Categoria: Historia religião teologia filosofia

  • Solar dos Pimentel em Castelo Branco, Mogadouro

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    O solar com 365 portas e janelas,por Tiago Patrício

     

     

    O solar com 365 portas e janelas,por Tiago PatrícioNuma aldeia chamada Castelo Branco viveu um professor dedicado, que escrevia ensaios rigorosos sobre a origem da linguagem nos seres humanos, a sua evolução geográfica e temporal nas diferentes ramificações regionais. Estudava há mais de 15 anos, vários manuscritos sobre a ligação entre a linguagem do planalto mirandês e a do antigo leonês do outro lado do rio Douro, quando numa tarde de Verão, por entre alguns manuscritos amarelados viu um minúsculo grilo branco passear-se entre as iluminuras. Aproximou a vista do recanto da folha onde o insecto se movia com pertinácia e ficou muito tempo a contemplar os seus movimentos graciosos e a sua armadura de quitina. Pegou numa lupa e ficou atento à cadência das antenas e dos apêndices quase até ao fascínio, depois nas patas e peças bucais da mesma cor e graciosidade. Quando a luz do dia desceu a partir da janela, levantou os olhos para fora da sala e acendeu o candeeiro, quando olhou de novo para a secretária, o pequeno grilo tinha desaparecido por entre os outros papéis espalhados na mesa de trabalho.
A recordação de ternura por cada movimento do grilo, que caminhava indiferente e cândido aos registos ou à literatura entre os pesados volumes da história da língua, fê-lo regressar ao início das coisas, à persistência da memória, ao compasso assimétrico entre manter uma família e um espaço suficiente para uma descendência imaginária e a escolha solitária das ciências exactas e da escrita, numa reverência à história antiga.
A sua casa era um jazigo do tamanho de um solar com 365 portas e janelas, mandado construir pelo avô, para harmonizar o trabalho do campo com a vida dos filhos e as estações do ano, que agora estava vazia de gente e forrada de livros para o isolar da passagem do tempo. Conhecia a grafia e a fonética de todos os alfabetos usados na Europa ocidental, para além do Árabe clássico e mesmo alguns dialectos africanos das colónias portuguesas. As suas viagens antes do isolamento não foram apenas uma perda irremediável de tempo ou de energia e trouxe consigo o peso de muitas vidas que tentava reproduzir contra os seus olhos cansados e as mãos trementes.
Já o sol tinha descido abaixo do nível da janela quando começou a desenhar o grilo branco de memória e a seguir pegou ao acaso numa das folhas dos manuscritos, dobrou-a várias vezes até obter a figura aproximada de um grilo preenchido com letras de imprensa. Depois passou à sala onde mantinha a colecção de artrópodes em pequenas caixas de vidro e retirou com cuidado a pilha de livros que ocupava o vão da pequena janela, que o avô só usava nos anos bissextos e ficou de livros nos braços a olhar os campos de trigo e as papoilas complementares na mancha verde do ocaso. Pousou os livros e abriu a janela com esforço e sentiu o vento fresco de Abril na face cansada e deixou a folha de papel em forma de grilo no parapeito, para que fosse levada pela aragem da tarde. Quando voltou às borboletas, escaravelhos, coleópteros, aracnídeos e grilos pretos fixos com alfinetes, perdeu o sentido de utilidade nos dias passados a seleccionar, catalogar e conservar os animais para o arquivo encerrado naquela sala sem vida.
Quando desceu as escadas a custo encontrou o caseiro à entrada com o chapéu torcido nas mãos e o rosto contraído, com o susto de ver a janela abrir-se num ano regular e o receio do patrão estar contrafeito com alguma coisa.
Depois dessa tarde, o Homem, deixou de subir aos andares de cima, escolheu um dos quartos mais soalheiros no rés-do-chão, reabriu o salão de jantar e dedicou-se a ver passar o tempo no alpendre das traseiras e a apreciar o a azáfama da mulher e dos filhos do caseiro na horta ou das carroças dos aldeões no lado da estrada.
Muitos anos depois da sua morte, um estudioso das bibliotecas e arquivos perdidos que vivia em França, farejou o rasto desse homem através de uma conversa ocasional escutada num bar de emigrantes portugueses, que descreviam essa casa com 365 portas e janelas, entulhada de livros e bugigangas até ao tecto. Esse professor e coleccionador exótico de livros antigos estava dado como perdido para os estudiosos na matéria, assim como toda a sua colecção, porque as referência apontavam para um território difuso entre Castela-Leão, Trás-os-Montes e as Beiras.
Com o orçamento de um projecto de estudo para reencontrar a colecção, o estudioso decidiu embarcar no Sud-Express até ao local assinalado no mapa com o nome da terra escutado aos emigrantes, Castelo Branco. Quando chegou a Salamanca, depois de três dias de viagem nas liteiras entabulou conversa com um Engenheiro Civil português que regressava de um mês de férias em Paris e vinha maravilhado com a paisagem humana parisiense. Contou-lhe, ainda surpreendido, a entrevista com uma empregada de uma perfumaria com quem tinha passeado no Sena e o tinha demovido de ir à Ópera ver as Valquírias de Wagner, por ser uma peça muito longa e pesada, para um português acabado de chegar à cidade incandescente.
Quando se aproximavam do entroncamento de Fuentes de San Esteban, o Engenheiro anunciou que ira sair e apanhar a ligação para Trás-os-Montes e o francês despediu-se dele com alguma pena por não poder prolongar a conversa, contou-lhe o motivo da viagem e o entusiasmo em estar tão próximo de encontrar a biblioteca de 365 portas e janelas. Nessa altura os olhos do Engenheiro brilharam e com uma pancada forte nas costas, disse-lhe que saísse já ali porque a casa ficava numa aldeia perto da fronteira e não na cidade da Beira Baixa.
O francês ficou atrapalhado mas confiou na palavra e nas informações adicionais que o Engenheiro avançava sobre a casa cheia de livros e abandonada há vários anos, enquanto arrumava as malas e a roupa de viagem sob a excitação do outro. Era uma tarde fria de Junho que os esperava, quando ajudados pelos carregadores, entraram na carruagem de 1ª classe do comboio a vapor que seguiria até à linha do Douro.
Depois de la Fregeneda, na zona dos precipícios, túneis extensos e pontes metálicas sobre o rio Águeda ao fundo, o francês começou a fartar-se das explicações matemáticas sobre a engenharia ferroviária e a recear pela segurança com as oscilações da pesada máquina a vapor sobre as passagens estreitas nas veredas. Depois da Barca d’Alva o comboio seguiu mais a direito e rente ao rio e aquele susto inicial deu lugar a um certo apaziguamento pela presença sideral da paisagem. Trocaram para uma automotora de via estreita na estação do Pocinho e deixaram o Douro para trás numa subida lenta e íngreme até ao planalto. Nessa altura o francês já tinha aceite o convite para pernoitar na casa do engenheiro em Carviçais e seguir no carro dele até Castelo Branco no dia seguinte.
Foi uma noite longa, depois do jantar com os pais do Engenheiro no serão à lareira, o estudioso francês teve de satisfazer a curiosidade do pai e do filho que traduzia as inquietações do velho pelos maus exemplos que chegavam de França. A casa ficava mesmo ao lado da igreja pesada de granito e durante a noite teve dificuldade em adaptar-se ao o toque do relógio da igreja de 15 em 15 minutos. Na manhã seguinte acordou com o som das carroças e das ferraduras dos animais na calçada, levantou-se para tomar o pequeno almoço e não escondeu o espanto pela mesa com pratos cheios de batatas, feijão, carne de porco, couves, pão e vinho tinto.
Arrancaram de barriga cheia, depois de uma pequena visita obrigatória pela aldeia e no resto do caminho o Engenheiro insistia em explicar os nomes e a história das aldeias por onde passavam. Cruzaram-se com o comboio na estação de Freixo de Espada-à-Cinta e com muitas pessoas que caminhavam descalças ou montadas nos burros pela estrada nessa manhã e ficaram na memória do francês.
Viajavam devagar devido às curvas e à largura do caminho esburacado e por vezes o Engenheiro contava episódios da viagem a Paris e de como os achava muito cultos. Confessou que deixou os museus para quando estivesse reformado e queixou-se apenas dos empregados de balcão que exigiam sempre gorjeta e das prostitutas que só se despiam depois do dinheiro na mão.
Quando passaram a placa com o nome da aldeia o francês começou a olhar em todas as direcções para encontrar o solar, mas uma carroça carregada de nabos que seguia à frente do carro impedia-os de ultrapassar. Nos breves minutos de impaciência, o estudioso francês ficou para sempre a lembra-se do olhar silencioso da mulher de negro sentada na carga, de frente para eles, com a cabeça coberta e o nariz disfarçado entre as rugas da cara escura, que extinguiam a voz esganiçada do Engenheiro e o atingiam num estremecimento que subia aos olhos. Depois a carroça cortou por um caminho à direita e desapareceu por trás de casas ou palheiros onde havia roupa estendida à porta.
Quando o solar apareceu debruçado sobre a estrada os pensamentos do francês já estavam tão perturbados pelo cansaço da viagem e a ruína do país, que só reparou no casarão a contraluz pela cotovelada do Engenheiro. Estava abandonado, com uma parte do telhado caída mas uma fogueira próxima denunciava uma certa actividade.
Quando saíram do carro em direcção ao portão, o relógio da aldeia dava o sinal do meio-dia e à volta da fogueira um homem preparava o almoço e protegia a cara das labaredas amarelas, azuis e esverdeadas, naquele dia de Primavera. Havia outros que transportavam cimento e tijolos para dentro da casa e o francês pediu ao engenheiro para lhes perguntar pelo dono da casa, enquanto reparava que as portas e as janelas escuras eram como órbitas de uma casa vazia. Depois encaminhou-se até à caixa de onde os trabalhadores tiravam gravetos para atiçar as chamas e começou a tropeçar em restos de livros espalhados pelo chão, com as páginas rasgadas e dissolvidas na lama. Desesperado pelos risos alarves dos homens numa língua que não compreendia, confirmou que estavam a alimentar a fogueira com livros inteiros que se consumiam em chamas de várias cores e crepitavam em línguas mortas e discursos ininteligíveis de pânico ou libertação.
Atirou as mãos à cabeça e afastou-se da casa ao longo do muro a disparar nomes estrangeiros e frases incompletas até chegar ao início de um bosque fechado. Sem querer entrar na sombra voltou a olhar o casarão iluminado pelo sol forte do meio-dia e sentou-se na erva do terreno, com os joelhos encostados ao peito e rodeado pelo crepitar de grilos brancos que saiam das tocas e andavam de cá para lá, como se há muito não escutassem a vocalização característica da angústia num homem encurvado.
Nota do editor:foto retirada da netNuma aldeia chamada Castelo Branco viveu um professor dedicado, que escrevia ensaios rigorosos sobre a origem da linguagem nos seres humanos, a sua evolução geográfica e temporal nas diferentes ramificações regionais. Estudava há mais de 15 anos, vários manuscritos sobre a ligação entre a linguagem do planalto mirandês e a do antigo leonês do outro lado do rio Douro, quando numa tarde de Verão, por entre alguns manuscritos amarelados viu um minúsculo grilo branco passear-se entre as iluminuras. Aproximou a vista do recanto da folha onde o insecto se movia com pertinácia e ficou muito tempo a contemplar os seus movimentos graciosos e a sua armadura de quitina. Pegou numa lupa e ficou atento à cadência das antenas e dos apêndices quase até ao fascínio, depois nas patas e peças bucais da mesma cor e graciosidade. Quando a luz do dia desceu a partir da janela, levantou os olhos para fora da sala e acendeu o candeeiro, quando olhou de novo para a secretária, o pequeno grilo tinha desaparecido por entre os outros papéis espalhados na mesa de trabalho.
    A recordação de ternura por cada movimento do grilo, que caminhava indiferente e cândido aos registos ou à literatura entre os pesados volumes da história da língua, fê-lo regressar ao início das coisas, à persistência da memória, ao compasso assimétrico entre manter uma família e um espaço suficiente para uma descendência imaginária e a escolha solitária das ciências exactas e da escrita, numa reverência à história antiga.
    A sua casa era um jazigo do tamanho de um solar com 365 portas e janelas, mandado construir pelo avô, para harmonizar o trabalho do campo com a vida dos filhos e as estações do ano, que agora estava vazia de gente e forrada de livros para o isolar da passagem do tempo. Conhecia a grafia e a fonética de todos os alfabetos usados na Europa ocidental, para além do Árabe clássico e mesmo alguns dialectos africanos das colónias portuguesas. As suas viagens antes do isolamento não foram apenas uma perda irremediável de tempo ou de energia e trouxe consigo o peso de muitas vidas que tentava reproduzir contra os seus olhos cansados e as mãos trementes.
    Já o sol tinha descido abaixo do nível da janela quando começou a desenhar o grilo branco de memória e a seguir pegou ao acaso numa das folhas dos manuscritos, dobrou-a várias vezes até obter a figura aproximada de um grilo preenchido com letras de imprensa. Depois passou à sala onde mantinha a colecção de artrópodes em pequenas caixas de vidro e retirou com cuidado a pilha de livros que ocupava o vão da pequena janela, que o avô só usava nos anos bissextos e ficou de livros nos braços a olhar os campos de trigo e as papoilas complementares na mancha verde do ocaso. Pousou os livros e abriu a janela com esforço e sentiu o vento fresco de Abril na face cansada e deixou a folha de papel em forma de grilo no parapeito, para que fosse levada pela aragem da tarde. Quando voltou às borboletas, escaravelhos, coleópteros, aracnídeos e grilos pretos fixos com alfinetes, perdeu o sentido de utilidade nos dias passados a seleccionar, catalogar e conservar os animais para o arquivo encerrado naquela sala sem vida.
    Quando desceu as escadas a custo encontrou o caseiro à entrada com o chapéu torcido nas mãos e o rosto contraído, com o susto de ver a janela abrir-se num ano regular e o receio do patrão estar contrafeito com alguma coisa.
    Depois dessa tarde, o Homem, deixou de subir aos andares de cima, escolheu um dos quartos mais soalheiros no rés-do-chão, reabriu o salão de jantar e dedicou-se a ver passar o tempo no alpendre das traseiras e a apreciar o a azáfama da mulher e dos filhos do caseiro na horta ou das carroças dos aldeões no lado da estrada.
    Muitos anos depois da sua morte, um estudioso das bibliotecas e arquivos perdidos que vivia em França, farejou o rasto desse homem através de uma conversa ocasional escutada num bar de emigrantes portugueses, que descreviam essa casa com 365 portas e janelas, entulhada de livros e bugigangas até ao tecto. Esse professor e coleccionador exótico de livros antigos estava dado como perdido para os estudiosos na matéria, assim como toda a sua colecção, porque as referência apontavam para um território difuso entre Castela-Leão, Trás-os-Montes e as Beiras.
    Com o orçamento de um projecto de estudo para reencontrar a colecção, o estudioso decidiu embarcar no Sud-Express até ao local assinalado no mapa com o nome da terra escutado aos emigrantes, Castelo Branco. Quando chegou a Salamanca, depois de três dias de viagem nas liteiras entabulou conversa com um Engenheiro Civil português que regressava de um mês de férias em Paris e vinha maravilhado com a paisagem humana parisiense. Contou-lhe, ainda surpreendido, a entrevista com uma empregada de uma perfumaria com quem tinha passeado no Sena e o tinha demovido de ir à Ópera ver as Valquírias de Wagner, por ser uma peça muito longa e pesada, para um português acabado de chegar à cidade incandescente.
    Quando se aproximavam do entroncamento de Fuentes de San Esteban, o Engenheiro anunciou que ira sair e apanhar a ligação para Trás-os-Montes e o francês despediu-se dele com alguma pena por não poder prolongar a conversa, contou-lhe o motivo da viagem e o entusiasmo em estar tão próximo de encontrar a biblioteca de 365 portas e janelas. Nessa altura os olhos do Engenheiro brilharam e com uma pancada forte nas costas, disse-lhe que saísse já ali porque a casa ficava numa aldeia perto da fronteira e não na cidade da Beira Baixa.
    O francês ficou atrapalhado mas confiou na palavra e nas informações adicionais que o Engenheiro avançava sobre a casa cheia de livros e abandonada há vários anos, enquanto arrumava as malas e a roupa de viagem sob a excitação do outro. Era uma tarde fria de Junho que os esperava, quando ajudados pelos carregadores, entraram na carruagem de 1ª classe do comboio a vapor que seguiria até à linha do Douro.
    Depois de la Fregeneda, na zona dos precipícios, túneis extensos e pontes metálicas sobre o rio Águeda ao fundo, o francês começou a fartar-se das explicações matemáticas sobre a engenharia ferroviária e a recear pela segurança com as oscilações da pesada máquina a vapor sobre as passagens estreitas nas veredas. Depois da Barca d’Alva o comboio seguiu mais a direito e rente ao rio e aquele susto inicial deu lugar a um certo apaziguamento pela presença sideral da paisagem. Trocaram para uma automotora de via estreita na estação do Pocinho e deixaram o Douro para trás numa subida lenta e íngreme até ao planalto. Nessa altura o francês já tinha aceite o convite para pernoitar na casa do engenheiro em Carviçais e seguir no carro dele até Castelo Branco no dia seguinte.
    Foi uma noite longa, depois do jantar com os pais do Engenheiro no serão à lareira, o estudioso francês teve de satisfazer a curiosidade do pai e do filho que traduzia as inquietações do velho pelos maus exemplos que chegavam de França. A casa ficava mesmo ao lado da igreja pesada de granito e durante a noite teve dificuldade em adaptar-se ao o toque do relógio da igreja de 15 em 15 minutos. Na manhã seguinte acordou com o som das carroças e das ferraduras dos animais na calçada, levantou-se para tomar o pequeno almoço e não escondeu o espanto pela mesa com pratos cheios de batatas, feijão, carne de porco, couves, pão e vinho tinto.
    Arrancaram de barriga cheia, depois de uma pequena visita obrigatória pela aldeia e no resto do caminho o Engenheiro insistia em explicar os nomes e a história das aldeias por onde passavam. Cruzaram-se com o comboio na estação de Freixo de Espada-à-Cinta e com muitas pessoas que caminhavam descalças ou montadas nos burros pela estrada nessa manhã e ficaram na memória do francês.
    Viajavam devagar devido às curvas e à largura do caminho esburacado e por vezes o Engenheiro contava episódios da viagem a Paris e de como os achava muito cultos. Confessou que deixou os museus para quando estivesse reformado e queixou-se apenas dos empregados de balcão que exigiam sempre gorjeta e das prostitutas que só se despiam depois do dinheiro na mão.
    Quando passaram a placa com o nome da aldeia o francês começou a olhar em todas as direcções para encontrar o solar, mas uma carroça carregada de nabos que seguia à frente do carro impedia-os de ultrapassar. Nos breves minutos de impaciência, o estudioso francês ficou para sempre a lembra-se do olhar silencioso da mulher de negro sentada na carga, de frente para eles, com a cabeça coberta e o nariz disfarçado entre as rugas da cara escura, que extinguiam a voz esganiçada do Engenheiro e o atingiam num estremecimento que subia aos olhos. Depois a carroça cortou por um caminho à direita e desapareceu por trás de casas ou palheiros onde havia roupa estendida à porta.
    Quando o solar apareceu debruçado sobre a estrada os pensamentos do francês já estavam tão perturbados pelo cansaço da viagem e a ruína do país, que só reparou no casarão a contraluz pela cotovelada do Engenheiro. Estava abandonado, com uma parte do telhado caída mas uma fogueira próxima denunciava uma certa actividade.
    Quando saíram do carro em direcção ao portão, o relógio da aldeia dava o sinal do meio-dia e à volta da fogueira um homem preparava o almoço e protegia a cara das labaredas amarelas, azuis e esverdeadas, naquele dia de Primavera. Havia outros que transportavam cimento e tijolos para dentro da casa e o francês pediu ao engenheiro para lhes perguntar pelo dono da casa, enquanto reparava que as portas e as janelas escuras eram como órbitas de uma casa vazia. Depois encaminhou-se até à caixa de onde os trabalhadores tiravam gravetos para atiçar as chamas e começou a tropeçar em restos de livros espalhados pelo chão, com as páginas rasgadas e dissolvidas na lama. Desesperado pelos risos alarves dos homens numa língua que não compreendia, confirmou que estavam a alimentar a fogueira com livros inteiros que se consumiam em chamas de várias cores e crepitavam em línguas mortas e discursos ininteligíveis de pânico ou libertação.
    Atirou as mãos à cabeça e afastou-se da casa ao longo do muro a disparar nomes estrangeiros e frases incompletas até chegar ao início de um bosque fechado. Sem querer entrar na sombra voltou a olhar o casarão iluminado pelo sol forte do meio-dia e sentou-se na erva do terreno, com os joelhos encostados ao peito e rodeado pelo crepitar de grilos brancos que saiam das tocas e andavam de cá para lá, como se há muito não escutassem a vocalização característica da angústia num homem encurvado.
    Nota do editor:foto retirada da net

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  • fajã de Pedro Velho Santa Maria Açores

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    O SUL, A Fajã de Pedro Velho. Em tempos recuados o lugar que hoje conhecemos como Sul denominava-se Fajã Pedro Velho, por ser esse o nome do dono de aquele lugar. Pedro Velho era descendente de um sobrinho de Gonçalo Velho Cabral. Mais precisamente era neto de Nuno Velho Cabral Travassos e Melo (nasc. 1451), filho de Violante Velho Cabral irmã de Gonçalo Velho. Nuno Velho veio ainda criança para Santa Maria acompanhando o seu tio materno Gonçalo Velho. Do segundo casamento de Nuno Velho com África Anes nasceu Duarte Nunes Velho - pai de Pedro Velho que viria a dar o seu nome à fajã que hoje conhecemos como o Sul. Pedro Velho no seu testamento feito a 10 de Julho de 1587 ordena ser enterrado na igreja matriz na capela do Bom Jesus edificada pelo seu pai e vincula a terça dos seus bens em beneficio da sua alma nomeando administrador do vinculo o seu filho padre José Pimentel Velho. Este filho foi ouvidor eclesiástico em Santa Maria. A primitiva ermida de Nossa Senhora da Piedade na Malbusca foi por ele mandada edificar na propriedade que herdara de seu pai. Apesar desta ermida já não existir o local da antiga edificação está assinalado com uma cruz de pedra. O Padre José Pimentel Velho fez testamento a 6 de Maio de 1594 e mais tarde a 7 de Março de 1630 doou os seus bens a Bárbara Velho, casada com Estêvão Dias de Bulhões, "doou também uma escrava Ana, e Maria sua mãe, e Cosme, escravo baço, recomendando que não os vendam e os tratem bem." Um neto de Bárbara Velho, Padre Bartolomeu de Bulhões por escritura de 18 de Janeiro de 1674, viria a ser o proprietário das terras doadas pelo Padre José Pimentel Velho à sua avó, que incluíam a Malbusca, Sul, Zimbral e casas sobradadas na rua Direita de Vila do Porto (actual Rua Frei Gonçalo Velho). Bartolomeu de Bulhões mandou edificar a ermida de Nossa Senhora da Boa Morte na Fajã Pedro Velho. Em 1886 essa ermida seria construída no lugar do Panasco porque a primitiva, demasiado próxima do mar, fora destruída por um temporal.

    O SUL, A Fajã de Pedro Velho.
    Em tempos recuados o lugar que hoje conhecemos como Sul denominava-se Fajã Pedro Velho, por ser esse o nome do dono de aquele lugar. Pedro Velho era descendente de um sobrinho de Gonçalo Velho Cabral. Mais precisamente era neto de Nuno Velho Cabral Travassos e Melo (nasc. 1451), filho de Violante Velho Cabral irmã de Gonçalo Velho. Nuno Velho veio ainda criança para Santa Maria acompanhando o seu tio materno Gonçalo Velho.
    Do segundo casamento de Nuno Velho com África Anes nasceu Duarte Nunes Velho – pai de Pedro Velho que viria a dar o seu nome à fajã que hoje conhecemos como o Sul.
    Pedro Velho no seu testamento feito a 10 de Julho de 1587 ordena ser enterrado na igreja matriz na capela do Bom Jesus edificada pelo seu pai e vincula a terça dos seus bens em beneficio da sua alma nomeando administrador do vinculo o seu filho padre José Pimentel Velho. Este filho foi ouvidor eclesiástico em Santa Maria.
    A primitiva ermida de Nossa Senhora da Piedade na Malbusca foi por ele mandada edificar na propriedade que herdara de seu pai. Apesar desta ermida já não existir o local da antiga edificação está assinalado com uma cruz de pedra.
    O Padre José Pimentel Velho fez testamento a 6 de Maio de 1594 e mais tarde a 7 de Março de 1630 doou os seus bens a Bárbara Velho, casada com Estêvão Dias de Bulhões, “doou também uma escrava Ana, e Maria sua mãe, e Cosme, escravo baço, recomendando que não os vendam e os tratem bem.”
    Um neto de Bárbara Velho, Padre Bartolomeu de Bulhões por escritura de 18 de Janeiro de 1674, viria a ser o proprietário das terras doadas pelo Padre José Pimentel Velho à sua avó, que incluíam a Malbusca, Sul, Zimbral e casas sobradadas na rua Direita de Vila do Porto (actual Rua Frei Gonçalo Velho).
    Bartolomeu de Bulhões mandou edificar a ermida de Nossa Senhora da Boa Morte na Fajã Pedro Velho. Em 1886 essa ermida seria construída no lugar do Panasco porque a primitiva, demasiado próxima do mar, fora destruída por um temporal.

  • LOCOMOTIVA EM PDL 1901

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    Luis Filipe Franco shared a post to the group Info Açores.

    Sabia que em 1901 foi experimentada uma locomotiva que ligaria Ponta Delgada à Ribeira Grande?
    https://www.facebook.com/media/set/?set=oa.1424451097818356&type=1

     

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  • A incrível história de uma açoriana Josepha Mariana da Luz nasceu o 29 de outubro de 1723

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    A incrível história de uma açoriana
    Cultura
    A incrível história de uma açoriana
    RAQUEL DOMÍNGUEZ DE MINETTI

    Josepha Mariana da Luz é uma mulher açoriana, uma “isleña”. Ao evocar sua figura, acompanharei o roteiro dela: dos Açores a Minas Gerais, de Minas Gerais à Vila do Rio Grande e do Rio Grande a San Carlos, Maldonado, hoje Uruguai.

    Segundo sua certidão de batismo, sabemos que Josepha Mariana da Luz nasceu o 29 de outubro de 1723 na Ilha Terceira, nos Açores.

    Viera dos Açores acompanhada de seus pais, sabemos isto porque da certidão de batismo de seu filho Matheo, surge que seus pais encontravam-se aí. Não sabemos se já veio casada das Ilhas.

    Desde 1741, Josepha Mariana com seu marido – Manoel Correia Simões – batizam vários filhos em Minas Gerais: Congonhas do Campo e Mariana.

    Eu estive aí porque quería percorrer o caminho dela, ver as paisagens que seus olhos viram. A impressão que eu tive é que a história ficou parada no tempo.

    Ao redor de 1750, época do maior florescimento das minas de ouro e diamantes em Minas Gerais, com o marido e filhos pequenos, atravessou quase quinhentos quilômetros a lombo de mula, porque era o único meio de transporte, por florestas com animais selvagens, pântanos, arroios, rios, até chegar ao porto de Paraty, ou do Rio de Janeiro, que eram os únicos portos de saída para o mar.

    Acho que chegou por mar à Vila do Rio Grande.

    O que fêz que esta mulher, com marido e filhos, saísse de Minas Gerais? As condições para eles em Minas Gerais não eram as melhores? Tinham conhecimento de que o Rei de Portugal Dom João V, autorizara “casais” açorianos para ir povoar o Brazil, e que receberiam terras?

    O fato é que achamos Josepha Mariana da Luz desde 1752 batizando seis filhos na Vila do Rio Grande.

    De 1752 a 1763, nove anos na Vila do Rio Grande, seus olhos puderam olhar livremente desde o Atlântico ao Pampa Gaúcho!

    Já assentada no lugar, levando uma vida normal e corriqueira, a fins de 1762 ou princípio de 1763, na época que nasce seu filho Pedro, morre seu marido.

    Chega o ano 1763, abril, ao longe ouve-se o ressoar dos cascos dos cavalos, o tinir dos sabres. É a poderosa tropa do General espanhol Dom Pedro de Cevallos. A guarnição portuguesa retira-se.

    A população foge apavorada até a costa. Uns conseguem, em pequenas embarcações, cruzar a Barra da Lagoa dos Patos e chegar até o que é hoje São José do Norte.

    Embrenham-se no Estreito, entre eles vai Josepha Mariana da Luz, a terceira filha de nossa Josepha, casada há um ano com Manoel da Silva Machado. Esta gente chega aos casarios do Estreito, Mostardas, Viamão… Neste último lugar o Pároco introduz nas certidões de batismos como: “são casais que vieram fugidos do Rio Grande ao inmigo”, “nasceu em perigo no mar com o susto dos inimigos que entraram no Rio Grande”, (5 de junho de 1763, Lo 2 Batismos Viamão, Fo 25v).

    O General Cevallos decide levar as famílias açorianas que ficaram na Vila ou arredores, para Maldonado e funda com eles San Carlos. Estos açorianos foram chamados “isleños”. Com essas famílias vai a nossa Josepha Mariana da Luz, já viúva, com dez filhos. O mais novo, Pedro, tinha seis meses. Agora em carreta desloca-se outra vez. Cruza matos, banhados, serras, coxilhas, no meio do inverno.

    Assim achamos Josepha entre as famílias fundadoras de San Carlos.

    Em 1763 Josepha requereu terras à Coroa espanhola e lhe foram outorgadas. Por parte destas litigou com sua consogra, também chamada Josepha, açoriana e uma lutadora como ela.

    Josepha Mariana da Luz viveu na sua vida acontecimentos trágicos: no Rio Grande morre o marido num acidente, como já disse. Em 1772 em San Carlos morre a mãe caindo dum carro puxado por cavalos. Em 1803 o filho Manoel é assassinado e abrasado pelo fogo, com sua mulher e o filho de dezesseis anos.

    Mais nem tudo é tragédia. Lembram da filha de Josepha Mariana da Luz que fugiu com o marido quando aconteceu a “corrida espanhola”? Em 1764 ela batiza a filha Escolástica no Estreito. Escolástica casa em 1781 em Mostardas e teve uma filha chamada Joaquina. Encontramos a Escolástica casando por segunda vez na Vila de San Carlos, Maldonado, em 1787. Nesta certidão de matrimônio diz que ela é vizinha de San Carlos. Joaquina casou em 1799 em San Carlos com Felipe Silveira. Vemos assim que a filha Josepha, a neta Escolástica e a bisneta Joaquina com o tempo voltaram a San Carlos.

    As gerações tornam a encontrar-se após 20 anos! Desconheço se houve qualquer comunicação entre elas nesse tempo. Acho que sim porque o filho Manuel ía com os carros para levar trigo para o Rio Grande em poder dos castelhanos.

    Após lutar para vencer obstáculos físicos e espirituais, Josepha Mariana da Luz morre em San Carlos em 1813. Sua filha Josepha Mariana morre dois anos depois.

    Esta é a singela história de uma mulher nascida em uma ilha açoriana que viveu entre dois mundos, é também a história de tantas famílias levadas para América.

    (Título original: Uma Ilhoa açoriana de 1700; foto de uruguai.org)

    RAQUEL DOMÍNGUEZ DE MINETTI
    Notária
    Natural de Montevidéu, onde reside, descendente de açorianos fundadores de San Carlos, Uruguai, em 1763.
    “opinião”

     

    __._,_.__
  • ponta delgada anos 1920

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    No “História dos Açores”, um Filme dos anos 20? da Pathé sobre Ponta Delgada a não perder
    https://historiadosacores.tumblr.com/post/60497501935/1920s-ponta-delgada-ilha-de-s%C3%A3o-miguel
    1920s?, Ponta Delgada, Ilha de São Miguel Quotidiano do inicio de Século na cidade de Ponta Delgada. Neste filme da Pathé, podemos observar panorâmicas do porto e
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  • fotos antigas dos Açores 1910-1970

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    http://azores-postcards.blogspot.pt/2013/11/postcard-portugal-azores-acores-ponta.html

    Postcard PORTUGAL AZORES AÇORES PONTA DELGADA SÃO MIGUEL bus buses 1960s AZOREN | POSTAIS…

    
    são lourenço de santa maria 1970
    
    praia da vitória 1960
    
    calheta de s jorge 1960
    -- 7 cidades 
    furnas
    
    faial 
    
    
    
    
    e em 1910 era assim
    
    
    
    o pico visto da horta 
    Chrys Chrystello, 
    An Aussie in the Azores/Um Australiano nos Açores
      www.oz2.com.sapo.pt / www.lusofonias.net
  • a pedra de dighton

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    História dos Açores added a photo from 1 August 2013 to their timeline.
    2 de novembro de 1959, rio Taunton, Berkley, Massachusetts
    • Pedra de Dighton
      https://www.facebook.com/pages/Amigos-dos-Corte-Reais/558331347532207
      A Pedra de Dighton é um vestígio da presença portuguesa nos EUA, teoria que foi fortemente defendida a partir do século XX e que prova que os portugueses foram os pioneiros europeus a habitar os atuais EUA, nos inícios do século XVI.
      Segundo esta teoria, a Pedra de Dighton tem inscrições com o nome do terceirense Miguel Corte Real e o ano de 1511, além de ter as cruzes de cristo, símbolo do Portugal dos Descobrimentos.

    A partir de 11 de abril de 2013 nasceu os Amigos dos Corte-Reais.
    Os Amigos dos Corte-Reais procuram divulgar e perpetuar na memória dos portugueses no geral e nos terceirenses em particular a História da Pedra de Dighton e a sua ligação à Ilha açoriana, sobretudo no momento em que uma 6ª réplica foi concluída recentemente e estará em breve em Angra do Heroísmo, concretizando assim um sonho do Dr. Manuel Luciano da Silva, depois de várias décadas de combate. Assim, além do grupo, nasceu o sítio oficial (http://amigoscortereais.wix.com/cortereais), com toda a informação útil sobre o tema e a página de facebook (https://www.facebook.com/pages/Amigos-dos-Corte-Reais/558331347532207).

    Foto oferecida pelo Dr. Manuel Luciano da Silva
    (FMN)

    2 de novembro de 1959, rio Taunton, Berkley, Massachusetts - Pedra de Dighton https://www.facebook.com/pages/Amigos-dos-Corte-Reais/558331347532207 A Pedra de Dighton é um vestígio da presença portuguesa nos EUA, teoria que foi fortemente defendida a partir do século XX e que prova que os portugueses foram os pioneiros europeus a habitar os atuais EUA, nos inícios do século XVI. Segundo esta teoria, a Pedra de Dighton tem inscrições com o nome do terceirense Miguel Corte Real e o ano de 1511, além de ter as cruzes de cristo, símbolo do Portugal dos Descobrimentos. A partir de 11 de abril de 2013 nasceu os Amigos dos Corte-Reais. Os Amigos dos Corte-Reais procuram divulgar e perpetuar na memória dos portugueses no geral e nos terceirenses em particular a História da Pedra de Dighton e a sua ligação à Ilha açoriana, sobretudo no momento em que uma 6ª réplica foi concluída recentemente e estará em breve em Angra do Heroísmo, concretizando assim um sonho do Dr. Manuel Luciano da Silva, depois de várias décadas de combate. Assim, além do grupo, nasceu o sítio oficial (http://amigoscortereais.wix.com/cortereais), com toda a informação útil sobre o tema e a página de facebook (https://www.facebook.com/pages/Amigos-dos-Corte-Reais/558331347532207). Foto oferecida pelo Dr. Manuel Luciano da Silva (FMN)
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  • TESOUROS NA baía da HORTA (AÇORES)

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    Um documentário sobre o trabalho de arqueologia realizado na ilha do Faial que vale a pena ver..
    Tesouros da Baía da Horta – SAPO Vídeos

    videos.sapo.pt

    A jornalista Susana Silveira mostra na Reportagem Açores o trabalho de recuperação dos achados que decorreu durante quatro anos no Faial.
  • as mulheres de Gugunhana

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    Moçambique

    AS MULHERES DE GUNGUNHANA, POR MARIA DA CONCEIÇÃO VILHENA

    1. No último quartel do século XIX, nas terras do sul de Moçambique, entre os rios Incomáti e Zambeze, Gungunhana impunha-se como o maior potentado africano. Era o senhor do reino de Gaza, tinha mais de uma centena de vassalos e possuía uma enorme riqueza, constituída por ouro, marfim e rebanhos de gado. O seu prestígio político e social vinha-lhe ainda do facto de possuir entre 200 a 300 esposas: 40 viviam junto da corte e as restantes habitavam nas aldeias circunvizinhas. A aquisição de novas esposas fazia-se a um ritmo quase bimestral; e cada casamento era sempre causa de maior engrandecimento, por permitir novas alianças e atrair grande número de presentes. Era uma grande honra ter o régulo de Gaza como genro e protetor. Seria demasiado longo falarmos da vida que levavam estas mulheres em geral; por isso nos limitaremos às sete que acompanharam o marido no exílio.

    2. No dia 28 de Dezembro de 1895, após algumas tentativas de negociações e a derrota de Coolela, seguida do incêndio do Manjacaze, a capital de Gaza, Gungunhana foi feito prisioneiro em Chaimite, por Mousinho de Albuquerque. O oficial português deu então ordem ao régulo para que escolhesse sete de entre as suas mulheres, que o acompanhariam no seu incerto destino. Foram [seis] delas: Namatuco, Patihina, Muzamussi, Machacha, Xesipe e Dabondi. Feitas as suas poucas bagagens, lá seguiram os prisioneiros a pé durante algumas horas, até chegarem a Zimacaze, na foz do Chengane. Aí embarcaram na canhoneira Capelo, que os estava esperando e os transporta até Chai-Chai. A propósito deste embarque, queremos lembrar que, na cultura angune, havia um tabu proibitivo de entrar na água e comer peixe. Os prisioneiros devem, pois, ter sido invadidos pelo horror de viajar de barco, o que irá repetir-se, por várias vezes, até ao fim da deportação. Com os onze prisioneiros do Manjacaze (Gungunhana, o filho Godide, o tio Molungo, o cozinheiro Gó e as sete mulheres), embarcam também o régulo da Zixaxa e três mulheres deste, cuja sorte iria ser igual à dos outros. Em Chai-Chai, na foz do Limpopo, passam então para o navio Neves Ferreira, que os transporta até Lourenço Marques, onde chegam no dia 4 de Janeiro [de 1896]. Aí desembarcam e são mantidos na cadeia homens e mulheres, até serem levados para bordo do “África”, após o seu reconhecimento oficial, feito em público. Neste navio África fariam uma viagem de 60 dias, até Lisboa. As condições a bordo deviam ser péssimas, pois Gungunhana e seus companheiros, num total de 15 pessoas, ocupavam apenas dois compartimentos pequenos, escuros e mal arejados. Por razões de segurança, aí ficavam fechados à chave, sempre que o barco fazia escala em qualquer porto. E foi o enjoo, a asfixia, a imobilidade, a juntar à angústia da dúvida sobre o futuro que os esperava. Os jornalistas falam mesmo da tentativa de suicídio por parte de uma das mulheres…

    3. Na manhã do dia 13 de Março de 1896, desembarcam em Lisboa e são conduzidos em caleches descobertas, do Arsenal até ao forte de Monsanto. Lisboa em festa, a abarrotar de multidões ruidosas. O público, apinhado pelas ruas, empoleirado em postes, debruçado das janelas, aos magotes, como enxames, ri, grita, vaia eufórico. Dentro das carruagens, os prisioneiros olham temerosos e embaraçados; eles com ar estupefacto, perplexo; elas apontando, curiosas e divertidas. Nunca tinham visto casas tão altas, com varandas, ruas calcetadas, praças com fontes e estátuas. E tanta gente alegre, a observa-las, durante todo o percurso. As mulheres africanas parecem bem dispostas. Do Terreiro do Paço seguiu o cortejo pela Rua do Ouro, Avenida da Liberdade, São Sebastião da Pedreira, Sete Rios, Benfica, rumo a Monsanto. Por todo o lado, em todo o percurso, era aquela mole imensa de gente, às gargalhadas e a insultar. Porém o desconhecimento da língua portuguesa dava às prisioneiras a vantagem de não compreenderem o ódio e a ironia da arraia miúda e assim, na sua inocência, poderem continuar a sorrir. Era o dia 13, uma sexta-feira de céu cinzento. Se os africanos tivessem as mesmas superstições que os brancos, tanto bastaria para que os maus presságios agudizassem ainda mais a angústia que os atormentava. A tarde aproxima-se do seu fim, quando chegam ao Forte de Monsanto. São seis horas e, em Março, o sol está a esconder-se. As instalações onde são recebidas nada têm de semelhante àquelas casas que, na Baixa, as haviam deslumbrado. Passada a ponte levadiça, entram numa masmorra, onde a escuridão era quase total. As mulheres estão agora assustadas e o terror estampa-se-lhes no rosto. O quarto que lhes haviam destinado, encontrava-se seis metros abaixo da superfície. Espaço escuro, bafiento, mal cheiroso, húmido e frio. Suspiravam amedrontadas e foi necessário tranquilizá-las; mas continuaram a tremer de frio e talvez de medo. Assim as encontrou o médico encarregado de examinar o seu estado de saúde. São-lhes mostradas as camas e explicam-lhes como são utilizadas. Até então haviam dormido no chão, sobre esteiras. Convencidas finalmente de que não lhes iria acontecer mal, ao entrarem nas camas riram ruidosamente. Nesta fortaleza de Monsanto iriam ficar encerradas durante quatro meses, aproximadamente. Gente habituada a viver ao ar livre, em contacto com a natureza e em constante movimento, vê-se agora privada da largueza dos seus espaços e da quentura do seu clima; imóveis e geladas entre quatro paredes do calabouço, num entorpecimento do corpo e do espírito. Detestam a comida portuguesa e queixam-se constantemente de frio. Entretanto, aprendem a utilizar talheres e passam a usar vestuário europeu.

    4.Como passavam o tempo essas mulheres prisioneiras?
    Grande parte do seu dia era ocupado a pentearem-se, pois usavam um penteado artístico, alto, entre o cónico e o cilíndrico, que constituía um dos distintivos das mulheres grandes do Gungunhana. As mulheres pequenas, ou seja, as rainhas de segunda classe, não tinham o direito de usar esse tipo de penteado. Quanto à favorita, tinha outra ocupação, pois cabia-lhe o dever de manter sempre brilhante a coroa de cera que o marido usava e que era tecida no próprio cabelo. Além disso, dedicavam-se ao artesanato, fazendo pulseiras e colares de missangas, artisticamente trabalhados. Ao princípio, a monotonia dos dias foi quebrada pelas muitas visitas que recebiam. As esposas de ministros, ou de outras altas individualidades, conseguiam a autorização do Ministério da Guerra e iam até Monsanto, entravam nos calabouços, sorriam, levavam presentes. Por curiosidade ou para cumprir o dever de visitar os presos. Não conheciam a língua, mas comunicavam por gestos de simpatia. Ofereciam fruta e doces, objetos variados, pequenos nadas que davam prazer. Um jornalista referiu uma vez a agilidade e delicadeza com que uma dessas mulheres prisioneiras calçou umas luvas que acabava de receber. Com tanta facilidade e perfeição como se a isso estivesse habituada de longo data; e um dia em que uma senhora lhes ofereceu flores, com elas adornaram alegremente os seus penteados. As prisioneiras mostravam aos visitantes os seus trabalhos em missangas, com cores variadas e caprichosos desenhos. Estes apreciavam, elogiavam-lhes a arte, sorriam. Mas um dia acabaram-se as visitas, por o ministério as ter proibido. E então foi a solidão total. Tensão, crises de mau humor, cólera, emoções descontroladas, transgredindo assim a contenção imposta pela disciplina militar. O recluso tem de obedecer, mas os nervos começam a dar sinais de fadiga. Há gritos e ameaças, intervenção das forças da ordem. As mulheres choram, os homens são punidos. Era muito difícil, para um rei déspota e violento como Gungunhana, a renúncia calma ao prestígio de que gozara e a aceitação submissa do vencedor português. Cada vez mais angustiado e atormentado pelo receio da condenação à morte, Gungunhana atinge o limiar das suas forças. Adoece gravemente e tem de ser hospitalizado. A sua partida para o hospital impressionou de tal modo as rainhas, que estas quase deixaram de comer. Algumas delas adoeceram mesmo e o médico chegou a propor o seu internamento. No dia em que o marido regressou recuperado, foi grande a alegria das esposas, traduzida em carícias, gargalhadas e gritos de prazer que entoaram pelas celas. De repente a imprensa deixa de se interessar pelos prisioneiros africanos. O encanto da novidade tinha-se extinguido; e agora nada mais saberemos a seu respeito, a não ser que passaram os meses de Abril, Maio e Junho, na mais horrível solidão. Dias a decorrer na penumbra, incertos de futuro, exíguos de espaço, longos de monotonia, húmidos e frios. Até que, no dia 23 de Junho [de 1896] os jornais anunciam a partida do Gungunhana e dos seus três companheiros, na véspera, para os Açores. E as mulheres? Não partem, por enquanto. Apesar das visitas simpáticas que haviam recebido, a sociedade lisboeta havia-as rejeitado, escandalizada com a poligamia. Para acabar com o pecado, as autoridades haviam decidido separá-las do marido. Segundo contam os jornalistas, foi muito dolorosa a separação, nesse dia 22 de Junho, pelas 7 horas da manhã. Eles a tremer, de lágrimas nos olhos, convencidos de que iam ser mortos. Elas sem quererem separar-se deles, chorando, gritando, lamentando-se. Esquecidas pela multidão que antes rodeava o forte, abandonadas aparentemente pelas autoridades, a solidão destas mulheres tornou-se insuportável. Tiraram-lhes os seus companheiros; e ali ficam sozinhas, de 22 de Junho a 6 de Julho. Duas longas semanas de dor, de dúvida, de solidão e de medo. Caídas numa apatia total, nem forças tinham para qualquer eventual acesso de fúria. Era a segunda desagregação familiar que sofriam. A voz do sangue silenciada por razões de ordem moral e política. Desprevenidas, indefesas, arrancadas a laços e raízes, elas esperam não sabem o quê. Finalmente vem do Ministério a decisão: despachá-las para a ilha de São Tomé. Pelas 5 horas da manhã do dia 6 de Julho recebem então ordem para se vestir e partir. O sofrimento que deixam transparecer é tão grande que os próprios jornalistas se sentem comovidos e revoltados: “pobres expatriadas”que pareciam nem ter forças para se vestir. Ninguém para se despedir delas. À chegada, estavam as ruas cheias de gente, havia movimento e alegria; agora, à partida, é o desconsolador abandono total.

    5. Transportam-nas até ao Arsenal e embarcam-nas no paquete São Tomé. Já no beliche, impressionam por um silêncio desolador. Umas estendidas, de olhos fechados, como se dormissem, outras, acocoradas e lacrimosas, olhando os circunstantes com pavor; duas recusavam-se a mostrar o rosto. Debilitadas pelo entorpecimento de quatro meses, dilaceradas pelo martírio da dúvida, refugiavam-se num mutismo impregnado de horror, receio e solidão. A separação dos régulos africanos das suas esposas, e o envio destas para São Tomé, parece ter sido a resposta a uma campanha de moralização, levada a cabo por um grupo de senhoras de bem, revoltadas contra a poligamia dos negros. Era, pois, uma campanha autorizada, promovida e apoiada por pessoas de bons costumes, que consideravam a presença daquelas mulheres como um insulto à moral pública. Além disso, sendo os Açores uma terra de grande religiosidade e pureza (salvaguardada e assegurada pelas casas de prostituição…), o governo não poderia permitir uma tal promiscuidade. A separação foi, pois, uma operação de limpeza, imposta pela moral tradicional. Digamos a propósito termos a notícia de que, nos Açores, os prisioneiros africanos eram levados, regularmente, às casas de prostituição da cidade de Angra do Heroísmo. Referem alguns jornalistas que se tentou convencer Gugunhana à monogamia. Como a moral portuguesa só admitia, publicamente, uma mulher, o régulo teria de escolher uma entre as sete e repudiar seis; o que, para estas, seria uma humilhação insuportável. Gungunhana amava-as todas igualmente; e não sabia nem quis escolher uma, pois cometeria para com as outras uma afronta que ele nunca se permitiria. Por isso foi firme e enérgico, coerente com os seus princípios. Tendo-se recusado a escolher uma, a separação foi inevitável. Bem pediu o régulo, bem suplicou, mas de nada lhe serviu. Jornais houve que protestaram contra esta decisão, prevendo para Gungunhana uma lenta agonia, minado de uma saudade e tristeza que lhe encurtaria os dias; o que realmente se deu. Nada, porém, abalou as cúpulas; e as suas ordens foram integralmente cumpridas. E lá partem para São Tomé, sozinhas, vazias de sonho, sem ninguém que lhes acene com o lenço da amizade; lá seguem pela imensidão de um mar revolto, sem ninguém que lhes estenda a mão da solidariedade, sem ninguém que lhes dirija um gesto de compreensão. Um jornalista comenta: “Em São Tomé, que sorte desgraçadíssima vão ter? Não seria mais justo, e muitíssimo mais digno, enviá-las para a sua terra natal, de onde nunca deveriam ter saído?!” Era muito grave, aqui no continente, ser-se acusado de “propensões benévolas” para com o Gungunhana. Para se tomar o partido deste, era necessário não só muita coragem, como carecia de um preâmbulo filosófico, moral e religioso, com apelo à caridade. De contrário, corria-se o risco de ser acusado de traição à pátria. Ou de imoralidade. Ou de atentado aos princípios cristãos. Só depois de tomadas todas essas precauções, a Folha do Povo arrisca criticar e condenar ferozmente o comportamento do Ministério da Guerra, que acusa de iníquo e cruelmente bárbaro. Igualmente encontramos críticas violentas no Jornal do Comércio, onde um jornalista, sob o pseudónimo de Fernão Lopes, põe em realce a hipocrisia do governo, escudado no que chama “escrúpulos religiosos” tardios. Fernão Lopes termina o seu artigo relembrando a maneira correta e hospitaleira como os portugueses foram sempre recebidos por homens e mulheres da corte de Gungunhana.

    6. Passados doze dias de náusea e imobilidade, as mulheres chegam a São Tomé e são entregues ao governador da ilha. Em que vão ocupá-las? Em São Tomé havia então um mundo confuso de imigrantes, vindos dos mais variados pontos de África, das mais diversas tribos, odiando-se por vezes. Basta olharmos as listas das levas que chegavam ou partiam, para nos darmos conta dessa variedade. Em comum, tinham apenas a cor da pele; e o trágico destino da falta de trabalho. Falavam dialetos diferentes e desconheciam-se entre si. Foi para o meio desta confusão que as rainhas destronadas foram levadas. Que destino lhes foi dado? A Folha do Povo, de 13 de Novembro desse ano de 1896, e respondendo a vários jornais de Lisboa, dá-nos algumas informações. Recordemos que, juntamente com as sete mulheres de Gungunhana, se encontravam mais três, as do régulo Zixaxa, suas companheiras de infortúnio desde o início do exílio. Eram, pois, dez ao todo. Segundo o citado jornal, oito destas mulheres estavam colocadas no hospital civil e militar; e as duas restantes no palácio do Governo. Constava pouco ou quase nada fazerem; e o articulista lamenta que, dado a falta de braços em São Tomé, as não tenham empregado “em qualquer trabalho útil, mediante remuneração condigna”. Vem a propósito lembrar que se tratava das mulheres grandes do régulo, isto é, as de mais elevada categoria social na hierarquia feminina, que tinham ao seu serviço as mulheres pequenas, espécie de ecónomas encarregadas de dirigir os bandos de escravos a trabalhar na corte. Eram, portanto, rainhas que nada costumavam fazer e sem hábitos de trabalho. J. F. Marques Pereira, na obra intitulada No Tempo de Gungunhana, publicada três anos mais tarde (1899), diz que as mulheres foram para São Tomé “servir de mancebas, em amiganços baratos, e para acarretar pedras”. E António Pedro de Vasconcelos no filme Aqui d’ El-Rei, faz dizer a uma das personagens que elas foram levadas para um “bordel do exército”. Não encontramos documentos oficiais que nos permitam negar ou confirmar tais informações. Tratava-se de mulheres que só interessaram enquanto rainhas de um reino cobiçado pelos europeus. Destronado e preso o soberano, perdidas as esposas no meio da massa anónima santomense, o governo, não vendo nelas qualquer perigo, deixava-as cair no esquecimento.

    7. Em São Tomé, as rainhas africanas dos reinos de Gaza e da Zixaxa foram ultrapassadas e absorvidas pela história. Quinze anos de esquecimento; quinze anos de trabalho silencioso, de dor ignorada, de sofrimento mudo que levaria três delas à morte. Num silêncio de deserto, as rainhas tinham sido tornadas escravas submissas, feitas consentimento e conformismo. Enigmas de uma grandeza descaída. Mas em 1910 é implantada a república; e muita coisa vai mudar. Alguém se lembra dessas mulheres exiladas e decide que regressem ao país. Comédia eleitoralista ou desejo de reparação? Gungunhana já havia falecido em 1906. A ordem de repatriamento, em 1911, foi sem dúvida recebida com euforia; era a esperança do regresso a casa que renascia. Só que já não havia casa. Nem país. Gaza tornara-se num distrito da colónia de Moçambique. Os familiares tinham-se espalhado, cada um para seu lado, alguns presos, outros refugiados no estrangeiro. Era a desintegração progressiva dos pequenos estados indígenas e a substituição dos costumes africanos pelos europeus. Desconfiadas, assustadas, sem o elo de união que era o marido, só o medo as irmanava agora; e cada uma vai para seu lado.

    8. Eram sete, regressavam quatro. As três mais vulneráveis haviam atingido o limite que desemboca na morte: Muzamussi, Dabondi e Fussi haviam ficado sepultadas em terra santomense. Patihina volta a casa, mas o medo lavra na família e ela decide fugir para o Transval, com o filho Tulimahanche. Foram juntar-se aos milhares de emigrados de Gaza, amigos e familiares de Gungunhana, que se haviam fixado em Spelonken. Tulimahanche seria, em 1932, o chefe de um dos dois grupos de exilados angunes que aí existiam então. Namatuco, Chlézipe e Machacha traziam filhos arranjados em São Tomé, nos quinze anos de exílio; filhos que, nada tendo com Gungunhana, não corriam o risco de vir a ser presos pelos portugueses. Por isso não recearam em fixar-se na região onde tinham vivido anteriormente: Chaimite, Chibuto e Chai-Chai, respetivamente. Tinham cumprido plenamente o destino ancestral da mulher: resignar-se e sofrer, numa passividade submissa. Já no seu país, continuarão a cumprir o mesmo destino, como “criadas de servir”.

    9. E terminamos. Com este trabalho, tivemos a intenção de dar som às vozes silenciosas de mulheres que sofreram cruelmente no todo das suas vidas, o que de mais negativo pôde haver no encontro da cultura africana com a cultura europeia. Mulheres esquecidas, relegadas para a periferia da história, quando elas estavam, afinal, bem no centro dessa história. Elas eram as rainhas do império de Gaza, onde tinham exercido uma importante função política. Elas eram as esposas do então maior potentado da África austral, pelo que pagaram com quinze anos de exílio. Moralmente mutiladas, elas foram as vítimas inocentes de um evoluir da história africana, provocado por decisões e projetos da Europa, os quais levaram a alterações sócio-políticas que as afetaram no mais fundo das suas idiossincrasias. Desfeita a sua vida privada, desagregada a sua família, estas mulheres tornaram-se o símbolo de uma África desmoronada e dividida por ideologias levadas da Europa.

    *Autora de Gungunhana no Seu Reino, Gungunhana, entre outros

     

    extraido de diálogos lusófonos

  • Textos Medievais /Portugal D.Dinis

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    Textos Medievais /Portugal D.Dinis…Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza …
    1298 — Início da construção da catedral de Barcelona. (Fevereiro) Cortes de Valhadolid: as hermandades de vários concelhos castelhanos pedem o auxílio de D. Dinis para combater o infante D. João e os nobres que o apoiavam. (Maio) Nomeação do primeiro conde territorial português, João Afonso de Albuquerque, conde de Barcelos. (Julho) D. Dinis dirige-se com suas tropas a Castela, encontrando-se em Toro e em Mota del Marqués com o infante D. Henrique. Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza: a rainha recusou. (Agosto e Setembro) D. Dinis permanece no Sabugal, aguardando o evoluir dos acontecimentos castelhanos. D. Judá, rabino-mor de Portugal e ministro das finanças de D. Dinis, empresta 6.000 libras a D. Raimundo de Cardona, para a compra da cidade de Mourão.

    Textos Medievais /Portugal D.Dinis…Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza …
    1298 — Início da construção da catedral de Barcelona. (Fevereiro) Cortes de Valhadolid: as hermandades de vários concelhos castelhanos pedem o auxílio de D. Dinis para combater o infante D. João e os nobres que o apoiavam. (Maio) Nomeação do primeiro conde territorial português, João Afonso de Albuquerque, conde de Barcelos. (Julho) D. Dinis dirige-se com suas tropas a Castela, encontrando-se em Toro e em Mota del Marqués com o infante D. Henrique. Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza: a rainha recusou. (Agosto e Setembro) D. Dinis permanece no Sabugal, aguardando o evoluir dos acontecimentos castelhanos. D. Judá, rabino-mor de Portugal e ministro das finanças de D. Dinis, empresta 6.000 libras a D. Raimundo de Cardona, para a compra da cidade de Mourão.

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