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  • D VIOLANTE DO CANTO

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    Jornal da Praia

    21 hrs

    JP | EFEMÉRIDE

    Há exatos 435 anos, a 17 de agosto de 1583, D. Violante do Canto, ilustre Dama terceirense, embarcou rumo a Madrid por ordem de Filipe II. D. Violante fora uma defensora de D. António Prior do Crato.
    D. Violante do Canto nasceu em Angra, em agosto de 1556. Era filha de João da Silva do Canto e de D. Isabel Correia. Foi entregue com um ano de idade ao cuidado de Simoa Monteira, que lhe deu uma formação adequada à sua condição social, que passou também pelo ensino da escrita e da leitura. Ainda jovem e solteira, em 1577, com a morte do pai, tornou-se herdeira de uma grande fortuna e do vínculo instituído por seu avô paterno, Pero Anes do Canto, o primeiro Provedor das Armadas dos Açores. Assim, D. Violante era descendente de uma família fundamental nos primórdios do povoamento insular.
    Pero Anes do Canto nasceu em Guimarães, por volta de 1472/73. A tradição afirma que era descendente de Eduardo de Inglaterra, o Príncipe Negro. Em 1510, casou com Joana de Abarca, filha de Margarida Álvares Merens e Pero de Abarca, sobrinha de Maria de Abarca ou Corte Real, mulher de João Vaz Corte Real, 1º capitão-donatário de Angra. Este casamento, que durou apenas catorze meses, deixou descendência, António Pires do Canto, segundo Provedor das Armadas das ilhas. Em 1517, Pero Anes do Canto casou-se com Violante da Silva, filha de Duarte Galvão, cronista-mor do reino e de D. Catarina de Meneses e Vasconcelos, o qual durou apenas 23 meses. Deste casamento nasceu João da Silva do Canto, o pai de D. Violante do Canto.
    Pero Anes do Canto deve ter vindo para a Terceira por volta de 1505, primeiro como escrivão do Mestrado de Cristo e do visitador Vasco Afonso. Passou pelo Norte de África, sendo então agraciado como cavaleiro fidalgo da Casa Régia. Iniciou então um processo de construção patrimonial nos Açores que o levou, em 1546, a ser considerado como o mais o poderoso fidalgo dos Açores. Nomeado Provedor das Fortificações, Pero Anes do Canto foi o responsável pelo início da construção da linha de Fortes da Terceira, posteriormente reforçada, e que foi essencial à defesa da ilha durante os séculos seguintes. Combateu ainda piratas e corsários nos mares dos Açores e, por tudo isso, foi nomeado o primeiro Provedor das Armadas e Naus da Índia em todas as ilhas dos Açores. A partir de então, Pero Anes do Canto enfrentaria dificuldades devido à falta de recursos da Coroa nas ilhas, mas não desistindo dos seus objetivos. Pero Anes do Canto morreu em 1556. O seu primogénito, filho do primeiro casamento, António Pires do Canto, tornou-se o segundo Provedor das Armadas. Já João da Silva Canto, que nascera a 10 de março de 1518, prestou serviços à Coroa em Ceuta, entre os anos de 1546 e 1548, pelos quais recebeu a comenda da Ordem de Cristo da igreja de Coja.
    João da Silva Canto, quando regressou à Terceira, exerceu as funções de capitão-mor das Armadas nas ilhas, de provedor da fazenda e também das fortificações, chegou a substituir temporariamente o irmão como Provedor das Armadas, cargo que ocupou novamente aquando da morte de António Pires do Canto e por menoridade do sobrinho, Pedro de Castro do Canto. João da Silva do Canto casou-se com D. Isabel Correia, acumulando uma imensa fortuna, com bens móveis e imóveis, espalhados pela Terceira, S. Jorge, Faial e Pico. Da esposa herdou algumas terras em S. Miguel. Além disso, contribuiu para o bem da comunidade e das instituições da época, intervindo no processo de construção da nova Sé de Angra e foi também fundador, doador benemérito e provedor da Misericórdia. João da Silva do Canto cedeu as casas e a igreja onde se fundou o Colégio dos Jesuítas e foi devido à sua ação que se iniciou a construção do cais do Porto das Pipas.
    D. Violante do Canto herdou uma grande fortuna em 1577 e quando, em 1580, o Cardeal D. Henrique morreu, D. António foi aclamado Rei, vindo para a Terceira, D. Violante apoiou-o financeiramente, sendo uma das mais importantes incentivadoras à causa do Prior do Crato, sustentado as tropas anglo-francesas estacionadas na ilha. Durante três anos os terceirenses se bateram como defensores da independência de Portugal. Em 1583, a Terceira foi subjugada pelos espanhóis e D. Violante, por ordem de Filipe II partiu a 17 de agosto de 1583 com D. Álvaro de Bazan, rumo a Madrid. À hora do embarque, D. Violante dirigiu-se para o lugar da Prainha, acompanhada por duas damas, cinco aias e vinte e um criados entre outros escudeiros, sendo ali esperada pelas principais autoridades de Angra, num estrado alcatifado e construído de propósito para o embarque. Ao pôr D. Violante o pé na escada do navio ouviu-se uma salva dada pela nau, acompanhada por todos os navios da armada.
    Em Espanha, D. Violante foi encerrada em dois mosteiros, em Cadiz e Jaem e posteriormente obrigada a casar a 1 de abril de 1585 com Simão de Sousa de Távora, voltando a Portugal. Morreu em Lisboa, a 17 de novembro de 1599. Os seus bens vinculados foram herdados por Manuel do Canto de Castro, neto de António Pires do Canto, irmão de seu pai, assim nasceu, segundo as crónicas, a Caza maior das ilhas. Os restantes bens foram entregues à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a várias outras instituições pias.
    Atualmente a sua casa em Angra do Heroísmo, na rua da Sé, é a sede do Sport Clube do Lusitânia. A Provedoria das Armadas, Solar dos Remédios, hoje alberga as Secretarias Regionais da Saúde e da Solidariedade Social.
    Francisco Miguel Nogueira

  • um país que não honra a história irá desaparecer com ela

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    Eva Rebocho shared a post.
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    ó ê

    Giraldo Geraldes, mais conhecido como o Homem sem pavor, foi umas das personagens mais importantes da nossa história e na luta contra os mouros (se hoje temos Évora e o Algarve em parte foi graças a ele).
    Seja a história lendária ou não, o que é certo é que existe uma praça com o seu nome em Évora, a existência das muralhas do seu forte e ainda uma estátua que o representa.
    Como portuguesa tenho vergonha da falta de orgulho que há por parte do povo português e dos nossos governantes na nossa História. Sim, porque mudar a sua estátua da praça da junta de freguesia de Valverde para o meio do mato, em terreno de caça, sem indicações, não mostra mais nada para além da vergonha e da vontade em esconder a História e o que dela advém. Andei uma hora em pleno mato e zona de caça à procura da dita estátua que por coincidência também ninguém da aldeia conhecia. Mal tratada partida e abandonada, é assim que os portugueses tratam o seu passado!! A nossa história não foi só feita de padres e igrejas como nos querem fazer crer!

    (A primeira foto era onde se encontrava a estátua inicialmente, a segunda foi onde eu a encontrei. As outras é do caminho que se tem de percorrer a pé até se dar com o local)

    pode ser que assim ela volte ao seu local original e possa ser vista por todos!!!

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  • Na China, mil anos atrás, as mulheres já jogavam futebol | Esportes | EL PAÍS Brasil

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    Várias pinturas do século XII mostram quatro mulheres que dão chutes em uma bola colorida. Em 2004, a FIFA concluiu oficialmente que o país asiático é o berço do futebol

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  • poluição a sério é isto no Haiti

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    este é o mundo que queremos perpetuar?

    se quiser saber as razões de o haiti ser assim leia adiante nesta crónica de 2010

    1. CRÓNICA 80 – DO HAITI A VIRIATO E SERTÓRIO – 22 janº 2010

    80.1. HAITI

    Há dias ouvi a frase bíblica “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” [Mt 22: 14] e perguntei-me por que os cidadãos do Haiti têm sido chamados tantas vezes. Agora com os terramotos que devastaram a metade da ilha interrogo-me sobre a história do país.

    Haiti, em português, oficialmente Repiblik Ayiti, uma parte da ilha de Hispaniola, nas Grandes Antilhas, que partilha com a República Dominicana. Ayiti (“terra de altas montanhas”) era o nome indígena dado pelos nativos taínos.

    Em francês o país é “A Pérola das Antilhas”, pela sua beleza natural. O ponto mais alto é Pic la Selle, 2 680 m. É o terceiro maior país do Caribe (depois de Cuba e da República Dominicana), com 27 750 km2, 10,4 milhões de habitantes, um milhão na capital, Porto Príncipe.

    A posição histórica e etnolinguística do Haiti, são únicas. Quando conquistou a independência em 1804, e se tornou a primeira nação independente da América Latina, foi o único país do mundo resultante de uma revolta de escravos bem-sucedida e a segunda república da América.

    É o mais pobre da América. A Revolução durou quase uma década; todos os primeiros líderes do governo foram antigos escravos.

    Em fevereiro 2004, um golpe de Estado forçou a renúncia e o exílio do Presidente Jean-Bertrand Aristide. Um governo provisório assumiu o controlo sob a Missão da ONU. Michel Martelly, atual Presidente, foi eleito nas eleições gerais de 2010.

    80.2. OS PECADOS DO HAITI

    Li este artigo e gostei “Os pecados do Haiti”, 15 janeiro 2010 por Eduardo Galeano[1]

    Em 1803, os negros do Haiti causaram tremenda derrota às tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa não perdoou a humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Então, começou o bloqueio e a nação recém-nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia. Nem mesmo Simão Bolívar, quando já havia derrotado a Espanha, graças ao apoio do Haiti que lhe tinha entregue sete navios, muitas armas e soldados, com a única condição que Bolívar libertasse os escravos.

    Os EUA reconheceram o Haiti sessenta anos depois do final da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um génio francês da anatomia, descobria que os negros são primitivos porque “possuem pouca distância entre o umbigo e o pénis”.

    A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, como modo de perdoar o delito da dignidade. A história do assédio contra o Haiti, que em nossos dias tem dimensões de tragédia, é também una história do racismo na civilização ocidental. Os EUA invadiram em 1915 e governaram até 1934.

    Retiraram-se quando alcançaram os objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e revogar o artigo que proibia a venda de terras aos estrangeiros. Um dos responsáveis pela invasão, elaborou: “… é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que os franceses deixaram”.

    O Haiti havia sido a pérola da coroa, Montesquieu havia explicado: “O açúcar seria demasiado caro se não trabalhassem os escravos, que são negros desde os pés até a cabeça e têm o nariz tão achatado, que é quase impossível ter deles alguma pena. Resulta impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma boa num corpo inteiramente negro”. Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do feitor. Karl von Linneo, havia retratado o negro com precisão científica: “Vagabundo, desocupado, negligente, indolente e de costumes dissolutos”.

    A democracia haitiana recém-nascida, na festa de 1991, foi assassinada pelo golpe de estado do general Raul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou.

    Depois de terem colocado e retirado ditadores militares, os EUA depuseram o Presidente Jean-Bertrand Aristide, eleito por voto popular, o primeiro em toda a história e que teve a louca aspiração de querer um país menos injusto.

    Aristide regressou acorrentado para retomar o governo, mas proibiram-no de exercer o poder. O sucessor, René Préval, obteve 90% dos votos, mas qualquer burocrata do FMI ou do Banco Mundial tinha mais poder.

    80.3. DERRUBAR GOVERNOS NO HAITI[2]

    Os EUA, o Canadá e a França, conspiraram abertamente durante quatro anos para derrubar o governo eleito do Haiti cortando toda a ajuda internacional ao país com o objetivo de destruir a economia e torná-lo ingovernável.

    A política dos EUA também ajudou a destruir a agricultura haitiana, ao forçar a importação de arroz americano subsidiado e eliminar milhares de plantadores haitianos. Para os que se indagam por que não existem instituições haitianas para ajudar com os socorros e ajuda às vítimas do terremoto, essa é uma das razões.

    Ou o porquê de haver 3 milhões de pessoas amontoadas na área atingida. Antes do terremoto, a situação do Haiti era comparável à de muitos sem-abrigo nas ruas de grandes cidades dos EUA: pobres demais e negros demais para terem os mesmos direitos.

    Em 2002, um golpe militar com o apoio dos EUA, afastou o governo eleito da Venezuela, mas a maioria dos governos no hemisfério reagiu rapidamente e ajudou a forçar o retorno do governo democrático. Dois anos depois quando o Presidente haitiano democraticamente eleito, Jean-Bertrand Aristide, foi sequestrado pelos EUA e levado para o exílio na África, a reação foi fraca.

    Após dois séculos de saque e pilhagem do Haiti desde a fundação na revolta de escravos em 1804, da ocupação brutal por fuzileiros navais dos EUA e das incontáveis atrocidades cometidas sob ditaduras, auxiliadas e apoiadas por Washington, o golpe de 2004 não pode ser relegado ao esquecimento.

    Como cantou em tempos Caetano Veloso, “O Haiti não é aqui”.

    [1] http://culturadetravesseiro.blogspot.pt/2010/01/os-pecados-do-haiti-eduardo-galeano.html

    [2] Folha de S. Paulo 19/01/2010, adaptado de um artigo de Mark Weisbrot, doutor em economia pela Universidade de Michigan, é Codiretor do Centro de Pesquisas Económicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net ).

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  • recuperação de templo portugues na Birmânia

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    Carlos Fino shared a post.

    Os Fernandes da cristandade birmanesa

    Feliz por saber que a arquidiocese de Rangum e o Departamento de Arqueologia do Ministério da Cultura de Myanmar iniciaram há semanas as tão pedidas obras de conservação da igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Portugueses. O templo, construído no início do século XVII, foi abandonado no século XVIII por ocasião da chegada à Birmânia dos Barnabitas de Milão e dos missionários franceses, sendo lentamente tragado pela natureza e mais recentemente invadido por uma empresa de petróleos.

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    IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DOS PORTUGUESES

    Miguel Castelo Branco

    Os Fernandes da cristandade birmanesa

    Feliz por saber que a arquidiocese de Rangum e o Departamento de Arqueologia do Ministério da Cultura de Myanmar iniciaram há semanas as tão pedidas obras de conservação da igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Portugueses. O templo, construído no início do século XVII, foi abandonado no século XVIII por ocasião da chegada à Birmânia dos Barnabitas de Milão e dos missionários franceses, sendo lentamente tragado pela natureza e mais recentemente invadido por uma empresa de petróleos.

    leia sobre a presença portuguesa no Oriente

  • SABIA QUE HOUVE ESCRAVOS AÇORIANOS NO BRASIL?

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    Necessidade, ao que nos levaste !

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    História desconhecida de Portugal: os escravos açorianos no Brasil

     

    É um dos episódios mais negros da história de Portugal. Fugindo da miséria, atraídos por falsas promessas, muitos açorianos acabaram escravizados no Brasil.

     

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    “Todos nós sabemos que está saindo uma imensidade de cidadãos portugueses para o Brasil; que vão ali ser vendidos, e ser escravos dos brasileiros, substituindo o lugar dos negros; e então ao passo que todas as nações da Europa estão empenhadas em evitar o tráfico da escravatura negra, parece-me que mais direito temos de tratar de evitar o tráfico da escravatura branca; da escravatura de cidadãos portugueses”. Em discurso às Cortes portuguesas, em 1840, o deputado Sá Nogueira expressava a preocupação pública com um pernicioso fenómeno que atingia particularmente as ilhas açorianas: a emigração ilegal de milhares de colonos com destino ao Império do Brasil.
    Açores
    Açores
    Desde pelo menos o século XVII, o arquipélago dos Açores – composto por nove ilhas situadas no oceano Atlântico norte – fornecia colonos para o povoamento de algumas regiões do território brasileiro, como Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Se esta emigração inicial era dirigida e organizada pela Coroa, ao longo do século XIX, especialmente após a independência do Brasil, tornou-se uma emigração livre e espontânea, ou seja, os açorianos partiam em busca de melhores condições de vida.
    Açores
    Açores
    Nos Açores, a miséria dos camponeses e dos pescadores era avultada, empurrando milhares de indivíduos para outras paragens. As dificuldades tornavam-se ainda mais agudas com as graves catástrofes naturais que atingiam as ilhas, como terremotos e temporais, seguidas de crises de subsistência. Além disso, muitos jovens compartilhavam de uma visceral aversão ao cumprimento do serviço militar.
    Açores
    Açores
    Ao fugir ilegalmente – sem passaporte e à mercê de intermediários, os “engajadores” – os açorianos acabavam por deparar-se com novas formas de miséria, de dependência e de exploração. As viagens, nos veleiros, eram muito longas e penosas, sobretudo para os passageiros clandestinos. Estes amontoavam-se ao relento, fustigados pelas intempéries ou pelo sol escaldante, ou aglomeravam-se em pequenos espaços imundos nos porões, sem arejamento ou condições de higiene. Durante dois meses ou mais, sofriam a falta de alimentos e de água potável – o que, tudo somado, motivava doenças graves, por vezes fatais.
    Ilha Terceira, Açores
    Ilha Terceira, Açores
    Iam presos a um contrato que, sendo lucrativo para os intermediários, representava uma autêntica armadilha para os emigrantes. Os fazendeiros pagavam o preço da viagem adiantado, e este era convertido numa dívida (muitas vezes inflacionada) a ser descontada do futuro ordenado dos colonos. Na prática, eles se tornavam propriedade dos fazendeiros e, em sua maioria, nunca mais regressavam à terra natal, sujeitando-se a desumanas condições de vida e de trabalho – chegando a não ter outra remuneração além da comida. Salvo raras excepções, eram analfabetos e, por isso, enganados mais facilmente: não sabiam contar, não conheciam a moeda e acabavam por ficar vinculados ao patrão durante longos anos, ou mesmo por toda a vida.
    Açores
    Açores
    Quando se tratava de grupos numerosos, com cem ou mais passageiros ilegais, as partidas efectuavam-se na calada da noite, propícia também à prática do contrabando. Se os grupos eram pequenos, embarcavam de madrugada. A geografia insular facilitava: escolhiam-se baías, enseadas, rochedos isolados, de acesso difícil e sem qualquer tipo de iluminação, para partir em pequenas embarcações pesqueiras cujos mestres lucravam com isto. Os navios, com capitães que acobertavam o tráfico, velejavam perto das ilhas, recebendo os emigrantes em alto mar. Autoridades e a imprensa denunciavam o uso de enormes fogueiras nas montanhas para sinalizar à tripulação dos veleiros a partida de mais uma embarcação carregada de emigrantes clandestinos. Houve ainda notícias sobre jovens que iam a bordo de navios legais despedir-se de familiares e que acabavam por se esconder, partindo sem documentos ou bagagem.
    Açores - Javier Garcia
    Açores – Javier Garcia
    Não é possível contabilizar o número de pessoas que se arriscavam na emigração ilegal, mas apenas entre 1855 e 1859 o cônsul português no Rio de Janeiro detectou a entrada de 1.203 passageiros clandestinos contra 452 legais, todos oriundos dos Açores. A cidade era a porta de entrada da maioria dos açorianos. Alguns ficavam na cidade ou nos arredores, muitos outros iam para fazendas no interior. Em menor número, seguiam para São Paulo e Santos, e ainda menos para Bahia e Pernambuco. A proibição do tráfico negreiro, em 1850, aumentara a necessidade de mão de obra no Brasil. Era imperativo angariar imigrantes que garantissem a exploração da terra e o incremento económico do país. Ainda que nem todas as autoridades tivessem má intenção, na realidade deixavam ocorrer inúmeras ilegalidades, chegando a ponto de permitir que os recém-chegados não fossem obrigados a comparecer nos respectivos consulados.
    Foto: Rick Wilhelmsen
    Foto: Rick Wilhelmsen
    O fenómeno da emigração ilegal, associado ao grave esvaziamento demográfico do território português, tornou-se tema central de debates parlamentares e de editoriais e artigos da imprensa, acentuando um discurso dramático que enfatizava as “desgraças” a que se sujeitavam os emigrantes, mas que tendia a ignorar as verdadeiras razões daqueles que procuravam partir. “Os moços robustos e válidos empregam-se no serviço de carroças e vacarias, e nestas a maior parte deles são açorianos. Vivem quase sempre na imundice, dormem em cortiços, sem ar nem luz, e aí as doenças, as epidemias e as mortes”, relatava uma carta recebida do Rio de Janeiro, publicada, em 1876, no periódico açoriano O Picoense.
    Açores
    Açores
    A expressão “escravatura branca” surgiu provavelmente na década de 1830 – ao que parece usada, pela primeira vez, pelo secretário de Estado José Maria Campelo – visando designar o tráfico de emigrantes, em especial do norte de Portugal e das ilhas da Madeira e dos Açores. A emigração clandestina era alvo de críticas e gerava indignação, mas havia poucos meios para combatê-la. Nem as autoridades portuguesas atuavam com eficácia para reprimi-la, nem as autoridades brasileiras se empenhavam em combater os abusos dos senhores sobre a mão de obra imigrante, que vinha substituir os escravos devido às restrições impostas ao tráfico negreiro.
    Lagoa das Sete Cidades - Açores
    Lagoa das Sete Cidades – Açores
    Apesar do alarmismo exacerbado de certa imprensa local, a preocupação de muitos jornalistas açorianos era a de denunciar os navios que se envolviam no “tráfico de gente branca” – como o célebre patacho Arrogante, que em 1854 suscitou intensos debates parlamentares – e os horrores sofridos pelos emigrantes clandestinos, de modo a desmotivar os que ficavam nas ilhas destas perigosas aventuras. A imagem do brasileiro de “torna-viagem”, ou seja, do retornado emigrante enriquecido, era tida como prejudicial, pois estimularia novas fugas. Estes, na realidade, eram uma minoria que não espelhava a sorte dos açorianos no Brasil.
    Açores
    Açores
    Por tudo isso, e não obstante as dificuldades reconhecidas pela imprensa, fazia-se necessária uma imediata actuação por parte das autoridades de forma a combater ou a mitigar os flagelos decorrentes da emigração clandestina. Sugeria-se a promulgação de leis, a fiscalização das embarcações, o controle sobre a hierarquia das autoridades, acções de sensibilização e de propaganda, conforme já faziam alguns jornais. O combate à emigração clandestina e à “escravatura branca” tornava-se um verdadeiro desígnio nacional português.
    Angra do Heroísmo
    Angra do Heroísmo
    Apesar dos sucessivos governos promulgarem abundante legislação nas décadas de 1840, 1850 e 1860, visando controlar e reprimir o fenómeno, muitas das medidas não foram eficazes. As pessoas continuaram a contornar as leis, partindo sem se apresentarem às autoridades para requerer passaporte, o que no meio insular não era difícil. O desejo de uma vida mais próspera as impedia de se acautelarem contra as falsas promessas dos engajadores, que se beneficiavam da negligência das autoridades. A falta de meios para uma fiscalização eficaz e a longa distância entre Portugal, os Açores e o Brasil agravavam ainda mais os já complexos factores que levavam à emigração clandestina.
    Parque Terra Nostra
    Parque Terra Nostra
    Ainda no final do século XIX, a emigração clandestina e as práticas fraudulentas a ela associada continuavam a preocupar as autoridades portuguesas, ainda que a expressão “escravatura branca” fosse menos utilizada. Embora muitos governantes e deputados defendessem que a emigração portuguesa devia ser canalizada para as colónias de África, os açorianos continuavam a rumar para outras paragens, como o Brasil, o Havaí e os Estados Unidos.
    Susana Serpa Silva é professora da Universidade dos Açores e coordenadora do livro Um Passaporte para a Terra Prometida (Cepese / Fronteira do Caos Editores, 2011).

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  • amor noutras épocas… e suicídio de 13 garbosos pretendentes, por ela rejeitados

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    Célia Manuela Soares Machado shared a post.

    QUANDO ACHAREM, SENHORAS,
    que não estão no vosso melhor, pensai na princesa Qajar da Pérsia, responsável pelo suicídio de 13 garbosos pretendentes, por ela rejeitados. Animai-vos, pois.

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    Rodrigo Guedes de Carvalho

    QUANDO ACHAREM, SENHORAS,
    que não estão no vosso melhor, pensai na princesa Qajar da Pérsia, responsável pelo suicídio de 13 garbosos pretendentes, por ela rejeitados. Animai-vos, pois.