O nome técnico desta estrutura é “Núcleo de Recreio”, como está na placa que assinala a sua inauguração e que ainda está lá, desbotada, a marcar o dia em que tanta gente pensou “é melhor que nada”.
Antes de haver esta espécie de marina, a Baía das Lajes chegou a receber 300 veleiros por ano, o número manteve-se e pensava-se que tenderia a aumentar, havendo facilidades de amarração e estruturas de apoio. As facilidades de amarração foram muito limitadas e quanto a estruturas de apoio, fez-se uma pequena renovação no balneário dos pescadores e abriu uma lavandaria, particular.
Devido ao desenho do porto, a marina tornava-se quase uma armadilha com ventos de Leste e muitas noites sem dormir lá passaram os seus utilizadores. Ainda assim, dizíamos, era melhor que nada. Iam-se gerindo o melhor possível os inevitáveis atritos entre a pesca profissional, a náutica local e os iatistas visitantes, porque quando um recurso é escasso (neste caso, o espaço) os atritos são inevitáveis.
Os iatistas dinamizam sempre uma economia com um mínimo de impacto, não chegam de avião nem causam pressão no alojamento e além do que gastam nos mercados, transportes, restaurantes e bares (muito, no caso dos bares) têm necessidades específicas que os turistas não têm: reparações mecânicas, serralharia e aprestos vários, sector que também tem procura no mercado local, mas pequena. Se tem condições para ficar em segurança, um iatista vai fazer todas estas tarefas e compras onde está, e o aumento dessa procura especializada traz mais oferta, que só beneficia o mercado náutico das próprias ilhas, já para não falar da animação tão necessária e apreciada numa zona portuária de uma ilha pequena.
As condições não eram ideais mas ia-se fazendo o melhor possível pela vida náutica das Flores, entre pescadores, iatistas, mergulhadores, velejadores e quem ia simplesmente dar um passeio no mar.
No dia 1 de Outubro de 2019 o furacão Lorenzo destruiu o porto e o que nele estava e mudou a vida desta ilha.
Como não havia estrutura nenhuma afecta à marina além dos pontões flutuantes, só estes foram destruídos, logo, substituindo os pontões e limpando o fundo, a marina estaria operacional.
Acontece que na altura o governo decidiu encarar a obra do porto como um todo, nem sequer tendo contemplado a hipótese de voltar a ter a marina a funcionar muito antes da conclusão do molhe principal e dos diferentes cais, e esta é uma decisão para a qual não encontro justificação além da simples falta de interesse.
As partes operacionais dos pontões flutuantes que restaram foram enviadas para a Horta, aqui ficou um monte de pontões escavacados, primeiro com a promessa, ou intenção, de os recuperar localmente. Posteriormente foram classificadas de sucata e mudou o plano: vai ser tudo novo, mas para concluir nas fases finais da obra.
Por iniciativa local, no ano passado foi instalado um pontão, recuperado dos escombros, mais do que insuficiente para todas as embarcações locais, recreativas e desportivas, que pagam impostos como os outros e têm a razoável expectativa de, vivendo numa ilha, terem condições de ir ao mar.
Pedem-nos que esperemos 5 anos, e não se trata de grandes obras de engenharia, trata-se de substituir pontões que alegadamente até já foram pagos pelos seguros accionados aquando do desastre.
A Região reconhece a importância do turismo e o crescimento do mercado, este ano nas Lajes há 4 embarcações Marítimo Turísticas, que investiram para ter essa licença e que trazem valor acrescentado à ilha, mas nenhuma tem condições decentes de amarrar e embarcar e desembarcar os passageiros.
O argumento de que o porto interior estava vedado ao tráfego por causa das obras da ponte cais só valeu até ao princípio deste ano, nada obstava a voltarmos a ter os pontões este ano, mas não se pensou nisso sequer.
Passaram mais de 3 anos e a Portos dos Açores e a Secretaria das Obras Públicas não têm nada a dizer à ilha das Flores sobre o porto de recreio a não ser que está incluído num projecto cuja conclusão está prevista para 2028.
Tal como os Açorianos por vezes se sentem irrelevantes nas questões nacionais, os Florentinos por vezes sentem-se irrelevantes nas questões regionais.