. Havia muito poucas, principalmente no terreno. Mas vou dizer-lhe muito francamente. Mesmo há 30 anos, eu nunca senti mesmo da parte da população dificuldade em resolver as coisas por ser mulher. Pelo contrário, nunca senti que tivesse mais dificuldade do que os meus colegas do sexo masculino. O que lhe posso dizer é que eu não sei se tive sorte, se fui abençoada, porque sempre fui muito bem aceite pela sociedade civil. As pessoas que perceberam as minhas funções, sempre me respeitaram. Eu sempre fui respeitada mesmo sendo polícia há 30 anos. E, obviamente, no presente, as pessoas já encaram a mulher com a maior das naturalidades. É natural que há 30 anos, havia a vontade de fazer uma foto com a agente da polícia. Mesmo os estrangeiros manifestavam interesse em tirar uma fotografia. Hoje em dia já é muito mais natural olhar uma mulher polícia.
    Quando está, em público, a fazer segurança a políticos, por exemplo, ao Presidente da República, o que sente?
    Sinto que sou um profissional a cumprir o seu dever. Quero que tudo decorra da melhor maneira, fazendo o melhor possível o meu trabalho. Encaro o meu desempenho como o meu trabalho e é assim que o faço, seja quem for que esteja do outro lado. Quero é fazer o meu melhor para que tudo corra bem, para que ele se sinta em segurança, seja ele quem for.
    Ainda há uma percentagem de mulheres que sofre maus tratos nos Açores. Tem uma noção disso?
    Sem dúvida. E, aliás, as queixas que temos de violência doméstica, não há como fugir. Mas eu penso que este problema da violência doméstica não é exclusivo dos Açores. Eu tenho esta opinião muito própria, de que muita gente discorda. A violência doméstica é um problema geral. É um problema nacional e até quase mundial. E aqui nos Açores nota-se muito e as percentagens são grandes porquê? Digo-lhe isso com convicção e é a minha maneira de ver as coisas: Este é um meio pequeno em que as pessoas denunciam e a informação chega. As pessoas estão todas sensibilizadas para denunciar. Hoje qualquer pessoa denuncia uma violência doméstica. O vizinho denuncia e isto talvez não aconteça em meios grandes.
    Muitas vezes dizem que a percentagem de violência doméstica nos Açores é enorme. É enorme porque se tem conhecimento e tem-se conhecimento porque se denuncia. E eu penso que este número de casos de violência doméstica que vêm a público passa por aí. Agora, não vamos dizer que não existe. Existe, sim. Há muita pessoa a sofrer. E há muita pessoa que sofre e não denuncia. E há muita denúncia.
    A polícia e os tribunais têm feito um excelente trabalho na violência doméstica. E nós que trabalhamos diariamente, temos uma preocupação enorme. Temos uma brigada direccionada para a violência doméstica e a preocupação é enorme com esta problemática. E o tribunal tem uma preocupação enormíssima. Há uma senhora procuradora que trabalha directamente com estes crimes. E ela tem um relacionamento connosco de actuação directa sempre que existe uma situação destas que exija maior cuidado, (há casos e casos) há uma coordenação muito directa e com extrema preocupação.
    Quais foram os momentos mais relevantes na sua carreira?
    Tenho uma carreira recheada de coisas boas. Eu gosto de olhar para o copo sempre meio cheio. Porque as coisas menos boas, eu quero revertê-las e fazer com que elas resultem boas. E tem acontecido. Sou um bocadinho abençoada por isto também. Pela minha maneira de estar na vida e pela forma como encaro as coisas e a minha profissão.
    Uma das coisas mais importantes foi ter entrado para a polícia. Foi concretizar um objectivo num determinado momento. E, depois, foi muito importante também quando consegui entrar no curso de segurança pessoal. Foi muito importante para mim. E, depois, foi quando completei o meu curso de chefes. Em termos de carreira, foram momentos muito importantes na minha vida. Fizeram toda a diferença. A partir daqui o percurso profissional foi tomando outros rumos.
    A imagem que se tem de si na opinião pública é a de uma polícia severa…
    Isto tem a ver, talvez, com a minha maneira de estar, com esta minha postura. Curiosamente, toda a gente diz: “Olhe, não é isso que dizem de si…”. Não interessa, o que importa é o que nós somos.
    Quando está em acção policial, não endurece a sua posição?
    Não, tenho esta postura que faz com que as pessoas tenham esta percepção de mim. Sou um pouco rija na minha maneira de ser. Para nós, as coisas que vemos todos os dias, os trabalhos que fazemos, eu não sou propriamente uma assistente social. Eu sou polícia. E é, talvez, esta minha maneira de ser polícia, que façam com que as pessoas pensem…
    O que importa é que, no fim, as pessoas que precisam de mim digam: “olha, ainda bem que estive consigo e, afinal, não é nada disto que diziam”. Porque é isto que importa. E isto tem-se visto ao longo do meu trabalho e ao longo destes anos todos.
    Mas, em contrapartida, há muitas pessoas que vêm à polícia à procura da Chefe Guilhermina. E vêm à sua procura porquê?
    Vêm porque têm um problema ou porque lhes aconteceu alguma coisa e precisam de ajuda. As pessoas sabem que, quando precisam, procuram-me. E, muitas outras, depois de cumprirem uma pena na cadeia, vêm ter comigo e dizem que já saíram e que vão procurar viver uma vida digna.
    Muitos vêm ter comigo pedir ajuda. Ou para fazer um tratamento de toxicodependência. E nós encaminhamos, fazemos isso. Disse que não somos assistentes sociais, mas somos de tudo um pouco. Somos psicólogos, somos assistentes sociais, somos padres, e, às vezes, somos mães deles. Acredite se quiser.
    O que lhe falta fazer?
    Eu gostava que a droga acabasse. Esta droga traz muita infelicidade às famílias. Não imagina as mães que vêm ter connosco a pedir ajuda. E magoa-me profundamente ver uma mãe ser maltratada por um filho. No fundo, aquele filho gosta da mãe, mas precisa de dinheiro para a droga. Isto faz sofrer muitas famílias açorianas. E há filhos que roubam tudo às mães e as mães não vêm denunciar.
    Eu gostava que houvesse um enquadramento diferente na lei para estas drogas sintéticas que estão a destruir os nossos jovens.
    Esta são drogas muito gulosas, como eles dizem. Quanto mais consomem, mais querem consumir. Às vezes levam três dias sem dormir a consumir. E, depois, causa surtos psicóticos, em que eles vêem pessoas que lhes querem fazer mal. Ouvem vozes a apelar à sua morte. É curioso ver que muitos destes rapazes se colocam aqui perto à procura de segurança porque têm medo, porque dizem que estão a ser perseguidos, porque alguém os quer fazer mal. E isso, no fundo, está só na cabeça deles. Tem tudo a ver com estas drogas.

    (João Paz)

    • in, Correio dos Açores, 08 de Março / 2022
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    Celso Tavares

    Guerreira!!!!!!
    parabéns pelo, trabalho desenvolvido…
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    Beta Cordeiro Betha

    Parabéns merece a homenagem, uma grande mulher
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