Categoria: Historia religião teologia filosofia

  • O primeiro mapa de Portugal

    Views: 0

    Recebeu este e-mail encaminhado? Subscreva aqui para mais

    O primeiro mapa de Portugal

    Ando a navegar pela Internet fora e vejo um mapa de Portugal que me deixa de boca aberta. Nunca tinha visto o país assim…

    Marco Neves

    Jul 18

    LER NA APP

    Lembro que estão abertas as inscrições para o Curso de Revisão de Português. Fecham no dia 21. Muito obrigado!

    O mundo para cima ou para baixo

    Há coisas que são como são há tanto tempo que parece ser impossível imaginá-las de outra maneira. Por cá, o sinal de STOP, por exemplo, tem uma peculiar forma octogonal e uma palavra inglesa no centro. Podia ser outra palavra ou outra forma? Sim, claro. Mas hoje já parece natural que seja assim — e não me parece razoável mudar o sinal agora (seria, aliás, bastante perigoso).

    Enfim, que os sinais de trânsito são convenções é bastante claro. Aliás, conduzimos pela direita, mas há muitos países que decidiram conduzir à esquerda. Houve até países que mudaram a certa altura. Dois exemplos? A Suécia, nos anos 60 — e Portugal, nos anos 20 (sim, já conduzimos pela esquerda).

    Talvez um pouco menos óbvia seja a ideia de que os relógios também são uma convenção, divididos como estão em doze partes, com o 12 lá em cima. Ainda há uns tempos escrevi sobre a curiosa história dos relógios que têm o 12 cá em baixo

    Mas há mais convenções que, de tão usadas, já nos parecem naturais. Por exemplo, escrevemos da esquerda para a direita, mas poderíamos escrever da direita para a esquerda — como, aliás, fazem os árabes. Nem os livros têm uma direcção natural: a lombada está à esquerda nos livros em português, mas os livros japoneses têm a lombada do outro lado…

    Tudo isto só para chegar à própria orientação do mundo: o Pólo Norte está lá em cima — mas poderia estar lá em baixo…

    Todos temos na cabeça, de forma muito bem martelada, que o Norte fica em cima e o Sul fica em baixo. Ninguém diz que vai para baixo quando viaja de Lisboa para o Porto. Já dizer que vamos para cima quando viajamos do Algarve para Lisboa parece bem natural…

    É difícil imaginar que o mundo fosse doutra maneira. Os australianos vivem lá em baixo, nós vivemos cá em cima.

    E, no entanto, a Terra e todo o Sistema Solar estão a navegar pelo espaço sem que haja um tecto ou um chão… Uma das primeiras fotos do nosso planeta, tirada por astronautas em 1972, costuma aparecer na direcção “certa”, mas no original tinha o Sul por cima:

    A fotografia, tal como aparece em revistas e livros, está com o Sul por baixo. Porquê? Para que ninguém estranhe…

    Um continente exótico

    Há tempos, li um livro — A History of the World in Twelve Maps — em que o autor (Jerry Brotton) afirmava ser difícil perceber por que razão o Norte acabou por ficar, de forma praticamente definitiva, na parte de cima dos mapas. Afinal, não é um facto universal.

    Note-se, por exemplo, onde está a Europa na Tabula Rogeriana, mapa de al-Idrisi, cartógrafo muçulmano que viveu em Palermo e nasceu em Ceuta:

    Uma das surpresas deste mapa é reparar como a Itália está deitada… Pois, curiosamente, se formos até ao Google Earth e virarmos a Europa ao contrário, também acabamos com uma Itália estranhamente deitada. É apenas um exemplo de como o mesmo mapa virado ao contrário tem um sabor muito diferente. Como quando repetimos uma palavra conhecida muitas vezes, o mapa começa a estranhar-nos, a parecer o resultado do trabalho de um escritor de fantasia…

    Não sei se acontece com todos, mas ao olhar para este continente de pernas para o ar, começo a imaginar outras histórias, outras aventuras… As habituais associações que fazemos ao Norte e ao Sul começam, devagar, a cair. São terras exóticas, estas…

    Não que o continente que temos não seja interessante por si. Tem, aliás, uma História demasiado interessante — e que assim promete continuar por muitos e bons séculos.

    O nosso país deitado

    Bem, olhemos para aquele país ali virado para o canto superior direito… Com o Google Earth, podemos virar o país ao contrário a nosso bel-prazer. Ficamos com o Minho cá em baixo e o Algarve lá bem em cima, onde as águas são mais quentes e, se subirmos mais um pouco, vamos parar, não à Galiza, mas a Marrocos:

    Não sei bem porquê, mas olhar para o mapa assim leva-me a notar certas características do país: Lisboa parece-me mais distante do Minho do que pensava; ali, a meio, aquela reentrância espanhola no corpo do nosso país surge um pouco menos natural, mais recortada…

    É um absurdo? Não faz sentido? Estamos habituados a imaginar um país que foi criado de cima para baixo, um país em que o mar está à esquerda. O contorno do país é, hoje, um dos símbolos nacionais. Mas, no fundo, podíamos ter acabado com uma imagem diferente. Afinal, os nossos primeiros mapas punham o Algarve nem em cima nem em baixo: ficava à esquerda!

    Aqui está a Carta de Portugal de Fernando Álvaro Seco, na versão editada no Theatrum Orbis Terrarum de Abraham Ortelius, em Antuérpia, no ano de 1570 (houve uma versão do mesmo mapa publicada uma década antes):

    Já foi há muito tempo? Pois, já no século XIX, ainda apanhamos Portugal assim deitado — mas desta vez de barriga para baixo:

    Foi este estranhíssimo mapa que me levou a escrever esta crónica…

    A verdade é que, se olharmos para o mapa do nosso país, de pernas para baixo, a fazer o pino, deitado ou na direcção habitual — o contorno é-nos tão confortável como a cama da infância. Conhecemos bem este mapa e desenhamo-lo com o dedo, a sorrir.

    E com esta conversa toda, fiquei com uma vontade irreprimível de viajar. É o que dá olhar para mapas.

    Obrigado por ler a página Certas Palavras.

    Subscreva agora

    Like
    Comentário
    Restack

    © 2024 Marco Neves
    548 Market Street PMB 72296, San Francisco, CA 94104
    Cancelar subscrição

  • Arquimínio Rodrigues da Costa, último bispo português de Macau

    Views: 0

    No passado dia 8 de julho, assinalou-se o centenário do nascimento do último bispo português de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa (1924 – 2016), uma figura incontornável da Igreja Católica e da diáspora portuguesa. Natural da freguesia de São Mateus, no concelho de Madalena, na Ilha do Pico, o insigne açoriano partiu para Macau, antiga colónia portuguesa desde 1557 até 1999, […]

    Source: Arquimínio Rodrigues da Costa, último bispo português de Macau

  • Insignes Açorianos (194)

    Views: 0

     

    O Açoriano Oriental, fundado a 18 de Abril de 1835, é um título de referência no panorama da imprensa regional portuguesa em geral e açoriana em particular. Pautando desde sempre pelo rigor da sua informação, o Açoriano Oriental é um jornal de qualidade que pratica um jornalismo de proximidade que coloca como protagonista o interesse dos leitores. É também um importante difusor de publicidade nos Açores, em particular na ilha de São Miguel, a maior e mais populosa ilha do arquipélago O Açoriano Oriental integra a Global Media Group, um dos maiores grupos de media em Portugal, com presença nos sectores da imprensa, rádio e televisão, para além de gerir um diverso conjunto de participações em empresas com actividade na área da publicidade, comunicação multimédia, produção de conteúdos e design.

    Source: Insignes Açorianos (194)

  • PANDORA, O MITO

    Views: 1

    O mito da Caixa de Pandora
    Nietzsche lembra que no fundo da caixa havia um resíduo de esperança, o que é um presente envenenado. A humanidade aguenta a fome, o ódio, a dor, a pobreza, a inveja e a guerra, mas como há um resíduo de esperança tudo tolera pois acalenta a ideia que tempos melhores virão. Sempre achei esta ideia o espírito da revolução, rejeitar a esperança, descartar a sua força de inibição. Mas julgo agora que a compreensão deste mito é algo manco. Vejam lá que os deuses guardavam os males numa caixa e pregaram uma partida à humanidade. Há qualquer coisa que está a escapar. Como é habitual nestas narrativas, um elemento que nos escapa, uma lacuna de ignorância pode arrasar a nossa compreensão, como na teoria do caos, que uma ligeira e suave circunstância inicial tanto pode terminar num tornado ou no bater de asas de uma borboleta. E eu admito que tenho esperança.
    Imagem – Caixa de Pandora
    May be an illustration of 1 person
    All reactions:

    9

    1
    Like

     

    Comment
    Share
  • Ministério Público arquiva processos contra padres açorianos

    Views: 0

    O Ministério Público arquivou os processos contra dois padres, nos Açores. Os padres que foram investigados por suspeitas de abuso sexual de menores.

    Source: Ministério Público arquiva processos contra padres açorianos

  • 1984

    Views: 0

    Talvez o meu parágrafo preferido de 1984.
    (Exímia revisora desta tradução de 1984, de George Orwell, pela Penguin Clássicos, em breve na FLL e nas livrarias)
    May be an illustration of ‎1 person and ‎text that says '‎لاا PENGUIN CLÁSSICOS GEORGEORWELL GEORGE ORWELL MIL NOVECENTOS E OITENTA EOITENTAEQUATRO E QUATRO‎'‎‎
    «A rapariga de cabelos pretos atravessava o campo ao seu encontro. No que lhe pareceu um só movimento, viu-a arrancar as roupas e livrar-se delas com desdém. Tinha um corpo branco e macio, mas Winston não sentiu por ele qualquer desejo, na verdade, mal lhe deu atenção. O que o fascinou nesse momento foi o gesto com que ela se livrara das roupas. Era como se a graça e a indiferença desse gesto extinguissem toda uma cultura, todo um sistema de pensamento, e o Grande Irmão, o Partido e a Polícia do Pensamento pudessem ser reduzidos a nada por um único e magnífico movimento do braço. Era um gesto que pertencia, também ele, a um tempo distante. Winston acordou com a palavra ‘Shakespeare’ nos lábios.»
    (tradução de Catarina Ferreira de Almeida)
  • Durandal, a “Excalibur francesa”, desapareceu misteriosamente da sua rocha – ZAP Notícias

    Views: 0

    As autoridades francesas estão perplexas. A lendária espada Durandal desapareceu misteriosamente da rocha em que se encontrava incrustada há 1.300 anos, num local aparentemente inacessível. A polícia francesa está a investigar o aparente roubo de Durandal, a mítica espada incrustada numa rocha em Rocamadour, no sul de França — que, segundo a lenda, tinha propriedades mágicas. A espada é considerada a versão francesa da lendária “Excalibur” que o Rei Artur arrancou de uma rocha para obter o trono britânico. As autoridades locais estão perplexas com o desaparecimento da espada, que se encontrava incrustada há 1.300 anos na sua rocha inexpugnável

    Source: Durandal, a “Excalibur francesa”, desapareceu misteriosamente da sua rocha – ZAP Notícias