Várias pinturas do século XII mostram quatro mulheres que dão chutes em uma bola colorida. Em 2004, a FIFA concluiu oficialmente que o país asiático é o berço do futebol
se quiser saber as razões de o haiti ser assim leia adiante nesta crónica de 2010
1. CRÓNICA 80 – DO HAITI A VIRIATO E SERTÓRIO – 22 janº 2010
80.1. HAITI
Há dias ouvi a frase bíblica “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” [Mt 22: 14] e perguntei-me por que os cidadãos do Haiti têm sido chamados tantas vezes. Agora com os terramotos que devastaram a metade da ilha interrogo-me sobre a história do país.
Haiti, em português, oficialmente Repiblik Ayiti, uma parte da ilha de Hispaniola, nas Grandes Antilhas, que partilha com a República Dominicana. Ayiti (“terra de altas montanhas”) era o nome indígena dado pelos nativos taínos.
Em francês o país é “A Pérola das Antilhas”, pela sua beleza natural. O ponto mais alto é Pic la Selle, 2 680 m. É o terceiro maior país do Caribe (depois de Cuba e da República Dominicana), com 27 750 km2, 10,4 milhões de habitantes, um milhão na capital, Porto Príncipe.
A posição histórica e etnolinguística do Haiti, são únicas. Quando conquistou a independência em 1804, e se tornou a primeira nação independente da América Latina, foi o único país do mundo resultante de uma revolta de escravos bem-sucedida e a segunda república da América.
É o mais pobre da América. A Revolução durou quase uma década; todos os primeiros líderes do governo foram antigos escravos.
Em fevereiro 2004, um golpe de Estado forçou a renúncia e o exílio do Presidente Jean-Bertrand Aristide. Um governo provisório assumiu o controlo sob a Missão da ONU. Michel Martelly, atual Presidente, foi eleito nas eleições gerais de 2010.
80.2. OS PECADOS DO HAITI
Li este artigo e gostei “Os pecados do Haiti”, 15 janeiro 2010 por Eduardo Galeano[1]
Em 1803, os negros do Haiti causaram tremenda derrota às tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa não perdoou a humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Então, começou o bloqueio e a nação recém-nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia. Nem mesmo Simão Bolívar, quando já havia derrotado a Espanha, graças ao apoio do Haiti que lhe tinha entregue sete navios, muitas armas e soldados, com a única condição que Bolívar libertasse os escravos.
Os EUA reconheceram o Haiti sessenta anos depois do final da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um génio francês da anatomia, descobria que os negros são primitivos porque “possuem pouca distância entre o umbigo e o pénis”.
A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, como modo de perdoar o delito da dignidade. A história do assédio contra o Haiti, que em nossos dias tem dimensões de tragédia, é também una história do racismo na civilização ocidental. Os EUA invadiram em 1915 e governaram até 1934.
Retiraram-se quando alcançaram os objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e revogar o artigo que proibia a venda de terras aos estrangeiros. Um dos responsáveis pela invasão, elaborou: “… é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que os franceses deixaram”.
O Haiti havia sido a pérola da coroa, Montesquieu havia explicado: “O açúcar seria demasiado caro se não trabalhassem os escravos, que são negros desde os pés até a cabeça e têm o nariz tão achatado, que é quase impossível ter deles alguma pena. Resulta impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma boa num corpo inteiramente negro”. Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do feitor. Karl von Linneo, havia retratado o negro com precisão científica: “Vagabundo, desocupado, negligente, indolente e de costumes dissolutos”.
A democracia haitiana recém-nascida, na festa de 1991, foi assassinada pelo golpe de estado do general Raul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou.
Depois de terem colocado e retirado ditadores militares, os EUA depuseram o Presidente Jean-Bertrand Aristide, eleito por voto popular, o primeiro em toda a história e que teve a louca aspiração de querer um país menos injusto.
Aristide regressou acorrentado para retomar o governo, mas proibiram-no de exercer o poder. O sucessor, René Préval, obteve 90% dos votos, mas qualquer burocrata do FMI ou do Banco Mundial tinha mais poder.
Os EUA, o Canadá e a França, conspiraram abertamente durante quatro anos para derrubar o governo eleito do Haiti cortando toda a ajuda internacional ao país com o objetivo de destruir a economia e torná-lo ingovernável.
A política dos EUA também ajudou a destruir a agricultura haitiana, ao forçar a importação de arroz americano subsidiado e eliminar milhares de plantadores haitianos. Para os que se indagam por que não existem instituições haitianas para ajudar com os socorros e ajuda às vítimas do terremoto, essa é uma das razões.
Ou o porquê de haver 3 milhões de pessoas amontoadas na área atingida. Antes do terremoto, a situação do Haiti era comparável à de muitos sem-abrigo nas ruas de grandes cidades dos EUA: pobres demais e negros demais para terem os mesmos direitos.
Em 2002, um golpe militar com o apoio dos EUA, afastou o governo eleito da Venezuela, mas a maioria dos governos no hemisfério reagiu rapidamente e ajudou a forçar o retorno do governo democrático. Dois anos depois quando o Presidente haitiano democraticamente eleito, Jean-Bertrand Aristide, foi sequestrado pelos EUA e levado para o exílio na África, a reação foi fraca.
Após dois séculos de saque e pilhagem do Haiti desde a fundação na revolta de escravos em 1804, da ocupação brutal por fuzileiros navais dos EUA e das incontáveis atrocidades cometidas sob ditaduras, auxiliadas e apoiadas por Washington, o golpe de 2004 não pode ser relegado ao esquecimento.
Como cantou em tempos Caetano Veloso, “O Haiti não é aqui”.
[2] Folha de S. Paulo 19/01/2010, adaptado de um artigo de Mark Weisbrot, doutor em economia pela Universidade de Michigan, é Codiretor do Centro de Pesquisas Económicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net ).
Feliz por saber que a arquidiocese de Rangum e o Departamento de Arqueologia do Ministério da Cultura de Myanmar iniciaram há semanas as tão pedidas obras de conservação da igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Portugueses. O templo, construído no início do século XVII, foi abandonado no século XVIII por ocasião da chegada à Birmânia dos Barnabitas de Milão e dos missionários franceses, sendo lentamente tragado pela natureza e mais recentemente invadido por uma empresa de petróleos.
Feliz por saber que a arquidiocese de Rangum e o Departamento de Arqueologia do Ministério da Cultura de Myanmar iniciaram há semanas as tão pedidas obras de conservação da igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Portugueses. O templo, construído no início do século XVII, foi abandonado no século XVIII por ocasião da chegada à Birmânia dos Barnabitas de Milão e dos missionários franceses, sendo lentamente tragado pela natureza e mais recentemente invadido por uma empresa de petróleos.
História desconhecida de Portugal: os escravos açorianos no Brasil
É um dos episódios mais negros da história de Portugal. Fugindo da miséria, atraídos por falsas promessas, muitos açorianos acabaram escravizados no Brasil.
“Todos nós sabemos que está saindo uma imensidade de cidadãos portugueses para o Brasil; que vão ali ser vendidos, e ser escravos dos brasileiros, substituindo o lugar dos negros; e então ao passo que todas as nações da Europa estão empenhadas em evitar o tráfico da escravatura negra, parece-me que mais direito temos de tratar de evitar o tráfico da escravatura branca; da escravatura de cidadãos portugueses”. Em discurso às Cortes portuguesas, em 1840, o deputado Sá Nogueira expressava a preocupação pública com um pernicioso fenómeno que atingia particularmente as ilhas açorianas: a emigração ilegal de milhares de colonos com destino ao Império do Brasil.
Açores
Desde pelo menos o século XVII, o arquipélago dos Açores – composto por nove ilhas situadas no oceano Atlântico norte – fornecia colonos para o povoamento de algumas regiões do território brasileiro, como Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Se esta emigração inicial era dirigida e organizada pela Coroa, ao longo do século XIX, especialmente após a independência do Brasil, tornou-se uma emigração livre e espontânea, ou seja, os açorianos partiam em busca de melhores condições de vida.
Açores
Nos Açores, a miséria dos camponeses e dos pescadores era avultada, empurrando milhares de indivíduos para outras paragens. As dificuldades tornavam-se ainda mais agudas com as graves catástrofes naturais que atingiam as ilhas, como terremotos e temporais, seguidas de crises de subsistência. Além disso, muitos jovens compartilhavam de uma visceral aversão ao cumprimento do serviço militar.
Açores
Ao fugir ilegalmente – sem passaporte e à mercê de intermediários, os “engajadores” – os açorianos acabavam por deparar-se com novas formas de miséria, de dependência e de exploração. As viagens, nos veleiros, eram muito longas e penosas, sobretudo para os passageiros clandestinos. Estes amontoavam-se ao relento, fustigados pelas intempéries ou pelo sol escaldante, ou aglomeravam-se em pequenos espaços imundos nos porões, sem arejamento ou condições de higiene. Durante dois meses ou mais, sofriam a falta de alimentos e de água potável – o que, tudo somado, motivava doenças graves, por vezes fatais.
Ilha Terceira, Açores
Iam presos a um contrato que, sendo lucrativo para os intermediários, representava uma autêntica armadilha para os emigrantes. Os fazendeiros pagavam o preço da viagem adiantado, e este era convertido numa dívida (muitas vezes inflacionada) a ser descontada do futuro ordenado dos colonos. Na prática, eles se tornavam propriedade dos fazendeiros e, em sua maioria, nunca mais regressavam à terra natal, sujeitando-se a desumanas condições de vida e de trabalho – chegando a não ter outra remuneração além da comida. Salvo raras excepções, eram analfabetos e, por isso, enganados mais facilmente: não sabiam contar, não conheciam a moeda e acabavam por ficar vinculados ao patrão durante longos anos, ou mesmo por toda a vida.
Açores
Quando se tratava de grupos numerosos, com cem ou mais passageiros ilegais, as partidas efectuavam-se na calada da noite, propícia também à prática do contrabando. Se os grupos eram pequenos, embarcavam de madrugada. A geografia insular facilitava: escolhiam-se baías, enseadas, rochedos isolados, de acesso difícil e sem qualquer tipo de iluminação, para partir em pequenas embarcações pesqueiras cujos mestres lucravam com isto. Os navios, com capitães que acobertavam o tráfico, velejavam perto das ilhas, recebendo os emigrantes em alto mar. Autoridades e a imprensa denunciavam o uso de enormes fogueiras nas montanhas para sinalizar à tripulação dos veleiros a partida de mais uma embarcação carregada de emigrantes clandestinos. Houve ainda notícias sobre jovens que iam a bordo de navios legais despedir-se de familiares e que acabavam por se esconder, partindo sem documentos ou bagagem.
Açores – Javier Garcia
Não é possível contabilizar o número de pessoas que se arriscavam na emigração ilegal, mas apenas entre 1855 e 1859 o cônsul português no Rio de Janeiro detectou a entrada de 1.203 passageiros clandestinos contra 452 legais, todos oriundos dos Açores. A cidade era a porta de entrada da maioria dos açorianos. Alguns ficavam na cidade ou nos arredores, muitos outros iam para fazendas no interior. Em menor número, seguiam para São Paulo e Santos, e ainda menos para Bahia e Pernambuco. A proibição do tráfico negreiro, em 1850, aumentara a necessidade de mão de obra no Brasil. Era imperativo angariar imigrantes que garantissem a exploração da terra e o incremento económico do país. Ainda que nem todas as autoridades tivessem má intenção, na realidade deixavam ocorrer inúmeras ilegalidades, chegando a ponto de permitir que os recém-chegados não fossem obrigados a comparecer nos respectivos consulados.
Foto: Rick Wilhelmsen
O fenómeno da emigração ilegal, associado ao grave esvaziamento demográfico do território português, tornou-se tema central de debates parlamentares e de editoriais e artigos da imprensa, acentuando um discurso dramático que enfatizava as “desgraças” a que se sujeitavam os emigrantes, mas que tendia a ignorar as verdadeiras razões daqueles que procuravam partir. “Os moços robustos e válidos empregam-se no serviço de carroças e vacarias, e nestas a maior parte deles são açorianos. Vivem quase sempre na imundice, dormem em cortiços, sem ar nem luz, e aí as doenças, as epidemias e as mortes”, relatava uma carta recebida do Rio de Janeiro, publicada, em 1876, no periódico açoriano O Picoense.
Açores
A expressão “escravatura branca” surgiu provavelmente na década de 1830 – ao que parece usada, pela primeira vez, pelo secretário de Estado José Maria Campelo – visando designar o tráfico de emigrantes, em especial do norte de Portugal e das ilhas da Madeira e dos Açores. A emigração clandestina era alvo de críticas e gerava indignação, mas havia poucos meios para combatê-la. Nem as autoridades portuguesas atuavam com eficácia para reprimi-la, nem as autoridades brasileiras se empenhavam em combater os abusos dos senhores sobre a mão de obra imigrante, que vinha substituir os escravos devido às restrições impostas ao tráfico negreiro.
Lagoa das Sete Cidades – Açores
Apesar do alarmismo exacerbado de certa imprensa local, a preocupação de muitos jornalistas açorianos era a de denunciar os navios que se envolviam no “tráfico de gente branca” – como o célebre patacho Arrogante, que em 1854 suscitou intensos debates parlamentares – e os horrores sofridos pelos emigrantes clandestinos, de modo a desmotivar os que ficavam nas ilhas destas perigosas aventuras. A imagem do brasileiro de “torna-viagem”, ou seja, do retornado emigrante enriquecido, era tida como prejudicial, pois estimularia novas fugas. Estes, na realidade, eram uma minoria que não espelhava a sorte dos açorianos no Brasil.
Açores
Por tudo isso, e não obstante as dificuldades reconhecidas pela imprensa, fazia-se necessária uma imediata actuação por parte das autoridades de forma a combater ou a mitigar os flagelos decorrentes da emigração clandestina. Sugeria-se a promulgação de leis, a fiscalização das embarcações, o controle sobre a hierarquia das autoridades, acções de sensibilização e de propaganda, conforme já faziam alguns jornais. O combate à emigração clandestina e à “escravatura branca” tornava-se um verdadeiro desígnio nacional português.
Angra do Heroísmo
Apesar dos sucessivos governos promulgarem abundante legislação nas décadas de 1840, 1850 e 1860, visando controlar e reprimir o fenómeno, muitas das medidas não foram eficazes. As pessoas continuaram a contornar as leis, partindo sem se apresentarem às autoridades para requerer passaporte, o que no meio insular não era difícil. O desejo de uma vida mais próspera as impedia de se acautelarem contra as falsas promessas dos engajadores, que se beneficiavam da negligência das autoridades. A falta de meios para uma fiscalização eficaz e a longa distância entre Portugal, os Açores e o Brasil agravavam ainda mais os já complexos factores que levavam à emigração clandestina.
Parque Terra Nostra
Ainda no final do século XIX, a emigração clandestina e as práticas fraudulentas a ela associada continuavam a preocupar as autoridades portuguesas, ainda que a expressão “escravatura branca” fosse menos utilizada. Embora muitos governantes e deputados defendessem que a emigração portuguesa devia ser canalizada para as colónias de África, os açorianos continuavam a rumar para outras paragens, como o Brasil, o Havaí e os Estados Unidos.
Susana Serpa Silva é professora da Universidade dos Açores e coordenadora do livro Um Passaporte para a Terra Prometida (Cepese / Fronteira do Caos Editores, 2011).
QUANDO ACHAREM, SENHORAS,
que não estão no vosso melhor, pensai na princesa Qajar da Pérsia, responsável pelo suicídio de 13 garbosos pretendentes, por ela rejeitados. Animai-vos, pois.
QUANDO ACHAREM, SENHORAS,
que não estão no vosso melhor, pensai na princesa Qajar da Pérsia, responsável pelo suicídio de 13 garbosos pretendentes, por ela rejeitados. Animai-vos, pois.
leia mais sobre este tema na 4ª edição de CRÓNICAS AUSTRAIS CAP 8 PG 200+
https://blog.lusofonias.net/?page_id=58622
TAMBÉM EM https://www.lusofonias.net/arquivos/429/OBRAS-DO-AUTOR/1007/CRONICAS-AUSTRAIS-1978-1998-4%C2%AA-ed-2015.pdf
na 3ª edição de crónicas austrais em
https://meocloud.pt/link/0f0a8471-d488-48d7-9889-65fcedbb0359/CR%C3%93NICAS%20AUSTRAIS%201978-1998%203%C2%AAed%20livro.pdf/
também em 4ª edição aqui https://www.lusofonias.net/textos.html#
O português uruguaio é um idioma oral, com origem no português rural, e concordâncias verbais e nominais variáveis. Segundo uma notícia do jornal Diário de Notícias, centenas de milhares de pessoas do norte do Uruguai tem…
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Uruguai admitiu à Lusa apresentar uma candidatura a membro da CPLP, salientando que apesar de não falar português, existe uma grande afinidade com a língua. O Uruguai tem o estatuto…
Lisboa, 12 mar (Lusa) – A língua portuguesa é tão falada como o espanhol pelos uruguaios que vivem na fronteira com o Brasil e o Governo do Uruguai tem incentivado o ensino da língua portuguesa no…
Foto de Matilde Campodonico O Uruguai dá aulas de português em 83 escolas públicas de ensino básico, sendo a maioria delas em zonas de fronteira com o Brasil, segundo números oficiais. Em apenas seis das escolas…
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Francisco Nuno Ramos
Telemóvel: 00 351 963230466 OLP
Uma visão da ocupação portuguesa e descolonização de Timor-Leste, por Fernando Augusto de Figueiredo
A monografia histórica de Fernando Augusto de Figueiredo, “Timor-Leste – A presença portuguesa desde a reocupação à invasão indonésia (1945 – 1975)”, aborda o relacionamento difícil de Portugal com a Indonésia e a Austrália até 1975, num contexto internacional de contestação à presença portuguesa nas colónias. Macau é palco, em Junho de 1975, de uma cimeira entre Portugal e alguns dos partidos timorenses, onde não se inclui a Fretilin. No encontro foi delineado o calendário da descolonização, processo interrompido com a invasão pela Indonésia, em Dezembro de 1975.
Catedral de Díli em ruínas –1945. / Fotografia cedida por Maria do Patrocínio Faustino
Cláudia Aranda
“Timor-Leste – A presença portuguesa desde a reocupação à invasão indonésia (1945 – 1975)”, dá continuidade à tese de doutoramento de Fernando Augusto de Figueiredo intitulada “Timor: Presença Portuguesa (1769 – 1945)”, publicada em 2011, “explorando fontes ainda pouco ou nada conhecidas, de arquivos portugueses e estrangeiros, nomeadamente, os ‘The National Archives of Australia’ e ‘The National Archives’, no Reino Unido”, explicou o autor ao PONTO FINAL. Fernando Augusto de Figueiredo, investigador do Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa e do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL), lançou a monografia histórica no passado 10 de Junho, no Auditório da Feira do Livro de Lisboa.
Moisés Silva Fernandes, co-director do Instituto Confúcio da Universidade de Lisboa, descreveu esta obra, com mais de 600 páginas, como um trabalho académico “de grande vulto, que vem alterar os debates que se fazem em torno da questão do Timor português e de Timor-Leste, o seu enquadramento na política colonial portuguesa e o seu processo de descolonização que foi interrompido pela Indonésia com a invasão de 7 de Dezembro de 1975”.
A obra permite “reviver os anos do Interregno entre as duas invasões de Timor-Leste: a invasão japonesa e a invasão indonésia”, escreve no prefácio o bispo Ximenes Belo, Nobel da Paz de 1996, que resignou à diocese de Díli em 2002, exilando-se em Portugal. No entender de Ximenes Belo, “foram trinta anos de esforços de reconstrução e de desenvolvimento. Foi pena que a distância imensa que separava aquela antiga colónia da ‘Mãe-Pátria’ e o atraso cultural dos indígenas timorenses constituíssem um ‘senão’ para uma autêntica presença portuguesa”. O Nobel da Paz culpa a “impreparação e imaturidade política dos intervenientes do processo revolucionário do pós-25 de Abril de 1974”, tanto em Timor, como em Portugal, que fizeram “estancar o processo do desenvolvimento e lançou os timorenses no caos e na guerra civil”. Mas enaltece “os laços históricos, culturais e religiosos, expressos na língua portuguesa e na religião cristã”.
A ocupação japonesa prolongou-se de 1942 a 1945, deixando “70 mil mortos e destruição de infra-estruturas e recursos agrícolas”. A década de 1960 “foi um período de progressiva consolidação da presença portuguesa no território”. Mas, a nível político e social, “havia deficiências na administração e nos serviços”, destaca Ximenes Belo. Por isso, em 1959, “um grupo de timorenses, atiçados por uma dúzia de soldados indonésios infiltrados em Oe-Cusse e, depois, autorizados a residir em Baucau e Viqueque, levou até ao excesso as suas reivindicações”, descreve Ximenes Belo. Essas reivindicações resultaram na morte de timorenses, incêndios de casas em algumas aldeias de Watolari e Watocarbau, e no desterro dos implicados da revolta de 1959, para Angola e Portugal. Em consequência disso, o Governo de Lisboa e de Díli “delinearam planos de fomento e de crescimento”, processos abordados no livro de Fernando Augusto de Figueiredo, refere Ximenes Belo.
De Timor, telefonar para a metrópole, só em 1973
Fernando Augusto de Figueiredo referiu que esta obra, de 1945 e 1975, vai desde a reocupação portuguesa, “passando por um difícil e periclitante relacionamento com a Indonésia e a Austrália”, até à invasão e ocupação indonésia, considerando sempre a situação internacional de contestação – nomeadamente dos Estados Unidos da América (EUA) e Grã-Bretanha – à presença portuguesa, com Portugal a defender a sua posição de excepção”, explica o autor.
A obra aborda a administração portuguesa, “que vai evoluindo até uma autonomia restrita, integracionista, mas continuando a respeitar alguma especificidade das estruturas tradicionais indígenas”, diz Fernando Augusto de Figueiredo. A economia, que era assente, sobretudo, numa agricultura de subsistência, tendo no café o principal e quase único produto de exportação; uma indústria rudimentar e um comércio muito dependente dos territórios vizinhos. “As tentativas de exploração de petróleo não vieram a concretizar-se com sucesso, ficando o assunto da delimitação da zona de exploração com a Austrália ainda em aberto”, explica o autor.
As finanças caracterizaram-se por um grande desequilíbrio entre receitas e despesas, só compensadas com o auxílio da então metrópole e com empréstimos de outras províncias ultramarinas. Os transportes e comunicações eram muito deficientes, dependentes das companhias marítimas estrangeiras e dos transportes aéreos australianos. “Telefonar para a metrópole só se tornou possível em 1973”, destaca Fernando Augusto de Figueiredo.
No ensino, a presença portuguesa terminou com baixas taxas de alfabetismo. Na apresentação da obra em Lisboa, Moisés Silva Fernandes destacou o acordo relativo aos Açores, que foi “a moeda de troca que António de Oliveira Salazar usou perante os EUA e a Grã-Bretanha para impedir que a Austrália tomasse o Timor português, como era sua vontade. Como o autor afirma ‘[d]e facto, a ‘libertação’ de Timor apresentava-se ao ‘Estado Novo’ como um desígnio nacional, dentro da concepção imperial que o regime defendia e propalava”.
Macau de fora dos processos de descolonização
A integração colonial portuguesa passou a estar, a partir de 1960, sob os olhares da Organização das Nações Unidas (ONU). “Efectivamente, o governo português estava a desrespeitar o que a ONU propunha, que era o processo de descolonização e independência. Neste contexto, lembra Moisés Silva Fernandes, “o processo de reunificação de Macau à China Continental era um dado adquirido, após a Grande Revolução Cultural Proletária, entre 1966 e 1968, que deixou completamente humilhados o governador e a administração portuguesa”. Em 1971 a República Popular da China acedeu à ONU e no ano a seguir “fez com que a Assembleia-Geral retirasse Hong Kong e Macau da lista de territórios a descolonizar”.
Os “acontecimentos de 1959” em Timor são de nível interno e não recebem internacionalmente qualquer visibilidade, porque os dois regimes, o português e o indonésio, criaram de facto um “muro de silêncio”. Os timorenses vão ficar, contudo, com a memória destes trágicos incidentes. No início da década de 1970, começam a organizar-se vários movimentos de proto-independência, quase todos de origem católica, e são estes que vão marcar os partidos políticos após o 25 de Abril de 1974.
A PIDE/DGS surgiu após os “acontecimentos de 1959”, para manter sob vigilância os poucos que regressaram de Angola e Moçambique para o Timor português, e que foram absolvidos dos “acontecimentos de 1959”. A PIDE, refere Fernando Augusto de Figueiredo, estava atenta, também, às deslocações desde Díli de jovens chineses que iam continuar os seus estudos, entrando alguns “na China Popular” por Macau ou Hong Kong, recebendo educação em “escolas comunistas especializadas”, com a intenção de virem depois a ser “doutrinadores dos seus compatriotas”. Como precaução, não era autorizado o regresso aos estudantes que tivessem ido para a China continental comunista, mesmo com a família a residir em Timor. Com o desencadear da Revolução Cultural na China, a PIDE aperta a vigilância.
Mais tarde, Macau vai ser o palco de negociações entre Portugal e os partidos políticos de Timor. Em Macau, estiveram presentes a UDT, a APODETI, o KOTA e o PT. Não compareceu a FRETILIN, que desejava ser reconhecida como único representante do povo timorense e manifestando o seu interesse em negociar directamente com Portugal, mas em Timor ou Camberra, não em Macau.
Na Cimeira de Macau, a 26 de Junho de 1975, ficou delineado o calendário de descolonização e o estatuto especial para o período de transição, proporcionando-se à população escolher apenas entre a independência e a integração na Indonésia, uma vez que a soberania portuguesa deveria terminar em Outubro de 1978. Em 7 de Dezembro de 1975, com o aval dos Estados Unidos da América, a Indonésia desencadeou a fase militar da Operasi Komodo (Crocodilo Gigante), em curso desde Outubro de 1974, e invadiu Timor por terra, mar e ar, bombardeando a cidade de Díli e tomando-a com tropas pára-quedistas, “iniciando assim uma ocupação violenta, que encontrou uma resposta com que não contavam”, refere o autor.
Fenício?
Encontrei numa rocha….
um trabalho feito no basalto que com os anos está muito gasto pela erosão do tempo? É curioso que ao lado existiu uma escadaria. Só um especialista e o carbono 14 podem dizer o tempo em que foi feita. Uma análise esópica mas como escrevo aqui só os especialistas podem ver se há interesse nesta estrutura.Quantos séculos? Feito por quem? Vai ser difícil explicar.Todas as análises que atrás sitei são muito caras. Mas um dia vão dar atenção a coisas que vão agora chamar-me nomes mas estou habituado a estas e outras situações. Os Açores tem riquezas escondidas no fundo do mar, em pedras trabalhadas que ainda não foram decifradas.